Não faço ideia do que fazer. Fui descoberta.

Sinto braços fortes me envolvendo. Jace agarra Peter enquanto Isabelle vigia o Cabeça Roxa. Alec esta me segurando. Ele tem um aperto firme, e sob minhas costas sinto o seu definido peitoral. Tento não me mexer para não piorar minha situação. Quanto mais colaborar, melhor pra mim.

Então, com uma força absurda ele me joga ao lado de Cabeça Roxa. Peter é jogado em cima de mim, esmagando minha mão direita. Grito de dor. Juro ter ouvido um CRACK. Acho que quebrei o dedinho. Não tenho chances de verificar.

– O quê você esta fazendo aqui? – Alec se dirige a mim. Estou em um pequeno estado de choque sentada com as pernas jogadas para frente e não consigo responder. A dor em minha mão também não esta ajudando.

– A pergunta não é essa. É obvio que estava espiando... Mas o rapazinho ali estragou seu planozinho. – ela ri da minha desgraça. Ótimo. – O que vamos fazer com esses bisbilhoteiros? Não podemos deixar eles livres, já que nos viram mesmo com as runas... – Isabelle estava com um chicote “elétrico” na mão. Ela não parece nem um pouco feliz com a interferência minha e de Pit.

– Sim Izzy. Já esta mais do que na cara que eles não são mundanos comuns. – Jace esta me encarando como se ele fosse um leão se preparando para atacar e eu uma presa fácil. Não gosto disso.

– Não vamos fazer nada. Não podemos matar mundanos sem motivo. – Alec parte em nossa defesa (minha e de Pit). Eu quero pedir pra ele parar, mas não consigo. Não preciso de sua ajuda, sei me defender sozinha. Rum.

– Alec, deixe de ser idiota! Eles não são mundanos, e nós temos motivo sim!

– Quem são vocês? O que são mundanos? Aquele cara ta sangrando? Esse chicote é elétrico? O que você tava fazendo aqui fora? – Peter idiota. Se continuar falando vai nos matar. Quando ele fica nervoso, faz perguntas rápida e seguidamente. Sua ultima pergunta foi pra mim. Ele está claramente nervoso.

Olho para ele tentando mandar um sinal silencioso para ele calar aquela maldita boca e ficar calmo. Mas ele nem repara. Ajoelho-me e acabo chamando atenção de Jace.

– Era você àquela hora. E eu pensando que era um rato... Até que não vejo muita diferença entre os dois. Xereta você não? – ele se vira rudemente para Alec. O jeito com que Jace se mexe... Passa uma impressão de crueldade e frieza. Toda pessoa fria é resultado de alguma decepção. – Você a conhece de onde Alec?

– Encontrei com ela lá dentro – ele diz meio desconfortável apontando para a boate. – Paguei uma bebida pra ela e só, cara! Nunca a vi antes.

– Não sabia que você era do tipo que saía pagando bebidas para ratos-meninas. Não é muito seu tipo. – Jace diz com um tom indiferente. Eu sinto como se estivesse assistindo um filme. Apenas parada, sem fazer nada. Sinto-me uma completa inútil com o dedinho doendo tanto, que me trava.

– Ela parecia perdida no meio de todo mundo. Resolvi ser solidário – o tom dele muda para frio. Meu encanto por ele diminui um pouco. Então eu não fui nada? Apenas uma “garotinha” perdida no meio de uma boate? E... Eu não estava perdida!!!

– Olhem só vocês dois. Eu não vou aguentar ficar aqui desse jeito. Preciso beber, me soltar. Não me esperem. Andem logo com isso ai, limpem a sujeira e cuidado para não ter mais nenhum xereta importunado vocês. Vejo vocês no Instituto. – Isabelle caminha até a porta, da uma ultima olhadinha pra nós e entra no Pandemônio e fecha a porta.

Fico olhando para a porta. O silencio predomina e aguardo o ataque. Meu dedo esta doendo muito. Nunca quebrei nada. É uma experiência nova, da qual eu preferia não conhecer. O dedinho está duro e se mexo um pouquinho, uma dor insuportável me atinge. Dá vontade de arrancá-lo apenas para não sentir essa dor estúpida!

Ao invés do ataque escuto um baque e lentamente, me viro.

Peter está deitado no chão, desacordado, com Jace em pé ao seu lado sorrindo satisfeito. Um pouco mais a frente, Alec pega uma de suas facas em sua roupa e enfia no peito de Cabeça Roxa, sem dar tempo de qualquer reação. Alec faz isso com uma tranquilidade que me assusta. O roxinho cai no chão e rapidamente uma poça começa a se formar em sua volta. Sangue. Eles mataram Peter e o Cabeça Roxa. Isso foi o empurrão que eu precisava para acordar de meu estado zumbi.

Levanto correndo e vou até Pit.

– PETER! PETER! OH MEU DEUS! PEETEEER! – Eu fico chacoalhando ele na esperança de que acorde. Ele não pode morrer assim! Nem me lembro de quais foram minhas ultimas palavras! Dou tapas em seu rosto. Ele PRECISA acordar.

Jace ri. Olho para ele e depois para Alec. Ele não esta rindo. Pelo contrário, está serio e encarando Jace.

Jace esta perto de mim... Sem pensar muito eu me levando e sento a mão na cara dele. Devo admitir um belo tapa! Só pelo estralo que deu... Deve ter doido! Espero que tenha doido muito.

Ele me olha incrédulo. Depois ri. O me que dá raiva. Qual será o problema desse garoto? QUAL É A GRAÇA?!

– Ora, ora. A valentona acha que matei o namoradinho dela e se atreveu a bater em meu lindo rosto. Qual é a sensação de me bater? Saiba que essa foi a primeira e última fez que você se atreveu a encostar em mim com má intenção. – Ele se afasta ainda rindo e cochicha alguma coisa para Alec e os dois começam uma conversa silenciosa. Percebo que o corpo de Cabeça Roxa sumiu. Talvez Alec já tenha se livrado do corpo. Ótimo.

– Eu não matei seu namoradinho, tá? Só desacordei. Aliás, foi uma bela coronhada. – Jace sorri ao falar comigo novamente. Um sorriso cruel, como que, se pudesse, faria tuuudo de novo. – Agora, Alec não me deixa matá-los... Uma pena.

– Ele não é meu namorado. É meu melhor amigo. E se você não quer levar outra bofetada, é melhor parar de se achar tanto. – depois de tanto tempo sem falar, minha voz fica mais fraca e rouca, dando um ar ameaçador. Sinistro. Mas eles não parecem com medo. Eles não sabem do que sou capaz! Vão apanhar os dois! Rum.

– Pouco me importo o que ele é seu! Namorado, amigo, colega, amante, escravo... Não importa! – ele chega mais perto, bem perto e pega minha mão direita.Onde ele toca esquenta e formiga. É agradável – Acho que você quebrou seu dedo. Tá doendo? – ele já não tem o mesmo tom debochado. Parece realmente preocupado. Idiota. Olho para nossas mãos.

Seus dedos são longos e esguios e em contraste com minha mão, ficam ainda mais longos, mas mesmo assim são delicados de alguma forma; seus dedos são cheios de cicatrizes. Em sua mão, uma tatuagem... Não sei... Parece uma tatuagem de um olho e seguindo mais para cima, seus braços são cheios dessas tatuagens. Seus braços são fortes. Mais um com sucesso na academia. Ele não usa colete como Alec; usa uma simples camiseta preta, que olhando de perto, é possível ver o formato de seu abdômen e seu peito. Suspiro.

Então, com choque percebo que ele ainda esta esperando a resposta. Ele esta com ar divertido e deve ter reparado minha analise de seu corpo. Enrubesço enquanto tento lembrar-me de sua ultima pergunta. Sorrio internamente. Lembro o que ele me perguntou, e vou jogar o mesmo jogo que ele: o da frieza.

– Não. Esta fazendo cócegas. É reconfortante. – digo como se REALMENTE estivesse fazendo cócegas, dou de ombros pra ficar ainda mais descontraído. Ele me encara e me arrependo de ter respondido isso. Pela primeira vez olho em seus olhos. São dourados, chamativos, penetrantes, desvio o olhar.

– Então você não precisa de ajuda. Até mais. – ele larga minha mão e me contorna, vai em direção a Alec. Ele tem razão, não preciso de ajuda.

– Jace... – o tom de Alec diz tudo para Jace, porque ele para onde estava, mas, para mim não faz sentido. É meio... suplicante, meio aviso.

Como um borrão, Jace ataca. Não sinto nada, não vejo ou ouço alguma coisa.

Apenas escuridão.