Brazilian Superman escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulos 4 e 5




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Capítulo 4

Reencontro.

Sentado sobre uma caixa de madeira ao lado de seu iglu, um esquimó, bebendo uma garrafa de cerveja, observa as alvas e extensas planícies do Ártico. Acostumado ao frio do Pólo Norte, o nativo apenas aproveita o momento contemplando aquela bela vista, quando subitamente algo mais rápido que uma bala cruza a paisagem em fração de segundos, desaparecendo no horizonte depois de levantar grande quantidade de neve.

O esquimó, impressionado com o que acabara de ver, olha para a garrafa em sua mão, arremessando-a longe, certo de que precisava urgentemente parar de beber...

Na verdade, quem percorria as planícies árticas com velocidade supersônica era Cláudio Gusmão, que fora guiado pelo cristal de Jor-El até aquela região inóspita da Terra. As respostas para as perguntas do rapaz estavam ali, em algum lugar.

Depois de percorrer mais algumas centenas de metros, o kriptoniano percebeu que a pedra, a qual segurava em sua mão direita, começou a brilhar com maior intensidade, além de, sem mais nem menos, ter ficado muito quente, chegando a queimar levemente sua pele. Olhando ao redor, o jovem viu que se encontrava numa área de formato circular mais baixa em comparação ao resto da planície.

Finalmente chegara.

Certo de que aquele era o local correto, Cláudio caminhou normalmente até o centro da depressão. Ali parou, arrancando a corrente que usara no pescoço desde o momento no qual deixara sua fazenda. O presente de Lena Lins foi arremessado a uma grande distância por Gusmão, caindo em meio à neve ártica. Em seguida o rapaz, num gesto rápido e decidido, fincou o cristal de Jor-El no chão com grande força.

O processo ocorrido após tal ação precisaria de uma fic própria para que pudesse ser explicado aos mínimos detalhes, portanto serei conciso: tudo começou a tremer, enquanto, ao redor de Cláudio, uma bela e firme estrutura de cristais emergia da neve, constituindo abrigo de fantástica arquitetura. Assim que a formação do refúgio cristalizado foi concluída, Gusmão, admirando tal obra, fruto da avançada tecnologia kriptoniana, disse, impressionado:

–         Uma fortaleza só minha, situada no meio do nada... Um presente que meus pais deram a mim... Sim, meu castelo, meu esconderijo... A Fortaleza da Solidão!

De repente, dois hologramas de tamanho natural surgiram no centro da estrutura. Representavam um homem e uma mulher. Apesar de nunca tê-los visto antes, Cláudio sabia muito bem quem eram: o casal de cujo amor havia sido fruto estava ali, em sua frente, a míseros passos de distância. Era um momento de grande emoção.

–         Papai, mamãe! – exclamou Gusmão.

–         What? (Quê?) – perguntou Jor-El, expressão confusa no rosto.

–         Como disse? Não entendi!

–         But, he... (Mas, ele...) – oscilou Lara Lor-Van, incerta sobre o que ocorria.

–         It must be a mistake! (Deve ser um engano!) – concluiu o pai de Kal-El, coçando o queixo enquanto tentava encontrar uma saída para aquela situação constrangedora. – What the hell is that language you’re speaking, son? (Que diabos é essa língua que você está falando, filho?).

Se ao menos o kriptoniano criado na Terra tivesse prestado mais atenção nas aulas de inglês que tivera no Instituto, poderia resolver aquele impasse sem qualquer dificuldade. Por alguma razão desconhecida até então, seus pais biológicos estavam se comunicando numa língua que conhecia muito pouco.

–         Brasil! – gritou o jovem. – Sou do Brasil!

–         Brazil, huh? (Brasil, hem?) – murmurou Jor-El. – I think I already know what happened. Lara, please, switch our language to Brazilian Portuguese! (Eu acho que já sei o que aconteceu. Lara, por favor, troque nossa língua para português brasileiro!).

–         Yes, my husband! (Sim, meu marido!) – obedeceu a mulher.

Houve um breve som eletrônico, e logo depois o pai de Cláudio passou a se comunicar numa língua que o filho conhecia muito bem:

–         Agora você me entende, Kal-El?

–         Perfeitamente, papai! – respondeu Gusmão com certa falta de sentimento, já que o clima de reencontro fora extinguido por aquele mal-entendido lingüístico.

–         Eu não compreendo o que possa ter acontecido! – afirmou Lara. – A nave dele deveria ter caído em Smallville, EUA, e não num país dos trópicos!

–         Provavelmente ocorreu um desvio na rota devido aos danos que o computador externo da nave, localizado em nossa casa, sofreu pouco antes do lançamento – especulou Jor-El. – Mas isso não é problema. Se ele está aqui agora, é porque foi criado pelas pessoas certas!

–         Por que vocês me enviaram para este planeta? – quis saber Cláudio.

–         Nosso planeta natal, Krypton, foi totalmente destruído numa explosão há dezoito anos – explicou a mãe de Kal-El. – Pouco antes de tal acontecimento, nós o colocamos nesta nave, a qual foi enviada à Terra. Você é o último representante de nossa raça, meu filho. Eu e seu pai estamos mortos, e conversamos neste momento graças a um sistema de inteligência artificial contido no cristal usado para criar esta fortaleza. Há muitas coisas que precisa aprender sobre nosso povo e nossa cultura. Nós lhe ensinaremos tudo isso a partir de agora.

E, atento e compenetrado, Cláudio começou a ouvir com grande atenção os ensinamentos de seus verdadeiros pais. Contaram-lhe tudo sobre Krypton e seus habitantes, como os grandes feitos que haviam realizado, a organização da sociedade na qual viviam, o código moral por eles seguido... Também explicaram a Kal-El os poderes e habilidades que os kriptonianos possuíam, e a razão de eles terem se manifestado de forma tão intensa no rapaz por estar na Terra. O que mais impressionou o jovem foi a revelação de que, com a devida prática, resultante de longo treinamento, ele poderia voar pelos céus como um pássaro sem asas...

Também aprendeu que, apesar de todos esses dons, os nascidos em Krypton possuíam uma perigosa fraqueza: um mineral natural do planeta chamado kriptonita. Tal pedra encontrava-se também em alguns lugares da Terra, trazida por meteoros. As duas principais variações eram a verde, que privava um kriptoniano de todos os seus poderes, chegando a provocar morte se a exposição fosse muito intensa, e a vermelha, que alterava o comportamento de quem fosse afetado (a pedra rubra presente na corrente dada por Lena a Cláudio era na verdade uma pequena amostra de tal variação, sendo esse o motivo de ter modificado a maneira do rapaz agir).

Dessa forma, o filho adotivo do casal Gusmão cresceu tanto como humano quanto como kriptoniano, aprendendo mais sobre si e o mundo do qual viera. Passaram-se dias, meses, anos... E assim tem início uma nova etapa desta história...

Capítulo 5

Vida adulta.

A educação de Cláudio Gusmão por parte de seus pais biológicos durou três anos. Ao término desse período, o rapaz havia atingido a maioridade, tendo agora vinte e um anos de vida.

Era 1999. Num bonito dia do verão ártico, a porta da Fortaleza da Solidão se abriu. Kal-El, possuindo total conhecimento sobre seus poderes e organismo, caminhou para fora do lugar, após ter se despedido de Jor-El e Lara. Eles permaneceriam ali em forma holográfica por tempo indeterminado, e o filho poderia visitá-los sempre que quisesse. Chegara a hora do kriptoniano criado na Terra prosseguir em sua existência com seus próprios passos. Fitando o céu num sorriso, Cláudio ergueu o braço direito na direção dele, voando para longe da fortaleza, totalmente livre e desimpedido.

Percorrendo as planícies polares vários metros acima do chão, o jovem percebeu que ver tudo dali de cima constituía uma das melhores experiências pelas quais já passara. E o mesmo esquimó do capítulo anterior, ao contemplar Gusmão voando como um pássaro sobre seu iglu, teve certeza de que o problema não era mais a cerveja: estava realmente ficando maluco, talvez devido ao intenso clima frio. Por isso mudou-se para uma paradisíaca ilha do Caribe algum tempo depois.

Voltando a Casa Branca, Cláudio, com grande ansiedade, fez questão de rever os pais no Rio Verdinho. Encontrou a mãe recém-curada de uma depressão por causa da partida do filho. O pai, por sua vez, estava muito doente do coração e, mesmo após ter passado por inúmeras cirurgias, tinha apenas mais alguns anos de vida pela frente. Ambos ficaram muito felizes com a volta do kriptoniano, o qual lhes contou tudo sobre o reencontro ocorrido no Pólo Norte e o vasto conhecimento que havia adquirido enquanto estivera ausente. Emocionados, Jonas e Mariana agradeceram a Deus por este ter lhes presenteado com um filho adotivo tão fiel, pois retornara ao lar de seus pais de criação mesmo depois de ter descoberto suas verdadeiras origens.

Após Kal-El ter contado sobre sua experiência no Ártico, perguntou ao casal Gusmão sobre os amigos que deixara na cidade. A primeira notícia deixou o rapaz deprimido por algum tempo: a bela Lena Lins, cansada de esperar que Cláudio voltasse, começara a namorar Pedro Rossi e agora estavam noivos, ambos fazendo faculdade em São José do Rio Pardo, um município vizinho. Clara Silveira, por sua vez, era agora repórter de um programa na TV sobre casos sobrenaturais depois de ter divulgado suas teorias sobre as boçorocas na mídia.

O jovem tomou uma decisão. Movido por uma causa que será explicada mais à frente na narrativa, Cláudio, depois de fazer breve cursinho, passou no vestibular num dos primeiros lugares (lembrem-se, ele é o Super-Homem!), indo cursar jornalismo numa universidade pública. O período da faculdade foi muito feliz e construtivo para o rapaz. Foi nessa época que conheceu Lora Lamaris, namorada de Gusmão até este descobrir o fato de ela ser uma sereia devido a uma mutação em seu DNA ocorrida quando sua mãe, ainda grávida, nadara nas águas contaminadas de Cubatão.

Após formar-se com louvor, Kal-El voltou a Casa Branca, onde teve uma conversa com seus pais adotivos que mudaria sua vida para sempre...

O rapaz chegou à fazenda Rio Verdinho num tranqüilo e agradável fim de tarde, típico das cidadezinhas do interior paulista. Veio em seu carro comprado há pouco tempo com o dinheiro que poupara nos anos recentes. Por falar em anos, Cláudio mal podia acreditar que já havia se passado uma década desde que deixara o lar rumo ao Ártico. Era início de 2006.

Assim que parou o automóvel diante de sua casa e saiu, o jovem foi recebido calorosamente por sua mãe adotiva, a qual cobriu o filho de beijos.

–         Filho, mas que bom vê-lo! – exclamou Mariana, felicíssima. – Eu e seu pai não temos notícias suas desde a formatura da faculdade!

–         Não se preocupe, está tudo bem... – respondeu Cláudio num sorriso. – E o papai, como está?

–         Nada bem, querido... Na verdade ele piorou...

A expressão facial de Kal-El tornou-se imediatamente séria. Respirando fundo, entrou na casa seguido pela mãe. Os móveis, quadros, paredes... Tudo fazia com que o kriptoniano se lembrasse de sua maravilhosa infância naquela fazenda. Foi então que entrou no quarto do casal Gusmão, ouvindo gemidos agonizantes...

Jonas Gusmão estava deitado na cama sob um cobertor xadrez. Magro e extremamente doente, não lembrava em nada o forte e saudável fazendeiro de outrora. Estava nas últimas, e se Cláudio houvesse demorado um pouco mais para visitá-lo, acabaria não o encontrando com vida.

–         Filho... – disse o marido de Mariana, voz sumida. – Você voltou...

–         Sim, pai! – replicou o extraterrestre, comovido. – Preciso comunicar a vocês a decisão que tomei!

–         Como assim? – perguntou a mãe.

–         É melhor sentar-se!

A esposa de Jonas acomodou-se numa cadeira a poucos passos da cama onde estava o doente. Fitando os pais adotivos, Cláudio olhou para o teto, depois fitou o chão e finalmente começou a falar:

–         Eu creio que ainda não lhes revelei o verdadeiro motivo que me levou a cursar jornalismo...

–         Para ser franca, eu nunca compreendi essa sua escolha! – disse Mariana. – Você nunca levou jeito para as letras, filho!

–         Acontece que, depois de todos esses anos repletos de acontecimentos que mudaram minha vida, eu finalmente compreendi minha missão neste planeta. Desde quando meus poderes começaram a se manifestar, eu sempre acreditei que minha vinda a este mundo possuía um objetivo em especial. Meus pais me revelaram que na verdade fui enviado para cá com o intuito de me salvarem da destruição de Krypton, mas mesmo assim minha convicção não se extinguiu. O destino, quando me trouxe à Terra, deu-me uma meta. Preciso usar minhas habilidades para auxiliar as pessoas indefesas deste mundo!

–         Como assim? – indagou Jonas, cada vez mais orgulhoso de Kal-El.

–         É só abrir um jornal. Todos os dias centenas de pessoas morrem numa catástrofe natural ou atentado terrorista. Eu quero evitar que essas vidas se percam. Sou mais forte que qualquer ser humano, posso voar, ver através das paredes, congelar coisas com um único sopro... Por isso me formei em jornalismo. Trabalhando na redação de um jornal de grande circulação, eu poderei tomar conhecimento dos crimes e tragédias antes de todo mundo, e então agirei para resolvê-las. Seria viável criar uma nova identidade por meio da qual eu entrasse em ação sem expor as pessoas que me rodeiam, como vocês. Tornaria-me um paladino, um...

–         Super-Homem! – completou o pai adotivo do rapaz.

Chorando de alegria devido à incontestável demonstração do nobre caráter de Cláudio, Mariana abraçou-o com força, ao mesmo tempo em que Jonas, com dificuldade, apertava a mão esquerda do filho.

–         Suas palavras são sábias, meu caro... – afirmou o fazendeiro, esforçando-se para sorrir. – Siga seu coração, trilhe seus próprios caminhos. Faça algo por aqueles que sofrem, assim como você fez por mim ao me revelar uma decisão tão admirável!

Sim, sem dúvida havia sido uma decisão digna de admiração. Todavia, infelizmente nem tudo na vida ocorre da maneira que desejamos. Jonas Gusmão, que vinha sofrendo graves problemas de saúde desde seu infarto em 1996, faleceu poucos dias depois. Apesar de terem sofrido muito, Cláudio e Mariana tinham conhecimento do grave estado do fazendeiro já há algum tempo e, de certa forma, estavam preparados para esse triste acontecimento.

O discreto enterro ocorreu no fim de uma tarde de maio, véspera de Dia das Mães. Era início de noite quando Kal-El e sua mãe adotiva voltaram ao Rio Verdinho, abraçados e com marcas de lágrimas no rosto. Sentando-se na velha poltrona da sala, o jovem ligou a TV, procurando relaxar enquanto assistia a um programa qualquer. Mas ao sintonizar o noticiário urgente de uma emissora, as informações fornecidas pelo repórter o fizeram gelar:

–         Os ataques de criminosos contra policiais, iniciados na noite de ontem, continuam aqui na grande São Paulo e em várias cidades do interior! Dezenas de penitenciárias estão em rebelião, e a situação parece estar longe de ser controlada!

Surgiram imagens de alguns ônibus em chamas e detentos amotinados sobre os telhados dos presídios. Cláudio fechou os punhos, inconformado com aquela situação. Mariana, que ouvira tudo da cozinha, voltou rapidamente para junto do filho.

–         Os inocentes precisam de mim, mãe!

–         Sim, eles realmente precisam, meu filho! – respondeu a mulher em tom firme e forte. – Eu já sabia que cedo ou tarde este momento chegaria!

A viúva caminhou até seu quarto, retornando pouco depois com uma caixa azul em mãos. Estendendo-a ao último filho de Krypton, ela lhe disse:

–         Eu confeccionei esse uniforme para você nos últimos dias. Espero que, usando-o, traga paz e justiça àqueles que sofrem!

Sentindo-se realizado, o rapaz abriu o recipiente. Dentro encontrou uma roupa cujo tom predominante era o verde, com uma longa capa amarela, cueca da mesma cor (usada por cima da calça) e um imponente emblema (idêntico ao símbolo de sua família kriptoniana, em forma de losango) no peito, em cujo centro havia um “S” amarelo sobre um fundo azul.

–         “S” de “Super-Homem”! – concluiu Cláudio, lembrando-se das últimas palavras do pai enquanto contemplava o uniforme, maravilhado. – Mãe, eu não sei o que dizer!

–         Apenas cumpra seu dever, filho! – sorriu Mariana. – Salve a vida das pessoas de bom coração!

–         Eu o farei, mamãe... Eu o farei!

Continua... 


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