Sexta-feira havia sido um dia agitado para meu estilo de vida, mas agora tenho a certeza de que o Youta não irá me abandonar e, infelizmente, o Yamazaki parecia ter a mesma intenção, ele havia me mandado mais de vinte mensagens e me ligado pelo menos o dobro disso, com toda a certeza foi a Ume quem deu meu número a ele, ela cede fácil com pressão.

Hoje, segunda-feira, estou me preparando para qualquer coisa que possa acontecer, porque não acho que um cara que ficou me ligando e mandando mensagens vai me deixar em paz assim tão facilmente quando me ver pessoalmente.

Mal abro a porta da sala e já percebo que um certo par de olhos foram ao meu encontro, mas eu o ignoro e vou até meu lugar, claro que ele já se sentou na minha frente e está me encarando.

– Eu queria conversar sobre o que aconteceu semana passada, eu tentei te ligar, mas você não atendia.

– Eu troquei meu número há pouco tempo, você deve ter o antigo – Menti.

– Me encontre depois na hora do almoço, eu preciso conversar com calma com você, eu nem tive chance de me explicar lá na lanchonete.

– Está tudo bem, não precisa se explicar, vamos esquecer o acontecido e seguir nossas vidas.

– Hã? Acho que não, nós temos que conversar sobre isso.

– Se é tão importante para você e se isso fizer você parar de me incomodar, eu vou.

– Sempre um prazer falar com você, Akane-chan.

Ele disse aquilo sarcasticamente, mas a cara que ele fez era a mesma que a Ume fazia quando falava do garoto do café, isso não é bom. Nem um pouco. O sinal bateu e Yamazaki foi para seu lugar, o primeiro período seria estudos independentes, então peguei meus cadernos e comecei de revisar, o resto da manhã passou voando e logo era hora do almoço. Meu estômago estava se revirando, não de fome, mas de ansiedade.

Yamazaki me lançou um olhar pedindo claramente para segui-lo e foi o que fiz, até chegarmos ao telhado da escola, isso tinha o dedo da Ume também.

– Desculpe por tudo isso, mas não quero que ninguém ouça o que vou dizer.

– Novamente, podemos esquecer tudo e seguir em frente.

– Não irei me confessar de novo, não tenho coragem de ser rejeitado duas vezes, só queria que soubesse como me apaixonei por você.

– Tudo bem, mas só para constar isso não irá me fazer gostar de você.

Ele riu, de um jeito triste. – Eu já sabia disso, mas eu demorei tanto para te contar meus sentimentos, tenho que ir até o fim. Provavelmente não se lembra de mim, eu sempre estudei com você e sempre te considerei a pessoa mais forte e integra que já conheci, eu não sabia que esses sentimentos evoluiriam de tal forma que me fariam te amar. Mas eles fizeram e te olhar não era mais o suficiente, então cada pequena chance que tinha eu falava com você, provavelmente deveria achar estupido um cara ficar falando sobre coisas banais que aconteciam durante as aulas, mas isso me fazia sentir um pouco mais perto de você. Infelizmente cada vez que eu ia falar com você de novo parecia que ficava me bloqueando, não que tratasse os outros de forma diferente, mas isso me frustrava, mesmo assim não desisti, porque sabia que era diferente dessa vez. Pelo visto não era.

Seus olhos estavam lagrimejando, sua boca e seu queixo tremiam, nunca havia o visto dessa forma. Ai está uma coisa para qual não estava preparada.

– Eu não sei o que dizer e é a primeira vez que não tenho uma resposta pronta.

– Acho que isso é bom, consegui te surpreender, começou a gostar de mim?

– Não seja estupido, peço desculpas pelos transtornos que te causei durante todo esse tempo, não quero abusar do seu coração, mas posso te perguntar uma coisa? – Ele meneou a cabeça positivamente – Quando você diz que estudou comigo desde sempre, isso significa desde quando? Não me lembro de você conversando comigo antes.

– O ginásio inteiro, meus pais são donos de uma fabrica de chocolate e tem dinheiro sobrando para minha educação, mas escolhi o ensino publico esse ano, por você.

– Não foi tão tocante quanto você imagina, parece um stalker.

Ele riu, dessa vez parecia menos triste – Se eu fosse um stalker acho que não estaria conversando com você tão pacificamente e, pessoalmente, gosto mais do termo “observador”.

– Ainda é esquisito.

– Hey, esse é o meu charme.

– Se você diz.

O sinal tocou e corremos para a sala, chegamos juntos causando alguns olhares desconfiados por parte de nossos colegas de turma. Quando me sentei lembrei que não havia almoçado, que dia ruim. A aula demorou a passar, estava faminta, quando sai da sala Ume estava me esperando.

– Yo!

– Hey.

– Então, vamos comer em algum lugar? Eu pago.

– Tudo bem.

Fomos ao café cosplay e durante o caminho Ume não tocou no assunto Yamazaki, para minha sorte. Chegamos e nos sentamos perto da janela, pedimos omeletes e chás. Os pedidos logo chegaram, mas ela o encarava com uma cara de arrependimento.

– Akane, eu fiz uma coisa ruim, sem querer eu posso ter ajudado o Yamazaki hoje – Ela olhou para mim com uma cara de cachorro arrependido.

– Não se preocupe, nós resolvemos tudo, eu acho.

– Quer me contar?

Contei tudo o que o Yamazaki havia me dito enquanto comia minha omelete.

– Uau, tenho que admitir que ele é persistente, será que vai desistir de você tão fácil?

– Acho que sim, ele me disse que não tem coragem o suficiente para ser rejeitado duas vezes.

Disse isso, mas na verdade não sei o quero porque até ontem ele era somente um garoto que mal tinha falado comigo e jurava que estava apaixonado e agora ele é um garoto que na verdade é um stalker desde meu antigo colégio que sempre teve sentimentos ao meu respeito. Sinceramente, ele não tem a melhor ficha de sentimentos por mim, me sinto mais em perigo do que apaixonada.