O dia estava branco, nublado e frio. A neve ainda cobria a cidade, como se precisasse deixa-la clara quase instantaneamente. Entretanto, uma coisa me chamou a atenção - Apenas um detalhe que destoou toda aquela paisagem uniforme. No canto da sacada, havia uma garota de cabelos roxos de roupão. Confusa e perdida. Uma garota que havia acabado de escalar a parede e tinha acabado de cair em cima de um monte de neve.

– QUE MERDA É ESSA? – explodi abrindo a porta com força e correndo em direção da garota, que se abraçava tentando espantar o frio.

– Que friiiiiiiio – se apertou enquanto olhava ao redor.

Olhei-a incrédula. Ela não tinha nem 1.60 de altura.Como tinha subido até a sacada? Isso não fazia sentido algum. E o que mais me intrigava: Por que raios ela tinha escalado a parede de roupão?

– Que droga é essa??? – gritei – Ta querendo se matar é?!

– Eu não fiz naaada - choramingou

– Você acabou de surgir do nada escalando a parede - explodi - Com um roupão!

– Roupões são bonitos – riu olhando para sua roupa felpuda arroxeada – Uma graça né?

– Meu bem, acho que você bateu com a cabeça – coloquei a mão em sua testa

– O quê? Claro que não! – disse rindo, estendendo a mão para mim – Sou Arme.

A garota simplesmente aparece escalando a parede; cai em uma sacada do nada – Com um roupão – E sorri como se nada tivesse acontecido, na maior inocência já vista.

Devo estar delirando. Acho que preciso de um médico.

– E qual é o seu nome? – sorriu me tirando dos devaneios.

Comecei a falar atropelando as palavras e empurrando-a para dentro:

– É Amyevocêprecisacolocar.uma.roupa agora!

– Amu o que? – ela ficou confusa e começou a rir, me fazendo cair na risada.

Inconscientemente, senti uma simpatia por ela.Talvez fosse porque eu tinha adorado aquele roupão roxo. Talvez

–Amy – sorri, balançando a cabeça – Agora vamos pra dentro, porque eu ainda acho que eu estou delirando.

Ela sorriu. Estava meio ofegante ainda por causa do frio, mas não parecia intimidada por estar no apartamento de outra pessoa.

– Eu nem sei qual vai ser a reação dos meninos com isso – suspirei – O Jin eu sei que vai cair na gargalhada. Mas o Lup... – fui interrompida.

– Mas o que é que está acontecendo aqui... – Jin surgiu na porta, e ao notar Arme, arregalou os olhos e apontou espantado para a menor – Quem é? É a amante do Lupus?

Arqueei as sobrancelhas e dei um riso de canto. Ela balançou a cabeça negativamente e começou a rir, ainda esfregando suas mãos nos braços para espantar o frio.

– Não sou nenhuma amante... – ela sorriu travessa – Pelo menos não dele

Arregalei os olhos. Ela bateu as mãos e começou a rir.

– Não sou amante de ninguém, é que aconteceu uma coisinha pequena, apenas – continuou esfregando os próprios braços.

Ao terminar de falar, Arme soltou um gemido de frio. Jin franziu o cenho e foi tirando o casaco à medida que ia caminhando até nós.

– Aqui, vista isso – Deslizou o casaco sobre as costas de Arme, deixando-o grande suficiente para aliviar o frio – Não quero que fique resfriada

– Nha, obrigada – Arme se encolheu, morrendo de vergonha - Não precisava...

Cruzei os braços, estava estranhamente incomodada.

– Melhor irmos para dentro – disse autoritária – Temos que avisar o Lupus

Os dois assentiram e adentramos pela porta da sacada. O calor do interior do apartamento era confortavelmente aconchegante. Como sair de um dia frio para uma casa com lareira.

– Mas o que... – parou Lupus nos olhando, depois coçou a cabeça. – Como ela apareceu aqui? E... – ele franziu o cenho – Por que raios ela ta vestindo um roupão?

– To me perguntando isso faz tempo – respondi, batendo a mão na testa.

– Pelo menos agora ela parou de sentir um pouco de frio – Jin deu um meio abraço em Arme, fazendo-a corar instantaneamente.

– Ta... – encarei os dois, eles desviaram o olhar – O que a gente faz? Eu não sei o que fazer com uma garota que acaba de subir o prédio pela parede... A propósito Arme, por que fez isso? – completei com um pingo na cabeça.

– Acho melhor eu ir preparar um chocolate quente enquanto isso – disse Lupus, levantando-se e parando em frente à porta da cozinha – Você gosta de marshmallows Arme? – acrescentou.

– Uhum – sorriu, se encolhendo – Adoro marshmallows.

– Então vou cuidar para que tenha muitos – piscou Lupus, adentrando na cozinha. Deixando Arme rubra, se encolhendo no casaco.

– Mas que raios... – pisquei os olhos várias vezes

– Ei – Jin me chamou – Você não é a única que recebe piscadelas, sabia?

– Tsc – resmunguei virando a cara pro lado. Ele sorriu e veio apertar minhas bochechas.

– Pelo menos assim eu posso ficar próximo de você sem que sua atenção se dirija para esse... – cerrou os olhos – individuo.

– Você é muito carente, sabia?

– Sabia – ele riu.

– Agora que você sabe... – sentei enquanto ele sorria – Eu quero saber da história da Arme – me virei para ela, que se sentou no sofá ao lado de Jin e assentiu com a cabeça.

– Bem... – começou Arme. Lupus entrava na sala com um chocolate quente cheio de marshmallows – É porque eu tinha acabado de sair do banho, e a fechadura da porta tinha ficado emperrada, e como eu não tinha saída e os telefones não estavam funcionando, eu resolvi escalar a parede e chegar a outro apartamento pra pedir ajuda – concluiu Arme, com ar de inteligente.

– O QUE? Isso só pode ser brincadeira – taquei a mão na testa – Você resolveu escalar uma parede em vez de gritar pelo vizinho na janela?

Arme franziu o cenho, esfregando os dedos no queixo.

– Eu não tinha pensando nisso...

– HAHAAHHAHA – Jin caiu no chão rindo

– Acho melhor você tomar isso logo, Arme – Lupus entregou o copo, mordendo os lábios pra não cair na risada. – Escalar deve ter dado uma canseira e tanto.

– Nem me diga – bufou Arme ao pegar o copo. Ela deu um enorme sorriso ao ver os marshmallows

Lupus resolveu se sentar, esperando que Arme terminasse de beber o chocolate quente e tomasse o partido do próximo passo da conversa entre nós. Porém, nesse meio tempo, o celular de Jin tocou, fazendo com que os únicos sons que continuavam a se propagar na sala fossem do sopro de Arme no copo e o clássico Bon Jovi do toque do telefone. Com o dedo, Jin fez um sinal de que iria se distanciar para ir atender o telefone. Assentimos com a cabeça.

– Esse garoto esta sempre no celular – suspirei.

– Ele é seu irmão, Amy? – perguntou Arme, terminando de tomar o ultimo gole do chocolate – É que vocês são tão próximos – inclinou a cabeça.

Lupus permaneceu em silêncio, mas me olhou esperando uma resposta, mesmo já sabendo parte dela. Dei um suspiro pesado, e encostei no sofá.

– Na verdade, eu e o Jin somos...

– Amy ! – Jin correu até mim com o telefone na mão – O juiz disse que ele fará nosso casamento na próxima semana, e que não podemos esquecer da papelada e...

– O QUE?? CASAMENTO? – Lupus, Arme e eu gritamos juntos. Os dois me olharam por eu ter gritado também.

Sorri sem graça e cocei a cabeça

– Tinha me esquecido...ehehehee

– Como que alguém esquece do próprio casamento? – perguntou Arme coçando a bochecha, rindo – Geralmente é a noiva que mais se estressa e se preocupa com esse tipo de coisa.

Eu não parava de dizer o “hehehe”.

– É porque nós só vamos nos casar no cartório – sorriu Jin – Apenas papéis.

– Eu não sabia que vocês estavam... noivos – disse Lupus, meio sem graça.

– Eu também nem imaginava... - sorriu Arme meio constrangida olhando pro casaco.

– A culpa meio que foi minha – Jin respirou fundo – a Amy não teve outra escolha.

Lupus e Arme se entreolharam confusos.

– Longa história... – suspirei.