A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 30
VIII. Cura?


Notas iniciais do capítulo

OOi gente, desculpem a demora. Estou atolada com a faculdade D: Mas vamos a mais um capítulo fresquinho para vocês, espero que gostem ;)



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VIII. Cura?

Olhares assustados acompanharam o caminhar irritado do soberano da Lua em direção as escadas. Por minutos ninguém falou absolutamente nada. Foi apenas quando o velocista disparou cumprir sua ordem que os cinco presentes saíram de seus estupores.

Isaac não pode evitar uma exclamação de horror. Aurora e Maximiliano apenas trocaram um longo olhar. Por um momento Isis sentiu-se doente e seus olhos foram tomados por uma terrível visão. Segurando o choro de desespero continuou firme abraçando sua filha.

Max deu um passo cauteloso em direção a rainha.

– Minha rainha... Converse com seu companheiro, por favor. Esta decisão acarretará muitas conseqüências. Muitos lunares de bem estão no planeta justamente para impedir que rebeldes façam o que bem entendem. Rei Argos perderá o apoio da população lunar e por nada. A situação no planeta não é tão grave quanto aparenta, o domínio rebelde é grande, é verdade, contudo muitos elementares e guerreiros estão lutando contra eles e restabelecendo a ordem. Nosso rei está cedendo à pressão dos recentes acontecimentos. Por favor, interfira antes que seja tarde demais.

As palavras foram profundas e pelos segundos seguintes a rainha nada disse. Então com uma calma angustiante beijou a testa da filha e lhe sorriu.

– Querida, almoce com os nossos convidados. Diga a Asuka que eu e seu pai não almoçaremos neste momento.

Anna assentiu sentindo seu peito congelar a cada passo que sua mãe dava em direção as escadas. Ela sabia que a rainha seguiria atrás de seu pai e desejou profundamente que repassasse o conselho de Max.

A pedido da princesa fizeram a refeição na cozinha e apesar das inúmeras tentativas de Max em colocar um sorriso no rosto da mais nova o almoço passou-se com tensão. Anna deu apenas algumas colheradas e somente porque sentia-se mal com os olhares repreensivos de Asuka. Estava preocupada e sentia-se culpada, pois sabia que boa parte da impaciência de seu pai era movida pela perturbação que seus pesadelos causavam.

Com a exaustão das noites mal dormidas pediu licença e seguiu para os seus aposentos. Isaac seguiu em seu encalço para se postar no corredor perto da porta do quarto.

– Bem, rei Argos avisou-me que vocês se hospedariam no castelo, então irei arrumar os aposentos.

– Não se incomode Asuka, não creio que seja uma boa idéia ficarmos aqui hoje. O clima está preenchido pela tensão. – adiantou-se Aurora ignorando o olhar chateado de seu companheiro.

– De jeito nenhum! Rei Argos já está irritado o suficiente para tamanha desfeita.

A cozinheira/governanta não deixou que a elementar argumentasse e desapareceu da cozinha em segundos.

Sozinhos na cozinha Aurora levantou-se para sentar em seguida no colo de seu companheiro.

– Estou preocupada com Louis. Ele está vindo e agora...

– A Guarda Real não será capaz de pará-lo minha querida, não se preocupe.

– Seu irmão não é invencível.

Max deixou que um sorriso debochado brincasse em seus lábios.

– Você conviveu muito pouco tempo com ele Aurora, a única a igualar-se com ele era Michaella. Acha mesmo que ele não é capaz de derrubar os melhores guerreiros? Ele fará isso sem ao menos suar.

– Ele não é mais o mesmo Louis. Esqueceu-se que ele é apenas uma criança agora?

O loiro torceu os lábios ao compreender o ponto de sua companheira. Suspirou contrariado.

– Mesmo assim, não creio que ele terá grandes dificuldades para ultrapassar a barreira.

– O problema é o que rei Argos fará.

– E o que Lou fará para revidar.

A conversa acabou com o retorno de Daniel e Náthalie que tinham em suas mãos os sacos de maçãs e em seus rostos o brilho do sentimento recém-descoberto. Juntaram-se ao casal mais velho e logo iniciaram uma conversa cheia de tensão devido aos recentes acontecimentos. Asuka, assim que retornou a cozinha, também entrou no assunto enquanto suas mãos trabalhavam na massa da torta que levaria mais tarde a princesa.

***

Argos não conseguia conter seus passos que se repetiam em um círculo que parecia infinito. Ísis o observava agoniada, mas também temerosa em interrompê-lo. Nunca vira seu companheiro tão irado como naquele momento. Seu coração apertou-se, achava que depois de tanto tempo juntos ela conhecia todas as facetas de seu humor. Pelo visto estava enganada. Por breves segundos lembrou-se de sua infância quando era castigada com grande severidade por seu pai a cada vez que executava alguma peraltice de criança. Os milênios de sua vida não pareciam diminuir a dor que viveu naquela época.

– Me olhe com desaprovação, me olhe com decepção, me olhe com raiva, mas nunca me olhe com medo Ísis, pois isso eu não suporto. – sussurrou o rei assim que notou sua amada a lhe fitar.

– Meu medo não é destinado a você, querido. – aproximou-se e abraçou sua cintura para em seguida encostar seu rosto no peito do companheiro. – Temo suas ações. Temo as consequências de sua ordem.

– Não me peça para voltar atrás. Eu não o farei!

– Você não está agindo com sabedoria, está sendo teimoso e severo.

– Não me venha com esse discurso dos sábios Ísis. – bufou se desvencilhando do abraço e seguiu sentar-se atrás de sua mesa, não percebeu o quanto seu ato a magoou. – Há muito com que temos que lidar. Teremos muito trabalho para contornar as consequências do ataque ao Posto de Mensagens. O povo está apavorado e os rebeldes cada vez mais ousados. Qual será o próximo passo deles? Destruir o Posto de Saúde? A escola? Talvez ataquem o castelo, talvez ataquem nossa filha. Nós precisávamos enviar uma mensagem clara e severa. Quando assumimos o poder aceitamos suas reivindicações. Permitimos a moradia no planeta, acalmamos os ânimos dos supersticiosos. E o que recebemos em retorno? Mais revolta, mais batalhas, mais destruição. Não importa que medidas tomamos eles não as respeitam. Então teremos que fazê-los respeitar.

A rainha caminhou lentamente e sentou-se na cadeira em frente à mesa. Olhando seu companheiro de frente torceu os lábios consternada. Ela não estava feliz com a decisão de seu companheiro, mas também não podia negar seu ponto de razão. Ao lidar com criaturas poderosas como a raça lunar nem sempre a conversa honesta funcionava, às vezes era preciso força bruta e um tanto de medo para que todos vivessem em paz. Porém o que lhe incomodava não era apenas a severidade do companheiro.

– Eu tive uma visão.

Por um momento nenhum dos dois respirou. Ísis descendia do senhor Thalles em muitas gerações, todavia não possuía completo controle sobre a visão como o senhor do destino, nenhum de seus descendentes possuía. As visões da rainha eram esporádicas, às vezes eram doces, às vezes amargas, quase sempre curtas e assustadoras.

– E o que você viu? – Argos sussurrou quase solenemente.

– Você.

– Eu?

– Em profunda agonia. – a soberana não pode evitar o tremor em seus lábios e as lágrimas se acumulando em seus olhos. – Você tremia e se debatia como se estivesse delirando. Seu corpo estava encharcado de suor. Seu rosnado era tão alto...

– Você me viu doente querida, apenas isso. – abalado pela recente revelação Argos levantou-se e puxou sua companheira para os seus braços em uma tentativa vã de tanto acalmá-la quanto acalmar a si mesmo.

– Você estava completamente fora de si. Precisa voltar atrás com a sua decisão.

– O futuro não é imutável, minha querida, e sua visão de nada teve a ver com minha decisão.

– Eu a tive no exato momento que ordenou o velocista!

– Isso não quer dizer nada. Você está apenas assustada, venha cá.

Puxou-a pela mão e sentou-se no sofá. Em seguida tinha a rainha em seu colo e a consolava suavemente. Algum tempo passou até que ela adormecesse e Argos se perdesse em sua mente vazia. Estava exausto.

Uma batida a porta o despertou. Com cuidado para não acordar sua companheira levantou-se e foi até a entrada do escritório. Era o chefe da Guarda que vinha verificar a veracidade da ordem.

– Meu rei, eu devo dizer que...

– Não quero seus conselhos Mathias, quero que cumpra minha ordem.

– Sim, meu rei. – inclinou-se em reverência. – E o que devo dizer às pessoas de bem que querem atravessar o portal.

– Diga que devem esperar até que os rebeldes se curvem para o seu rei.

Mathias assentiu e partiu para repassar as ordens. Compreendia a ira de rei Argos e uma parte de si concordava com a ordem severa, porém não podia simplesmente ignorar as consequências daquela ação. Rei Argos poderia até perder o amor de seu povo, mas ganharia em troca a sua submissão.

Ao seguir pelo corredor acabou cruzando seu caminho com Aurora que tinha uma grande bandeja em mãos. Nela uma grande torta de maçã, pratinhos, talheres, bule com chá e xícaras.

A elementar sorriu para o guerreiro e seguiu até o quarto da princesa. Por suas mãos estarem ocupadas quem bateu a porta foi Isaac.

– Vá até a cozinha Isaac, Asuka está chamando para um lanche. Ela exagerou um pouquinho na quantidade de doces feitos com maçãs.

Isaac apenas sorriu e assentiu antes de se retirar. Aurora fez a porta se abrir com seus poderes e entrou no aposento lentamente.

– Princesa? Sou eu, Aurora. Trouxe a torta de Asuka.

Aurora observou o ambiente surpresa por sua decoração ser tão colorida. As paredes e os moveis eram brancos, em compensação cada detalhe do quarto possuía uma cor diferente. Desde a colcha lilás com travesseiros e almofadas em tons vibrantes até o tapete retangular listrado em tons de vermelho, rosa, roxo e azul. Notou na parede a sua esquerda uma porta dupla entreaberta que dava para o quarto de vestir e uma porta simples um pouco mais a direita que imaginou ser o banheiro.

Caminhou até a saleta conjunta com direito a mesa de centro e dois confortáveis sofás brancos, naquele ambiente o colorido vinha do tapete listrado. Deixou a bandeja sobre a mesa e foi em direção à sacada onde estava Anita.

– Seu quarto é muito...

– Vibrante? – Anna quis soar divertida, mas acabou soando monótona.

– Eu ia dizer bonito, mas vibrante também serve.

– Os tecelões divertiram-se ao buscar novas cores.

– Tenho certeza que sim. Como teve está ideia?

A princesa fitou no céu o planeta que no momento tinha a cor próxima ao lilás devido a mistura de cores com os raios do por do Sol.

– Sinto-me bem com as cores vibrantes do planeta, pensei que talvez, ao trazê-las para dentro do meu quarto elas fariam com que me sentisse bem o tempo todo. É tolo, mas quis tentar.

– Não é tolo. É doce.

– Meus pensamentos não são doces Aurora.

A mais velha preocupou-se com o tom sombrio e puxou-a delicadamente pela mão.

– Venha, trouxe a torta de Asuka. E terá que cumprir sua promessa de comê-la inteirinha.

Anita apenas suspirou e seguiu a nova amiga. Sentaram-se e serviram-se em silêncio. Aurora notou a dificuldade da princesa em se alimentar devidamente.

– Você está pensativa, quer compartilhar?

– Eu... – largou o prato quase cheio sobre a mesa e torceu as mãos em seu colo, olhou agoniada para a anciã. – Eu estive pensando quase a tarde inteira sobre isso. Papai está se deixando abalar por tudo o que está acontecendo na Lua e no planeta. Ele nunca foi assim, sempre foi muito sensato em suas decisões. Sei que ele está preocupado comigo. Infelizmente eu não consigo controlar meus gritos quando estou dormindo e isso o está privando do próprio sono. Ele está cansado. Mamãe também. Os dois estão sofrendo ao ver o povo caminhar cada vez mais rápido em direção à ruína e não conseguem se concentrar em ajudá-los, pois estão preocupados demais comigo. Essas coisas terríveis estão acontecendo por cul...

– Não diga que a culpa é sua, pois ela não é. – cortou Aurora.

A curandeira quase podia tocar a agonia que saia pelos poros da jovem.

– Eu não acredito nisso.

– Anna... As pessoas tomam suas próprias decisões baseadas em seus princípios e crenças. Você não está as obrigando a fazer nada disso. E seus pais têm todo o direito de se preocuparem com você. Eles te amam.

– Mas estou atrapalhando. Aurora, por favor, me ajude. Faça os pesadelos pararem. – pediu emocionada.

Por breves segundos a mais velha ficou em silêncio. Seu desejo de ajudá-la era tão grande, mas o que podia fazer? Se lhe contasse quem a princesa era talvez ela piorasse e sofresse ainda mais.

– Eu gostaria querida, realmente gostaria. Mas não há o que eu possa fazer para ajudá-la a não ser estar aqui para escutar seus medos e aconselhá-la.

– Eu agradeço seus conselhos, mas quero a sua cura. Cure minha mente Aurora, eu lhe rogo, por favor.

Aurora não havia pensado naquela possibilidade.

– Eu não sei se isso pode funcionar princesa.

– Você disse que as coisas acontecem por causa das decisões das pessoas, por favor, decida por mim. Ao menos tente, acredite que pode. Não apenas pelos meus pais, mas também por mim. Não sei mais quanto tempo aguentarei ver tudo o que vejo e continuar caminhando como alguém normal.

A espinha da mais velha estremeceu e Aurora não soube dizer se o agouro se referia as palavras da princesa ou a sua decisão. Ignorando o martelar rápido de seu coração estendeu suas mãos aproximando-as da cabeça de Anita. As duas fecharam seus olhos e silenciosamente rezaram para que aquilo desse certo.

***

Forçava suas asas por entre as densas nuvens. Havia sobrevoado boa parte do caminho sobre elas, porém se esperasse um pouco mais para descer acabaria sendo eletrocutado. Gemeu ao não conseguir escapar de uma pequena descarga elétrica. Recolheu suas asas imediatamente e deixou-se cair do céu.

Estava completamente encharcado e cansado, mas não podia parar naquele momento. Algo muito errado estava acontecendo, ele sentia a perturbação crescer cada vez mais poderosa dentro de seu peito. Os céus pareciam refletir seus sentimentos com o barulho ensurdecedor dos trovões.

Com um último suspiro libertou mais uma vez suas asas para que pudesse pousar sem maiores problemas. O atrito de suas asas com o ar tratou de freá-lo o suficiente para colocar seus pés no chão com leveza. Recolheu mais uma vez as asas e não se deixou descansar, tratou de correr.

A noite estava fria e sombria com toda aquela água desabando dos céus quando finalmente Louis chegou ao seu destino.

– Boa noite! – cumprimentou os guardiões do Portal.

Sua voz estava ofegante e seu corpo clamava por descanso. Queria atravessar logo o Portal e abrigar-se em algum lugar aquecido. Todavia seus planos foram frustrados quando em vez de responderem o cumprimento os guerreiros se colocaram em posição de defesa diante da passagem. Um deles adiantou-se amigavelmente até Louis e com o semblante pesaroso o respondeu.

– Boa noite jovem nômade. Infelizmente o Portal está fechado.

– Fechado? Por está noite? O mal tempo também assola a Lua?

– Não. O Portal está fechado por ordem de nossa majestade, rei Argos.

As palavras venenosas de Shu pareciam cantar zombeteiras em seus pensamentos. Segurou a irritação que crescia dentro de si assim como o desespero do desequilíbrio eminente. O poder herdado de sua avó juntava-se com o poder herdado de seu avô em uma agonizante dor percorrendo suas veias. Pela primeira vez seus poderes se juntavam e cresciam ao invés de se anularem como normalmente acontecia. O equilíbrio sempre suavizava a severidade da justiça e justiça não permitia que o equilíbrio fosse tolerante em demasia.

– Por quanto tempo? – inquiriu entre dentes.

– Até que os rebeldes se curvem ao rei.

– Eu descendo dos justos, tenho deveres a cumprir na Lua. Deveres que não podem esperar que o ego do rei seja massageado! – a irritação explodia em suas palavras e os guerreiros tremeram ao sentir o poder do elementar.

Katsuo, o guerreiro que falava com Louis deu um passo para trás ao mesmo tempo em que segurava o cabo de sua espada. Sentia o medo percorrer suas entranhas. Mas a ordem havia sido clara. Ninguém entra e ninguém sai. Não importava se o lunar pertencia a uma família poderosa ou não.

O elementar observou com calma a sequencia de ações em sua frente. Não acreditava que os guerreiros não conhecessem a fama dos justos. Então supôs que escolheram deliberadamente lutar. Observou um dos guerreiros atravessar o Portal, provavelmente avisaria sobre o eminente ataque.

– Acreditem, vocês não querem me enfrentar. – sua voz estava sombria assim como todos os seus pensamentos.

– É você quem nos desafia. – retrucou Katsuo

– Não, rei Argos é quem me desafia. Mas chegarei nele, assim que passar por vocês!


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Notas finais do capítulo

Sim o reencontro acontecerá no próximo capítulo o/ E garanto que será muito emocionante então preparem os lencinhos ^^



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