O Deus Sem Nome e o Deus Perdido escrita por Luiza


Capítulo 7
Quando tudo voltou a fazer sentido...


Notas iniciais do capítulo

Hey, gentinha, espero que não tenha demorado muito. SE VOCÊS NÃO COMENTAREM ESSE CAPÍTULO QUE EU ESCREVI ESPECIALMENTE PRA VOCÊS, VOU ENTRAR EM DEPRESSÃO! Por favor, me digam o que acharam!

P.S: Digam o que acharam da playlist lá do melrosing por review e/ou ask. Recomendo escutá-la durante a leitura, acho que vocês vão saber quais músicas.

~Lu



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Joonie dava pulos de alegria na minha frente. Meus irmãos - com os quais eu ainda não havia voltado a falar - haviam saído para treinar, mas eu não podia me concentrar em mais nada, precisava conversar com alguém e, esse alguém, com toda certeza, era Joonie.

Ela parou de pular, provavelmente cansada de fazê-lo nos últimos dez minutos. Eu havia contado tudo para ela, desde meu quase beijo com Tanner, até o discurso "fique longe do meu namorado" de Ruby. Seu sorriso era tão largo que modificava suas feições delicadas e a fazia parecer a maluca do machado.

Eu, por outro lado, estava tão vermelha que minhas orelhas ardiam. Era difícil tirar as palavras de Ruby da minha cabeça. Tão difícil que eu não havia trocado uma palavra sequer com Tanner desde que ela me pedira para ficar longe, dois dias atrás. E se ela estivesse certa? E se eu só o fizesse sofrer mais se me reaproximasse?

— Isso quer dizer que você o ama, certo?— perguntou Joonie sem desfazer o sorriso.

Joguei meu corpo para trás, estendendo-me na cama, e coloquei as mãos por sobre o rosto.

— Tanto que dói.— respondi e ela soltou um gritinho de alegria. A filha de Éolo se aproximou da cama e fez um gesto com a mão para que eu lhe desse espaço para deitar-se ao meu lado.

— E o que você vai fazer?

— Não faço ideia.— murmurei com a voz abafada pelas minhas próprias mãos— Eu não quero machucá-lo mais do que já machuquei. Ela está certa, Joonie, não posso fazer isso. Não com ele.

— Ah, por favor!— exclamou— Ela encheu a sua cabeça de ideias, e agora você não consegue ver!

— Ver o que?

— Que as únicas pessoas que podem se ferir aqui são você e ela.

Voltei a sentar na cama, de frente para ela, com uma das sobrancelhas erguidas.

— O que quer dizer?

— Pense comigo: Se você contar para o Tanner o que sente, e ele ainda for apaixonado por você, ela está fora. Se você contar e ele estiver apaixonado por ela, você está fora. Mas, convenhamos, quais são as chances de ele ter desistido de você? Ele tentou te beijar!

Suspirei. Fazia, sim, um certo sentido, mas eu não tinha certeza de nada. A simples ideia de perdê-lo era dolorosa demais para mim.

— Não sei se consigo. Não sei se posso contar para ele.— falei enquanto um lágrima escorria por meu rosto. Deuses, odeio esses hormônios de adolescente!

— Você consegue!— afirmou ela segurando meus ombros— Consegue e vai! Você vai contar para ele, Rose, nem que eu tenha que te forçar!

____________

Estávamos no refeitório, jantando. Daniel, David e eu éramos os únicos comendo separados de seus chalés. Aquela seria uma noite especial: era o Solstício de Verão. Isso mesmo. Dia vinte e um de julho, e nada - eu repito NADA - havia acontecido. Naquele dia em especial, o sol se punha mais tarde, o que significava que ele ainda estava lá, preparando-se para mergulhar atrás do oceano.

Quíron fez um brinde, em homenagem ao meu primeiro solstício no Acampamento. Eu desejei que meus outros irmãos não fossem idiotas para que pudéssemos comemorar juntos. Mas eles eram, não havia nada que eu podia fazer sobre isso.

Depois das oferendas e de comer pelo menos um quarto da comida em meu prato, levantei-me e andei lentamente até a mesa localizada logo atrás da de Apolo, a de Ares. Notei os olhares matadores dos irmãos de Tanner sobre mim, e o quase venenoso de Ruby a uns três metros dali.

— Eu preciso falar com você.— sussurrei para Tan, apenas perto o suficiente para que ele me ouvisse sem ser lançado para longe pelas ondas de força que meu coração estava fazendo questão de liberar.

— Tudo bem.— respondeu ele— Encontro você depois da janta.

— Não.— contrapus quase bruscamente— Não, precisa... Precisa ser agora.

Ele franziu o cenho, parecendo preocupado.

— Rose, está tudo bem?

— Sim. Sim, tudo ótimo, por que não estaria?

— Eu não sei, você está agindo estranho. Não fala comigo há dois dias.

— É, eu sinto muito por isso. Tive alguns... assuntos, só isso.— eu estava agindo feito uma louca, sabia disso, mas não conseguia pensar direito com meu coração e meu cérebro pulsando daquele jeito— Por favor, venha comigo.

Pelo olhar em meu rosto, ele provavelmente achou que eu estava tendo um ataque cardíaco, ou algo assim, pois levantou e me seguiu. Enquanto andávamos através do refeitório, alcancei o olhar de Joonie, que me deu uma piscadela. Grande ajuda, amiga.

Guiei Tanner até o melhor lugar que eu pude pensar. Com certeza não para os campos de morango, aquele lugar era um mau agouro. Não, o levei até a ponte sobre o lago de canoagem. Ainda não havia estado lá naquele ano, e acho que ele também não, pois quando chegamos, Tan sorriu. Não o sorriso comum que ele vinha dando ultimamente, seu sorriso de verdade.

— Você sabe que lugar é esse?— perguntei.

— É a ponte do lago de canoagem.— respondeu e eu o repreendi com o olhar.

— Estou falando sério.

— Sei.— reformulou sua resposta com um longo suspiro— É o lugar onde nos conhecemos.

Dei a mim mesma a breve oportunidade de relaxar. Ele sabia, isso já era um bom começo. Agora o sol começava a se por, e estava tão brilhante e alaranjado que era quase impossível olhar, mas estava tão lindo que era quase impossível não olhar.

— Tanner?— chamei. O som de seu nome era tão bonito, eu nunca havia percebido.

— Hum?— murmurou ele em resposta, claramente não entendendo direito o que estava acontecendo. Afinal, eu o havia arrancado de sua mesa de jantar, o arrastado para o lugar onde nos conhecemos e, como se não pudesse ficar pior, começado a fazer perguntas esquisitas.

— O que você sentiu quando sentou ao meu lado?— indaguei quase silenciosamente— Quando me viu pela primeira vez?

Ele suspirou pesadamente. Quase como se sentisse dor.

— Rose, eu não acho que...

— Apenas me responda.— interrompi— Por favor.

Após uma longa pausa, ele desgrudou os olhos da água ao nosso redor e disse:

— Foi como... acordar. Foi como acordar naquele primeiro dia de primavera, quando a neve começa a derreter e ainda está frio e úmido, mas você não se importa. Tudo o que quer é ver as flores mais uma vez, antes que elas desapareçam de novo.

Por um momento, meu corpo se aqueceu com suas palavras. E eu sorri. Não o sorriso comum que eu vinha dando nesses últimos dias. Meu sorriso de verdade.

— Para mim,— era a minha vez de responder minha própria pergunta— foi como se eu estivesse me afogando nesse mar de informações, e alguém me puxasse para fora d'água. Foi a primeira coisa que fez sentido depois de toda aquela mudança.

Ele riu, carregando uma pitada do sarcasmo que, eu tinha certeza, ela aprendera a usar comigo.

— Tudo bem, agora você está me dizendo isso para me fazer sentir bem. Todo mundo sabe que você me odiava.

— Não.— neguei. Eu nunca havia contado aquilo para ninguém. Nunca— Eu fingia que odiava você, porque parecia a coisa certa a fazer. Meus pais estavam em Nova York, meu único amigo estava trabalhando. Meus irmãos eram o mais próximo de "família" que eu havia encontrado até aquele ponto, e eles e os seus irmãos se odiavam. Eu não estava pronta para decepcioná-los fazendo amizade com um filho de Ares. Mas então a missão veio, e nós estávamos naquele trem, conversando, e você parecia me intender tão bem. Eu não pude mais fingir.

Mais um sorriso genuíno escapou de seus lábios.

— Eu não sei aonde pretende chegar com essa conversa, mas estou gostando.

Suspirei. A próxima parte era a mais difícil.

— E eu sabia, Tanner.— murmurei, minha garganta já começando a apertar.

— Sabia o que?

— Desde a primeira vez em que eu acordei com seu casaco em meus ombros, eu sabia... Sabia que você me amava.

Lentamente, ele fechou os olhos e travou a mandíbula, como eu sabia que ele fazia quando estava se forçando a não chorar. Continuei:

— Mas eu tinha doze anos! Tinha doze anos, e estava numa missão, porque tinha acabado de descobrir que era uma semideusa. Era demais para mim. E você era meu amigo, eu não sabia como lidar com isso. Então eu ignorei. Disse a mim mesma que eu estava imaginando coisas... Não sei em qual ponto comecei a acreditar nisso, mas acreditei. Eu juro, acreditei que não era verdade.

O olhar em seu rosto era de dor. Ele esfregou os olhos com o dedo médio e o polegar da mão direita. Não acreditava em seus ouvidos. Joonie havia errado: ele podia, sim, sair machucado.

— Você planejava me contar, ou ia me fazer esperar para sempre?— perguntou ele. Nunca havia falado comigo daquele jeito.

— Eu sinto muito.

— Não acredito que, depois de tudo que passamos... Você... Você sabia. Ano passado, tivemos uma briga por causa disso, Rose! Não seria mais fácil simplesmente dizer que não estava interessada?

— Me desculpe! Eu... eu me fiz acreditar que não sabia, eu... Eu achava que não sabia.— aquilo estava me quebrando. Me partindo ao meio, e eu podia ver que o estava partindo também— Mas, no verão passado... Você disse que me amava.

— Eu disse.— falou ele. Parecia estar dizendo "Não acredito que eu falei isso para você". Sabia que ele queria ir embora agora, mas ele me ouviria nem que eu tivesse que grudar seu pés no chão.

— E foi só então que eu percebi que, durante todo esse tempo, eu estava fugindo, porque tenho medo de ter um final feliz. Ou pior: tenho medo de te perder, e é por isso que eu não percebia...

— Não percebia o que?— gritou ele, e eu agradeci aos deuses por ser a hora do jantar e não ter ninguém ali.

— Que eu amo você, Tanner!— seu rosto se transformou tão subitamente que eu mal tive tempo de perceber que sua expressão de tristeza e raiva haviam se esvaído e dado lugar à surpresa— Eu amo você, e mesmo sabendo disso há algum tempo, só consegui admitir para mim mesma dois dias atrás.

— Dois dias?— perguntou— Foi por isso que parou de falar comigo.

Eu assenti. Naquele ponto, já não adiantava mais tentar segurar as lágrimas, elas rolavam livremente por meu rosto, mas Tan continuava firme e forte, como sempre.

— Eu pensei — falei— que teria tempo de me acostumar com a ideia durante o ano e, que quando chegasse aqui, tudo seria como antes, e eu... E você... Nós poderíamos dar um jeito em tudo. Mas eu devia saber que você não esperaria por mim para sempre. Eu só não esperava chegar e encontrar você completamente confiante, e com uma namorada. Quer dizer, eu entendo. Todos devem olhar para vocês e pensar que são o casal dos sonhos. O líder do Acampamento e a menina mais bonita do mundo.

Ele deixou escapar mais uma risada sarcástica.

— Não.— murmurou ele— Você não pode fazer isso comigo! Não pode chegar aqui depois de três anos dizendo que é apaixonada por mim desde o início! Você não tem o direito de fazer isso, porque se você tivesse, eu teria que achar um psiquiatra muito bom! Eu fiz de tudo para de esquecer, eu tentei, e tentei, e nada. Eu continuava aqui, e você aí. Então, quando eu finalmente consigo uma chance de te superar... Você volta toda... Linda, ainda mais do que antes, e eu não achei que seria possível. E mais determinada, mais forte, mais compreensiva... Você não tem o direito de fazer isso comigo!

— Eu estou fazendo isso — falei. Já havia ido tão longe, não havia mais nada a perder.

— Eu sei — comentou— E isso está me deixando louco porque você é a menina mais linda do mundo. Por que você é minha melhor amiga, e, por mais que eu tente, eu não consigo esquecer você. E, se fosse qualquer outra pessoa, eu já teria desistido há muito tempo, mas é você. Sempre foi você.

Ele estava de frente para mim, o sol quente de verão batendo em nossos corpos. Seus olhos brilhavam tanto que eu não consegui desprender a atenção deles, a não ser que fosse para olhar para seus lábios. Até aquele ponto, eu não havia percebido o quão perto estávamos um do outro, eu podia sentir seu hálito de frutas em meu rosto.

— E o que isso significa?— perguntei. Eu estava confusa depois de tudo aquilo.

— Significa que eu queria muito estar com raiva de você.— respondeu ele enquanto colocava uma mecha de meu cabelo para trás de minha orelha— E que você é uma péssima melhor amiga.— passou de leve os dedos em meus braços— E que eu te amo.— colou sua testa na minha— E que eu sei o que quero como minha consequência. — Eu sabia ao que ele estava se referindo. No último verão, eu lhe havia ficado devendo uma consequência depois de sermos retirados a força de uma partida daquele jogo estúpido pois tínhamos de partir em uma missão.

Ele se aproximou até que eu pudesse sentir seu coração, e ele pudesse sentir o meu, mas não fez nada. Apenas ficou ali, parado enquanto me observava, provavelmente aproveitando o momento, até que eu exclamei:

— Ah, pelo amor dos deuses, Adams! Não me faça esperar mais três anos. Me beije de uma vez.

Sem que nenhum de nós precisasse dizer outra palavra, nossos lábios se uniram. Não me pergunte quem beijou primeiro, foi um acordo mútuo, eu acho. Num primeiro instante, tudo que senti foi um choque percorrendo todo meu corpo. Não estou falando metaforicamente, quero dizer um choque de verdade, e acho que Tanner sentiu também, mas nem isso faria com que nos afastássemos.

Quando suas mãos passaram de minhas costas para minha cintura, algo gelado desceu por minha espinha. Nós queríamos um ao outro, provavelmente ainda mais do que imaginávamos, provavelmente mais do que qualquer pessoa já quis algo em toda a historia da humanidade. Era delicado e brutal, quente e frio, claro e escuro, tudo ao mesmo tempo, e eu me sentia tão bem! Enquanto nos beijávamos, era como se todos os melhores momentos que já passamos voltassem, como se todas as melhores sensações do mundo estivessem misturadas em um único momento, e eu não pensava em nada mais. Não precisava, pois eu tinha a ele, e ele tinha a mim, e apenas isso já bastava. Quando sentia seu cheiro - aquela mistura incrivelmente agradável de amaciante, páginas de livros e canela -, quase podia imaginar um mundo onde tudo aquilo havia acabado. Onde Dárion havia sido derrotado, e nós vivíamos em paz, e podíamos fazer qualquer coisa.

Lá estava eu, Rose Leonards, no melhor dia da sua vida. Em um Solstício de Verão, totalmente despreocupada, e nada de Deus Sem Nome. Nada de monstros. Nada de deuses. Apenas eu e o garoto que eu secretamente amei por tanto tempo, no meio do que pode-se registrar como o melhor primeiro beijo de todos os tempos.

Quando Tanner se afastou, foi quase como se alguém estivesse me esfaqueando. Eu não importava de estar sem ar, desde que ele estivesse me beijando, eu sabia que tudo ficaria bem. Ele sorria radiante, assim como eu, e me puxou para um abraço. Era tão mais alto que minha testa batia em seus lábios, logo, ele plantou um beijo ali.

— Tudo o que eu mais quero é ficar aqui com você agora. Mas, para podermos continuar, tem algo que preciso fazer.

Não queria que ele fosse, não queria que ele deixasse meu lado nunca mais, mas sabia o que ele queria dizer: para que pudéssemos fazer isso, ele tinha que terminar com a Ruby. E eu tenho a sensação de que ela não ia gostar...

—Tudo bem.— falei— Mas vá logo.

Tanner me beijou mais uma vez e então desapareceu no que agora já era uma linda noite estrelada.

______________

Ele voltou uma meia hora depois, e nós desaparecemos. Não fomos à fogueira, ou capturamos a bandeira, apenas sentamos, e conversamos e, sim, nos beijamos. Eu não tinha dúvidas de que era o melhor dia da minha vida.

Quando ele me levou até a porta do chalé - não sei se foi cavalheirismo, ou simplesmente porque o seu chalé é diretamente ao lado do meu - ele riu e, quando perguntei o motivo, ele respondeu:

— Afrodite prometeu ao seu pai que ia tornar sua vida amorosa interessante.

Eu o acompanhei, também rindo baixo para não acordar os outros.

— Sim, ela prometeu.

Naquela noite, eu sabia que nem o pesadelo mais sombrio com o deus mais poderoso poderia invadir minha mente.


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Notas finais do capítulo

Só um comentário pra vocês: RONEEEEEEEEEEEER!!!!!!!! Sabem o quanto foi difícil ficar negando a perfeição do meu casalzinho querido durante UM ANO INTEIRO?? Ain, espero que tenham gostado... COMENTEM POR FAVOOR!

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