The Deal escrita por Effy


Capítulo 14
Capítulo 14 - Amnesia POV Austin


Notas iniciais do capítulo

OLAAAR!
Sei que faz mais de 6 vidas que eu não dou as caras, mas to aqui na atividade.
Lembrando que esse capítulo é POV do Maravilindo Austin.
Vou colocar o link da música e PELO AMOR DO IRLANDÊS, escutem pq faz todo o sentido.
PS.: Lágrimas vão rolar.



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5 Seconds of Summer - Amnesia

14

If what we had was real, how could you be fine? ‘Cause I’m not fine at all.

Enquanto minha espera agonizante para a chegada de Charlie parecia aumentar a cada momento, não pude deixar de pensar sobre o que ela queria tratar com tanta urgência. Não é possível que seja algo ruim, tivemos uma semana tão boa. Claro, tirando o fato de ter visto Mike e Mary na praia juntos, o resto dos dias foram ótimos. Esse é o truque de lidar com Charlotte, os dias que você acha que foram bons, muitas das vezes não foram.

Perdi-me nos devaneios mentais que quase não pude perceber que Charlie tocava a campainha repetidamente. Apressei meus passos para chegar à porta de entrada e abri-la para ver uma Charlotte desolada.

“Charlie? O que aconteceu?” Perguntei para além de curioso, segurando sua mão e a trazendo para dentro, porém a ruiva manteve-se parada, relutante.

“Eu trouxe de volta algumas das suas coisas que estavam lá em casa” Ela começou, pegando uma caixa do chão e me entregando

“Não precisava, sei que tudo isso estava contigo. Inclusive, gosto que tenha coisas minhas ao seu redor” Sorri, para dar uma leveza no clima. Dava para sentir a tensão vindo dela.

“Não, Austin” Charlotte foi firme “Eu precisava trazê-las.” Sua boca me dizia palavras duras as quais eu já podia prever o final, porém seus olhos me olhavam pedindo socorro. “Eu realmente precisava te devolver” Oh não.

“Não Faça isso, Charlie” Supliquei com toda a sinceridade que cabia em meu coração. “Eu sei como você se sente, consigo ver dentro dos seus olhos” Tentei alcançar sua mão, mas ela se afastava de mim como se meu toque fosse ácido em sua pele

“Você não entende” Respondeu e então eu olhei no fundo dos seus olhos azuis. E pela primeira vez em muito tempo, eu pude ver lágrimas escorrendo deles. Logo ela, que sempre fora cuidadosa para não ser vista chorando, estava desfalecendo em lágrimas na minha frente. “Nunca entenderia, eu realmente preciso ir embora”

“Não!” Esbravejei, tomando seu pulso “Não importa o que saí da sua boca, eu sei que você não quer dizer nada disso!”

Seu rosto era uma mistura de sofrimento e muita maquiagem borrada. “Eu deixei você se iludir, te deixei acreditar em um ‘nós’ que na verdade era só ‘você’”. Suas palavras me atingiam como mísseis e doíam como bombas nucleares.

Da onde estava vindo tudo isso? Eu sei que todas essas palavras são mentiras, sei que ela sente o mesmo. Pois quando eu a abraço sinto seu coração bater mais rápido, quando estamos só nós dois no meu carro ela me encara como se eu fosse uma grande obra de arte e ela necessita decorar cada detalhe meu, quando nós andamos de mãos dadas o mundo tem sentido e tudo está em seu devido lugar, quando nossos olhos se encontram faíscas se espalham por todo o lugar e principalmente, quando eu a beijo ela se encaixa no vazio dentro de mim e a escuridão dentro dela vira dia. Lembro-me do dia que ela tomou alucinógenos no meu carro, porque ela faria isso se não sentisse o mesmo?

“Nada disso faz sentido, Charlotte.” Ela mal olhava pra mim. “Olhe nos meus olhos” Ordenei e suas orbes da cor do oceano encontraram meu olhar “Olhe no fundo dos meus olhos e me diz que você não sente o mesmo. Diga que não me ama e não me quer do mesmo jeito que eu te amo e preciso.” As palavras saíam de minha boca, mas a dor ainda permanecia. Cada pedaço do meu corpo doía.

Ela manteve seus olhos encharcados de lágrimas nos meus, jamais olhando para outra direção. Limpou a garganta como quem engole o choro, amparou algumas lágrimas negras que escorriam pelo rosto e me fuzilou com seus olhos azuis como o Pacífico.

“Eu não te amo” Sua voz foi firme, assim como suas palavras. “Ainda estou apaixonada por Mike”

Sabe quando você sonha que está caindo e realmente sente seu corpo cedendo à gravidade? Pude sentir tudo isso acordado, porém miil vezes pior. Meu semblante era tão vago quanto uma parede em branco, meus braços mais pareciam esponjas inúteis, minhas pernas raízes fincadas no piso e meu coração? O pobre coitado foi reduzido às cinzas.

“Ok.” Balbuciei e soltei seu braço.

Sutil e graciosamente Charlie saiu pela porta, da minha frente e da minha vida.

I remember the day you told me you were leaving

I remember the make-up running down your face

And the dreams you left behind you didn't need them

Like every single wish we ever made

I wish that I could wake up with amnesia

And forget about the stupid little things

Like the way it felt to fall asleep next to you

And the memories I never can escape

[…]

As semanas seguintes foram de pura tortura. Cada pedaço de meu corpo estava doente sem ver a ruiva. As noites eram infinitas, o sono não vinha e os pesadelos estavam à espreita. Os dias são maus, cada instante que se passa só me lembram que ela não voltará. Nada mais parecia importar, não consigo me lembrar de um único dia em que comi ou bebi, mantinha meu corpo funcionando pelo dia através de drogas e remédios para dor, a noite era levemente entorpecida pelos tranquilizantes e soníferos. Depois de um mês eu não sabia mais o que era dia e o que era noite, tudo não se passava de infinitas horas até que toda essa bagunça fosse explicada e solucionada.

Minha mãe, como sempre ausente, emendava um cruzeiro atrás do outro, meu irmão, supostamente o que estaria presente comigo numa situação como essa, estava sabe lá Deus onde com os amigos. Provavelmente jogado em algum beco injetando heroína, pelo menos eu tenho a decência de me acabar em casa.

Duas batidas impacientes na porta me acordaram como um estalo, pulei do sofá cambaleante, achando que quem batia era Charlie. Porém meu cérebro sabia muito bem que ela seria a ultima pessoa a voltar à essa casa. Abri a porta sem olhar pelo olho-mágico quem era, primeiro porque qualquer um que não fosse a ruiva não me interessaria, segundo porque eu não estava enxergando com clareza.

“Cara! Você sumiu do planeta por um mês inteiro! O que diabos está acontecendo?” Tommy não pediu licença, apenas entrou e olhou a bagunça que está minha casa.

“Bom, primeiramente bom dia” Falei fechando a porta devagar, noção de profundidade zero, já tinha caído duas vezes da escada por não ter consciência dos três últimos degraus, depois disso limitei meu habitat apenas da sala pra cozinha. “Ainda é dia, correto?”

“Austin são meia noite e vinte, já não é dia há muito tempo” Thomas me olhou como se nós vivêssemos em dois planetas diferentes. “Me explica, pelo amor do Santo Deus, porque ela tá andando de mãos dadas com o otário do Michael, tá nessa palhaçada o mês todo. Você pode fazer a gentileza de aparecer na escola pra quebrar todos os dentes daquele imbecil?” Percebi que ele não mencionou o nome dela, Thomas me conhece melhor que a minha mãe, de verdade, no fundo ele sabe muito bem o que ta acontecendo, mas quer que eu fale.

“Sinto muito, parceiro, mas já não é da minha conta” Respondi enquanto voltava da cozinha com duas cervejas, ofereci a meu melhor amigo uma, ele apenas segurou a garrafa. “Ela deixou bem claro que não é mais da minha conta”

Sentei-me no sofá me sentindo em pedaços. Minha vida tava uma bagunça, tenho plena consciência, mas nada fazia sentido. Nem as drogas estavam dando mais jeito.

“E você vai simplesmente deixar assim?” Thomas parecia tão furioso quanto eu fiquei na noite em que Charlie - deuses como é estranho pronunciar seu nome agora, antes era um tom doce e angelical, agora parece que minha boca não pode mais dizer seu nome, o tom agora é amargo - terminou com tudo, lembro de ter quebrado todos os jarros chineses da minha mãe, inclusive deve ter algum caco de vidro em alguma das feridas de meus braços. “Cadê a teimosia irlandesa?”

“Procure nas coisas dela, tudo o que eu era ficou com ela.” Respondi tomando um grande gole da minha bebida. “Sabe o que eu não entendo? Não consigo entender o porquê! Estava tudo as mil maravilhas, eu tinha escrito uma carta dizendo tudo o que tava preso aqui dentro desde o dia em que começamos, ela era tudo o que eu tinha. E eu podia ter certeza de que ela sentia o mesmo! No dia que ela tomou os alucinógenos no meu carro depois de eu ter expulsado ela daqui, eu pude sentir nos meus ossos que eu era tudo o que ela queria” As palavras saíam como fugitivas da prisão, loucas para sentir a liberdade em seu rosto.

“Ela não disse nada? Apenas deixou suas coisas aqui e foi embora?”

“Ela disse que ainda ama o Mike, mas não acreditei. Droga, ainda não acredito! Mas seus olhos, suas palavras, firmes como sempre. O que eu ia fazer Tommy? Segurá-la pelo braço e amordaçá-la à cadeira?” A sensação era de estar perdido numa densa floresta. Sem luz, sem direção, sem saber se ficar à mercê dos lobos ou sair andando sem destino à espreita dos caçadores.

“Realmente não dá pra acreditar. Ainda mais te vendo assim.” Thomas correu sua mão pelo cabelo, tem coisa que ele não tá me contando.

“Você tem a visto?” Eu precisava perguntar, a ferida só estava aumentando, mas eu precisava saber.

“Ela, bom, você sabe.” Respirou fundo, procurando palavras, descrevê-la era complicado. “Ela está a mesma Charlie de sempre, como se nada tivesse acontecido. Vai às aulas, tira suas fotos, almoça com Carrie, tira mais fotos, arruma as fotos pro anuário, vai ao balé e tudo isso com Michael ao seu lado. Se não estivéssemos na atual conjectura eu até falaria que ele está feliz.” No segundo que Thomas acabou de falar, me arrependi de ter perguntado. Enquanto eu to aqui no fundo do poço, sem comer, sem dormir, sobrevivendo à base de drogas, ela ta tocando a vida dela como se nada tivesse acontecido.

“Hm. Está tarde, mano. Você deveria ir, amanha tem aula e tudo mais” Repousei minha cerveja na mesinha de centro e me levantei.

“Deixa de besteira, Austin. Você precisa de mim, eu fico aqui contigo.” Tommy é o mais fiel dos amigos, na real, já é irmão. “Não vou te largar nessa bagunça, você precisa tomar um banho, comer direito e dormir.”

“Amanhã.” Respondi sem convicção “Amanhã eu me levanto, preciso de mais um dia de fossa. Quem sabe assim eu aprendo a não ser mais otário.” Abri a porta e esperei Thomas se levantar

“Amanhã” Tommy me abraçou apertado, e pude sentir que ele também fora afetado. Até porque eu não estava sendo o mesmo amigo que venho sendo por todo esse tempo. “Sem desculpas, Irwin, amanhã te tiro dessa fossa e não tem nada que você possa fazer”

Meu amigo foi embora e eu realmente desejei que ele voltasse. Encarar toda a bagunça da minha vida sozinho era péssimo. Olhei para a sala, roupas jogadas pelo chão, algumas seringas que um conhecido de Devon me deu, frascos vazios dos alucinógenos, cartelas vazias de Ecstasy e variáveis, toda minha dignidade estraçalhada pelo carpete. Peguei as chaves do carro e qualquer jaqueta que estava jogada na escada.

I drove by all the places

We used to hang out getting wasted

I thought about our last kiss

How it felt, the way you tasted

And even though your friends tell me

You're doing fine

Are you somewhere feeling lonely

Even though he's right beside you?

When he says those words that hurt you

Do you read the ones I wrote you?

Sometimes I start to wonder

Was it just a lie?

If what we had was real

How could you be fine?

'Cause I'm not fine at all

Comecei meu trajeto da amargura passando pela ponte. Minha ruiva amava a ponte, ainda mais no pôr do sol, lembro de que toda vez em que ela saía bêbada das festas nós íamos à ponte, parecia que lá era uma bolha onde nada dava errado, ela sorria e pedia pra eu recitar poemas de Christopher Poindexter depois cantar qualquer música que fosse do The Kooks. Desci do carro e sentei no chão rochoso, como ela poderia estar bem? Eu sei que ela é vazia, sei que ele diz palavras que a machucam, por que é quem ele é. Eu também sei que nosso acordo foi a mentira do século, mas dentro da nossa bolha tudo era verdade. Certo?

Saí da ponde com uma raiva ardente. Sem saber se tudo era verdade na minha parte da bolha ou se do lado dela um outro mundo era criado. Dirigi até o parque da cidade, ela gostava de sentir a brisa entre as árvores e fotografar o lago, assistir as famílias passeando e criar uma nova história para cada um. Fomos ao parque no dia em que sua avó morreu, lembro que ela não chorou por uma semana, única coisa que me pediu foi para ir ao parque ao invés de ir pra escola. Ficamos sentados na grama até que depois de uma hora e meia ela pegou uma pedra e pediu que eu a machucasse porque ela precisava sentir alguma coisa. Eu apenas tirei a pedra de suas mãos e a abracei até que ela chorasse. Naquele dia ela dormiu chorando.

Sentei no mesmo lugar na grama, olhei para o céu estrelado e desejei que ela estivesse ali para que pudéssemos inventar novas constelações. Ou apenas xingar John Green pelo seu livro, ela dizia que ele estragara sua visão das estrelas. Não pude deixar de rir, ri até que as lágrimas se transformaram em choro e que esse choro se transformou em gritos de raiva. Forcei meu corpo a entrar no carro e a cada músculo ordenei que não dirigisse o carro até a casa dela.

Que não batesse na janela dela.

Que não dissesse a ela tudo o que eu queria dizer.

Que não saísse de lá até ela contar a verdade.

Que não fosse achar Mike e separar seu corpo de sua alma, porque eu queria.

Apenas sentei no banco do motorista e apertei o volante. Puxei o celular do bolso apenas para me lembrar de que a foto do plano de fundo ainda era dela, que tudo o que eu tinha era dela, que cada pedaço meu precisava dela. Abri o álbum de fotos e fui bombardeado de lembranças:

Seus olhos da cor do oceano me observando enquanto eu jogava.

Seus cabelos ao vento quando eu dirigia sem o teto pela praia.

Seus hábeis dedos se entrelaçando nos meus.

Suas bochechas levemente rosadas quando eu a pegava me encarando enquanto eu dirigia.

Seus pés nervosos debaixo das cobertas quando víamos filmes no meu quarto.

Sua boca descontrolada, que falava tudo o que pensava sem medo pois qualquer um que achasse ruim teria de se ver comigo.

Sua coragem de me desafiar nos meus dias estressados.

Suas palavras de arrependimento quando jogava tudo em cima dos meus sentimentos.

Seu sorriso que apaziguava meus piores dias.

A lista é infindável, mas eu não deveria me torturar assim, eu deveria dirigir meu carro até minha casa e dormir. Devia lembrar das palavras duras e decididas que eu escutei da boca que um dia já fora minha. Devia lembrar que a culpa também é minha, que não cumpri com a regra número um do acordo. Devia lembrar das consequências de se apaixonar por Charlotte Sullivan, a garota que parte corações por diversão.

The pictures that you sent me

They're still living in my phone

I admit I like to see them, I admit I feel alone

All my friends keep asking

Why I'm not around

It hurts to know you're happy

And it hurts that you've moved on

It's hard to hear your name

When I haven't seen you in so long

It's like we never happened

Was it just a lie?

If what we had was real how could you be fine?

Deitei em minha cama e deixei que os pesadelos me tomassem. Acordei no dia seguinte com um buraco dentro de mim. Tal buraco que não seria preenchido tão cedo, mas eu fiz minha paz com ele. Agora somos amigos, agora eu posso olhar nos olhos dela, agora eu posso me levantar e comer. Reuni todas as minhas forças para entrar no carro e dirigir até a escola. Amnésia, eu preciso de amnésia. Não posso me lembrar, pois uma vez que tudo vêm a tona, eu perco controle. A ignorância é uma benção, tais palavras nunca foram tão verdadeiras.

Estacionei meu carro no meu lugar de sempre, ninguém ousaria tomar minha vaga. Desci do carro, arrumei minha jaqueta preta e tranquei meu conversível vermelho. Entrei no prédio e marchei com todos os olhares em mim. Normalmente, tal situação aconteceria porque ela estaria em meus braços, hoje as pessoas encaram porque eu sobrevivi. Histórias e lendas foram contadas em Hampshire da trilha de corpos deixada pela ruiva, de todos os que foram reduzidos à criaturas nunca mais vistas na Califórnia. E o primeiro sobrevivente: Austin Irwin.

Parei em meu armário por costume, não o abri por saber do que tinha lá dentro. Um santuário à ela, eu como todo bom devoto, tenho fotos e mais fotos, CDs, livros de poesias e tudo o que me leva à ela.

Amnésia, Austin.

Pesquei o último comprimido de LSD no meu bolso e o tomei.

Amnésia.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar, pode me xingar.
Amo vocês até os comentários



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