Travei. Meu coração acelerou e eu não conseguia pensar direito, era muita informação. Durante anos desejei que algo extraordinário acontecesse comigo e, quando aconteceu, eu não sabia como reagir. Eu estava conversando despreocupada com pessoas que invadiram minha casa, mais precisamente meu quarto, como se nada mais importasse, como se isso fosse normal.

– Como assim uma alma especial? E se eu for como vai ficar minha família? E meus amigos?

– Eles não vão perceber, vai ser como se você nunca tivesse saído daqui – explicou Stein – nós podemos te trazer para o mesmo local e a mesma hora da partida, como se o tempo estivesse parado enquanto você está fora.

– Vocês podem fazer isso?

– Sim. – respondeu Maka – Mas se você quiser um tempo para pensar, nós podemos voltar amanhã nesse mesmo horário.

Eu me conheço, eu sabia que era agora ou nunca e que se eu fosse parar para pensar eu iria recusar, afinal, que pessoa normal iria sair por ai com pessoas desconhecidas? Mas naquela hora só o que eu queria era sair da normalidade. Eu pensei que, mesmo se algo ruim acontecesse, não teria problema.

– Não precisa. Eu... – levantei da cama – Eu quero ir!

– Verdade? – Maka parecia surpresa

– Sim. Se for como o Professor disse, então irei sem me preocupar tanto.

– Tudo bem. Eu e Stein deixaremos sua família inconsciente por uma hora, o que deve ser tempo suficiente para você pegar suas coisas e se arrumar para ir. – Soul falou enquanto andava em direção a porta – Ah! Maka ajude ela.

– Espere! Como assim deixá-los inconscientes?

– Não se preocupe, é só uma poção do sono. – Soul sorriu, mas não era aquele sorriso assustador de antes, parecia um sorriso tranquilizador

Esperei alguns minutos depois deles terem saído do quarto para acender a luz. Fiquei envergonhada ao perceber o quão bagunçado meu quarto estava.

– O que devo levar?

– Bom... De preferência todas suas roupas, mas seria bagagem demais, então leve só suas preferias.

– Sim, sim. – abri a porta do guarda-roupa, estava lotado – Acho que vai ser difícil escolher... Ei, como é lá na Death City? Quente ou frio?

– Na Death City sempre tem um clima agradável. – ela parou um segundo e depois sorriu animada – Leve só algumas, só o básico. Quando chegarmos lá nós podemos fazer compras.

– O.K.

– Só mais uma coisa, basta trocar de roupa, quando chegar lá você toma banho. Assim economizamos tempo.

– Está bem.

Peguei roupas, calçados e alguns acessórios, afinal de contas sou uma garota. Fui no banheiro, troquei de roupa e prendi o cabelo como de costume, dois coques laterais abaixo da orelha. Quando voltei para o quarto, Soul e Stein já tinham voltado e Maka estava olhando uma foto encima da mesinha.

– Quem são essas pessoas do foto?

– São meus pais e eu.

– Pegue, leve com você. – ela entregou a foto na minha mão – Para caso você sinta saudades.

– Não é como se eu fosse passar meses lá, certo?

– Bom...

– Te daremos mais detalhes quando chegarmos lá. – Stein interrompeu Maka – Agora temos que ir.

– Espere! – fui até a mesinha e peguei meus óculos – Quase me esqueci, ficar sem eles seria um problema. O.K., vamos.

– Sente-se. – Maka apontou para a cama

Sentei-me. Soul colocou algo no chão, um cubo de metal, ele começou a brilhar cada vez mais forte. A luz ficou tão forte que fui forçada a fechar os olhos. Quando abri não estávamos mais em meu quarto, estávamos em uma sala com paredes de pedra, velas iluminavam a sala aparentemente escura. Olhei em volta, três, quatro... Cinco pessoas estavam de pé ao nosso lado, três mulheres e dois homens. De cara reconheci uma, era Kim Diehl, a bruxa da regeneração. Ela estava mais velha, assim como Maka, Soul e Stein. Bom, todos deveriam estar.

– Estamos de volta! – Soul andou em direção a uma das pessoas em pé – E vejo que está todo mundo aqui para nos receber.

– Coincidência. É que vocês chegaram bem na troca de turnos. – o homem cujo Soul foi em direção respondeu

– Vou informar ao Shinigami-sama sobre nossa chegada, enquanto isso quero alguém para ajudar Maka a levar a novata para nosso antigo apartamento, onde ela vai ficar pelo menos por enquanto.

– Eu vou! – disse Kim

– Não, você tem que ficar aqui para quando Stein e o resto chegarem.

Stein? Olhei em volta mais uma vez, só então percebi que Stein não estava com conosco. Perguntei-me se ele tinha ficado para trás. Achei melhor esperar para perguntar.

– Eu posso ir. – uma voz saiu das sombras, uma garota que eu não tinha percebido a presença dela. Ela se aproximou em direção a minha mochila. Todos olharam – Vocês devem estar cansadas, eu posso levar a mala.