A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 16
XV. Um voto de confiança


Notas iniciais do capítulo

Nyah de volta e vejo que tem mais uma recomendação *----------------* É muita emoção! O capítulo está gigante :D Espero que vocês gostem ^^



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XV. Um voto de confiança

O chão tremia em diversos pontos do planeta, no fundo de gigantescas crateras que se abriam corriam rios de metais derretidos como feridas recentemente abertas. Ventos nunca antes tão fortes arrancavam árvores e pedras do chão fazendo-as girar em espiral pelos céus. Ondas monstruosas invadiam toda a costa do continente arrastando qualquer tipo de vida ou construção que ali estivesse. Chuvas torrenciais alagavam depressões e afogava os desavisados.

O Caos não tinha mais forma de uma simples garota perturbada, o Caos dominou o planeta causando-lhe uma ira imensurável. O mundo parecia querer acabar com todos aqueles que por tantos milênios lhe machucaram.

Tantos desastres naturais levaram os povoados mais afastados a migrar para a Vila Elementar, arriscavam suas vidas em busca de um abrigo. A viagem não era segura e pouquíssimos conseguiam chegar à vila com vida. Os estrangeiros chegavam abalados e chocavam com suas histórias vivenciadas.

Quem começava a entrar em desespero era Michaella. Louis ainda não havia voltado e ela temia com todas as suas forças que o filho tivesse sido atacado pelo Caos ou arrastado pela ira da natureza.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto misturando-se com a água da forte chuva que caía. A elementar ajudava na colheita dos grãos antes que eles ficassem encharcados demais para o uso. Um grande mutirão fazia de tudo para acumular alimentos dentro do galpão. Com a chegada de estrangeiros a comida já se tornava escassa.

– Essa é a última safra que colheremos! - gritou Maximiliano por cima do barulho da chuva.

Em suas costas um enorme cesto repleto de espigas de milho. Michaella o olhou e assentiu antes de perguntar angustiada.

– Louis já chegou?

– Ainda não. Não se preocupe, tenho certeza de que ele está bem. - Max repousou sua mão no ombro de Michaella tentando reconfortá-la, entretanto ele também se sentia aflito pela demora do amigo.

O jovem sabia que Anna não lhe faria mal, mas não podia dizer o mesmo da irmã desequilibrada dela.

– Rei Argos pediu que todos os elementares se reúnam no posto de comando. Parece que ele tem um comunicado importante a fazer.

Michaella assentiu e partiu para o galpão com todos os grãos que colheu. Observou a sua volta tantos outros, assim como ela, encharcados pela chuva enchendo o armazém. Na porta havia dois guerreiros acompanhando o trabalho e preparados para proteger os trabalhadores e a comida, já que nos últimos dias alguns furtos começaram a acontecer. Ao que parece o desespero deixava muitos propensos a cometer delitos.

Não havia movimento na vila. Os moradores que não participavam no mutirão estavam abrigados em suas casas se protegendo da chuva e do frio. À pedido da rainha Agnes todos já tinham seus bens ajeitados para a futura viagem. Cada família deveria portar apenas um baú com os pertences realmente irremediáveis.

Com passos rápidos e solitários andando em direção aos portões principais da vila, Augusto perdia-se em pensamentos. Também estava preocupado com o filho. Duas semanas se passaram desde a data que ele prometera voltar.

– Senhor. - cumprimentou Abel que se mantinha protegendo a entrada.

– Ainda não fez a troca de posto Abel? - o justiceiro parou ao lado do guerreiro e observou a floresta a frente, assim como vinha fazendo nos últimos dias. Em seu íntimo a esperança de que pudesse avistar seu filho a qualquer momento.

– Ainda não senhor. Estão todos ocupados com o armazenamento dos equipamentos da guarda. - respondeu em tom neutro.

Estava cansado e encharcado, mas tudo estava tão complicado que ele não via o direito de reclamar.

Augusto ficou em silêncio por mais alguns minutos. Observou atentamente toda a sua volta para então suspirar resignado e dar as costas a Abel.

– Mandarei alguém para substituí-lo.

– Obrigado senhor.

O elementar deu alguns lentos passos antes de voltar-se para Abel que o chamara.

– Senhor Augusto?! Acho que alguém está chegando.

O coração do justiceiro pulou em seu peito e ele forçou sua visão em direção ao local que o guerreiro apontava. Encontrou o movimento e em seguida as duas pessoas. Seu sorriso quase rasgou seu rosto quando percebeu que era seu filho. Observou-o atentamente percebendo que não havia nenhum ferimento aberto apesar de suas roupas estarem completamente em frangalhos e molhadas. A feição de Louis era aliviada e o sorriso formou-se ao avistar seu pai.

Augusto não pode evitar analisar a mulher que vinha ao lado de seu filho. Perscrutou-a de cima a baixo. Buscou qualquer traço de maldade ou falsidade que pudesse estar escusa dos olhos apaixonados do jovem guerreiro. Entretanto só encontrou uma jovem comedida, o olhar baixo e envergonhado. Ela estava com medo, era notável pelo modo que apertava a mão de Louis. Ela também não possuía ferimentos aparentes e suas roupas estavam ainda piores que a do seu companheiro.

O senhor da justiça notou com curiosidade quando Caos ergueu seu rosto e arregalou seus olhos para a fortaleza que era a Vila Elementar. Neste momento compreendeu a inocência que seu filho falara. Compadeceu-se daquela criatura, mesmo que não pudesse evitar seus poderes gritando pelos crimes por ela cometidos.

Era seu dever condená-la. Seus crimes eram graves demais para serem descartados. Entretanto, segundo Thalles, ela deveria resolver o problema com a irmã. Não podia tocar na jovem. Mas também não podia ignorar o pensamento de que um dia teria que fazer algo.

Ao avistar o sorriso desaparecendo até que todo o rosto formasse uma máscara inexpressiva Louis parou de caminhar. Segurou firme a mão de Anna a impedindo de continuar. Ela olhou-lhe confusa, mas assim que notou os olhos fixos de Louis no homem a frente notou o problema. Engoliu em seco e deu um passo para trás. Iria fugir. Sabia que não era bem vinda naquele local e se por um milagre conseguisse entrar seria apenas para ser condenada a merecida morte.

O jovem guerreiro agarrou ainda mais forte a mão de sua companheira. Enfrentava o dilema de seguir em frente ou não, mas também não permitiria que ela se afastasse. Encarou seu pai tentando prever qualquer ataque, mas Augusto apenas suspirou e suavizou sua postura. Ele não poderia fazer mal a companheira de seu filho, isso o destruiria.

– Tudo bem Louis, não farei nada. Eu prometo.

Louis assentiu tranquilizado e puxou Anna consigo. Próximos o suficiente ele a largou e abraçou seu pai.

– Sua mãe estava a ponto de sair por estes portões e trazê-lo de volta pelas orelhas.

– Eu não duvido disso. - sorriu e foi cumprimentar Abel.

Anna permaneceu com seus ombros encolhidos observando timidamente toda aquela interação. Tremeu com o olhar forte de Augusto sobre si.

– Venha menina... - chamou o justiceiro. - Vamos todos sair desta chuva. Abel mandarei alguém para tomar seu posto.

– Tudo bem senhor.

Abel olhava Anna desconfiado. Afinal os boatos que corriam na guarda real eram que o jovem guerreiro fora atrás de Caos. Pela reação a pouco do justiceiro poderia afirmar que aquela era uma verdade. Mas algo estava estranho... Aquela pequena criatura não parecia nem de longe perigosa. E se realmente era ela como o senhor da justiça não fez nada? Por causa de Louis? Talvez... Aquilo estava errado. Muito errado.

Louis puxou Anna novamente pela mão. Ao que parece ela sentia-se pequena demais perto daquela fortaleza. Agarrou-se ao seu companheiro e seguiu insegura para dentro. Augusto apenas observava tentando descobrir quem ela era realmente.

– Você demorou Louis.

– Eu sei pai, sinto muito por isso. A viagem até a Floresta Escura foi rápida, porém quando entrei lá dentro perdi completamente a noção do tempo. Acho que fiquei dias perdido antes de encontrar Anna. Quando saímos da floresta estávamos muito a leste e tivemos que dar uma longa volta. A ventania e a forte chuva também nos atrasaram. - explicou tranquilamente.

Os longos dias de viagem serviram para o novo casal se conhecer melhor. Criaram fortes laços de confiança e carinho. Louis contava histórias leves a sua companheira e ela forçava sua mente ao máximo para retribuir as histórias risonhas, mesmo que a felicidade não tenha feito parte de quase toda a sua vida. Louis admirava o esforço de Anna e estimava o modo como ela não se fazia de vítima.

– Os desastres no norte e no sul são maiores do que na região central do continente, vocês levaram sorte por não serem pegos pela ira da terra. Dizem que ao norte existem fissuras tão grandes que é impossível ultrapassar por terra ou em voo baixo, parece que há uma força que puxa todos aqueles que passam perto o suficiente.

– Isso é terrível. - murmurou Louis agoniado. - Talvez seja apenas questão de tempo até que chegue a nós.

Augusto assentiu em concordância.

– Talvez por isso rei Argos tenha nos chamado para uma reunião importante. Acho que todos estão me aguardando. Sua mãe ficará feliz em lhe ver.

Mas nem tanto em me ver. Pensou Caos. Ela continuava em silêncio. Escutava com atenção e culpa a conversa entre pai e filho, mas também não deixava de observar toda a estrutura da vila, nem mesmo a forte chuva a atrapalhava. Nunca vira algo tão... Futurista. Estava tão acostumada com cabanas caindo aos pedaços que nunca chegou a imaginar construções tão belas.

– Então já houve a coroação? Eu gostaria de ter visto isso. - lamentou Louis com um sorriso.

Ele contara a Anna tudo o que estava acontecendo. Deixou-a ciente e principalmente surpresa pela decisão de ir para a Lua. Não fazia ideia de que os poderes dos elementares eram capazes disso.

– Foi uma cerimônia muito bonita. Noemi ficará feliz em lhe contar em detalhes, aquela pequena faladeira quase não se continha de felicidade. - sorriu. - Agnes e Argos só estão com dificuldade em aceitar o respeito e subordinação de todos. Eles acham estranho que até mesmo nós elementares nos curvemos a eles.

Louis sorriu compreensivo, não deveria ser fácil. Os dois eram humildes demais para aproveitar a superioridade hierárquica.

O clima leve acabou no momento em que chegaram ao posto de comando. Todos os convocados aguardavam a chegada de Augusto que antes de sequer cumprimentar os presentes teve que segurar Michaella pela cintura.

A elementar ao avistar Caos rosnou e instintivamente tentou atacá-la. Louis puxou Anna para as suas costas e rosnou para a sua mãe. Todos se levantaram assustados com a atitude de Michaella e dos recém-chegados.

– Ninguém vai encostar nela. Não me obrigue a brigar com você mãe.

– Seria capaz disso Louis?! De atacar sua própria mãe para proteger a responsável pela destruição do nosso planeta?!

Anna sentiu seu mundo ruir ainda mais. A acusação direta e verdadeira a desnorteou. Seus olhos encheram-se em desespero, mas não ousou derrubar sequer uma lágrima. Sentia que nem de chorar ela tinha o direito.

– Não jogue em suas costas uma responsabilidade que não lhe compete inteiramente. Apenas uma pessoa não pode provocar tudo o que está acontecendo lá fora. Se quer mesmo determinar responsabilidades que comece assumindo a sua.

Michaella paralisou com as palavras duras do filho. Sentiu os braços de Augusto apertarem ainda mais em sua cintura em uma tentativa muda de consola-la, afinal ele nada poderia dizer para defendê-la já que Louis estava completamente certo.

– Já é tarde demais para caçarmos culpados. - o mais novo rei teve que intervir antes que aquela família se machucasse ainda mais.

Louis deixou a postura agressiva e então fez uma leve reverência ao rei.

– Eu concordo.

O clima ainda era tenso quando Max limpou a garganta e caminhou até seu amigo jogando-lhe uma toalha para que se secasse.

– Para ver se esse cheiro de cachorro molhado dá uma amenizada. - Louis revirou os olhos e enxugou os cabelos antes de virar-se e enrolar a toalha no corpo de sua Anna que sorriu nervosamente.

– Não se preocupe. - sussurrou antes de beijar sua testa e virar-se para os outros que os observavam com curiosidade.

– Não acho uma boa ideia que ela escute nossa reunião. - opinou incerto Baco, o filho mais velho de Davi.

Ele não podia confiar. Não era muito sábio confiar em alguém que destruiu tantas vilas e matou tantas pessoas. Fazia parte de sua personalidade analisar todos os dados e decidir com cautela a sua opinião. Naquele momento não achava sensato permitir que Caos participasse de uma reunião que decidiria como seria a ida para a Lua.

– Você não precisa temê-la. - argumentou Louis puxando Anna para o seu lado. - Basta olhar seus olhos... Eles estão livres do vermelho. Ela expeliu todo o sangue que bebeu. Está em suas perfeitas condições mentais. E te garanto que ela é muito mais doce do que muitos aqui na vila.

– Uma doçura que virou o Caos. - murmurou Úrsula.

– O medo atua de diferentes formas... Alguns fogem, outros enfrentam. - Davi pousou a mão no ombro de seu filho. - Eu entendo o seu receio e também entendo o fervor na defesa do jovem guerreiro. Acho que todos nós nos vemos em um impasse.

Os olhares se dividiam entre o rei Argos e a rainha Agnes. Os dois trocaram um profundo olhar. Começavam a se acostumar em tomar as decisões. Agnes assentiu concordando com o companheiro. Argos virou-se e olhou profundamente nos olhos de Anna.

– Não posso imaginar como eu reagiria ao que você passou quando ainda tão jovem. Entretanto não posso aprovar as suas decisões ou condená-la por revidar as agressões pelas quais passou. A única decisão que cabe a mim é lhe dar um voto de confiança e espero que não o quebre, pois mesmo que seja companheira de Louis não poderei ignorar seus atos.

Caos assentiu e com um singelo obrigada agradeceu. Louis suspirou aliviado e a trouxe para mais perto. Caminharam até Max e sentaram-se em uma caixa ao lado dele. A tensão ainda era presente no ambiente e olhares furtivos corriam em direção a Anna que se sentia cada vez mais desconfortável.

– Talvez fosse melhor que eu esperasse do lado de fora. - fez voz aos seus pensamentos, sua voz não passando de um sussurro.

– Não seja tola, seus lábios estão quase tão azuis quanto seus olhos. Se ficar naquela chuva vai acabar congelando. - Aurora intrometeu-se na conversa de maneira descontraída. Max trazia leveza a sua vida e começava a somar o riso a sua personalidade.

– É bom não contrariar a chefe da guarda. - Louis mandou uma piscadela para Anna que sorriu timidamente.

– Já que todos estão aqui podemos começar. - iniciou a rainha Agnes. - Amanhã a chuva parará. Será nossa última oportunidade de abrirmos o portal para a Lua. Após amanhã as nuvens ficarão ainda mais densas e o continente se dividirá completamente em cinco grandes partes.

– Como será feito? - perguntou Liam timidamente.

Os elementares puros se entre olharam.

– O portal funciona com a nossa energia. - explicou Davi. - E se manterá aberto com a nossa energia.

– E quanto aos que estão presos em outras partes do planeta? Como saberão a localização do portal? - preocupou-se Nina.

– É aí que entra a participação de Louis. - comunicou Thalles.

O jovem arregalou seus olhos ao ter seu nome mencionado.

– Desculpe? - ele piscou rapidamente enquanto observava o senhor do destino.

A surpresa não vinha apenas do guerreiro, mas também de todos os presentes.

– Nós usaremos toda a nossa energia para abrir o portal e fazer da Lua um lugar habitável. Quando terminarmos estaremos fracos. Alguém precisa levar os sobreviventes para nossa nova casa.

– Porque eu? Eu não sei como fazer isso? - o pânico começava a tomar o coração do jovem.

– Porque você é filho de dois elementares. Você é o único que não morrerá para cumprir essa missão. Você é o único forte o suficiente para se manter vivo.

Louis engoliu em seco.

– Minhas visões mudam a todo o instante, mas somente quando você assume este posto minha visão termina sem mortes. - Thalles não mencionou que de todas as variações daquela mesma cena, a que via Louis completar sua missão era a mais fraca delas. Preferia se agarrar aquele resquício de esperança.

– Como eu faço isso? - perguntou Louis sabendo que não tinha saída.

– Na hora você saberá.

Anna sentiu os pelos de seus braços arrepiarem com as palavras do homem de corpo tão frágil, mas de olhar tão profundo.

– Amanhã ao primeiro raio de luz avisaremos a todos da vila para iniciarem a preparação. - rei Argos tomou a palavra. - Assim que o portal for aberto as pessoas devem atravessá-lo, pois estaremos correndo contra o tempo.

A concordância foi silenciosa e após uma respiração profunda Aurora perguntou humildemente.

– Tia Agnes? Não há nada que possamos fazer? - suspirou. - Eu entendo o papel de Louis, entendo também que vocês elementares devem lidar com o portal. Mas e quanto a mim, Liam e Baco? Nós também temos o poder elementar correndo em nossas veias. Ester e Neo são novos demais, porém Liam apesar de ser jovem já é um homem. Nós três não podemos ajudar de alguma forma?

Os dois rapazes concordavam com a chefe da guarda. Não queriam ser deixados de lado.

– Vocês vão Aurora. - afirmou Nícolas. - Enquanto não nos recuperarmos serão vocês que cuidarão de qualquer situação que necessite de força. Precisamos de vocês inteiros e sem fraquezas. Sei que pode parecer pouco neste momento, mas não podemos agir levianamente.

Aurora assentiu. Noemi sorriu orgulhosa para a filha, ela realmente puxara o extinto protetor do pai. Liam e Baco aproximaram-se da mais velha e começaram a planejar como seriam as coisas. Max participava da conversa com o seu jeito despreocupado enquanto os outros planejavam a organização do povo na manhã seguinte.

Os únicos em silêncio eram Augusto, Michaella, Louis e Anna. A tensão entre as duas mulheres ainda era grande. Michaella não tirava os olhos da mais nova que no momento não estava se importando com a afronta. Estava apenas preocupada com o olhar vazio de Louis.

– Dê uma chance a ela. - murmurou o justiceiro puxando o rosto de sua companheira para si.

– Você realmente quer falar sobre dar chances comigo?

A acidez de Michaella magoou seu companheiro e ela arrependeu-se imediatamente de suas palavras.

– Desculpe Augusto... Eu só não consigo entender como o criador fez dela a companheira de nosso filho.

– Você deveria prestar mais atenção nos poderes que lhe foram dados. - o elementar suspirou. - Thalles uma vez disse que existiam visões que eram tão brilhantes que ele podia afirmar que eram impossíveis de não se concretizarem. Visões que não dependem de escolhas, visões que simplesmente aconteceriam. Talvez aquela menina só tenha nascido para nos alertar sobre o mal que crescia escondido de nossas visões.

– Claro, vamos destruir tudo o que há na frente para alertar o povo que há um mal escondido. - ironizou azeda.

– Concordo que tudo o que ela fez foi terrível. E esse alerta foi dado de modo torto. Mas você não pode negar que o recado foi dado e ainda não é tarde demais para agirmos e salvarmos nossos semelhantes.

– E o que nosso filho tem com tudo isso?

– Ele pode ter nascido antes, mas talvez sua razão de existir seja ela. Talvez ele só tenha nascido para que no futuro pudesse curar essa alma corrompida. Talvez ele só esteja aqui para nos provar que é possível curar o mal, que existe outra saída além da destruição.

Michaella franziu o cenho pensativa. Imediatamente os olhos vermelhos de Caos vieram a sua mente. Voltou seu olhar para Anna e pela primeira vez notou o amor transbordando dos profundos olhos azuis. Amor este direcionado a Louis. Então o rancor que a impedia de aceitar aquele relacionamento derreteu-se em seu peito.

– O futuro dos dois não será fácil. - sussurrou com seu coração apertado. - Quando o povo souber quem ela é não a tratará com tanta civilidade quanto os que aqui estão presentes.

– Os ajudaremos nisso. - sorriu Augusto abraçando sua companheira.

Após todas as decisões tomadas e um sentimento mútuo de incerteza cada um seguiu o caminho de sua casa. Porém antes que Louis e Anna passassem pela porta Michaella os barrou.

– Mãe, por favor. - pediu o jovem guerreiro. - Estou cansado... Não quero mais brigas.

– Não vou brigar. - suspirou a elementar. - Me desculpem minha reação quando vocês chegaram. Eu só...

– A senhora não precisa explicar. - murmurou Anna timidamente. - Eu tentei matá-la, eu já esperava essa reação. O que eu realmente não esperava é que você fosse a única a tentar me castigar.

A senhora do equilíbrio observou-a atentamente.

– Eu não vou esquecer tudo o que você fez. Porém Louis estava certo, não é a única responsável por tudo o que está acontecendo. E eu assumo a minha parcela de culpa. E peço-lhe desculpas pela minha falta de controle tanto em tentar atacá-la fisicamente quanto verbalmente. - Anna tinha os olhos arregalados, definitivamente não esperava por aquilo. - Você será bem vinda em minha casa. Creio que após tanto tempo vocês dois apreciarão um lugar quente e confortável para descansar.

– Obrigada.

– Obrigado mãe. - Louis mal continha seu sorriso.

Augusto não conseguia evitar imitar o filho.

– Mas não encare isso como minha completa aceitação. Faço minhas as palavras de nosso rei Argos. Não me decepcione, pois a ira de uma mãe é muito maior que a ira de uma elementar.

Anna assentiu apertando a mão de seu companheiro. Tudo estava mudando drasticamente para ela. Desde que expeliu o sangue tinha certeza que seria castigada, merecia ser castigada. Nunca imaginou que poderia ser tratada com dignidade. E constatar aquele fato a fazia sentir-se pior ainda, pois causou mal desnecessário por tempo demais.

Quando chegaram à pequena cabana de Michaella a elementar emprestou algumas peças de roupa para a mais nova. Os quatro jantaram diante de conversas amenas e o espanto pela quantidade de comida que Anna ingeriu. Mais uma vez os três compadeceram-se, a fome era uma das piores mazelas do mal.

Augusto e Michaella ficaram por mais tempo na cozinha do que Louis e Anna que foram descansar. O jovem guerreiro sorriu para sua companheira que acariciava o cobertor macio.

– Eu nunca vi um desses. - disse encantada.

E lá estava a inocência que tanto o encantava.

– Existem tantas coisas que você nunca viu... Aqui tem coisas realmente incríveis. Parece algo do futuro.

– As construções são incríveis. Aquela primeira cabana de pedras perto no portão é tão delicada e ao mesmo tempo aparenta tanta resistência. Aqui tudo é tão limpo e organizado... A cabana de sua mãe parece mágica para mim. Todos esses móveis... E essa cama macia.

– O povo da Vila Elementar gasta seu tempo criando e cuidando de tudo aquilo que melhorará o convívio de cada um e de toda a comunidade. Cada um tem o seu papel, o seu trabalho. Tudo aqui parece vir de um futuro muito distante, pois aqui todos estão mais preocupados com a evolução do que com brigas.

Anna suspirou deitando-se confortavelmente ao lado de seu companheiro.

– Eu gostaria de ter nascido aqui.

– E eu gostaria de ter crescido aqui. Mas se não tivéssemos em outros lugares talvez nunca tivéssemos nos conhecido.

– Talvez. - concordou aconchegando-se no peito de Louis. - Você está preocupado com o que vai acontecer amanhã?

– Não tem como não ficar... É uma responsabilidade tão grande.

– Você vai conseguir.

– Assim espero querida... Assim espero. Porque tudo o que eu mais quero é começar uma vida ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Muitas emoções no próximo cap ;) E acompanhem os spoilers no grupo no face: https://www.facebook.com/groups/479210868793110/



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