A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 19
XVIII. A vida não é um conto de fadas


Notas iniciais do capítulo

Preparem os lencinhos e tentem não querer me matar ^^



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XVIII. A vida não é um conto de fadas

Pelas mãos do justiceiro o último corpo finalmente caiu ao chão. Augusto rapidamente girou no próprio eixo para saber qual era a situação geral. Sua expressão tornava-se mais sombria a cada família chorando pela perda de um ente querido. É verdade que a guarda elementar e os elementares, mesmo enfraquecidos, conseguiram dominar a batalha, entretanto não puderam evitar perdas de inocentes.

Um gosto amargo povoou sua boca. Esse era o problema das guerras, mesmo quando eram ganhas elas só traziam dor.

Seus olhos não demoraram a encontrar Michaella que sorria para o esposo de Sandra. Caminhou até o pequeno grupo e logo foi apresentado ao homem que lhe agradeceu com toda a sinceridade de seu coração.

– Nós temos que apressar as coisas. - Augusto franziu o cenho para o tom nervoso na voz de Thalles.

O senhor do destino caminhava rapidamente de mãos dadas com a sua esposa. A expressão no rosto do elementar era quase desesperada. O justiceiro arregalou seus olhos quando o homem de estrutura miúda impacientemente gritou para o seu filho.

– Louis! Está na hora! Você precisa fazer agora!

Ao longe Louis que consolava sua companheira olhou inquieto para o elementar.

– Você precisa ir. - Anna tinha a voz trêmula, mas precisava encorajá-lo.

– Eu ainda não sei como fazer. - respondeu agoniado.

– É seu dever. Nasceu para esse momento.

Como se as palavras fossem a chave para as respostas em sua mente, Louis perdeu o brilho nos olhos como se seu corpo fosse comandado por algo superior. Anna engoliu em seco. Sentia-se assustada, principalmente pelo olhar de seu companheiro que parecia tão sem vinda quanto os olhos-vermelhos que os atacaram há pouco. Por isso quando o jovem guerreiro começou a caminha em direção ao portal ela o seguiu.

Louis caminhava imponente, parou apenas por um breve instante cravando sua espada na terra para limpá-la do sangue e então a puxou mostrando aos mais atentos as duas pedras cravadas em sua lâmina. Quando parou em frente aos pilares de pedras sua expressão transformou-se para algo selvagem, agressiva e acima de tudo mostrava-se soberana diante de todos os observadores, como se sua alma fosse hierarquicamente superior aos demais, até mesmos os próprios elementares.

Olhando para o céu que se enchia de nuvens negras Louis rosnou de maneira penetrante. Seus caninos proeminentes e seus olhos em fenda reforçavam a expressão selvagem. Os pilares voltaram a vibrar e uma fina película transparente tremulou entre eles, quase como uma miragem em dias de extremo calor.

O jovem guerreiro erguia sua espada para finalizar o ritual quando a tragédia aconteceu. Thalles encolheu-se no mais profundo lamento, o futuro caminhou na direção da qual ele mais temia. Os arquejos e gritos de desespero soaram ensurdecedores até que tudo caiu no mais profundo silêncio. Qualquer orgulho que Augusto poderia sentir foi esquecido enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Seus braços seguravam Michaella que não conseguia e não queria calar o mais profundo pranto de mãe. Maximiliano caiu de joelhos. Seus olhos arregalados e desesperados não querendo acreditar no que via.

O que era para ser o marco de uma nova era repleta de esperança tornou-se no maior símbolo mártir de uma alma pura diante do veneno da maldade.

Louis caiu nos braços de sua companheira. No peito do jovem guerreiro a espada quebrada do avô de Anna. A jovem olhava para o seu amado em choque. Estranhamente nenhuma lágrima caiu de seus olhos. Ela apenas acariciou os cabelos e rosto de Louis, fechou-lhe os olhos vidrados e em seguida ergueu a cabeça. Seus olhos acharam a causadora daquele devastador sentimento vazio que parecia crescer em seu peito. Não sentiu raiva, não sentiu repulsa, não sentiu nada. Apenas esticou sua mão esquerda deixando que o arco de fogo azul se formasse, então juntou a mão direita ao arco e puxou a flecha de fogo.

Aline estava estática observando a irmã com o companheiro morto deitado em suas pernas. Percebia o grande erro que cometera e mal conseguia conter a dor exulcerante do arrependimento. Os olhos de sua irmã estavam... Não conseguia achar um adjetivo. Só desejava profundamente que o tempo voltasse para que ela não fosse a causadora do sentimento que via em Anna. E foi com os olhos fechados que ela recebeu a flecha de fogo que a levou para o mesmo lugar em que seu cunhado estava.

Thalles observou sua visão se concretizar quando Anna segurou a empunhadura da espada de Louis.

– Aquele que nos tirará da Terra é o mesmo que um dia nos trará de volta. - profetizou antes que a jovem lançasse a espada na película entre os pilares e deixasse que o poder crescente dentro de si explodisse transformando tudo em apenas luz.

***

A luz azul da noite adentrava pela janela do quarto da princesa da Lua. O silêncio pesava dentro do cômodo e o pai da pequenina começava a arrepender-se de contar toda aquela história a ela. Os olhos castanhos como os dele estavam úmidos e distantes até que ela olhou em desespero para o pai.

– O que aconteceu depois?

– Bem... A população se viu em meio a uma clareira no meio da selva e no céu o planeta azul brilhava. Sob os comandos da rainha Agnes e do rei Argos eles partiram para o local em que o reino se encontra hoje, começaram a construir a cidade e outros vilarejos nos arredores. Evoluímos nossa infraestrutura, nossa agricultura, pecuária. Construímos centros médicos, escolas e parques...

– O senhor tem o mesmo nome do primeiro rei da Lua.

Argos sorriu.

– Isso é porque ele era o meu avô. Quando a rainha Agnes deu a luz, a primeira a nascer foi uma menina. Ela assumiu a sucessão do trono. O seu irmão gêmeo seguiu sua vida normalmente assumindo um posto de confiança na guarda real até encontrar sua companheira, alguns anos depois eu nasci. Vivi milênios na Lua e mais alguns milênios no planeta azul até voltar aqui e encontrar sua mãe. Ísis é a décima sétima geração após a rainha Agnes. Nós somos primos de décimo quinto grau.

– E o que aconteceu com Caos?

– Ela não tinha descendência elementar, então para concluir o que o jovem guerreiro não pode ela teve que doar toda a sua energia. Dizem que um dia ela renascerá assim como o jovem guerreiro para nos levar de volta para o planeta, mesmo que agora ele seja ocupado por uma nova espécie. Alguns acreditam que ela subjugará os humanos retomando para nós o poder sobre o planeta. Eu particularmente repugno está ideia.

– Mas o portal fica aberto... Todos podem voltar a qualquer momento.

– O medo é mais forte minha querida. - sorriu bondosamente. - Apesar de muitos terem esquecido todo o sacrifício para que chegássemos salvos aqui, ninguém esqueceu o medo de ser destruído junto com o próprio lar. Outra lenda que envolve o retorno ao planeta é que seremos levados da mesma forma que fomos trazidos. A espera tem sido eterna.

A princesa ficou em silêncio, as lágrimas já haviam secado em seu rosto. Ela olhou brevemente pela janela de seu quarto o grande e bonito planeta azul. Ao contrário das noites anteriores àquela ela não sentiu imensa vontade de visitá-lo e sim um aperto esquisito em seu coração.

Com o rostinho coberto de tristeza virou-se para o seu pai.

– Eu não gostei dessa história! Eles não podiam ter morrido... - reclamou com os lábios trêmulos.

– Eu nunca disse que era uma história feliz. - retrucou seriamente.

Rei Argos levantou-se da cama e caminhou até sua filha. Pegou-a no colo e imediatamente foi abraçado ao som de um choro sentido. Sua filha era deveras sensível aos sentimentos de outrem. Tinha o doce coração de sua mãe, preocupava-se demais com a felicidade alheia e muitas vezes esquecia-se de fazer aquilo que a deixava feliz. Tão pequenina e já queria carregar o mundo em suas costas.

Caminhou até a cama e a deitou cobrindo-a em seguida. Deitou-se ao seu lado e acariciou seus cabelos até que ela se acalmasse.

– A vida não é conto de fadas minha filha. Quero que você aprenda desde já. Pois se você crescer imaginando que tudo é feito de açúcar acabará sofrendo.

– Eu não entendo... Porque ele teve que morrer? Ele era bom. Ele lutou por ela. A fez uma pessoa boa. Ele não merecia.

Argos beijou a testa da filha.

– Algo muito maior esconde-se atrás de acontecimentos que julgamos não merecidos. Apenas acredite nisso que seu coração se acalmará.

A pequenina abraçou-se ao seu pai e assentiu contra o seu peito.

– Agora princesa, tente dormir. Amanhã iremos até as vilas do leste acompanhar a festa da colheita. Ouvi dizer que teremos muita música e muita comida gostosa.

Ela afastou-se timidamente e olhou-o sob os cílios.

– Vai ter torta de maçã? - o rei gargalhou com o tom falsamente desinteressado da filha.

– Acho que teremos que chegar cedo à vila para descobrirmos.

O rei levantou-se e seguiu lentamente até a porta do quarto da filha. Olhou-a com carinho.

– Boa noite papai. - desejou a criança com o rostinho infestando pela ansiedade do dia seguinte, principalmente pela possibilidade de provar diversas variedades do seu prato favorito.

– Boa noite minha pequena Anna. Minha Anita.


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Notas finais do capítulo

Bem pessoas, esse foi o último capítulo da temporada. Semana que vem postarei o epílogo. A história entre Anna e Louis está longe de acabar ;)

Espero que tenham gostado!



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