Brazilian Superman escrita por Goldfield


Capítulo 5
Capítulos 8 e 9




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Capítulo 8

Surge um vilão.

A luz do recinto era incômoda, apesar de deixar sua careca mais brilhante. Estava sentado naquela bancada há horas, esforçando-se ao máximo para não cair no sono, principalmente durante as falas dos deputados mais velhos, de fala mansa e baixa. Impaciente, apanhou o copo d’água e bebeu mais um gole, ouvindo novo discurso de cunho moralista:

–         Deputado Leo Líbero, o senhor está diante desta CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para que seja esclarecido o destino dos cinqüenta milhões de reais destinados ao programa “Bolsa Barraco” que desapareceram misteriosamente nas mãos de um dos seus tesoureiros particulares. Uma atitude egoísta, mesquinha e de total desrespeito ao soberano povo brasileiro, devo afirmar. E digo mais...

Blá, blá, blá, blá, blá... Leo já estava farto. De qualquer forma, o tesoureiro em questão, a seu mando, não poderia ter escolhido melhor época para desviar recursos. O país estava às vésperas da Copa do Mundo, e já em agosto ninguém se lembraria de mais nada. E alguns ainda diziam que o futebol não é o “ópio do povo”...

De qualquer forma, Líbero queria logo sair dali, pois havia marcado uma reunião com um de seus sócios para discutir seu novo, e altamente lucrativo, empreendimento imobiliário. A Construtora Líbero, uma de suas muitas empresas (sem contar as fantasmas), andava no vermelho recentemente devido a alguns edifícios que haviam desabado no Rio de Janeiro por negligência, porém isso logo mudaria... Leo sempre tinha uma valiosa carta oculta na manga...

E a careca lustrosa continuava brilhante...

Alguns dias depois...

–         Venha logo, “Casa Branca”! – exclamou a repórter, olhando para Cláudio, que vinha atrás a passos rápidos, porém indecisos, pela estação. – Precisamos pegar o metrô para irmos até o QG da Polícia Federal!

–         Já vou, Lais... Já vou...

Lá estava o filho adotivo dos Gusmão. Motivo de orgulho. Trabalhava agora como repórter num dos jornais mais importantes do país, tendo como parceira a estonteante Lais Lima. Arrogante, sim. Mal-educada, certamente. Grosseira, com certeza. Ela até já havia colocado o apelido de “Casa Branca” em Cláudio... Porém era, mesmo assim, uma verdadeira diva...

–         Rápido, “Casa Branca”! – insistiu a jornalista, sem notar que o colega, boquiaberto, admirava seus fartos seios usando sua visão de raios-x. – Parece até que está no mundo da lua!

–         E estou... – suspirou, derretido. – Estou no paraíso...

Nisso o trem chegou. Algumas pessoas desceram, entre as quais um trombadinha, que pensou em levar a bolsa de Lais e acabou desencorajado ao ver o forte Cláudio ao lado dela. Os dois funcionários do País Diário embarcaram apressadamente e logo a serpente de metal seguia pelos túneis sob a cidade de São Paulo.

Havia apenas um lugar vazio no vagão, e Gusmão, sempre cortês, fez questão que Lima nele se sentasse. Tinha esperança assim de receber uma palavra de simpatia, quem sabe até afeto, por parte da repórter, já que só levara coices desta desde que haviam começado a trabalhar juntos... A resposta da jovem fez com que suas esperanças caíssem por terra:

–         Que cafona! Por que você mesmo não se sentou para descansar as pernas, “Casa Branca”?

É, o cavalheirismo de hoje era mesmo composto somente de coices... Mas ao menos Lais desejava que ele houvesse se sentado ao invés dela... Seria uma pontinha de preocupação para com o parceiro?

–         Que cara de sonso é essa, “Casa Branca”?

Com certeza não.

Nesse mesmo instante, no vagão frontal do trem, um operador coordenava a viagem pelo túnel, já que todo o sistema de metrô era controlado via computador. De repente, desesperou-se ao olhar para frente: por falta de verbas, os trilhos daquela linha estavam incompletos, e se prosseguissem acabariam colidindo com uma parede rochosa! Desesperado, o condutor acionou o controle manual do trem para tentar frear, mas a distância era muito pequena! Não havia tempo!

–         Meu Deus, e agora? Nós vamos bater!

Por meio de sua superaudição, Cláudio, alguns vagões atrás, pôde ouvir o angustiante clamor daquele que operava o trem. Em sua mente, a sensação de dever a ser cumprido bradava imponentemente. Tinha de salvar aquelas pessoas, tinha de salvar Lais. Era hora do Super-Homem entrar mais uma vez em cena!

–         Lais, com licença, tenho algo urgente a fazer! – disse o repórter, distanciando-se da colega.

–         Que foi, “Casa Branca”? Está com dor de barriga? Aqui não tem banheiro!

Gusmão encaminhou-se até a parte de trás do trem, onde, mais rápido que uma bala, vestiu o uniforme de seu alter ego heróico, que trazia consigo escondido sob o terno de trabalho. Em seguida saltou através de uma das janelas, ganhando o túnel. Usando sua supervelocidade, o kriptoniano ultrapassou a condução, constatando que o caminho estava mesmo selado metros à frente. Sempre pensando e agindo velozmente, Super-Homem correu até o vagão frontal do trem e, empregando sua inacreditável força, começou a empurrá-lo para trás com os dois braços. Para espanto do operador, o transporte parou depois de poucos segundos, pouco antes de atingir o fim da linha.

As portas se abriram e os passageiros, intrigados, caminharam para fora. Depararam-se com a figura do super-herói, que, com seu porte hercúleo e cores genuinamente brasileiras, disse-lhes num sorriso digno de comerciais de creme dental:

–         Esta foi por pouco! Espero que isso não lhes impeça de andar de metrô. Estatisticamente, ainda é um dos meios de transporte mais seguros que existe... Quando há verbas suficientes para concluir as obras!

–         Muito obrigada! – exclamou Lais Lima, totalmente deslumbrada diante de seu salvador.

–         Não precisa agradecer! Se precisar de alguma coisa, olhe para o céu!

Dizendo isso, Super-Homem voou para fora do túnel, deixando para trás pessoas agradecidas e atônitas, sem contar algumas que riam de seu esquisito uniforme...

No dia seguinte, o mais novo benfeitor paulistano já era sensação em todos os jornais.

O “Estado Paulista” ressaltava que apesar de suas cores ridículas e visual carnavalesco, o Super-Homem é um grande aliado da população. Já “O Planeta”, do falecido Roberto Ribeirinho, dizia que o Super-Homem é a mais nova vantagem dada pelo atual governo brasileiro ao povo. A “Folha Paulistana” destacava que o novo herói leva risos e auxílio aos necessitados. Num momento de inspiração, um jornalista do “Diário Público” declarara que o Super-Homem é defensor inabalável da verdade, da justiça e do “jeitinho brasileiro”.

Na redação do País Diário, Paulo Branco convocara os principais repórteres e fotógrafos para uma reunião de emergência. Estava disposto a conseguir tudo sobre o Super-Homem, dedicando uma edição inteira do jornal a ele. Determinado, o editor-chefe distribuía as tarefas:

–         Fonseca, quero que você investigue o passado e possíveis podres dele! Rubinho, procure saber se ele é governista ou simpatiza com a oposição! Medeiros, descubra para qual time de futebol ele torce! Selma, quero saber se a inspiração para o uniforme dele foi o “Super 15”! Zezinho, exijo fotos comprometedoras! Cláudio, averigúe se ele toma anabolizantes! Turíbio, tente descobrir se ele gosta de feijoada!

–         E eu? – indagou Lais Lima.

–         Bem, como ele simpatizou com você ontem no metrô, deverá procurá-lo para uma entrevista exclusiva! Quero que essa edição seja a melhor deste jornal desde a “Máfia dos Vatapás”! Agora se mexam!

Capítulo 9

Uma noite quente.

Nove horas da noite.

Em seu apartamento perto da Avenida Paulista, Lais Lima havia terminado de se arrumar. Trajando um vestido violeta extremamente provocante, bem decotado e que deixava suas divinas pernas totalmente à mostra, a repórter também usava um perfume francês de fragrância irresistível, capaz de levar qualquer homem à loucura.

Sentando-se num dos sofás da sala, a jovem ajeitou as sandálias nos pés, olhando mais uma vez para o relógio. Logo ele chegaria. Sim, o Super-Homem, que lhe concederia uma entrevista exclusiva durante agradável jantar... E quem sabe até algo mais... Lais não podia negar que se sentia atraída pelos músculos e palavras cativantes do herói... O uniforme era ridículo, mas o corpo por baixo dele, em compensação...

Súbito, a jornalista viu as cortinas de uma das janelas balançarem, e quando deu por si o Super-Homem já se encontrava dentro do apartamento. Vendo-a, o kriptoniano não pôde conter sua admiração diante daquela mulher estonteante e, com o queixo caído, balbuciou:

–         Você... Você está linda! Simplesmente linda!

–         Obrigada – sorriu Lais, não lembrando em nada a pessoa grosseira e sem educação que costumava ser. – É uma honra, sente-se!

–         Com muito prazer!

O alienígena acomodou-se num sofá de frente para aquele em que a repórter estava, sem conseguir desgrudar os olhos das magníficas pernas cruzadas que ela fazia questão em mostrar. Percebendo que o agradava, Lais começou a fazer movimentos mais provocantes, e aos poucos o clima foi esquentando...

–         Quer comer? – perguntou a jovem, passando a língua pelos lábios vermelhos de batom num gesto altamente tentador.

–         Que disse? – replicou Super-Homem, interpretando mal o convite.

–         Eu preparei um jantar para nós dois, podemos realizar a entrevista enquanto comemos. Que acha?

–         Para mim está de bom tamanho...

Sim, tudo estava de bom tamanho, exceto na região da cintura do uniforme, a qual o herói tentava ao máximo ocultar, constrangido. Seus hormônios estavam a mil!

Desajeitado e totalmente seduzido pelas curvas e pernas de Lais Lima, o alter ego de Cláudio Gusmão seguiu-a até a cozinha, onde ela havia preparado atenciosamente uma saborosa refeição: sobre a mesa havia um prato de macarrão, uma bandeja com frango assado e uma travessa de salada. Mas fome não era bem o que Super-Homem sentia naquele momento...

–         Sirva-se à vontade! – exclamou a jornalista, sentando-se numa cadeira. – Quer algo para beber?

–         Não sei... Tem alguma sugestão?

–         Que tal uma boa garrafa de vinho?

Sem parar de fazer movimentos sensuais, Lais abriu a geladeira, retirando de dentro dela o recipiente contendo a cara bebida. Fitando Super-Homem nos olhos e passando mais uma vez a língua pelos lábios, a repórter encheu duas taças com o líquido quase da mesma cor de seu vestido, dando uma delas ao convidado.

–         Sirva-se à vontade! – sorriu a provocante mulher.

Kal-El levou tal ordem a sério, talvez até a sério demais... Logo o vinho nas taças se esgotou e, entre risadas e piscadelas, vieram outras, muitas outras... Alguns minutos depois Lais já estava sentada no colo do super-herói, acariciando sua virilha com uma das pernas. Passou-se mais algum tempo, novas taças de vinho foram bebidas, e pouco depois ambos já não sabiam mais onde estavam...

Naquela noite, os moradores do prédio sentiram toda a estrutura de concreto tremer.

Não deu outra. No dia seguinte, em letras grafais, havia uma manchete nada discreta na primeira página do País Diário: “Passei a noite com o Super-Homem”.

Assim que Lais chegou ao trabalho na redação, percebeu que todos os olhares estavam sobre si. Alguns eram de inveja, outros de admiração, uns poucos até de divertimento, mas de qualquer forma a jornalista era agora o mais novo centro das atenções. Conseguira a entrevista com o herói, e de quebra tivera uma das noites mais “quentes” de sua vida...

O melhor naquele momento era disfarçar e curtir a situação, que lhe era extremamente favorável.

Em sua sala, Paulo Branco recebeu sua melhor repórter com um forte aperto de mão e palavras de profunda gratificação:

–         Estou satisfeitíssimo com sua performance, Lais! Sem abrir mão de seu charme, conseguiu um dos maiores furos de reportagem dos últimos tempos! Você me orgulha imensamente e...

–         Então a astuta repórter Lais Lima passou a noite com o Super-Homem? – inquiriu Cláudio Gusmão, até então oculto na sala, com sarcasmo na voz, aproximando-se de braços cruzados. – Você é capaz de tudo para conseguir o que quer, não?

–         Eu tenho profissionalismo, coisa que lhe falta totalmente, “Casa Branca”... – respondeu a jovem com desdém. – Os mais competentes sabem utilizar as armas que possuem em nome de seus objetivos!

–         E surtiu grande efeito – sorriu o editor-chefe. – Assim que a notícia de que você dormiu com o Super-Homem se espalhou, recebi ligações e e-mails convidando-a a participar de reality shows e a desfilar seminua para uma escola de samba no carnaval!

–         Está vendo, “Casa Branca”? – indagou Lais rindo de forma matreira enquanto rebolava para fora da sala. – É a fama!

Cláudio, que recentemente andava elaborando versos em sua mente para filosofar sobre situações do cotidiano, fez a seguinte rima num fluxo repentino de idéias, enquanto ajeitava os óculos de grau falso que usava:

De que vale fazer fama a partir da cama

Se não é possível ter de verdade a pessoa que se ama?

Refletindo sobre isso, Gusmão voltou ao trabalho.

Na sacada de seu apartamento em Brasília, o deputado Leo Líbero lia atentamente a manchete já mencionada do País Diário aquela manhã. Terminando, amassou o jornal e, ao mesmo tempo em que o jogava na direção da rua andares abaixo, murmurou raivosamente:

–         Super-Homem, Super-Homem... De uma hora para outra esse cara monopolizou toda a imprensa! Até meu escândalo de corrupção ficou em segundo plano! De que vale desviar milhões se um cara que voa e traja um uniforme colorido atrai a atenção de todos?

–         Ora, será que o poderoso Leo Líbero está com inveja do Super-Homem? – questionou uma bela mulata de contornos esculturais e sorriso atraente, caminhando até o político e abraçando-o pelas costas.

–         Só você é capaz de me tranqüilizar, Cássia... Mas como posso lidar com essa situação? Esse sujeito pode ameaçar meus planos! Justo agora que estou às vésperas do golpe perfeito!

–         Por que não tenta trazê-lo para seu lado? Ao longo desses anos, acredito que a coisa mais importante que você aprendeu é que qualquer brasileiro, mesmo se puder voar e tiver força equivalente à de cem homens, é vulnerável ao corruptor poder do dinheiro!

–         Hum, você está perfeitamente certa... Vamos ver se o indestrutível Super-Homem pode resistir a alguns maços de verdinhas...

E, confiante quanto à idéia, Leo beijou Cássia nos lábios.

Continua... 


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