A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 6
V. Vila Elementar


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Desculpem a demora, minhas aulas e trabalho já começaram e estou atolada de coisas para fazer. Mas o cap finalmente saiu e espero que gostem.



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V. Vila Elementar

Maximiliano não demorou a encontrar o que procurava, porém ficou em dúvida se se apressava ou não para voltar ao lago. Queria dar um pouco de privacidade ao amigo, mas não sabia se o estado da garota se agravara ou não. Resolveu dar uma enrolada ao lembrar-se dos olhares trocados entre os dois. Sorriu sabendo que se Louis quisesse ele seria muito feliz com aquela garota. Não tinha uma opinião formada sobre ela, não teve a oportunidade de conversarem, mas confiava na escolha do amigo. Ela deveria ser uma boa pessoa.

Mesmo com o ritmo lento Max não tardou a avistar a caverna. Aguçou a audição para evitar qualquer constrangimento, mas não ouviu nada suspeito. Ao adentrar a gruta não pode evitar o sorriso, pois a garota dormia abraçada ao seu amigo que mantinha os olhos fechados enquanto acariciava os longos cabelos de Anna.

– Ela está melhor? – perguntou com um sorriso malicioso.

Louis abriu seus olhos e bufou ao notar a expressão do amigo que apenas riu e levou as flores até uma pequena panela que estava jogada ao chão. Encheu-a de água e voltou até o amigo.

– Você poderia dar uma agilizada no processo. – sugeriu segurando a panelinha pela alça.

O mais velho segurou a base da panela e tratou de esquentar seus dedos e em poucos segundos a água fervia. Max jogou as flores dentro e esperou o chá ficar pronto. O silêncio imperou na caverna por longos minutos. Foi quando ouviram uma corrida ao longe.

– Deve ser a irmã de Anna.

– Não sabia que ela tinha uma irmã.

– Soube agora a pouco.

Aline tinha as mãos cheias com as ervas contra enjoo, estava preocupada com sua irmã mais velha e apavorada com a ideia de perdê-la. Foi então que notou as duas presenças estranhas. Sentiu a espinha gelar com medo que tivessem feito algum mal a Anita. Rosnou apurando a corrida e em segundos estava na entrada da caverna. Seus olhos, azuis contornados com um vermelho vivo de quem recém se alimentara de sangue, correram por todo o interior. Apavorou-se ao notar sua irmã desmaiada sobre um dos homens.

– Largue minha irmã! – sibilou furiosa.

O tom de Aline alertou os dois amigos. Maximiliano levantou-se em um salto se colocando em posição de defesa. Louis apertou os braços em torno de Anna para protegê-la.

– Se acalme menina! Estamos apenas querendo ajudar. – pediu Max sem deixar a posição defensiva.

Aquela garota lhe trazia uma sensação arrepiante, não lhe transmitia qualquer confiança.

– É claro, como se existissem puros de coração nesse planeta poluído! – ironizou furiosa.

A fúria não contida alertou ainda mais os dois homens e acabou por acordar Anna. Duvidosa e ainda sentindo-se fraca tentou entender a confusão a sua volta.

– Já mandei ficarem longe da minha irmã! – grunhiu Aline.

Finalmente a mais velha deu-se conta do que estava acontecendo. Fora descuidada. Deveria ter mandado Louis e seu amigo embora quando ainda era tempo. Agora teria que contornar a situação.

– Está tudo bem Aline. – falou firme se desvencilhando dos acolhedores braços de Louis e pondo-se protetoramente em sua frente.

A mais nova olhou-a com confusão, porém logo entendeu o que estava acontecendo. O ciúme dominou seu coração e ela sentiu-se traída e abandonada pela irmã.

– O que isso significa? – perguntou entre dentes.

– Eles me acharam passando mal e me ajudaram. – explicou calmamente.

Aline torceu os lábios tentando controlar a fúria que estava prestes a explodir.

– Então finalmente achou quem procurava... Pessoas boas e compreensivas. – ironizou. – Você é ridícula! Está tomada por essa doença e não tem mais discernimento!

Anna rosnou furiosa avançando sobre sua irmã e a pegando pelo pescoço. Sem medir sua força apertou-a contra a parede da caverna.

– Me respeite!

Aline estremeceu encolhendo-se. Não ousou tentar se soltar sabia que seria pior. Anita voltou-se para os dois amigos que observavam tudo chocados. A força na voz da mais velha pode ser sentida por eles que estremeceram levemente. Ela virou para os dois, mas não olhou nos olhos de nenhum deles.

– Acho melhor irem.

Max sentiu um calafrio subir pela sua espinha, talvez o amigo não fosse tão bom quanto imaginava para escolher uma garota. Louis também sentia o perigo, porém seus sentimentos por Anna o faziam lutar por ela. Lentamente se aproximou e pousou a mão sobre o braço estendido.

– Você não precisa castigá-la. – murmurou.

Aline olhava o estrangeiro com incredulidade. Ele realmente estava intervindo por ela? Sua irmã lhe arrancaria a cabeça por tocá-la. Porém a reação da mais velha não foi tão severa quanto imaginou. Anita apenas ergueu o olhar para Louis.

– Não cabe a você decidir. – a voz soou mais doce do que pretendia, por um lado sentiu-se bem por não magoá-lo, por outro sabia que a sua irmã a questionaria mais tarde.

– Sei que não, mas...

– Sem mas. Eu a criei desde menina e cabe somente a mim sua educação. Agora eu peço novamente que partam. Agradeço o que fizeram por mim, mas não são mais necessários. Sigam o seu caminho.

Aquelas palavras doeram mais em Anna do que em Louis, talvez a paixão que sentia realmente havia o cegado, pois por pior que fossem as palavras ele não conseguia sentir-se ferido, apenas triste por ter que se afastar.

Deu um passo para trás e perguntou preocupado.

– Você vai ficar bem?

A simples pergunta destruiu seus confusos pensamentos. Se antes se recriminava por estar se sentindo mal por expulsá-lo agora sentia-se pior ainda. Afrouxou sua mão na garganta de Aline e sentiu seus olhos umedecerem. Nunca quis tanto não ser Caos. Louis era tão bom, tão gentil e carinhoso, ele não merecia nutrir sentimentos por alguém como ela.

– Não sou quem pensa que sou, não perca o seu tempo. Apenas vá embora. - sibilou de maneira seca.

O olhar confuso e infeliz que Louis lhe lançou a assombraria pelo resto de sua vida. Ele engoliu o orgulho e a vontade de exigir uma explicação para súbita mudança de temperamento e caminhou em direção à saída, quando estava próximo o suficiente de Anna apenas murmurou.

– O chá que está na chaleira vai melhorar a sua febre.

Caos fechou seus olhos sentindo a angustia encher seu peito. Sabia que havia o magoado e não imaginou que aquilo poderia incomodá-la tanto. Max seguiu o amigo em silêncio lançando um olhar confuso a adoentada. Logo os dois corriam para o sul.

– Você está bem?

– Não. Mas isso não importa. Ela ficará bem, agora quero resolver o assunto de mamãe e voltar para casa.

Enquanto isso uma longa discussão ocorria dentro da caverna, ou melhor, monologo no qual Aline destilava seu veneno aos dois estrangeiros. Anita sentia-se miserável e a voz de sua irmã não ajudava em nada. Caminhou em silêncio até onde estava a chaleira e serviu-se com o chá morno. Ao ver a irmã levar o líquido até os lábios Aline desesperou-se imaginando que aquilo poderia ser algum tipo de veneno.

– Você está louca?! Não beba isso!

– Já chega Aline! Sua voz está me irritando profundamente e você já passou de todos os limites! Eu vou tomar esse chá e assim que me recuperar lhe darei uma lição por agir com tanta insolência!

– Como pode preferir dois desconhecidos a mim?

– Deixe de ser estúpida!

– Estúpida? Depois de tudo o que vimos pelo mundo você ainda me chama de estúpida?!

– Calada criança! – rugiu. – De nada você sabe sobre a vida! Não fez nem seu primeiro século de vida e se acha muito experiente! Contenha sua arrogância Aline se não quiser um castigo pior! Agora chega de discussão. Eu estou cansada e preciso dormir.

Ainda resmungando a mais nova seguiu para fora da caverna e mergulhou no lago onde suas palavras não irritariam mais sua irmã. Já Anna sentindo-se ainda mais exausta acomodou-se em sua cama de folhas e bebeu o chá que lhe foi preparado.

– Me perdoe Louis. – sussurrou tristemente antes de fechar os olhos e entrar no mundo dos sonhos.

***

Foram quase três semanas de corrida. A comida que carregavam em suas sacolas já estava para acabar quando finalmente avistaram sinais de vida em comunidade. Não tiveram muitos problemas em sua viagem. Apenas o mal tempo os impediu de chegar antes.

Max não conteve o assobio quando seus olhos captaram a imensidão da vila Elementar. As bandeiras hasteadas no alto dos pilares de entrada não deixavam qualquer duvida de que estavam no local certo. A floresta fechada à volta era um grande muro. Guerreiros se mantinham em pontos estratégicos para a proteção do seu lar. Caos estava para atacar e não poderiam descuidar da segurança do lugar que tanto amavam viver.

– Eu não sabia que esse lugar era tão grande. - murmurou Louis fascinado.

– Parece que estamos entrando no futuro. – completou seu amigo igualmente encantado.

Ao chegarem aos grandes pilares de pedra observaram que ali algo estava esculpido. Os símbolos desconhecidos de repente começaram a borrar suas vistas e a história dos primórdios passou-se em suas mentes de maneira silenciosa e cinzenta. Os riscos estranhos tomaram formas de pessoas de pedra. Eram 7 adultos com suas asas abertas pousando em solo firme, 3 mulheres e 4 homens. Suas feições não eram identificáveis, os desenhos animados pareciam ter sido feitos por uma criança talentosa. Os sete começaram a brincar pelo local, dançavam sozinhos e separados, pulavam nos lagos e mares, voavam por entre as árvores fascinados com tudo o que viam. Até que enfim reuniram-se novamente no ponto de partida. As bocas se mexiam demonstrando que conversavam, mas nenhum som os observadores escutavam. Então pequenas bolas começaram a cair dos céus e quando os sete se aproximaram perceberam que eram bebes. Enquanto um homem e uma mulher cuidavam dos pequenos os outros 5 começaram a construir abrigos e objetos. Estruturas começaram a se erguer e as crianças a crescer.

A visão terminou quando um pigarro os tirou a concentração. Louis e Maximiliano estavam completamente extasiados. Os desenhos voltaram às linhas indecifráveis de inicio e a atenção dos dois amigos voltou-se para o homem parado bem entre os pilares.

– Sejam bem-vindos jovens a Vila Elementar, o que lhes trás de volta a origem? – perguntou, a voz grossa entoava respeito.

Os olhos escuros eram sérios combinando com a barba grossa que cobria a parte inferior de seu rosto. Os cabelos compridos e castanhos estavam amarrados para trás. Sua pele morena e os músculos inchados. Usava roupas obviamente protetoras, feitas provavelmente com coro animal. Mesmo assim eram de extrema elegância. Em sua cintura o cinto segurava uma bonita espada. Era um guerreiro obviamente.

– Viemos do norte. Meu nome é Louis e esse é meu irmão mais novo Maximiliano. Somos bons guerreiros, mas pelas histórias que escutamos sobre o Caos nós não podemos agir sozinhos.

– Não fale assim meu irmão, o guerreiro achará que somos covardes. – replicou Max com ar de diversão.

O homem sorriu. Um sorriso que escondia seus verdadeiros pensamentos, Louis percebeu ao observar os olhos cuidadosos do estranho.

– Me chamo Abel e não os acho covardes, os acho inteligentes e cuidadosos. Mas se são bons guerreiros ainda não sei. Entrem... A Vila Elementar tem as portas abertas para qualquer um com boas intenções.

Abel os guiou para dentro. Observaram outro homem acenando silenciosamente e tomando o posto do guerreiro.

– Não sei como era a vila onde viviam, mas aqui vivemos pacificamente e não é tolerada qualquer briga entre os moradores. Cada um tem sua função e vocês terão as suas se quiserem um teto para viver embaixo. Pelo que falaram se encaixaram entre os guerreiros, mas ainda veremos isso com o líder da guarda elementar.

– Ele é um elementar? – Max perguntou não conseguindo esconder a curiosidade.

Louis lhe lançou um olhar nervoso, mas o mais novo apenas deu de ombros. Já Abel que andava um pouco a frente dos dois virou o rosto com curiosidade.

– Na verdade ela. Aurora é filha da curandeira. Mas não se enganem pela doçura de sua mãe, pois o que a senhora Noemi tem por fechar feridas, sua filha tem por abri-las.

Os dois trocaram um olhar cuidadoso antes que Louis perguntasse.

– Então não são somente seis elementares?

Abel franziu o cenho. Há milênios os estrangeiros esqueceram-se quantos eram seus mestres. Quando chegavam à vila geralmente estavam incrédulos sobre a veracidade das histórias contadas pelos seus antepassados. Porém todos da vila sabiam que eles eram em 7. Poucos conheciam a sétima, porém sabiam que ela estava em algum lugar do planeta. Como aquele garoto sabia que ali viviam seis elementares, mas desconhecia a sétima?

– Bem... Os elementares também constituem família. Mas nem todos os filhos são elementares.

– O que quer dizer?

– Somente as filhas mulheres das mulheres elementares e os filhos homens dos homens elementares continuam seu legado. Mas todos são respeitados igualmente.

Os três continuaram a lenta caminhada. Enquanto Abel tentava desvendar o mistério que os dois traziam, Louis e Max observavam tudo a sua volta.

Tudo parecia tão grande e tão avançado. A Vila dos Pescadores apesar de próspera não possuía enormes estruturas, casas feitas de pedra e construções para convívio comum, como a praça repleta de brinquedos para as crianças e o posto de comando dos guerreiros que tinha da Elementar. Muitas pessoas andavam de um lado para o outro. Algumas obviamente trabalhando e outras apenas passeando com suas crianças. Muitos os observavam com curiosidade e já espalhavam as novas pelos ares.

– Os levarei até o senhor Thalles, o senhor do destino.

Novamente os dois trocaram um olhar cuidadoso. No seu íntimo Max temia por descobrirem a mentira sobre serem irmãos, já Louis encheu-se de esperança que lhe dizia que conseguiria descobrir o segredo de sua mãe.

Caminharam até um grande paredão de pedra. Por um momento não compreenderam, mas então Abel abriu suas enormes asas e voou até o topo do que descobririam mais tarde se chamar Pico Sagrado. Seguiram voo e pousaram levemente ao chão. Logo avistaram a grande casa construída com pedras, no teto um homem de pequena estatura e estrutura estava sentado balançando suas pernas e mascando um pequeno cabo de erva doce. Suas roupas simples e largas balançavam com o vento forte no alto da montanha de pedra.

Os estrangeiros o olharam com gigantesca curiosidade. Ele não era parecido com nenhum homem que já pudessem ter visto em seus milênios de vida. Thalles parecia frágil aos seus olhos. Não podiam acreditar que uma criatura tão indefesa poderia ser tão poderosa. Entretanto quando os olhos azuis os fitaram sentiram um arrepio subir por suas espinhas e seus joelhos bambearam com o imenso poder que sentiam.

Abel sorriu para Thalles lhe fazendo uma breve reverência.

– Trago estrangeiros senhor.

– Eu vejo Abel. Deixe-me conversar com eles, há muito os aguardo. Pode voltar ao seu posto.

Abel assentiu e despediu-se dos três seguindo voo de volta à entrada da vila.

– Então... – Thalles iniciou saltando de cima de sua casa e pousando com suavidade sobre o chão.

Por um momento Max imaginou que os ossos do elementar fossem se quebrar em vários pedacinhos.

– Meu nome é Louis e esse é meu irmão Maximiliano.

Thalles os observou com curiosidade e excitação. Uma coisa era vê-los em suas visões, outra totalmente diferente era tê-los bem em sua frente. Os jovens seriam de muita importância num futuro próximo.

– Temos uma casa simples para acomodá-los e creio que se encaixarão com facilidade nos treinos dos guerreiros.

– Agradecemos pela hospitalidade senhor. – agradeceu Max aliviado pelo elementar não ter notado a mentira.

O ancião andou lentamente passando entre eles e se posicionando a beira do penhasco de costas para os dois.

– Não agradeça ainda Max. Tempos sombrios estão cada vez mais próximos e precisaremos de sua ajuda e de seu amigo. Sei que são bons guerreiros, você por ensinamentos e Louis por sangue.

Os dois arregalaram seus olhos.

– Senhor nós... Desculpe-nos pela mentira, é que... – Louis iniciou nervosamente, mas foi cortado por Thalles.

– Mentira? Não mentiram jovem guerreiro. O fato de não serem irmãos de sangue não muda o fato de serem irmãos de coração. – virou-se para eles. – Agora me sigam, os levarei até a cabana onde poderão viver e depois até Aurora. O dia está apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Então? Curtiram? O próximos capítulos estarão bem agitados, com lutas e revelações ;)



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