A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 5
IV. Isso se chama amor


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo para vocês, espero que gostem ;)



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IV. Isso se chama amor

Quando Louis e Maximiliano chegaram ao Rio Dois Caminhos desanimaram completamente, pois o rastro de Anna havia terminado. Ao que parece ela havia mergulhado e seguido outro caminho.

– Eu já imaginava que não seria tão fácil. – Max deu de ombros enquanto seu amigo chateado torcia seus lábios.

Decidiram então separar-se, o mais velho iria voando procurando qualquer movimento suspeito na floresta e o outro iria pelo chão, pois era melhor rastreador e captaria o cheiro de Anita com mais facilidade. Foram longos dois dias sem quaisquer pistas, o nariz de Max já ardia com o esforço e Louis tinha certeza que tinha perdido parte da audição por causa do vento forte, quando Louis avistou ao longe algo escuro. Forçou a vista e identificou a fumaça negra que cobria o céu na distante região. Sentiu a espinha gelar e imediatamente buscou Max abaixo de si, ao encontrá-lo pousou em sua frente.

– O que houve? A encontrou? – perguntou ansioso.

– Não... Acho que Caos atacou novamente. – murmurou com o semblante sério, seus olhos acinzentados miravam o céu esfumaçado.

Maximiliano seguiu o olhar do amigo e percebeu que se continuassem a seguir o caminho ao qual estavam iriam direto para a origem da fumaça. Um sorriso espalhou-se pelo seu rosto com a ideia que lhe surgia.

– Não está curioso para saber como esse tal Caos é? Se é tão poderoso quanto dizem? – ergueu as sobrancelhas seguidamente. – Seríamos heróis se derrotássemos esse vigarista.

Louis revirou seus olhos.

– A vaidade não combina com você meu amigo. – provocou. – Além do mais não acho que esse Caos seja apenas alarde do povo. Muita gente já morreu tentando enfrentá-lo.

Max deu de ombros.

– Só saberemos quando o encontrarmos pessoalmente.

– Honestamente, não me interessa encontrar o Caos, pelo menos não agora. Quero encontrar Anna o mais rápido possível e então seguir para a Vila Elementar.

Uma chuva fina iniciou fazendo com que os dois amigos voltassem a andar.

– Como serão os tais elementares? Sua mãe disse que são seis.

– Tudo o que sei sobre eles aprendi com os seus tios, e agora essa novidade que mamãe contou.

– Mas você não os imagina?

– O que quer dizer? Acha que eu imagino o guerreiro da justiça com uma espada feita de fogo desafiando os malfeitores? – perguntou com um gracejo.

– Talvez. – Max ignorou o sorriso irônico do amigo. – Eu imagino uma mulher vestida como guerreira dominando a água e fazendo um tornado defendendo toda a vila.

Louis gargalhou com a imaginação do mais novo, mas não podia criticá-lo. Afinal os anciões sempre falavam dos elementares em tom de mistério. Contavam sobre as poderosas criaturas responsáveis pelo planeta e pelas pessoas que o habitavam. Para chamar a atenção das crianças falavam do domínio sobre os elementos naturais. O fascínio dos mais novos era imediato, não estavam acostumados a ver uma pessoa dominando vários poderes ao mesmo tempo, para elas era mágico.

– Antes de partirmos mamãe falou que cada elementar possuí uma responsabilidade e as tais pedras que carregam é o que os sintoniza com elas.

– As pedras elementares. – murmurou Max em tom sagrado. – Pelas histórias que escutei a pedra do justiceiro é a vermelha e a da curandeira azul. Ouvi falar também de um sábio e um vidente.

A chuva virou tempestade e os dois correram se abrigar em uma pequena caverna.

– Que chuva mais fria. – reclamou o mais novo chacoalhando o corpo tentando se secar.

– O que será que mamãe aprontou na Vila Elementar? – Louis sentou-se em uma pedra e olhou duvidoso para o amigo que encolheu seus ombros.

– Acha mesmo que ela fez algo de errado?

– Se não fez, porque tanta vergonha?

– Eu não sei... Talvez você não devesse contar que é seu filho. Podemos não saber muito sobre os elementares, mas de todos, o justiceiro é o mais conhecido e não tem fama de complacente.

– Podemos dizer que somos irmãos... Não será uma mentira já que o considero desse jeito.

– E quando descobrirmos sobre sua mãe decidimos se contamos ou não a verdade. – completou Max levantando-se ao perceber que a chuva finalmente havia cessado. – Então acho melhor acharmos logo a sua garota para que resolvamos essa questão da sua mãe.

Louis apenas assentiu e os dois seguiram por terra. Algumas horas de caminhada depois Maximiliano sentiu um cheiro forte, mas não era de Anna. Parecia sangue... Mas não era apenas de uma pessoa. Concentrado no cheiro virou para a direita e seguiu rapidamente desviando dos galhos e folhas das árvores mais baixas. Não demorou para que Louis também sentir o cheiro, apavorou-se com a ideia de várias pessoas machucadas e colocou-se a correr. Será que o Caos alastrara a morte até ali?

***

Já se sentia melhor, as ervas que sua irmã trouxera fizeram efeito e seu estômago não mais revirava.

– Você está melhor? – perguntou Aline preocupada.

Apesar no apetite doentio por sangue Aline amava verdadeiramente sua irmã. Anna era a única que restara de sua família, não tinha mais ninguém neste mundo tão caótico e cheio de maldades. Elas sempre se protegeriam.

– Sim... Mas acho que vou precisar de um pouco mais desse chá.

– Não há muitas dessas ervas aqui por perto. Peguei tudo o que achei há alguns quilômetros do lago, terei que ir mais longe. Você ficará bem?

Anita apesar dos calafrios que sentia pela estranha doença sorriu para a irmã e a olhou com divertimento.

– Vá em paz, ficarei bem.

Aline assentiu e se foi quando a chuva ficara um pouco mais branda. Anna se acomodou na cama improvisada feita de folhas longas. Sentia seu corpo cansado e cada vez mais quente. Percebeu que a febre logo a dominaria e se não fizesse nada começaria a delirar. Levantou-se com dificuldade e andando lentamente seguiu para a beira do lago deixando-se afundar lentamente. Manteve a cabeça para fora com medo de que não tivesse forças para sair da água. Pouco a pouco seu corpo foi esfriando e sentiu novamente dona de seus movimentos.

Foi então que escutou rápidas batidas contra o chão. Era uma corrida, ou melhor, duas corridas... Duas pessoas. Rapidamente submergiu prendendo a respiração e deixando os ouvidos atentos ao som abafado do lado de fora. Os passos diminuíram a frequência, mas não havia vozes.

Emergiu lentamente forçando os olhos na direção dos dois forasteiros que entravam na caverna que a pouco lhe abrigava.

Dentro da caverna Max assustava-se com o sangue jorrado no chão. Seja quem for que tenha se machucado com toda a certeza não estava vivo para lhes contar o que havia acontecido. Só não compreendia o porquê imaginará que eram vários feridos... Aquele sangue tinha uma mistura de cheiros que nunca havia sentido em sua vida. Estava prestes a fazer voz aos seus pensamentos para Louis, mas quando se virou viu o amigo agachado ao lado de uma pilha de folhas segurando uma espada visivelmente antiga em suas mãos.

Reconhecendo o cheiro impregnado no local e os objetos de Anita, Louis levantou-se com toda a velocidade que tinha e correu para fora tentando farejá-la. De costas para o Caos não percebeu o perigo.

Anna tinha a visão turva não só pelo recém-banho como também pela febre que retornava ao seu corpo. Não reconheceu Louis e não iria permitir que dois forasteiros a ameaçasse. Deixou o rosnado formar-se em seu peito e lentamente arrastou-se para a beira do lago. Quando Louis escutou a estranha respiração ela já agachava e impulsionava o seu corpo contra o dele em um ataque que seria fatal se o filho de Michaella não tivesse virado a tempo.

Os dois caíram no chão com Anna tentando arrancar-lhe a cabeça. Em um primeiro momento Louis fez de tudo para se proteger e até mesmo revidar o ataque, porém finalmente pode enxergar o rosto de sua agressora e tomou as redias da situação impulsionando seu corpo e ficando sobre ela. Prendeu os braços de Anita acima de sua cabeça e rosnou.

– Sou eu! Anna, sou eu!

Ela parou de se debater assim que reconheceu a voz do homem que a fez lembrar-se de sentimentos há muito tempo escusos. Piscou seus olhos rapidamente clareando sua visão para enfim murmurar confusa.

– Louis?

– Posso te largar? Não vai me atacar?

Anita apenas assentiu e esperou que Louis saísse de cima de seu corpo. Junto com ele o estranho formigar em seu estômago também saiu. Na entrada da caverna Max observava tudo com um misto de surpresa e curiosidade, não demorou a receber um olhar confuso de Anna que arregalou seus olhos ao sentir braços lhe envolvendo.

– Finalmente a achei! – Louis, após o susto, não conseguiu conter sua felicidade e a abraçou tirando-lhe do chão.

Seu amigo estava prestes a soltar uma gargalhada, pois se divertia com a cena a sua frente. Anna tinha seus olhos arregalados e sua pele estava pálida e fria. Seu estômago virava misturando a estranha doença com a presença tão avassaladora de Louis.

– Me solte, por favor, não me sinto bem. – pediu em um sussurro ao pé da orelha do jovem.

Louis tentou ignorar o tremor que subiu pela sua espinha e focou-se nas palavras da mulher que livre do abraço escorregou mole até sentar-se ao chão colocando a cabeça entre seus joelhos. Neste momento Max se aproximou.

– Qual o problema, ela está doente?

– Eu... – Louis apenas abaixou-se e pousou sua mão na testa de Anna. – Ela está fervendo e suando frio.

– Nada que um chá de flores de sabugueiro não possa resolver. – disse Max tentando acalmar o amigo visivelmente preocupado com a garota perdida. – Vou buscar, enquanto isso é melhor que ela seque suas roupas.

Sem olhar para onde o amigo andava Louis pegou Anita em seus braços e a levou para dentro da caverna. Seus corações batiam rapidamente, mas não percebiam o real significado. Ele imaginava que era pela preocupação, ela pela doença.

– Você tem alguma roupa seca para que possa trocar?

– Só as que tenho no corpo.

– Então é melhor que tire as mais grossas. – sugeriu a colocando no chão e certificando-se que ela não escorregaria novamente para o chão.

Anna ficou parada apenas o olhando. Louis retirou o casaco grosso que acabara molhando com o ataque e o colocou sobre uma pedra. Notou os gravetos queimados no chão perto das folhas em que ela esteve deitada e esticou o braço naquela direção lançando uma pequena chama para formar uma fogueira.

Anita arregalou os olhos. Poucos eram aqueles que possuíam domínio sobre o fogo, em todos seus anos de vida encontrara apenas uma pessoa que dominava esse poderoso elemento. Essa pessoa era seu avô. Sentindo-se um pouco ameaçada pela demonstração de poder de Louis ergueu sua mão direita e numa brincadeira um tanto nervosa provocou.

– Então você também domina o fogo? – Louis olhou surpreso as pequenas chamas azuis flutuando sobre os dedos de Anita.

– Domino o fogo amarelo. – respondeu ele. – Não deveria estar usando seus poderes, não me parece totalmente recuperada.

A preocupação era genuína, porém ela não se achava em condições de discernir qualquer coisa. Estava cansada e com a vista borrada. Sentia-se fraca, mas não queria demonstrar fragilidade diante do gentil homem.

– Só quero que saiba que sei muito bem me defender, ao contrário do fogo amarelo, o azul queima no mesmo instante.

Louis torceu os lábios um tanto ofendido.

– Não pretendo atacá-la se é isso que pensou quando disse para tirar suas roupas molhadas. Estou realmente preocupado com você. Todo esse sangue é seu?

Anita sentiu-se culpada e um tanto envergonhada. O único homem que demonstrou algum cuidado por ela era tratado com rudeza e desconfiança.

– Me desculpe... Apenas não estou acostumada com tantos cuidados. – sussurrou acanhada retirando a roupa pesada e ficando apenas com as roupas debaixo. Uma fina camisola de alças que mal chegavam à metade de suas cochas.

A luz das chamas da fogueira o contorno do corpo de Anna aparecia como uma sombra pelo fino tecido. Louis a observou engolindo em seco. Sentiu pela primeira vez o desejo dominar-lhe os pensamentos. Mas logo os espantou quando Anna sentou-se em sua cama de folhas. Abraçou o próprio corpo tentando esquentar-se.

– Não me respondeu se o sangue era seu. – cobrou Louis sentando ao lado da garota e passando um braço sobre os seus ombros a fim de esquentar-lhe.

Ela sentiu o corpo amolecer e uma sensação boa apoderou-se de seu peito. Deixou-se levar pelo desejo oculto e apoiou sua cabeça no peito de Louis.

– Meu estômago não está muito bom. – sussurrou puxando o ar com força gravando em sua memória o cheiro do rapaz.

O estômago dele parecia não estar bom também, pois dava voltas e voltas em apenas senti-la tão perto de si. Ficaram em silêncio apreciando em segredo um a presença do outro. Louis acariciava lentamente os longos cabelos de Anna fazendo-a lembrar dos carinhos de sua mãe. Os olhos imediatamente encheram-se d’água e ela prendeu o choro engasgado em seu peito. Ela não chorava, nunca. Não podia demonstrar essa fraqueza principalmente na frente da irmã, por isso engoliu com força sentindo o peito esmagado pela sua recusa de liberação.

– Sua espada é muito bonita. – comentou Louis a trazendo para a realidade.

– Era do meu avô. – respondeu simplesmente.

– O que aconteceu com ele?

– Morreu junto com toda a minha família. Apenas eu e minha irmã sobrevivemos.

– Então não está sozinha?!

– Nunca disse que estava.

– Bem, levando em conta que você não falou muita coisa em nosso primeiro encontro...

Anna não escutou a última frase de Louis. Seus pensamentos voaram para a irmã. Como explicaria a presença do rapaz? Será que ela reconheceria a bondade que ela mesma custou a acreditar?

– Para onde estão indo?

– Não temos destino certo. – sussurrou.

Seu peito estava agitado e sentia cada vez mais frio. Estremeceu e agarrou-se a Louis em busca de calor e proteção. Sentia-se frágil fisicamente e emocionalmente.

– Porque não vem comigo e Max? Estamos indo para a Vila dos Elementares, lá você e sua irmã terão proteção.

– Como pode me garantir isso?

– É onde estão os elementares, não é?

– Acredita mesmo nesta lenda?

– Não é uma lenda. Minha mãe veio de lá, ela os conheceu.

Pobre Louis, iludido pelas histórias contadas pela própria mãe. Por muito tempo também acreditou nas contadas pela sua avó e olhe só tudo o que aconteceu?

– Conversarei com minha irmã. Se decidirmos pela vila encontrá-lo-ei lá.

– Assim espero. – sussurrou apertando-a em seus braços.

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– Sinto uma necessidade de protegê-la que não sei de onde vem.

Anna ergueu o rosto para olhar diretamente aqueles olhos tão gentis e amáveis. Arrepiou-se com o que encontrou ali. Seu coração acelerou consideravelmente e pela primeira vez na noite compreendeu que o bater descompassado em seu peito não se devia a qualquer doença e sim a Louis. Percebeu que em todo o tempo em que esteve em sua presença não sentiu nenhuma raiva ou necessidade de vingança. Em seu íntimo gostaria de esquecer-se de todas as desgraças que lhe aconteceram e de todas as promessas que fez em consequência. Gostaria que o mundo fosse apenas aquela pequena caverna e que pudesse passar o resto dos seus dias apenas observando aqueles olhos acinzentados.

– Você faz com que eu queira ser alguém melhor. – sussurrou pousando sua mão esquerda sobre a bochecha do rapaz.

Louis não queria assustá-la com a força de seus sentimentos, mas olhando os olhos tão inocentes e tão cheios de dor, não via como não demonstrar tudo o que estava sentindo. Ouvira muitas histórias sobre a paixão, nunca acreditou que um sentimento fosse tão poderoso ao ponto de fazer-lhe esquecer de todos os problemas, pessoas e lugares. A plenitude em seu peito assustava, mas a ideia de perdê-la assustava ainda mais. Queria que aquele simples momento nunca acabasse.

Aproximou seu rosto ao de Anna encostando sua testa a dela. Fechou seus olhos aproximando-se ainda mais até que seus lábios se tocassem. Anita deixou-se levar pela nuvem de carinho e retribuiu o ósculo com a delicadeza de quem está descobrindo uma verdadeira e pura demonstração de afeto. O fato encantou Louis que usou suas mãos para afagar-lhe as costas e nuca. Afastou sua boca sem afastar seu nariz da pele de Anna. Deslizou pela bochecha indo até a orelha, suspirou e retornou a beijar-lhe. Nenhum dos dois ousou abrir os olhos com medo de que o encanto se quebrasse. Ele afastou sua boca mais uma vez, mas agora suas testas continuavam coladas assim como seus braços entorno um do outro.

– Isso se chama beijo. – sussurrou ele lembrando-se da inocência de Anna ao não saber o que era um assobio.

– Eu sei o que é um beijo. – murmurou correndo a mão apoiada no ombro de Louis deslizando para o braço para enfim chegar a sua mão.

Segurou-a e a levou até seu peito.

– Eu não sei o que é isso.

– Isso se chama amor.


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Notas finais do capítulo

Final de capítulo para vomitar arco-iris hahahah xD



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