As coisas não mudaram tanto quanto eu imaginei. O final de semana ocorreu normal, mas com exagerados pulinhos de animação de Amelia, e muitos, muitos beijos entre Erick e Alicia. Realmente, aquilo estava começando a ficar enjoativo. A cada palavra dita um beijo aparecia no meio. Nada contra, eu sabia que eles estavam empolgados e tudo o mais, mas tenho que admitir que depois de uma semana de namoro não fiquei decepcionada em perceber que eles viraram um casal mais normal, e ficavam juntos basicamente quando podiam escapar geralmente como Amelia e Thomas faziam.

Julius estava um saco. Tentava investidas ridículas e dizia coisas completamente sem noção alguma para mim. Na lista de voluntários, o nome de Erick não apareceu. Faltavam apenas mais três dias, e até agora apenas quatro alunos se inscreveram. Para a minha repleta infelicidade, compunham a lista os nomes de ninguém menos que eu, Lina, Julius e Thomas.

_ Maravilha. – resmunguei de mau humor quando saí da cafeteria.

Meu dia estava aparentemente normal, mas não fiquei muito satisfeita com a lista. Ainda não conseguia encarar Lina direito apesar de ser uma bobeira, mas é que tem coisas que precisamos de bastante tempo para aceitar ou esquecer. Julius se alistara provavelmente por minha causa, até porque seu nome aparecera logo depois de eu colocar o meu ali.

O resto da aula também foi normal, sem novidades. Meu humor não melhorou nem um pouco, mas deu pra levar até o resto da aula.

Eu e meus amigos combinamos de esperar um tempo depois do fim da escola. Amelia e Alicia tinham algo para fazer na biblioteca, o que me deixaria sozinha com os garotos. Combinei de me encontrar com eles no corredor, então fui direto para o meu armário guardar o resto dos meus materiais quando o sinal tocou.

Achei tanta velharia e coisa desnecessária ali dentro depois de remexer um pouco, que pude jurar que aquilo poderia ser algo muito parecido com o guarda-roupa de Ryan. Bati a porta do armário com força para que fechasse, e com um suspiro me virei para trás.

Dei de cara com Julius. Meu coração pulou pelo susto, mas logo se suavizou ao perceber quem era. Deveria estar ali para me jogar mais uma cantada ridícula.

_ Oi. – falei devagar esperando ele dizer alguma coisa para que eu pudesse despachá-lo logo.

Era isso, ou por um milagre os garotos apareceriam para me ajudar a sair dali. Não estava com muita paciência para tomar duas doses de Julius num mesmo dia.

_ O que você quer? Estou meio ocupada então...

Ele não me deixou terminar e se apressou a falar.

_ Não tem problema. Serei rápido e objetivo.

_ Ótimo, porque...

Não tive a chance de concluir a frase. Nunca tivera.

Tentei me livrar dos braços de Julius enquanto ele me beijava a força. Tentei me esquivar, mas agora ele havia me prensado no armário.

_ Julius... – comecei a dizer meio desesperada.

Eu estava confusa, aconteceu tudo tão rápido...

Ele me ignorou, e me beijou mais forte. Fechei a boca com força e tentei me desvencilhar, mas ele não se importou. Meus esforços eram completamente em vão.

_ Julius... – tentei de novo, desta vez com mais urgência.

_ Argh! – Julius gritou.

Ele se afastara drasticamente de mim, e parou a poucos centímetros, arfante. Sean estava parado o encarando, com as mãos fechadas em punho. Outro soco. Desta vez vindo de Julius, mas Sean se voltou para ele com mais murros e chutes.

E de repente eu pareci acordar. Eles estavam tendo uma briga muito feia, estavam quase que descontrolados.

_ Não! – gritei me apressando até eles.

As pessoas começaram a aparecer repentinamente, surgindo do nada, mas elas não os impediram. Um pequeno bolo de alunos se formava a nossa volta.

_ Sean, larga ele! – gritei desesperada – Sai de cima dele Julius!

Eu parecia estar narrando a luta desde então. Consegui encostar poucas vezes neles, que eram milhares de vezes mais fortes que eu. Não adiantava nada.

_ Lucas! – gritei encarando a multidão que havia se formado – Thomas! Erick!

Por um momento eles não apareceram. Me voltei chocada e tentando pensar em algo, aflita, enquanto os dois distribuíam socos e rolavam pelo chão. Vi duas mãos puxarem Julius, e mais duas puxarem Sean, enquanto Lucas se irrompeu entre eles.

Thomas segurava um Julius furioso enquanto Erick segurava um Sean descontrolado. Quase me senti aliviada quando eles apareceram.

_ O que é isso? – Thomas exigiu.

_ Esse idiota! – Sean bradou – Agarrou Claire a força!

_ Quem foi que disse que foi a força? – Julius respondeu com desdém.

_ Não sou cego seu filho da mãe! Eu estava ali quando tudo aconteceu! – ele devolveu.

Ambos tentaram avançar e os garotos foram obrigados a fazer mais força ainda para mantê-los no lugar.

_ O que é isso? – a diretora repetiu a pergunta de Thomas, aparecendo ao longe.

_ Nada. – disse Julius se desvencilhando de Thomas e indo embora.

Ninguém ali ousou discordar. Todos permaneceram imóveis, até que com palmadas e gritos a diretora nos mandou achar nosso caminho. Thomas falou que iria buscar as garotas para irmos embora rápido, e mandou ferozmente um olha para Sean e o mandou esperar por ele para não se meter em mais confusão. Segui ainda em choque, a ponto de explodir, com Lucas, Sean e Erick rumo a um carro, onde paramos e onde Sean se recostou impaciente.

_ Ótimo. – ele resmungou fechando os braços.

Estava irradiando mau humor.

_ Explica direito... – Lucas começou, mas foi interrompido.

_ Ele agarrou ela a força! – Sean apontou freneticamente para mim – Eu não podia ver aquilo sem fazer nada! Ela não queria!

_ E aí você resolveu bater nele, assim, de repente? – Erick o encarou.

_ Foi muito simples, eu já queria quebrar a cara dele há tempos, mas depois dessa...

_ Sean, você está encrencado. – Lucas o interrompeu – A diretora uma hora vi ficar sabendo de uma forma ou de outra, e você sabe que se...

_ Esquece. – ele respondeu impaciente cruzando os braços novamente.

Os garotos suspiraram.

_ Vou ver porque demoram. – Erick anunciou se dirigindo de volta a escola.

Impaciente, Lucas resmungou um “vou com você”. Me voltei para Sean nervosa, agora ficando de mau humor também.

_ Você não devia ter feito isso! –repreendi.

Ele me encarou.

_ É claro que eu devia, ele te agarrou! – ele contestou.

_ Mas mesmo assim não era moti...

_Claro que era! – Sean interrompeu – Ele tentou te agarrar a força!

_ Mas isso não importa! – retruquei – Vai te render problemas na diretoria! – falei me lembrando de Lucas – E de qualquer forma você não tem nada a ver com isso pra ficar...

_ É claro que tenho! – ele rebateu impaciente – Se tratando da garota que eu gosto tudo passa a ter a ver comigo! Eu não posso simplesmente deixar um idiota chegar de repente e beijar a boca da garota que eu sempre quis beijar e ainda por cima sem o consentimento dela! – ele atirou tudo muito rápido.

Era como se eu houvesse escutado errado.

_ O quê? – consegui dizer.

_ Qual a parte você não entendeu? – ele me encarou – Eu disse tudo muito claramente, tá ficando surda?

Devolvi o olhar indignada.

_ Gentil como um ogro! – falei com um mau humor incontestável.

_ Desculpa se você quer uma declaração mais formal Claire, mas fica meio difícil com a gente se desentendendo o tempo todo!

Erick voltava ansioso com os outros em seu encalço. Não tivemos tempo de dizer mais nada, e nem precisamos. A escola já estava praticamente vazia. Sean me puxou pelo braço e passou pelo meio deles me arrastando, que nos encaravam sem entender.

_ A gente já volta. – ele disse firme.

E ainda me levando pelo braço, Sean me arrastou para longe, com olhos assustados ainda sobre nós.