A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 38
XVI. Batalha na praça


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Quanto tempo 0.0 Para quem não viu o recado no face eu estava em final de semestre na faculdade e só a pouco tempo voltei a escrever... Ai como é difícil voltar ao ritmo em que eu estava! Mas enfim, finalmente consegui terminar o capítulo e aí está.



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XVI. Batalha na praça

O cheiro de madeira queimada ainda era forte, mas Shu não se importava. Tinha um sorriso travesso nos lábios enquanto brincava com a fuligem negra em suas mãos. Estava sentado displicentemente sobre o telhado daquilo que foi o Posto de Mensagens. Ao seu lado estava seu fiel seguidor Bryce. Os dois observavam em silêncio o movimento na praça da cidade.

– Lá está a rainha. E a princesa está junto! – avisou Bryce excitado.

– Eu já as avistei. Agora absoluto silêncio Bryce. – ordenou o ancião puxando uma respiração profunda.

O segredo era a concentração. A lembrança de quando descobriu sobre o sangue semelhante estava clara em sua mente como se o evento tivesse acontecido naquela mesma manhã e não há milênios. Sempre teve grande ambição por poder. Quando observava os elementares exibindo seus poderes em tarefas simples do dia a dia ele não sentia admiração, mas sim inveja. Porque eles tinham toda aquela força emanando de seus corpos? Como eles conseguiam fazer aquilo? Só porque eram poderosos tinha que abaixar a cabeça para as suas ordens? Se os papéis se invertessem como seria? O povo o seguiria e o aclamaria como faz com os elementares?

O rancor crescia e amargava ainda mais sua boca cada vez que via seu irmão Sadoc ser cobrado pelos elementares por uma maior participação nos afazeres da vila. Sadoc era da guarda elementar, entretanto era insubordinado e não sabia a hora de parar em um duelo, por estes motivos foi expulso da guarda. Revoltado pela decisão dos elementares recusou-se a colaborar com qualquer outra atividade. Apenas ficava em sua casa alimentando seu ódio.

Shu que na época era aprendiz no Posto Médico dedicou-se a estudar a flora atrás do segredo dos elementares. Contudo conforme o tempo passava a frustração em não encontrar o que procurava crescia proporcionalmente a ira de seu irmão Sadoc que dia após dia se dedicava a encontrar confusão com qualquer um que cruzasse seu caminho.

Foi após uma dessas brigas que um homem chegou gravemente ferido ao Posto Médico. Naquele dia o posto estava agitado devido a um grande deslizamento que feriu muitos moradores da vila. Então foi Shu a atender o desafeto do irmão.

O homem estava em frangalhos, havia cortes por todo o seu corpo e o sangue escorria das feridas. Com um pano molhado Shu iniciou a limpeza das cissuras, mas assim que tocou no homem teve seu braço agarrado pelo mesmo.

– Eu vou acabar com a vida miserável do seu irmão! – grunhiu entre rosnados.

Shu observou em silêncio o rosto raivoso. O asco embrulhou seu estômago e a ira cobriu sua visão. Por breves segundos lamentou-se por não carregar uma espada ou qualquer arma em sua posse.

– Só se você viver para isso. – sussurrou arrogante antes de cravar seus dentes na jugular do homem que até tentou se defender, mas Shu segurou-lhe contra a cama enquanto sacudia a cabeça de um lado para o outro como uma leoa que finaliza sua presa.

Ao afastar-se do corpo já sem vida sorriu com o gosto doce e viciante que estava em sua boca. Achou peculiar que o sangue de seu semelhante fosse tão saboroso e qual não foi sua surpresa ao sentir a estranha energia correndo em suas veias.

Tomado pela curiosidade ergueu seu braço direito, abriu e fechou sua mão sentindo o pode fluir e então a balançou bruscamente. O sorriso abriu-se em seus lábios ao mesmo tempo em que a pequena cômoda do quarto se desfazia em dezenas de pedaços.

Virou-se para o corpo sem vida deitado na cama.

– Muito obrigado meu amigo. – ironizou. – Você me trouxe o segredo deles.

Porém o sorriso desmanchou-se assim que o suposto defunto abriu os olhos, agora vermelhos, e levantou-se da cama. O corpo ficou ereto, mas a cabeça pendia para o lado presa apenas pelo resto de carne do pescoço e pelos ossos da coluna. Shu ficou apavorado e tudo o que conseguia pensar era em um jeito de fugir daquele quarto. Não compreendia como era possível que ainda estivesse vivo.

Esgueirou-se até encostar as costas na parede. Novamente lamentou-se por não possuir nenhuma arma para arrancar de uma vez por todas a cabeça do corpo daquele homem. Queria vê-lo continuar em pé se não tivesse mais a cabeça.

E para o seu completo espanto o homem caminhou até a janela, inclinou-se sobre o beiral e deixou que a vidraça terminasse o serviço.

Assustado correu para longe. Conforme corria foi assimilando o que tinha acontecido e várias teorias se formaram em sua mente. Ao chegar perto de sua casa já não estava mais tão assustado, na verdade estava excitado e cheio de ideias. A primeira coisa que fez foi convencer seu irmão a sair da vila, depois lhe contou tudo sobre o que descobriu e a partir daquele momento a era de destruição causada pelo exército de olhos vermelhos começou.

– Comandante isso é melhor do que eu esperava! Mas onde estão nossos soldados? – a voz entusiasmada de Bryce trouxe Shu de volta ao presente.

– Sua impaciência é irritante Bryce. – resmungou Shu levantando-se para observar melhor o pandemônio na praça da cidade.

Sorriu satisfeito. Lá estavam os rebeldes com pinturas corporais em tons azuis e verdes representando a vontade de reestabelecer o domínio sobre o planeta.

Na praça a primeira a notar algo estranho foi a princesa. Sentiu um mau pressentimento e logo tinha seus olhos castanhos correndo por toda a extensão da região. Não demorou a avistar os olhares tempestuosos em sua direção. Cerca de vinte pessoas, a maioria eram homens. Imediatamente segurou o pulso de sua mãe que ainda tagarelava a respeito do monte sagrado e toda a mística que rondava o lugar.

Anna tornou seus olhos azuis e rosnou colocando-se em frente a sua mãe.

– Anita? O que está... – neste momento Isis também percebeu o eminente ataque. Com toda a confusão e descobrimento sobre sua filha e Louis havia esquecido completamente dos perigos que rondavam o castelo.

– Mamãe, fique atrás de mim, está bem?

– Não inverta os papéis minha menina. – resmungou Isis.

Admitia que não era boa guerreira, mas não se esconderia enquanto Anna lutava. Se não era boa suficiente para protegê-la, então lutaria ao seu lado.

Os alvos estavam bem claros. A rainha e a princesa.

Anna rosnou ao mesmo tempo em que um dos guerreiros da guarda, que fazia ronda na praça, soou sua trombeta avisando o ataque. Em segundos os risos infantis deram lugar a gritos, rosnados e choros.

Isis abaixou-se e cravou seus dedos no chão. Com uma respiração intensa a rainha comandou as raízes mais profundas a tomarem um pouco de ar. Alguns rebeldes foram surpreendidos com seus tornozelos, pulsos e pescoços presos pelas plantas. A cada tentativa de liberdade as raízes intensificavam o aperto.

Já a princesa atacou com os punhos, tinha medo de usar seus poderes e acabar matando um dos rebeldes. Após recuperar suas memórias havia prometido a si mesma que nunca mais tiraria uma vida. Além do mais tinha certeza que aquelas pessoas estavam apenas sendo manipuladas por alguém com perversos objetivos.

Com uma destreza inesperada pelos jovens revolucionários ela foi colocando um por um no chão. Com o rosto tomado por uma feição séria Anita abaixava-se desviando da lâmina de uma espada para em seguida dar um golpe certeiro e poderoso no peito do guerreiro que tentava lhe agredir. Mal percebia que seu oponente perdera a consciência e já era obrigada a desviar de outro golpe.

Notou que os guerreiros da guarda já lutavam ao seu lado protegendo o povo e aprisionando os já imobilizados e inconscientes rebeldes. Tudo já estava sob controle. Pelo menos foi o que pensou.

Ao girar em seu próprio eixo após golpear uma mulher de cabelos loiros sentiu o ar fugir de seus pulmões, pois havia mais de 80 olhos vermelhos entrando na batalha. Caminhavam lentamente deixando que os rosnados ensurdecedores aterrorizassem seus inimigos.

Shu não pode evitar o sorriso ao observar o espanto da princesa. Bryce mal conseguia se conter, andava de um lado para o outro enquanto ria se divertindo.

Por um momento os guerreiros da guarda real deixaram os rebeldes de lado e paralisaram observando aquele verdadeiro exército caminhando para o local mais pacífico da cidade. Aquilo seria um banho de sangue. A história do local seria manchada. Não conseguiam acreditar como todos aqueles olhos vermelhos adentraram na cidade. As torres situadas nos quatro cantos da cidade estavam em constante comunicação com o Posto de Comando e nenhum aviso foi dado.

Anna virou sua cabeça o suficiente para visualizar o que acontecia as suas costas. Não eram apenas os guerreiros que assistiam com espanto aquela marcha sinistra, os rebeldes também aparentavam medo, confirmando a suspeita da princesa de que eles foram manipulados.

Anita preocupou-se ao notar que não havia nem uma dezena de guerreiros da guarda real. Eles eram suficientes para lidar com o pequeno grupo de revolucionários, mas não para acabar com aquele batalhão sanguinário.

Estranhamente sua respiração estava calma. Sua mente trabalhava rápido em busca de uma solução. Seus olhos correram por toda a volta até voltarem-se novamente para os soldados. Ainda havia muita gente inocente na praça. Voltou-se novamente para as suas costas buscando sua mãe. A rainha estava bem embaixo da árvore do centro da praça, tinha cinco crianças as suas costas. Céus! Estavam bem no meio daquela confusão.

Sua preocupação diminuiu quando viu ao longe seu pai acompanhado de Mathias, Max, Isaac, Aurora e mais alguns guerreiros da guarda.

Focou-se então nos inimigos à frente. Sabia que apesar da experiência os guerreiros estavam com medo. Desde a chegada na Lua muitas batalhas aconteceram, porém sempre entre guerreiros conscientes. Os casos de olhos vermelhos eram poucos e rapidamente solucionados. Exércitos como este só existiam nas histórias contadas por anciões dos tempos de vida no planeta.

A princesa caminhou rapidamente tomando a dianteira, e liderança, na batalha.

– Jasmim! – gritou Anna em seu melhor tom de comando. – Quero uma linha atrás de mim com arqueiros. Há controladores de fogo?

Não obteve resposta.

– Jasmim! – rosnou para a segunda no comando da Guarda Real.

– Princesa? – respondeu temerosa.

– Quero uma linha de arqueiros atrás de mim. – repetiu lentamente. – E preciso de controladores do fogo. Se não houver nenhum quero que façam uma fogueira para jogar os corpos.

– Sim minha princesa! – a confiança de Anna contagiou a guerreira que logo ditava ordens aos assustados subordinados.

– Jasmim?

– Sim?

– Impeçam a todo o custo qualquer olho vermelho de seguir pela cidade. Essa batalha acabará aqui e agora!

– Sim majestade!

Deixou que a experiência do passado assumisse o controle e usou da melhor defesa, o ataque. Esticou seu braço esquerdo na frente de seu corpo e formou um arco de fogo azul, em seguida ergueu seu braço direito para o alto e em cada dedo formou uma flecha flamejante. E com o arco inclinado na horizontal Anna lançou de uma só vez as cinco flechas. Tinha consciência de que assim que os primeiros soldados caíssem os outros correriam ao ataque, só rezava para que os arqueiros lhe dessem cobertura por tempo suficiente para ela derrubar pelo menos mais uma dezena de fantoches.

Como previu eles vieram ao ataque e quando o espaço já não era suficiente para lançar suas flechas azuis concentrou sua energia em seus punhos.

Ainda observando a batalha, mas agora com o semblante impressionado, Bryce estava paralisado.

– Ela é impressionante... – comentou. – Confesso que quando disse que ela era a reencarnação de Caos eu tive as minhas dúvidas. Ela sempre aparentou ser vulnerável e delicada. Mas agora parece uma guerreira milenar... Diria até uma guerreira elementar pura, como contam as lendas.

– Ela será ainda mais poderosa quando vier para o nosso lado. – completou Shu levantando-se de sua posição.

– Cuidado, se ficar aí alguém o enxergará.

– Eu só preciso que uma pessoa me enxergue.

– Os soldados estão caindo...

– Não importa.

– Mas perderemos a guerra!

– Perderemos uma batalha para ganharmos a guerra. – rugiu Shu perdendo por um segundo o foco de seus fantoches.

Seu rosnado não fez apenas Bryce se calar, mas chamou a atenção da princesa que notou o rápido descontrole dos soldados. Neste momento Anna lembrou-se de como os olhos vermelhos caíram quando sua irmã desistiu de lutar.

Cercada por fantoches sanguinários ela continuou a chutar, abaixar, rosnar e incendiar os inimigos, mas seus olhos procuravam a volta o comandante daquele absurdo. Não demorou para que os dois homens sobre o teto do queimado Posto de Mensagens lhe chamassem a atenção.

Abaixou-se até encostar suas mãos no chão e então saltou para abrir suas asas. Fixou seus olhos nos estranhos e notou os orbes vermelhos em um deles. Era ele! Imediatamente bateu suas asas e iniciou a perseguição.

Shu segurou o sorriso quando percebeu que seus planos estavam saindo melhores do que esperava.

– Quando os soldados caírem libere os filhos da Lua. – ordenou antes de saltar do prédio e iniciar sua corrida.

A princesa precisou recolher suas asas para correr entre as árvores. Ele era rápido, teve que admitir a si mesma, porém não desistiria facilmente. Com um rosnado profundo forçou seus pés a aumentar a velocidade até que finalmente aproximou-se o suficiente para saltar sobre ele e derrubá-lo ao chão.

Com o riso solto Shu se livrou de Anna ao chutá-la para longe.

– Está ainda mais impressionante minha querida... Caos.

A morena interrompeu o ataque que estava prestes a desferir.

– Curiosa? – perguntou sorrindo arrogantemente. – Eu a observei por um bom tempo. Sempre controlando sua irmã... Mantendo-a embaixo de sua saia. Tanta proteção para no fim abandoná-la.

– Eu não a abandonei!

– É claro que não. Apenas decidiu seguir uma vidinha utópica ao lado do filho de Michaella.

– Minhas decisões não lhes dizem respeito! – retrucou irritada.

– Eu tinha planos para você! – rosnou descontrolado.

Anna franziu o cenho.

– Ainda tenho planos. – completou suavemente. – Não sente falta de sua irmã?

A princesa preferiu ficar em silêncio. É claro que sentiu falta de Aline, mas acima de tudo sentiu culpa, pois queria que o tempo voltasse para que ela pudesse tomar decisões diferentes. Decisões que não tornassem sua irmãzinha tão amarga e cheia de sede de sangue.

– Não gostaria de evitar tudo o que ela passou? Não gostaria de tê-la novamente ao seu lado? – involuntariamente Anna deu um passo na direção de Shu. – Existem culpados pelo o que aconteceu a ela... Pelo o que aconteceu com sua família... Pelo o que aconteceu com você.

A sonoridade de cada palavra que Shu articulava parecia enfeitiçar e atrair a princesa que caminhava lentamente na direção do ancião.

– Você tem o direito de se vingar de todos eles. – sussurrou pegando um pequeno canivete no bolso de sua calça para em seguida fazer um corte na palma de sua mão esquerda. – Você pode enxergar novamente a verdade do mundo.

Anna já estava há um passo de Shu e olhava fixamente para o sangue escorrendo pelo braço dele.

– Basta beber. – aproximou a palma perto do rosto da princesa. – Beba minha criança. Seja novamente o Caos.


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Notas finais do capítulo

Não me matem D: Os próximos capítulos também estarão tensos. Muito tensos. Já que estamos em reta final de temporada. Eu realmente espero que estejam gostando ;)



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