A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 9
VIII. O segredo de Michaella


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, desculpem a demora, estou atolada na faculdade. Mas aí vai mais um cap, espero que gostem ^^



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VIII. O segredo de Michaella

O que era aquilo que sentia? Seu mundo por um momento pareceu desaparecer por completo. E Anna aparecia diante de seus olhos coberta de sangue gemendo de dor. O que via era mesmo real? Não podia ser! Ela estava há quilômetros dali! Porque seus pulmões pareciam não ter mais força para puxar o ar?

– Leve-o para casa Maximiliano. - ordenou a mesma voz que lhe garantira que sua Anita estava bem.

Ele não queria ir ara casa. Queria falar com Thalles, perguntar o que ele sabia. Como podia ter certeza que ela estava bem? Entretanto não teve forças, apenas deixou ser levado para a cabana que lhe fora concedida. Seu amigo o deixou em sua cama, estava preocupado. Não compreendia o que tinha acabado de acontecer.

Max não era o único. Ninguém que assistia a luta compreendeu o porque de ter acabado tão rápido e sem nenhum oponente no chão. Simplesmente pararam de lutar! As pessoas foram dispersando e seguindo o rumo de seus afazeres. Apenas os mais curiosos observavam a estranha reação de Augusto.

O justiceiro estava confuso.

– Como ele sentiu?! - perguntava exasperado. - Como?! Quem é aquele garoto?!

– Você realmente ainda não percebeu? - Nickolas tentou acalmá-lo colocando suas mãos nos braços do amigo.

– O que eu deveria ter percebido?

– Os olhos de Louis não lembram os olhos de ninguém?

Neste momento o elementar deu-se conta do óbvio. Como não reparara antes? Sentiu seu coração bater em grande velocidade e ainda confuso desvencilhou-se dos braços que o seguravam e andou rapidamente seguindo o cheiro do estrangeiro.

– Tudo se encaminha para a união. - murmurou Davi observando Augusto ao longe.

– Isso quer dizer que tudo irá voltar ao seu devido lugar. - sorriu Nick, mas o sorriso caiu quando notou a expressão de Thalles. - O que há?

– Irônico é o destino.

– Do que está falando?

O vidente ignorou a pergunta e deu as costas aos seus irmãos. Caminhou pensativo de volta para a sua casa. Precisava abraçar sua amada esposa e valorizar a calma que ela lhe trazia. Triste era o destino do jovem Louis, pagaria pelos erros daqueles a sua volta. Um sacrifício infelizmente necessário.

Enquanto Thalles perdia-se em pensamentos Augusto chegava a antiga casa de Michaella. Engoliu em seco observando o local que tanto frequentou em sua juventude. Munido de coragem e uma vontade avassaladora de descobrir a verdade entrou na casa.

Ouvia a conversa baixa dos dois estrangeiros. Max parecia preocupado enquanto o outro continuava em silêncio sepulcral.

Augusto observou com nostalgia a decoração do ambiente pequeno e aconchegante. Mesmo depois de milênios a cabana continuava com o jeito de Michaella.

– Você é filho de Michaella. - a profunda voz do elementar soou pelo ambiente fazendo com que Louis erguesse sua cabeça, que até então estava apoiada em suas mãos, e olhasse assustado para ele.

– Você conhece minha mãe?

O justiceiro apenas fixou seus olhos no mais jovem. Agora, depois de revelado, estava claro para ele as semelhanças com Michaella. Os olhos não só em sua cor, mas também em seu formato. Sem falar na pureza de bondade que eles transmitiam. Agora entendia o porquê do estranho sentimento que lhe surgiu enquanto lutavam.

Max observando que aquela conversa seria muito pessoal, resolveu sair sem alardes. Depois Louis, se quisesse, contaria os detalhes.

– Porque ela foi expulsa daqui? - perguntou Louis incomodado com o olhar esmiuçador.

Augusto suspirou e puxou uma cadeira para sentar-se de frente para o mais novo.

– Ela nunca foi expulsa. - disse firme e perdeu-se novamente na semelhança dos olhos. - É assustador o quanto seus olhos são parecidos... Agora me parece extremamente claro.

Louis mexeu-se em cima da cama com um misto de constrangimento e impaciência.

– Então porque ela foi embora?

– Eu me faço essa pergunta há milênios e nunca consegui achar uma resposta. - a emoção tomou conta do coração há tanto tempo endurecido do justiceiro e ele permitiu-se acreditar que o garoto em sua frente também tivesse o seu sangue.

Alheio a expressão do elementar Louis passou a mão pelo rosto seguindo para o cabelo e bufou exasperado. Augusto prendeu o sorriso ao notar a ação tão parecida com a que ele mesmo fazia quando estava frustrado. Louis sentia-se tão confuso. O mistério que sua mãe carregava lhe atormentava em demasia, juntando ainda com a preocupação com sua Anna sua mente ficava uma verdadeira balbúrdia.

Decidiu por fim resolver um problema de cada vez, se é que o homem a sua frente saberia lhe dizer mais alguma coisa.

– O senhor sabe... Quem é o meu pai?

– Ela nunca lhe contou? - espantou-se Augusto.

– Não. E sempre que perguntei ela desconversou parecendo envergonhada. - bufou novamente. - Mamãe sempre foi misteriosa quanto ao seu passado e pelo pouco que contou e demonstrou ela parecia arrependida de algo muito grave. Ela carrega uma culpa que penso não ser tão grande quanto ela acredita. Vim para essa vila em busca de respostas, pediria perdão a vocês em seu nome se assim fosse necessário, mas...

Novamente frustrado bagunçou seus cabelos levando Augusto a segurar o pulso do jovem parando seu movimento.

– Escute-me Louis. Michaella não cometeu nenhum crime para fugir daqui. Ela apenas... - dessa vez quem se frustrou foi ele e repetiu o movimento anterior do estrangeiro. - Não sei dizer por que ela foi embora. Davi tentou me explicar na época, mas eu não quis escutar... Estava bravo demais, frustrado demais... Sofrendo demais.

Desta vez Louis estava atento aos olhos do elementar e lançou-lhe uma expressão confusa.

– Eu... Eu amava sua mãe Louis.

O silêncio pesou no quarto da pequena cabana. Louis não sabia o que dizer ao homem que imaginava ser um completo atroz, nunca pensou que por trás de toda aquela aura severa havia apenas um homem com o coração partido.

– Tudo passou-se tão rápido... Em um momento eu exalava felicidade, no outro Michaella simplesmente tinha partido.

O mais novo engoliu em seco já prevendo o que lhe diria quando Augusto olhou-lhe diretamente nos olhos.

– Você é...? - Louis não conseguiu completar a pergunta, sua garganta fechou-se com a estranha emoção que preenchia seu ser.

– Eu gosto de pensar que sim, mas a única que pode confirmar é a sua mãe. - Augusto sorria de um jeito que nunca imaginou ser capaz de sorrir.

Não importava mais o que Michaella dissesse ou deixasse de dizer. O amor paterno já havia invadido seu coração e tatuado o garoto, que lhe olhava assustado, em suas entranhas. Como poderia se orgulhar menos do guerreiro que se mostrou em sua frente? O olhar bondoso e a destreza com a espada tornava-o a mistura perfeita entre ele e Michaella. O equilíbrio da mãe e o senso de justiça do pai.

***

Os pensamentos de Michaella nunca estiveram tão focados em Louis e Augusto. Amava-os com todo o seu coração, entretanto naquele momento gostaria de continuar desacordada. Não queria abrir os olhos e ter que enfrentar as consequências de seus erros. Estava assustada e acovardou-se em sua própria mente criando uma bonita ilusão onde vivia alegremente com o homem de sua vida e seu amado filho. Imaginou-se colhendo frutas vermelhas na pequena horta de sua cabana enquanto os dois homens duelavam em brincadeira. Seu coração encheu-se com a visão. Era assim que deveria ter sido... Era assim que deveria ser. E que o criador lhe desse forças para que seu sonho pudesse virar realidade.

Como se tivesse ouvido seu sincero pedido o coração da elementar começou a bater acelerado. A esperança crescia conforme a coragem lhe tomava o corpo. Deixou, com tristeza, que sua linda ilusão desaparecesse de sua mente para dar lugar aos seus sentidos aguçados que começavam a captar tudo a sua volta.

Primeiramente ouviu o martelar de vários corações. Concentrou-se. Acalmou-se. Enfim as vozes foram se distinguindo até que reconheceu sua amiga Sandra repleta de preocupação. Em seguida a doce e inesquecível voz de Noemi garantindo que ela ficaria bem. Como sentira falta de sua querida e faladeira irmã! O sorriso estava prestes a se formar quando o resmungo de Agnes se fez presente. Oh! Com Agnes as coisas não seriam abraços e lágrimas... Bem... A parte de lágrimas talvez fosse inevitável.

Engolindo em seco abriu seus olhos.

– Michaella! Graças aos céus!

A elementar deixou-se sorrir ao ser abraçada amorosamente pela pequena Noemi.

– Oh minha querida! Senti tanto a sua falta! Porque não veio a nós antes de cometer essa loucura? - inquiriu amorosamente.

– Me desculpe. - sussurrou sincera.

Milênios poderiam ter passado, entretanto o carinho que sentia por seus irmãos elementares não diminuiu em nada. Levantou-se do chão apoiada a Noemi que lhe sorria sem quaisquer mágoas passadas. A expressão lhe trouxe a confiança que não tinha para olhar na direção de Agnes.

Michaella era observada atentamente pelo povo da Vila dos Pescadores. Estavam assustados e surpresos pelas famosas elementares estarem ali. Noemi a curandeira e Agnes a perseverante. Foram convidados a seguir para a Vila Elementar enquanto Michaella continuava desacordada. Após verem do que Caos era capaz decidiam por seguir com as elementares. Iriam proteger suas famílias. Já os pensamentos em relação a anciã eram controversos. A maioria não se importava com a omissão, acreditavam apenas que tiveram provas suficientes da bondade da elementar para julgá-la. Já os amigos mais próximos sentiam a mágoa invadir seus pensamentos. Eram amigos, não eram? Ela não precisava omitir seu passado. Seja lá o que lhe causa tanta dor, eles entenderiam! Não lhe julgariam!

Sandra mordeu a língua com seus pensamentos. Como poderia lhe cobrar alguma coisa? Sempre viu a dor nos olhos de sua amiga. Perguntou-lhe diversas vezes se não queria desabafar e mesmo assim a elementar se esquivava. Respeitou por todos os milênios de sua amizade, como poderia agora lhe exigir alguma explicação? Suspirou deixando os seus sentimentos de lado. Daria força a sua amiga assim como sempre deu.

Os olhos cinzentos de Michaella seguiu lentamente observando cada expressão dos há tanto tempo conhecidos até voltar completamente o rosto em direção a impassível Agnes.

A perseverante segurava a ira. Estava colérica com a irmã. Tentava a todo custo justificar a si mesma que era por toda a avalanche de problemas que assolavam o mundo, contudo o real sentimento era de mágoa e abandono. Sempre foram grandes amigas e ela jogou essa amizade na lama quando simplesmente partiu sem dizer adeus à ninguém.

– Agnes... - murmurou a fugitiva aproximando-se da morena.

Antes que qualquer outra palavra fosse dita Agnes golpeou as costas de sua mão no rosto de Michaella que surpresa e humilhada caiu de joelhos ao chão.

– Agnes! - gritou Noemi perplexa ajoelhando-se ao lado da irmã.

A exclamação foi ignorada pela silenciosa negação. Os cachos castanhos balançavam de um lado para o outro enquanto o olhar consternado olhava a mulher caída ao chão.

– Você ter a pedra do equilíbrio é uma piada! - grunhiu Agnes enojada.

A respiração de Michaella acelerou-se. Era verdade que sentia-se envergonhada por ter agido com tamanha covardia, mas o que Agnes sabia sobre covardia e medo afinal? Ela era a perseverante! Ela não desistia, pois assim lhe foi demandado.

– O que faria se toda essa sua certeza sumisse? - perguntou magoada.

– Não me dê desculpas Michaella! Apenas assuma a sua covardia!

– É verdade. Fui covarde! Mas não me julgue, pois nunca sentiu o que senti! Passei muito tempo confiando naquilo que me foi designado. Tudo para mim sempre foi harmonioso e quando algo era abalado eu era a primeira a sentir, antes mesmo de Thalles prever as consequências! Você sempre foi a perseverante, nunca desistiu de nada e nunca sentiu medo, não sabe o que é sentir o poder em que mais confia entrar em conflito com sua mente e coração, então pare de me julgar!

Agnes estagnou com as duras palavras. Michaella estava certa em muitas coisas, mas não completamente. Suas crenças já foram contestadas de tal modo que entrou em desespero. A paixão que sentia por seu atual marido tirava-lhe todas as certezas. Porém sempre foi uma mulher teimosa, não apenas pela sua pedra da perseverança, mas pela própria personalidade e não desistiu do homem que hoje a vazia extremamente feliz.

Era um sentimento controverso esse tal amor. Ao mesmo tempo em que trazia felicidade também trazia insegurança. Aqueles que não sabem lidar com o sentimento seguem caminhos nem sempre regressáveis.

– Está errada Michella. Eu já senti medo sim. No dia em que você foi embora. - Agnes segurou as lágrimas que sua irmã não conseguiu segurar.

– Sinto muito Agnes, eu nunca quis magoar vocês. Eu só quero que as coisas voltem a ser como eram, estou cansada de me esconder.

Agnes também sentia-se cansada.

– Não pense que tudo vai voltar ao normal. Não pode querer que seus erros simplesmente sejam esquecidos, por mais arrependida que esteja a dor que causou não se apagará. - Michaella apenas assentiu com as lágrimas cada vez mais grossas rolando por seu rosto. - Você tem noção do que causou a Augusto?

– Agnes... - grunhiu Noemi amparando a irmã que se curvava em desespero.

– Ela precisa saber! Não sei como ele a receberá quando chegarmos a vila. - retrucou a perseverante com um tom um pouco arrependido, por mais brava que estivesse não queria tripudiar os sentimentos da irmã.

– Como ele está? - perguntou Michaella com a voz estrangulada.

– Bem... Você conhece Augusto querida, ele sente a frustração de não entendê-la até hoje. - respondeu Noemi com doçura. - Não posso mentir e dizer que ele superou sua dor.

– Ele me odeia. - choramingou.

– Ele não te odeia, ele te ama, mesmo você sendo uma idiota covarde. - resmungou Agnes escondendo o sorriso.

O tom ameno trouxe um pouco de paz ao coração dolorido da dona dos cabelos negros como a noite.

– Preciso voltar. Preciso falar com Augusto, implorar seu perdão e principalmente falar sobre Louis.

– Quem é Louis? - perguntou curiosamente Noemi.

– Meu filho e de Augusto.

A pequena mulher soltou um gritinho de alegria.

– E onde ele está?

Michaella controlou seus nervos lembrando-se da mentira que o filho lhe contara. Ele realmente achara que podia enganá-la? Sabia que ele iria até a Vila Elementar. Por um momento pensou em impedi-lo, mas deixou a ideia de lado. Sentia-se realmente exausta por tantos segredos.

– Neste momento... Provavelmente junto ao seu pai.

– Obstinado... Eu não poderia esperar outra coisa vinda de pais tão teimosos. - sorriu Noemi compadecendo-se dos sentimentos da irmã.


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Notas finais do capítulo

Entãoo?? Comentários, críticas, sugestões... Estou aguardando :)



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