Descendo as escadas, pela primeira vez na vida, não consegui olhar para Jin. Era esquisito aquele frio na barriga que estava me deixando incomodada. Por muitas vezes Jin dormiu em casa. E por que agora, essa agonia toda no meu estômago?

Jin já estava na porta do apartamento esperando que eu saísse da porta da escadaria:

– Planeta terra chamando Amy – Jin riu acenando – Não vai vir?

– Ah! Desculpa – sorri sem graça indo abrir a porta

Adentramos no apartamento. O apartamento quente e aconchegante. O apartamento que eu iria ter que dividir com Jin pela noite.

– Olha só essa bagunça – suspirou Jin vendo as caixas com as minhas coisas da mudança – Você vai levar tudo isso? Tem uma vida inteira nessas caixas.

– Você quer que eu me mude. É claro que tem que ter um monte de coisas – resmunguei olhando as caixas espalhadas pelo apartamento – Mesmo que sejam muitas... e muitas....e muitas...

– Coloca muitas nisso – riu Jin se jogando no sofá – Coitado dos carregadores da mudança, vão ter uma baita dor nas costas. – sorriu batendo a mão no sofá para que eu me sentasse lá também

Hesitei por alguns segundos, mas logo me sentei.

– Se eles não levarem, eu te obrigo a levar – deitei minha cabeça em seu ombro, rindo – Pra isso que melhores amigos servem, pra carregar minhas malas.

– Isso é um absurdo – reclamou dentando sua cabeça na minha – Vou pedir demissão desse jeito.

– Vai mesmo? – fiz um biquinho

Ele levantou a cabeça e levantou meu queixo, rindo.

– É claro que não Amy – ele deu um beijo na minha testa - Não vejo minha vida sem você

Abri um sorriso e abracei seu braço:

– Melhores amigos pra sempre, né?

– Pra sempre – sorriu apertando minha bochecha

–Você tem que parar de fazer isso, Jinzinho! – resmunguei apertando suas bochechas também – Vou ficar com uma bochecha maior que a outra, ai vou virar uma bochechudona bizarra e a culpa vai ser sua!

– Então é só eu fazer nas duas – riu apertando minhas duas bochechas – Viu só, assim se for pra ficar bizarro, que fique bizarro direito.

– Você é um idiota – ri tirando suas mãos das minhas bochechas

– Também te amo – sorriu e piscou pra mim enquanto se levantava, seguindo para a cozinha.

Suspirei e fiquei olhando-o adentrar na cozinha.

– O Amy, cadê aquelas tuas bolachas? – perguntou Jin da cozinha

– La vem isso de novo – resmunguei, depois aumentei o tom de voz – Ta no armário em cima da pia!

– Como você alcança isso aqui hein? Você sobe em uma escada pra pegar?

– Ta me chamando de baixinha? – perguntei injuriada

– Preciso responder? – riu Jin da cozinha – Senhorita lenhadora de Bonsai

– O QUEEEEEE?

– Hhahahahhaahahh – ria alto

– Você vai ver só! – gritei entre risos

Jin apareceu na porta da cozinha rindo com um pacote de bolachas enquanto se encostava na fresta da porta:

– E então Amy, aonde eu vou dormir?

– Ah... – analisei o apartamento – Você pode dormir nesse sofá se quiser

– Não pode ser na sua cama não? – perguntou arqueando as sobrancelhas e descendo-as logo em seguida, junto com um sorriso provocativo.

– Não, não pode – ri jogando um travesseiro em sua cara.

– Pô Amy, só hoje – choramingou fazendo um beicinho.

– Não Jin, eu já disse que não – ri fazendo um sinal de negativo com o dedo

Jin cerrou os olhos e sorriu de meio canto abaixando a cabeça. Devagar, ele veio andando até minha direção e se inclinou, deixando sua cabeça do lado do meu pescoço, de um modo que eu conseguisse ouvir sua respiração. Ele ergueu a boca e sussurrou no meu ouvido:

– Eu sei que você quer essa noite mais do que eu – respirou fundo e assoprou no meu ouvido – Amyzinha.

Senti meu corpo inteiro arrepiar. Levei um susto tão grande que coloquei minha mão na cara do Jin e o empurrei pra longe, fazendo com que ele caísse de bunda no chão. Virei a cabeça pro lado oposto escondendo meu rosto vermelho.

– Qualé Amy, não sabe mais brincar não é? Hhehe – reclamou Jin tentando se levantar ainda rindo

– F-Foi mal – gaguejei ainda olhando pro outro lado.

Sinceramente, eu não sabia o porquê daquele arrepio todo.

– O que foi? – perguntou se sentando ao meu lado

– Não é nada – sorri sem graça olhando pras minhas unhas

– Acho que você ta com febre, você ta toda vermelha – Jin franziu o cenho enquanto virava minha cabeça para poder me ver. Ele colocou a mão na minha testa – Ta quente!

Jin conseguia ser mais lerdo que eu...

– É, deve ser a febre !! – gritei. Jin arregalou os olhos assustado e deu um risinho de “Quê?”

– É melhor eu ir me deitar pra febre, an, passar – me levantei toda estabanada. Entrelacei uma perna na outra enquanto andava. Quase cai – Hhehehee – olhei sem graça pra Jin acenando mostrando que estava “tudo bem”

Ele estava com um ponto de interrogação enorme estampado na cara.

– Então boa noite... – Jin coçou a cabeça totalmente confuso.

– Boa noite! – gritei me virando para ele enquanto andava, e sem perceber, meti com a cara na porta.

– Mas é lezada... – Jin começou a rir se levantando para ir até mim. Mas antes que ele desse um passo, eu fiz um sinal de “pare” com as mãos e forcei um sorriso.

– Eu to bem, eu to bem, fica tranquilo

– Mas você meteu a cara na porta e...

– Eu disse que ta tudo bem – interrompi sorrindo – Pode dormir, já já a dor passa

– Mas Amy, você ta com febre e com a cara amassada...

– Eu to bem Jin! – retruquei entrando no quarto e fechando a porta com tudo. Encostei minhas costas na mesma

Ouvi alguns passos do lado oposto da porta. Jin provavelmente estava indo ao banheiro ou a algum outro cômodo do apartamento. Aquilo tinha me deixado nervosa, como uma ansiedade de uma garota que está prestes a ser buscada para ir ao baile de formatura.

Algum tempo depois, quando eu já estava prestes a me deitar, vi um papelzinho entrando pela fresta da porta. Era um papel pequeno rasgado, provavelmente da minha agenda que estava na sala. Fui até a porta e peguei o pequeno pedaço escrito.

“Melhor você dormir com um pano molhado em cima da sua cabeça por causa da febre. E por causa do galo na testa também hahah.

Boa noite Amyzinha”.

Sorri e encostei minha cabeça na porta.

– Obrigada Jin...

– Melhoras Amy – respondeu Jin sorrindo do outro lado da porta.

Ouvi seus passos se distanciando. Dei um sorriso de canto. Jin era um fofo.

Já deitada, não conseguia dormir. Quanto mais eu tentava me concentrar para relaxar, mais pensamentos vinham na minha cabeça. Virava para a direita. Nada. Virava para a esquerda. Nada. Olhei no relógio – “3:12”.

– Droga de insônia – resmunguei enquanto me levantava da cama para ir beber alguma coisa.

Fui andando devagar pelo corredor, até adentrar na sala. Cocei a cabeça e bocejei. Mesmo sem sono, eu estava morrendo de preguiça. Olhei em volta a procura de nada e reparei em Jin dormindo. Sorri.

– Ele já dormiu... – me aproximei do sofá em que ele dormia. Agachei em frente ao sofá ficando de frente para seu rosto. Ele estava tão sereno, tranquilo. Até parecia uma criança inocente. Ri com a hipótese. Era engraçado e fofo pensar nisso. Não pude deixar de abrir um sorriso enquanto olhava para seu rosto.

Quando fui me levantar, Senti uma mão segurando meu braço. Dei um pulo e olhei para Jin assustada. Ele sorriu.

– Quer dormir aqui? – perguntou Jin abrindo os olhos devagar

– O-OQUE? C-Claro que não – respondi atônita. – Eu só estava pegando meu brinco que caiu aqui e...

– Então depois você procura – sorriu Jin puxando minha mão e me fazendo cair com meu corpo ao seu lado. Logo depois entrelaçou seu braço por baixo do meu pescoço e me cobriu com a coberta com o outro, em alguns míseros segundos. Com um sorriso, acrescentou – Agora vamos conseguir dormir bem, não é?

Abri a boca sem dizer nada. Faltava ar para qualquer coisa. Mesmo com aquele escuro todo, eu sabia que eu estava vermelha. Não que eu estivesse sentindo alguma coisa, mas era uma sensação diferente, uma vergonha diferente. Mas mesmo com a inquietação dos meus batimentos, o abraço de Jin tinha me deixado contraditoriamente tranquila.

Jin percebeu que aquilo tinha me deixado sem jeito. Ele deu um risinho e virou seu rosto para mim, deixando com que a distância entre nossos rostos fossem de pequenos centímetros. Prendi a respiração. Ele me abraçou mais forte e fechou os olhos.

– Como nos velhos tempos, lembra?

Quando Jin e eu éramos pequenos, por muitas vezes eu sofria de insônia, e nesses momentos eu me levantava da cama e partia para o quarto de Jin, que gentilmente dividia a cama comigo. Ele me abraçava e me ajudava a dormir. Sempre dava certo.

– Claro... como nos velhos tempos. – sorri e fechei os olhos

Jin me abraçou e sorriu:

– Sim, os velhos tempos...

Dei um suspiro profundo e finalmente, consegui dormir.