Pisquei os olhos várias vezes e cruzei os braços em perplexa reação.

– Você é uma psicomaníaca ou o que?

Lin colocou a mão sob seu queixo como se tivesse sido ofendida. O que convenhamos, não tinha ficado nem um pouco. Ela sorriu de volta e levantou seu óculos de sol para cima da cabeça.

– Pensei em vir da um oi – ela sorriu sarcástica e deu um aceno curto – Oi!

Eu mal a tinha visto e meu nível de paciência já tinha chego ao seu limite. Senti um frio na espinha, essa garota me dava calafrios.

– Isso é serio? – revirei meus olhos.

– Na verdade, eu vim aqui por outros motivos – respondeu ela com desdém, girando seu dedo em uma mecha de cabelo enquanto fechava seus olhos dramaticamente.

– Eu imaginei – balancei a cabeça positivamente, com um ar de sabedoria que copiei de Azin.

Ela abriu os olhos e me encarou.

– Vim aqui pra reconquistar o Jin.

Ela continuou com os olhos cravados em mim, exalando aquele sentimento que faria qualquer garota sentir calafrios e sair correndo para agarrar seu marido, só pra garantir.

– O que? – balancei a cabeça tentando entender o que ela tinha acabado de me dizer

– Você me ouviu – ela sorriu diabolicamente colocando uma mecha de cabelo solto para trás da orelha e apoiou seu cotovelo sobre a cerca – Vou tomar Jin de volta, ele estando casado ou não.

Minha cabeça começou a girar. Que tipo de garota era aquela? Tudo bem flertar com um cara que havia namorado, mas tentar toma-lo de volta depois que ele se casou? Isso não é uma novela. Quem essa garota pensa que é pra vir aqui na minha casa e tentar roubar o Jin de mim?

– Eu não sei se você entendeu bem a situação, Lin – apertei o rabo de cavalo do meu cabelo e lancei um olhar arisco – Eu estou casada com o Jin, e não vou deixar que uma garota qualquer o tire de mim. Principalmente quando essa garota é você.

Lin deu uma risada alta e olhou para mim com desprezo. Aquilo me enfureceu de uma forma tão maluca que a cena dela sendo atingida por um raio passou pela minha cabeça como a realização de um sonho.

– Sabe Amy, isso tudo não é muito estranho? Em uma semana estávamos perfeitamente bem, e na outra ele me diz que é casado, e essa suposta “esposa” não parece ser tão intima a ponto de ser casada com ele - ela tirou seus óculos dramaticamente de novo. Ela parecia adorar isso – Eu não sei meu pai, mas não cairei nessa história fajuta de vocês dois.

Cerrei meu punho e franzi o cenho. Lin era mais esperta do que eu pensava, e eu não poderia ignorar isso. Mas ao mesmo tempo não deixaria as aparências tão facilmente assim sem ao menos lutar. E por Jin, eu lutaria até o fim, mesmo que pra isso eu tivesse que ser sua esposa de mentirinha.

– Escuta aqui, minha querida – disse indócil, entrando na personagem de esposa enfurecida que protegeria seu marido a qualquer custo. Ela colocou os óculos na boca e apoiou as mãos na cintura, esperando o que eu ia dizer. Expirei a maior quantidade de ar e lancei o maior tom autoritário que pude – Não me importa o que você acha do nosso casamento, se pra você foi repentino ou não, ou se eu não pareço uma esposa de verdade. Jin escolheu a mim, não a você, por que não larga esse papel de ridícula e o deixa em paz?

Soltei o ar do pulmão. Nunca havia dito tanta coisa em tão pouco tempo. Lin se remexeu claramente incomodada quando seu ego foi tocado. Ela colocou o óculos no rosto de novo e apontou um dedo pra mim.

– Isso ainda não acabou, ainda vou tê-lo de volta. Não vou perder pra você – ela colocou a mão com tudo na madeira para manter seu ar de autoridade e aparentemente, nesse lugar havia uma farpa – GAHHHH – ela tirou a mão rápido e saltitou pro lado – Lugar maldito!!!!

– Pfffff – segurei a risada com a maior resistência.

Lin fez aquele som de frustração e jogou o cabelo preso pro lado, saindo para dentro de seu terreno andando orgulhosamente como se nada tivesse acontecido.

– Olha o estilo da pessoa com quem eu tenho que lidar... – virei o rosto com aquele ar down- Eu deveria começar a ganhar por isso.

Me joguei na grama e estiquei os braços. Será que mais alguma coisa podia acontecer pra esquentar a minha cabeça?

– Vejo problemas no paraíso. E esse problema se chama “Mentira” – ouvi uma voz vinda de cima. Estreitei os olhos e coloquei as mãos sob a testa para amenizar a luz do sol. E lá estava Dio com aquele sorriso irônico, acompanhado de Rey.

Era só o que me faltava.

– Me deixe em paz, Dio – murmurei

– Prevejo uns pais muito furiosos pelo casamento escondido de seus dois filhos que fugiram de casa – disse com arrogância

– Vê se cresce Dio. Já tenho problemas demais por aqui, não quero ter que me preocupar com você também – resmunguei colocando as duas mãos nos olhos.

– Todo silêncio tem seu preço – cantarolou

Suspirei, Dio não perdia uma.

– Você sabe que a nossa casa da árvore tem câmeras né? Acho que uma certa mãe não ficaria feliz em saber que seu filho fica levando uma garota escondido pra um lugar pequeno sem seu consentimento – disse quase caindo no sono. Ouvi Dio bufando e Rey entrando em desespero – Agora se me da licença...

A porta da casinha se fechou e ouvi murmúrios desesperados procurando pelas câmeras. Abri um sorriso, às vezes a ingenuidade dos dois era muito útil.

Tirei as mãos dos olhos e rolei para debaixo de uma sombra, bem longe da casa da árvore e bem longe da cerca misteriosa de onde Lin havia aparecido do nada.

Lin.

Qual era o problema dessa garota? Por que ela tinha vindo aqui do nada pra me dizer aquilo? Ameaçar-me diretamente não parecia ser seu estilo. No entanto, aquele modo arrogante e superior de me desafiar de frente era totalmente a sua cara. Isso era frustrante, eu me sentia ameaçada por ela, e não gostava nada dessa sensação.

Mas também... Por que defendi Jin com tantas unhas e garras? Jin tem o direito de ficar com quem quiser, sempre foi assim. E foi ele quem me obrigou a me casar com ele contra a minha vontade. Só que dessa vez pareceu ser tão diferente, meu sangue subiu a cabeça quando Lin ameaçou tira-lo de mim, e essa sensação era ainda mais incômoda que as ameaças fúteis da albina.

– Grrrrrrrrrrrrr – rosnei bagunçando todo o meu cabelo

Eu estava me sentindo mais possessiva do que nunca. Ninguém iria tira-lo de mim. Ninguém.

– NINGUÉM! – gritei num reflexo.

– Ninguém o que, sua louca? – Jin apareceu do meu lado enquanto me olhava de cima, rindo – Desde quando você anda falando sozinha?

– Não me enche, Jin – fechei os olhos e estiquei meus braços e minhas pernas, pra ficar em forma de estrela

Jin se deitou ao meu lado e fez o mesmo.

– O dia ta lindo apesar de tudo, não está? – disse ele feliz.

– Está – sorri, a brisa estava fresca. – Como foi a conversa com Azin?

– Foi tranquila, sempre nos entendemos no final.

– Como sempre – virei minha cabeça para ele, e a cabeça dele estava virada para mim. Ele sorriu, e eu instintivamente, corei.

– E sempre que nos desentendermos, teremos você do nosso lado pra nos ajudar, não é?

– Sempre – pisquei para ele.

– Sou um cara muito sortudo.

Ele colocou sua mão sobre a minha e a segurou, depois olhou para o céu. Meu coração disparou.

– Você é demais Amy – ele sorriu e fechou os olhos.

Não consegui responder, meu coração batia forte e minha mão estava quente. Olhei para seu rosto sereno. Lin podia tentar o que quisesse, mas nunca a deixaria ver como o rosto de Jin ficava uma graça desse jeito.

– Jamais – murmurei para mim mesma. Jin parecia ter dormido com o som do vento. Apertei sua mão também.

A brisa continuou a bater.

Meu coração estava batendo forte.

O que... estava acontecendo?