Brazilian Superman escrita por Goldfield


Capítulo 4
Capítulos 6 e 7




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Capítulo 6

Primeira aparição pública.

Já era noite escura.

Numa cidade de tamanho maior não muito distante de Casa Branca, mais precisamente num bairro residencial, três membros mascarados da facção criminosa que aterrorizava o estado de São Paulo estavam escondidos num terreno baldio de frente para a casa de um oficial da Polícia Militar. Dentro de instantes o homem da lei sairia rumo ao trabalho, dando a oportunidade perfeita para que os meliantes pudessem fuzilá-lo sem qualquer chance de defesa.

Entretanto, quando os bandidos viram o policial sair da residência e estavam prestes a disparar contra ele, ouviram uma voz às suas costas exclamar:

–         Não se movam, seus covardes! Como ousam metralhar uma pessoa inocente de forma tão traiçoeira?

A tocaia fora desfeita. Os três criminosos voltaram-se para trás, dando de cara com um pitoresco indivíduo trajando estranhas vestes nas cores verde e amarela.

–         Qual é a desse cara? – riu um dos integrantes do crime organizado, apontando sua metralhadora para o recém-chegado. – Está atrasado! O carnaval foi em fevereiro!

–         Carnaval, é? – replicou o incomum personagem, na verdade Cláudio Gusmão, num sorriso. – Já que é assim, por que não fazemos uma festinha?

–         Você está morto, cara! – berrou outro criminoso.

As armas dos bandidos cuspiram dezenas de balas contra o kriptoniano, mas este permaneceu de pé, braços cruzados, sem ao menos se abalar. Logo os assassinos cessaram fogo, percebendo que aquela tática em nada adiantaria.

–         Caramba! – gritou o terceiro marginal. – O desgraçado parece até ser feito de aço!

–         Você não está totalmente errado, amigo! – afirmou Super-Homem, avançando na direção dos oponentes.

O primeiro infrator foi apanhado pela camisa, sucumbindo perante a descomunal força do herói depois de levar um soco na face. Quanto ao segundo, tentou dar uma coronhada no extraterrestre com sua metralhadora, mas Cláudio tirou-o de combate com dois rápidos chutes no tórax. O último bandido tentou fugir do local, porém acabou pego por Kal-El, que o desabilitou através de um gancho.

–         O crime não compensa! – disse o benfeitor, limpando as mãos após ter liquidado os meliantes.

Nisso, o kriptoniano percebeu que o PM, alvo agora seguro dos atiradores, presenciara parte da luta olhando por cima do muro separando o terreno da rua. Gusmão bateu continência para o oficial, o qual, em resposta, esqueceu-se completamente dos criminosos nocauteados e, apontando um dos dedos indicadores para o Super-Homem, começou a rir sem controle devido ao bizarro uniforme do herói.

Um tanto desapontado com aquela reação ingrata por parte do homem que salvara, mas ainda assim orgulhoso de seu ato, Cláudio saiu voando pelo céu noturno em busca de novas ações criminosas para interromper...

Durante toda a noite, o filho adotivo do casal Gusmão passou por várias cidades dos quatro cantos do estado. Entre suas proezas a favor da justiça, evitou que policiais fossem assassinados, deteve bandidos antes que eles pudessem incendiar conduções, ajudou a controlar rebeliões nos presídios... A reação das pessoas auxiliadas pelo herói era quase sempre a mesma: ou riam, seja de seu uniforme ou de sua suposta burrice em arriscar a vida daquela maneira, ou então pensavam que ele também era um meliante, fugindo de medo.

Não era bem o que Cláudio esperava. Mesmo assim, fora uma experiência gratificante para o jovem. Ele comprovou que poderia usar seus poderes em prol da sociedade, teve certeza de que, agindo à sua maneira, seria capaz de fazer diferença num mundo tão hostil e mesquinho.

Bem, essa foi ao menos sua primeira impressão...

Voltando à narrativa, Kal-El despediu-se da mãe duas semanas depois, partindo para a cidade de São Paulo, onde pretendia conseguir um estágio na redação de algum jornal e, quando fosse necessário, transformar-se no Super-Homem para praticar boas ações. O rapaz sabia que dali em diante as coisas seriam bem diferentes. Estava numa metrópole, onde a disputa por um emprego era acirrada e injusta. Ao contrário de Casa Branca, na “Terra da Garoa” não era sábio, nem prudente, confiar em qualquer pessoa.

O último filho de Krypton alugou um modesto apartamento num dos subúrbios da cidade. O lugar era sujo, cheirava mal e a vizinhança não era das melhores, mas Cláudio se contentava com pouco. O importante era ser capaz de ajudar os outros.

Durante sua primeira noite na capital do estado, Gusmão sentou-se sobre a cama de seu novo lar, folheando um jornal em busca de anúncios de estágio. Lendo cada mensagem numa velocidade sobre-humana, o jovem logo encontrou a oportunidade que tanto queria:

Precisa-se de repórter, formado de preferência numa faculdade pública de qualidade. Salário inicial de R$ 1500,00. Os interessados devem comparecer à redação do jornal “País Diário” até o dia 07/06, para análise do currículo e entrevista.

O endereço do local seguia logo abaixo. Cláudio marcou o anúncio com uma caneta. Na manhã seguinte faria uma viagem até o centro da metrópole para se oferecer à vaga. Não tinha tempo a perder.

Capítulo 7

Conseguindo um emprego.

E lá estava Cláudio Gusmão, subindo pelo elevador do prédio até a redação do jornal País Diário. Usava agora um par de óculos, para assim ficar diferente de seu alter ego e evitar que as pessoas descobrissem ser ele o Super-Homem. Ansioso, o rapaz não conseguia parar de pensar na entrevista. Seria capaz de usar as palavras certas? Ou acabaria falando alguma besteira, colocando tudo a perder?

As portas do transporte se abriram, e o kriptoniano, com o coração aos pulos, adentrou o ambiente de trabalho onde pretendia iniciar sua carreira de repórter: o local era amplo e abafado, com várias pessoas, entre as quais repórteres, fotógrafos e editores, caminhando para lá e para cá com mil tarefas a cumprir. Carregavam pastas e papéis, esbarravam nos colegas, xingavam, fumavam, digitavam, bebiam café...

“Vais encontrar o mundo, Claudinho. Coragem para a luta”, pensou o recém-chegado, lembrando-se do trecho inicial de um romance que lera na faculdade, chamado “O Ateneu”.

O jovem prosseguiu alguns passos, receoso, quando ouviu a voz de alguém se destacar entre as demais. Ela pertencia a um senhor de terno e gravata, cabelos grisalhos, que exclamava:

–         Pelos decretos de Vargas, Zezinho! Eu pedi para você tirar fotos do novo hotel que está sendo construído no centro, e não do MASP! Será que você não consegue fazer um serviço competente sequer?

–         Puxa, desculpe-me, chefe... – respondeu um funcionário de pouca idade, cabelos ruivos, rosto sardento e uma câmera fotográfica pendurada ao pescoço.

–         Quantas vezes precisarei repetir? Não me chame de chefe!

–         Com licença, senhor! – disse o alienígena, aproximando-se receoso.

–         Sim? – replicou o suposto editor-chefe do jornal, voltando-se para o recém-chegado.

–         Estou aqui por causa da vaga para repórter!

–         Oh, sim! Qual é o seu nome, filho?

–         Cláudio. Cláudio Gusmão.

–         Fico feliz que esteja interessado no emprego, rapaz! Sabe, anos atrás eu era como você, um jovem buscando novos horizontes, galgando a montanha do sucesso, e veja só! Sou agora editor-chefe! A propósito, acho que não lhe disse meu nome! Sou Paulo Branco, muito prazer!

–         Igualmente! – respondeu o kriptoniano num sorriso forçado.

–         Venha, vamos até minha sala!

Ainda receoso devido ao ambiente desconhecido, o aspirante a repórter seguiu o editor-chefe até o escritório deste e, no caminho, acabou vendo algo que o deixou inegavelmente impressionado: sentada diante de um computador, uma bela repórter, de lindos olhos e corpo de verdadeira deusa tupiniquim, digitava uma matéria.

–         Carlos, como se soletra “corrupção”? – perguntou ela a um jornalista próximo.

–         Puxa, Lais, acho que você terá de voltar ao supletivo! – riu o sujeito, distanciando-se.

Lais... Cláudio ficou fascinado pela jovem... Seus modos, seu jeito de falar... Tanto que, distraído, quase bateu a cabeça na porta da sala de Paulo Branco, o que provavelmente a teria derrubado. Voltando a si, o alienígena criado no interior de São Paulo entrou no recinto, sentando-se diante da mesa do editor-chefe, atrás da qual este já havia se acomodado.

–         Pelo seu sotaque, percebo que veio do interior – observou Paulo num sorriso. – De que cidade, mais precisamente?

–         Casa Branca.

–         Oh, eu já estive lá uma vez! Ruas de paralelepípedo e boçorocas maiores que um campo de futebol! Bem, acredito que você se dará bem aqui em São Paulo. A propósito, trouxe o currículo?

–         Sim, aqui está.

Gusmão entregou o papel a Branco que, enquanto o lia, soltou alguns “hums” de boa impressão. Cláudio mal podia se conter de tanta ansiedade. Terminando, Paulo disse ao rapaz, em tom bastante encorajador:

–         Filho, seu currículo é bom, mas infelizmente estou procurando alguém mais qualificado e...

Nisso, o fotógrafo Zezinho entrou correndo na sala, exclamando, quase sem ar:

–         Chefe, acabaram de ligar do hospital! O Rubens, nosso melhor repórter, morreu vítima de um assalto na Praça da República!

–         Pelos decretos de Vargas! – gritou o editor-chefe, desolado. – E agora, quem será o novo parceiro da Lais? Preciso de uma reportagem sobre o “Escândalo dos Hipopótamos” urgentemente!

Foi quando os olhos de Branco se voltaram para Gusmão, fitando-o por vários segundos. O chefe de Zezinho coçou os cabelos brancos, depois o queixo e por fim abriu um sorriso digno de uma hiena.

–         Está contratado, filho! – disse ele, agarrando a mão direita de Cláudio e apertando-a com força. – Pode começar hoje mesmo, só precisa assinar alguns papéis!

–         Papéis?

Como resposta, Paulo colocou sobre a mesa uma pilha de documentos que possuía quase um metro de altura. O mais novo repórter do País Diário suspirou. Com certeza seria uma longa manhã...

Continua... 


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