Charlie não conseguia se mover. Era como se alguma atração da física a manteve estática.

"Me leve pra casa" foi tudo o que conseguiu dizer após minutos olhando para o nada. Austin nem soube como reagir, estava tão perplexo quanto a ruiva.

Após cerca de quinze minutos o casal deixou a praia. Nenhum dos dois proferiu uma palavra durante o trajeto. A única frase dita pela ruiva foi o pedido de ir à casa do jogador, pois não tinha condições psicológicas de ver os pais.

"Pare o carro, Austin" disse a fotógrafa, que mal conseguia respirar.

O loiro obedeceu, parou no acostamento e virou seus olhos para a namorada. A garota abriu a porta do carro num solavanco e como se fosse um bebê que não sabe andar direito, seus joelhos foram de encontro com o asfalto, mas a ruiva não se importou. Escorou-se na roda do veículo e tentou respirar fundo várias vezes. Ataque de pânico, não seria a primeira vez.

"Charlie?!" Austin saiu do carro como se o mesmo fosse explodir. Ajoelhou-se de frente para a namorada e a segurou pelo ombro. "Respire comigo, primeiro nariz, depois boca" fez a jovem focar sua atenção nele, para que repetisse os mesmos movimentos e assim acalmasse. "Vamos, Charlie!" Aumentou a força ao redor da ruiva, "Respiraria por você se fosse possível, então coopere"

Quando, enfim, Charlotte conseguiu compassar sua respiração, abraçou os joelhos e escondeu o rosto em vergonha.

"Não, não, não, não" o irlandês disse no tom mais doce e gentil que possui, tomando a namorada nos braços, como um bebê. "Não esconda o rosto, olha aqui pra mim"

"Não quero" disse em voz manhosa

Ele apenas sorriu e levantou o rosto da ruiva e a beijou.

"Nunca tenha vergonha de olhar pra mim, ok?" Ele disse e a abraçou.

Charlie apenas concordou com a cabeça e eles voltaram para o carro. Em cerca de vinte minutos chegaram à casa do irlandês. E como sempre, sua mãe não estava em casa, nem seu irmão.

"Vamos lá pra cima, vou te arrumar uma blusa minha pra você tomar banho e tirar a água do mar" disse enquanto subia as escadas, a fotógrafa apenas o seguiu, sempre de mãos dadas.

Após Austin encontrar uma camisa e uma toalha e Charlie terminar o banho, eles deitaram na cama. Ambos olhando para o ventilador que rodava no teto.

"Quer conversar sobre o que vimos hoje na praia?" O loiro perguntou enquanto fazia círculos imaginários na nuca da namorada, que deitava pacificamente em seu peitoral.

"Não sei o que falar sobre o que vimos" disse após um minuto em silêncio. "Digo, não foi uma imagem agradável, mas não sei se tenho o que falar sobre"

"Você ainda gosta dele?" O jogador perguntou depois de parar e pensar por alguns minutos. Pois Charlie não se abalaria com a cena se não tivesse algum sentimento envolvido.

"Austin…" disse como se não tivesse coragem de terminar a frase.

"Sim ou não, Charlie?" Não queria pressionar a namorada, mas realmente precisava saber

A ruiva debruçou-se no peitoral do loiro para poder olhá-lo cara a cara. "Não sei" respondeu verdadeiramente. Primeiro porque era inútil mentir sobre isso, segundo porque Austin sempre soube quando ela estava mentindo.

"Você quer estar com ele?"

"Não!" Respondeu prontamente. "Eu gosto de estar com você, duende" sentiu as bochechas encherem-se de sangue, sempre quando chegavam nesse assunto era impossível não corar.

"Então isso basta" o sotaque irlandês e a gentileza por detrás das palavras acalmaram o coração da fotógrafa.

Em cerca de meia hora, Charlotte caiu no sono, fazendo com que o namorado precisasse ser cuidadoso e silencioso para desgrudar-se da ruiva para poder ligar para mãe dela, avisando que ela passaria a noite.

Depois de pegar o celular da ruiva e ligar para Amélia com o intuito avisar que eles iriam ver um filme e Charlie dormiria na casa dele, Austin percebeu que a fotógrafa colocara a foto que tirou dele como plano de fundo. O loiro não pode deixar de deixar um breve sorriso escapar, ele passou o resto das fotos deles dois para seu celular e voltou para cama, onde ele e Charlotte dormiram até o despertador tocar avisando que era hora de ir à escola.

"Por favor diga que estou sonhando e não temos que acordar" a fotógrafa disse enrolando-se ainda mais debaixo das cobertas.

"Infelizmente é verdade" Austin esticou o braço para desligar o relógio que ainda apitava. "Quer que eu passe na sua casa antes de ir pra aula pra você trocar de roupa?" Perguntou levantando da cama, a ruiva não pode deixar de encarar o corpo perfeito do irlandês, uma vez que o mesmo dormira apenas de calça de moletom.

"Não precisa, vou com essa blusa sua mesmo, não estou com a menor vontade de passar em casa" levantou sorrindo e prendeu o cabelo num coque frouxo

"Isso aí não tá meio curto não?" Austin percorreu os olhos sobre toda a extensão de Charlotte

"Acho que não" respondeu descontraída, olhando para as próprias pernas "E mesmo que estivesse, não tem importância" disse chegando perto de Austin

"Claro que tem importância!" Respondeu deveras enciumado, apertando a ruiva contra si, ela apenas riu. "Eu que terei de ouvir todos os tipos de comentários sobre o corpo da minha namorada no vestiário"

"Pense pelo lado positivo" disse enquanto passeava suas mãos pelas costas largas e definidas do loiro "Eles não podem dormir comigo" terminou a frase com um sorriso incomum. Charlie nunca sorria pela manhã.

[...]

Após todo os três primeiros períodos de aula, a ruiva ficou de encontrar Austin no campo. No meio do caminho, foi interrompida por um par de mãos fortes e determinadas.

"Precisamos conversar, querida" a voz aveludada de Mike ainda possuía o tom perigoso.

"Não tenho nada pra te falar, agora já pode me soltar" respondeu sem olhar nos olhos dele

"Olha só, aprendeu a latir!" retrucou com uma risada "O negócio é o seguinte, Barbie, acontece que eu descobri o segredinho do seu amado" passou a mão pelos cabelos castanhos para tirá-los dos olhos. Charlotte estremeceu por completo "Isso mesmo, e você tem algo que eu preciso"

"O que você quer?!" Perguntou, o quanto antes saísse dali, mais rápido veria Austin

"Quero você de volta" respondeu determinado. A ruiva disparou o riso

"Nem em um milhão de vidas! Escuta aqui você, eu estou com Austin e nunca o trocaria pelo pedaço de lixo que você é" a ruiva sentiu a vontade de cuspir em Mike crescer dentro de si, mas se conteve.

"Acho que você não tem escolha, ou volta pra mim, ou todo mundo vai saber que a mamãe do duende é a vadia que todos na Assembléia já passaram a mão, e que o irmão dele é o traficante da cidade." Sorriu como se deliciasse com o momento. "A escolha é sua, querida."