A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 15
XIV. A Coroação


Notas iniciais do capítulo

Oláaa :D Novo cap na área, espero sinceramente que eu tenha conseguido narrar exatamente aquilo que eu imaginei nesse momento tão importante que é a coroação. Me contem lá embaixo ;)



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XIV. A coroação

O medo que vinha sentindo parecia uma lembrança fraca em sua mente. Seu coração batia tão suavemente conforme acariciava os cabelos de sua companheira chorosa em seu peito. Ficou em silêncio apenas deixando que a dor de Anna fosse posta para fora através de suas lágrimas. Correu seus olhos pelo pequeno corpo encolhido ao seu. Suas roupas estavam rasgadas e cheias de vestígios de sangue. Os cortes nos braços estavam sujos e por isso não cicatrizavam. Mas o ferimento mais grave era em sua asa esquerda onde uma flecha a atravessava.

– Preciso tirar essa flecha da sua asa, as penas em volta já estão caindo. Ela pode atrofiar.

Anna assentiu contra o peito do guerreiro e apertou mais os braços ao redor da cintura dele ao prever a dor. Louis agiu rapidamente. Quebrou a ponta triangular da flecha e então puxou. Ela apenas soltou um gemido abafado.

– Shii... Tudo bem, já está fora.

Pegou sua bolsa e procurou as ervas que Nina havia separado. Achou a que precisaria e colocou dentro do cuietê¹ misturando com um pouco de água. Logo formou-se uma pasta que Louis, cuidadosamente, espalhou pelo grave ferimento na asa de Anna.

Deixou o cuietê do lado e segurou os ombros de Anna a afastando o suficiente para ele olhá-la nos olhos. As lágrimas já estavam secas, mas não foi a falta de choro que o fez sorrir.

– Seus olhos são lindos. - disse ao perceber que não havia mais nenhum vestígio de vermelho neles.

Ela apenas os abaixou envergonhada. O sorriso do jovem guerreiro aumentou enquanto ele pegava o cantil com água para limpar as feridas dos braços para só então passar a substância pastosa nas feridas menos graves.

– É quente. - sussurrou Anna.

– Sim, vai manter a dor longe enquanto seu corpo se cura. - explicou calmamente segurando com delicadeza o queixo de Caos para levantá-lo.

Perdeu-se por alguns momentos nos sentimentos que o profundo azul lhe passava. Sentimentos estes que percebeu na primeira vez que a viu, entretanto agora não tentavam se esconder, estavam claros, límpidos, estavam ali para qualquer um ver. Sem conseguir controlar suas ações aproximou seu rosto rapidamente e beijou-a suavemente. Sem movimentos, sem braços e mãos envolvendo um o corpo do outro, apenas um encostar de lábios carinhoso.

Anna piscou seus olhos rapidamente e suspirou quando o elementar afastou-se para passar a estranha mistura em algumas escoriações em seu rosto.

O carinho com o qual ele lhe tratava e o olhar brilhante e livre de repulsa a deixavam confusa. Ele disse que não a julgaria, bem, ele estava cumprindo com sua promessa. Mas será que ele sabia quem ela era? Será que sabia toda a verdade? Será que sabia de todas as coisas terríveis que fez?

Tomando uma coragem provinda da resignação ao aceitar que seria castigada pelos seus erros, ela ergueu sua mão e segurou a de Louis o impedindo de continuar com o seu cuidado. Levou suas mãos ao seu colo e enquanto acariciava as grandes mãos do rapaz perguntou em um murmúrio.

– Você sabe quem eu sou?

– Você é Anna, carinhosamente chamada por sua família de Anita.

Ela suspirou tristemente. Ele não sabia. Talvez fosse melhor que continuasse sem saber, pois quando descobrisse ele não a trataria com tanta gentileza.

Quando pensou em como os olhos de Anna eram transparentes ele não estava mentindo. Pode perceber exatamente o que se passava em sua cabecinha. Apertou suas mãos as dela fazendo-a erguer seu olhar.

– Você não é Caos, pelo menos não mais. - as profundas palavras de Louis a fizeram gelar.

Ficou paralisada o olhando quase apavorada. Ele sabia! E mesmo assim a tratava daquele jeito.

– Você já olhou seus próprios olhos? - ela apenas negou sem conseguir abrir sua boca. - Não há mais vestígios do sangue que bebeu, eles estão azuis e inocentes. Assim como a sua dona que se surpreende até com um ato tão simples quanto um assobio. - sorriu sem conseguir conter o calor que espalhou-se pelo seu peito. - Não vou dizer que não tem culpa por tudo o que fez. Está em meu sangue distinguir o certo do errado, o justo do injusto. Você não deveria ter bebido sangue semelhante, mesmo que fosse para proteger sua família.

– Como sabe disso? - perguntou em um sussurro, era difícil fazer com que sua voz saísse de sua boca.

– Depois que me mandou embora... - Anna fez uma careta com o tom magoado de Louis. - Eu fui até a vila elementar. Foi o senhor do destino quem me mandou aqui. Ele disse que viu o que aconteceu com você, mas a visão não podia ser impedida.

– Ele sabia?! Porque ele não fez nada?! - perguntou em desespero, lágrimas brotavam novamente de seus olhos. - Eu não entendo. Porque ele deixou que isso acontecesse com minha família? Eles eram bons! Nunca fizeram mal! Nunca foram cruéis como os que os mataram!

Louis apertou com mais força as mãos de sua companheira compadecendo-se de sua dor.

– Eu entendo sua revolta. O inquiri sobre isso... Se você visse a desolação em seus olhos... Ele não podia impedir, nem mesmo ele. Entenda Anna, os elementares têm poderes impressionantes, mas nós não temos poderes suficientes para acabar com a maldade. Nosso dever é mantê-la em equilíbrio.

Com os olhos ainda molhados ela o fitava espantada.

– "Nós"?... Você é...

– Descobri há pouco tempo. - encolheu seus ombros timidamente. - Meu pai é o elementar da justiça e minha mãe a do equilíbrio.

Anna ofegou.

– Sua mãe quase me matou!

Louis ergueu uma de suas sobrancelhas.

– Você quase a matou também. - pontuou.

– Eu... Não sei o que dizer... Desculpe?

O guerreiro não conseguiu segurar o riso. Não gostava de imaginar as duas mulheres que mais amava brigando como duas leoas, mas a situação era de fato inusitada.

– Talvez você tenha que dizer isso a ela. - sorriu levemente. - Ela estava realmente assustada por eu vir atrás de você. Ela pensou que você fosse me atacar.

O primeiro pensamento de Anna foi que ela nunca o atacaria, mas então se lembrou do furacão de ira em seu peito quando encontrou a elementar.

– Talvez se eu o tivesse encontrado naquela ocasião eu realmente teria o feito. - sussurrou envergonhada. - Estava sentindo tanta raiva, tudo parecia tão feio... Eu queria apenas queimar tudo... Purificar tudo. - balançou a cabeça sem compreender como um dia pode imaginar que estava sendo justa.

Era tão claro agora. Ela agiu como os covardes que atacaram sua vila e assassinaram sua família. Na verdade agiu ainda pior.

– Você deveria me matar. - sussurrou. - Você é filho do justiceiro, é seu dever acabar comigo.

– Justiça não se faz com morte. - respondeu simplesmente.

– Tem razão... A morte é muito fácil, é pacífica. Eu não mereço essa redenção.

– Todos merecem redenção. Não significa que seus erros serão apagados ou que você não colherá os frutos daquilo que plantou. É por isso que não devo matá-la, porque você deve consertar tudo o que estragou. Começando por sua irmã.

– Aline! - arregalou seus olhos temerosa. - O que ela anda fazendo?

– Anna... Você a criou com base no rancor e na vingança... Ela está fora de controle. Está reunindo seguidores, destruindo tudo o que vê pela frente. Acabará destruindo o planeta se não impedi-la.

O coração da jovem disparou em desespero e culpa. Transformara sua irmã em um monstro.

– Acho que você é a única que pode para-la.

– Eu não sei como fazer isso Louis. Aline sempre foi rebelde, sempre teve sede de sangue. Muito mais do que eu, mesmo quando a loucura dominava a minha cabeça.

– Vamos dar um jeito. Falaremos com Thalles, ele nos dará uma luz. Thalles é o elementar do destino. - explicou ao ver a confusão nos olhos de sua companheira. - Por hora acho que devemos sair dessa floresta, você está tremendo de frio.

– Acho que teremos que ficar mais um tempinho. Não consigo recolher minhas asas e será um problema andar com elas abertas.

– Tem razão. - Louis então se levantou para buscar a tocha que havia deixado no chão.

Colocou-a mais próxima deles e pegou a manta isolada termicamente pelo couro e enrolou-a em Anna. A manta protegeu apenas suas costas e ombros já que suas asas impediam que se enrolasse completamente em seu corpo.

– Você esta com fome?

– Sim... Não lembro quando foi a última fez que comi algo... Na verdade não sei há quanto tempo estou nessa floresta. Tudo aqui é tão escuro e assustador.

– Eu te entendo. O escuro realmente nos deixa perdidos na passagem no tempo. Tome... Não é suculento como carne de boi, mas vai acalmar a sua fome. - Louis entregou-lhe alguns cereais enquanto aconchegava-se ao seu lado encostando suas costas em uma árvore próxima.

– Obrigada. - sorriu.

Louis retribuiu percebendo como Thalles estava certo em relação à floresta. Quando o medo de não encontrá-la viva imperava em seu coração a Floresta Escura era o mais assustador dos lugares, porém agora que seu coração estava calmo nem o profundo escuro parecia lhe incomodar.

Timidamente Anna virou-se e deitou no peito do elementar. Sua asa esquerda formando um cobertor sobre os dois. Louis a puxou pela cintura e beijou-lhe o topo da cabeça.

– Descanse Anna, daqui algumas horas suas asas estarão bem e nós poderemos sair deste lugar.

– Obrigada por vir por mim Louis.

– Você é minha companheira, meu lugar é ao seu lado. Sempre.

Emocionada a jovem ergueu sua cabeça e tomou a iniciativa de beijá-lo com carinho. Louis sorriu com seus lábios encostados ao dela antes de beijar-lhe a ponta do nariz e em seguida a testa.

– Durma Anita.

[...]

O silêncio nunca fora tão grande em plena luz do dia. O céu azul e o Sol forte pareciam zombar com a sombra de tristeza e medo que povoava os rostos de todos os moradores da Vila Elementar. Até mesmos as crianças permaneceram quietas observando as feições apavoradas de seus pais. Encolhiam-se nas pernas de seus protetores, mas quando até mesmo aqueles que consideravam ser invencíveis demonstram seu medo, como não sentir o mesmo? Nem mesmo murmúrios de lamentos eram ouvidos. Apenas a respiração descompassada fazia coro no centro da vila.

Nícolas acabara de contar a situação do planeta. Do centro da fila dos elementares ele olhou para a multidão a sua volta e tomou com firmeza a palavra explicando honestamente tudo o que estava acontecendo e o que o futuro lhes aguardava. Era natural o medo. Mudanças sempre carregam o medo, mas também trazem a esperança de que ela venha para o melhor. Bastava aceitar a nova ideia.

– Nós não podemos permitir que o mesmo aconteça no astro brilhante para o qual vamos. - indicou seus irmãos ao seu lado direito e esquerdo. - Por isso nós nos dividiremos pelo astro, não ficaremos mais juntos. Não haverá mais um conselho.

O silêncio foi rudemente quebrado por exclamações insatisfeitas e murmúrios assustados. Ao que parece a mudança de moradia não assustava tanto quanto a separação dos elementares, afinal depois da ultima vez em que um elementar se afastou muita coisa ruim aconteceu.

– Nosso dever também é ampará-los e guiá-los, de modo que não podemos nos afastar. - elevou a voz acima dos murmúrios. - Por isso elegemos por unanimidade uma de nossas famílias para guiá-los.

A voz de Nick soou profunda e seus olhos perderam o foco, como se quem falasse não fosse realmente ele.

– Um rei e uma rainha foram escolhidos com o dever de governar nossa sociedade do modo que melhor lhes convier. Um rei e uma rainha só são depostos quando um dos dois falecer, o poder deve ficar com a criança primogênita do casal assim como o companheiro ou companheira desta criança. Em troca de proteção o povo lhes deverá respeito. Há nós elementares resta-nos o dever de interferir sempre que um reinado caminhar em direção à escuridão. O dever seguirá nossa linhagem.

Nícolas voltou seu olhar diretamente para Argos que assim como todos assistia o discurso com ansiedade.

– Argos. - chamou.

O homem de grande estrutura caminhou trêmulo. Pela primeira vez em sua vida sentia-se inseguro. Sempre gostou de demonstrar o quanto era forte e protetor. Sua personalidade era justa e vaidosa. Gostava de contar piadas tanto quanto discutir assuntos importantes. Era um bom homem, respeitado pela maioria pela honestidade em seu coração.

Respirou fundo sentindo o olhar de todos em sua direção. Os cabelos negros como a noite balançaram com o vento gelado e a pele morena brilhava ao sol. Os olhos escuros pareciam ainda mais negros pelas suas pupilas dilatadas. E pela primeira vez os traços fortes e experientes não lhes fizeram diferença, pois se sentia jovem demais para assumir tamanha responsabilidade.

Olhou para Agnes em busca de apoio, mas tudo o que encontrou foi o reflexo inseguro de seus olhos. Então lhe sorriu. Os dois corações bateram em uníssono e a segurança lhes tomou o corpo.

Nícolas ajoelhou-se diante de Argos e sua pedra verde brilhou flutuando diante de seu rosto.

– Que seu reinado seja repleto de amor. - proferiu e a pedra brilhou mais forte.

Um a um os elementares seguiram os passos de Nick.

– Que a sabedoria guie suas decisões. - a pedra preta de Davi brilhava fortemente.

– Que o futuro seja uma visão de paz. - Thalles parecia ainda menor diante o brilho de sua pedra branca.

– Que seus corações nunca adoeçam. - Noemi sorria carinhosamente refletindo o brilho de sua pedra azul

– Que a justiça sempre prevaleça. - o desejo de Augusto era tão forte quanto sua pedra vermelha.

– Que o equilíbrio sempre se restabeleça. - proferiu finalmente Michaella com sua pedra rosa.

Os elementares faziam um circulo a volta de Argos. Todos ajoelhados e com suas cabeças levemente abaixadas em sinal de respeito e submissão. Agnes entrou no círculo de luz e segurou as mãos de seu companheiro, levou-as até seu ventre. O futuro rei abriu um sorriso trêmulo ao sentir o fraco movimento na barriga da elementar que sorria tão emocionada quanto ele.

Sua pedra amarela flutuou lentamente acima de suas cabeças e brilhou fortemente. Os brilhos das outras pedras juntaram-se a ela como fios de luz.

– Que nunca desistamos. - proferiu como uma promessa sem desviar os olhos de seu companheiro.

O brilho pareceu ainda mais intenso e cegou momentaneamente a todos. Então as pedras apagaram-se caindo penduradas nas correntes de cada elementar. O fio de luz seguiu lentamente até o topo da cabeça de Argos e Agnes e quando a luz apagou-se todos puderam observar as delicadas coroas em suas cabeças. Eram como folhas de louro metalizadas.

As coroas prateadas brilhavam com o sol e uma brisa morna soprou trazendo calor e esperança ao coração de cada um presente. Sentiram em suas peles arrepiadas o poder provindo de seus novos governantes e com sincera devoção ajoelharam-se prestando o seu respeito.

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1: Cuietê - cuia feita de coco cortada ao meio muito usada como prato


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Estou curiosa :D



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