Três meses depois...

_ Giane, anda logo que eu já to atrasado. Preciso chegar à agência as 8h30. – pediu Fabinho, terminando de colocar os papéis na pasta.

_Pode ir fraldinha, eu pego um táxi até a Toca. – garantiu a corintiana, saindo do quarto, enrolada na toalha – Mas você pode fazer um favor para mim, e passar no mercado mais tarde? Preciso de algumas, hã, coisas de mulher.

_ Desceu? – ela confirmou, fazendo ele suspirar – Você é a pessoa mais desregulada que eu conheço.

_ Ah, vai te catar. – ela resmungou, voltando para o quarto. O rapaz riu, pegando suas coisas e saindo de casa.

Giane ainda demorou um tempo em casa, colocando todas as roupas na máquina de lavar, arrumando a cozinha e fazendo a lista das compras do supermercado, que teria que fazer no final de semana.

Quando estava afinal pronta para sair, a campainha tocou. Bufou, largando tudo que carregava e indo até a porta. Ao abrir, quase caiu para trás.

_ Amora?

~*~

Na Casa Verde, Bento dava os últimos retoques na casa e na estufa. O imóvel não era grande, mas teria um quarto para ele e Amora, um para Mayara e André, e um para Kim. No futuro, se necessário, rearranjariam isso.

Foi até a estufa que havia mandado construir ao lado, observando as mesas e ferramentas. Já havia diversos vasos ali, com sementes plantadas e preparadas. Se tudo desse certo, logo começariam a germinar.

Em um primeiro momento, havia resolvido plantar as flores só na estufa, até mesmo para aprimorar seu talento na jardinagem. Se surpreendeu ao constatar o quanto o assunto lhe era interessante, o quanto gostava de ler sobre os diferentes tipos. Podia dizer que já havia deixado de ser um hobbie para se tornar algo sério.

Ainda não havia contado para Amora e as crianças sobre o projeto da Acácia Amarela, sobre a mudança de endereço, ou ainda sobre a falência do Kim Park.

Seus planos quase haviam ido para o buraco com o último acontecimento. No tempo em que Amora ficou em coma e Kim no hospital, Bento estava desligado de tudo. Já havia recebido o dinheiro da sua parte dos parques e comprado a casa, então se dedicou exclusivamente aos sobrinhos, a mulher e ao filho.

Demorou um tempo até que Vinny e Wilson contassem a Bento que, infelizmente, mais duas das franquias haviam sido fechadas, e as outras estavam péssimas. Ninguém sabia dizer o que estava acontecendo, ou como os livros de contabilidade estavam tão fraudados. Mel não sabia explicar nada ao pai, e Tito não ajudava muito.

Por fim, após muito sufoco, Wilson se decidiu por fechar os parques, mantendo apenas o original. Conseguiu vender alguns deles, e alguns dos brinquedos, o que gerou um capital para manter o Kim Park original.

Porém, após duas semanas, o dinheiro simplesmente começou a sumir, sendo usado em gastos que ninguém sabia de onde surgiam ou se eram necessários. Wilson e Vinny tentavam a custo descobrir o que se passava, mas a situação era incontrolável.

Bento se propôs a devolver o dinheiro que ganhara com a venda, mas Wilson não autorizou. Ele decretou a falência do Kim Park e o colocou a venda, após ter conseguido salvar o máximo de dinheiro possível para que pudessem levar a vida até decidir o que fazer.

_ E então Bento, pronto para contar para a Amora? - perguntou Gilson, e o rapaz assentiu.

_ A casa tá toda pronta, e nós podemos começar a mudança. – ele sorriu para o tio – Obrigado pela ajuda.

_ De nada, de nada. – eles se abraçaram – Eu fico muito feliz que você esteja tocando sua vida Bento, muito feliz mesmo. E mais feliz ainda que você e o Amora estão conseguindo se acertar, e cuidar das crianças.

_ Alguma coisa aconteceu enquanto ela esteve em coma, eu só não sei o que. – suspirou Bento – Ela parece outra pessoa tio, com as crianças, comigo... Ela tá cuidando da casa, das crianças. Tirando quando eles precisam de algo, ela não compra mais nada. Tio, eu to surpreso.

_ Você sabe que experiências, como a que ela passou, mexem muito com a pessoa. – o mais velho deu de ombros – Às vezes ela já estava até mudando, mas você não percebeu. Você mesmo me disse que ela estava agindo diferente desde que as crianças haviam chegado.

_ Por mais que eu acredite nisso, às vezes eu ainda fico com o pé atrás. – admitiu Bento.

_ Rapaz, se nós podemos mudar para pior, temos que ter fé que podemos mudar para melhor também. – o tio lhe deu um tapinha no ombro – Bom, eu to indo no Kim Park, encontrar seu pai. Quer vir junto?

_ Acho que vai ser bom. Ele vai ter a reunião com o comprador, não é? – Gilson assentiu – Então vamos...

~*~

No apartamento de Giane e Fabinho, o silêncio imperava a sala. Amora estava em um sofá, com o carrinho de Kim ao seu lado, enquanto a corintiana estava apoiada no móvel da TV, encarando a irmã adotiva com curiosidade.

_ Bom, vai falar o que veio falar? – questionou Giane.

_ Eu vim agradecer. – suspirou Amora, e a outra arqueou a sobrancelha – E perguntar o que você me disse.

_ Como assim?

_ O Bento me disse que você foi me ver no hospital, quando voltou da lua de mel. E que logo que você saiu do quarto, eu acordei. – a corintiana assentiu – O que você me disse? Porque algo você deve ter me dito.

_ Eu disse que você tinha que lutar pela sua família. Porque eles precisavam de você, e que você não podia se mandar agora, só porque as coisas estavam difíceis. – Giane nunca diria com exatidão o que havia dito a irmã naquele dia, nem para Amora e nem para ninguém.

_ E porque você disse isso? Achei que você pensasse que eles ficariam melhores sem mim.

_ Honestamente, eu penso. Mas não importa o que eu penso, e sim a realidade. O Bento te ama, por algum motivo, e eu sei que você o ama também. E eu sei que vocês são as duas únicas pessoas que podem despertar o melhor que há no outro. E o Kim, a Mayara e o André precisam disso, do melhor que há em vocês. – despejou Giane, analisando as reações de Amora – Olha, já cansei de dar lição de moral em todo mundo, de ficar bancando a sábia... O lance é: tu precisa ser alguém decente pela sua família, e eu sei que isso nossos pais te ensinaram. Honra pelo menos a memória da mamãe, e seja uma boa mãe para o seu filho.

Amora assentiu, voltando a cair o silêncio entre as duas irmãs adotivas. De repente, Kim soltou um barulhinho, atraindo a atenção das duas.

_ Como ele tá? – perguntou Giane, e Amora sorriu largo.

_ Está bem. Tá crescendo forte e saudável, e virando um meninão mais lindo do que já é. – a mãe colocou a mão no carrinho, acariciando o filho – Quer segurar ele?

_ Não precisa disso Amora, na boa. – garantiu a morena.

_ Giane, é o filho do Bento, pensa assim. Você esteve no hospital para ver ele, não esteve? – a corintiana suspirou, se aproximando do carrinho, enquanto a irmã se afastava. Já vira fotos do sobrinho pelo pai, que apesar de não muito próximo de Amora, tinha uma boa relação com Bento e com o netinho.

A moça apanhou o bebê no colo, trazendo-o para junto de si. O garotinho piscou os olhos para a tia, curioso sobre quem era a nova pessoa. Ela sorriu de lado, dando um beijo no pequeno.

_ Ele parece bastante com o Bento. – comentou Amora, e Giane assentiu – Você pode ver ele sempre que quiser, o papai vê ele sempre.

_ Nós não temos mais jeito Amora, se é isso que você quer tentar.

_ Eu sei que não Giane. Mas o Kim não tem nada a ver com isso, e querendo ou não, você e o papai são a única família que eu ainda tenho. E eu quero que ele possa ter isso. Você não precisa ser minha amiga ou ficar perto de mim, mas pode ficar perto dele. – a corintiana assentiu, mas não disse nada – Você é quem sabe, e quando estiver preparada, é só falar.

Giane assentiu novamente, dando outro beijo no bebê e voltando-o para o carrinho. Amora apanhou o filho e saiu do apartamento em silêncio, deixando Giane perdida com seus próprios pensamentos.

~*~

Fabinho estacionou em frente à casa dos pais, vendo o carro de Malu ali também. Suspirou, imaginando que teria acontecido para chamarem os dois as pressas.

_ Oi Fabinho, entra. – Luz abriu a porta para o irmão, que passou por ela a puxando para um abraçando – Delicado.

_ Como uma flor. – os dois riram, indo para a sala e encontrando o resto da filha – Muito bem, qual o drama da vez?

_ Achei que a Giane tinha te deixado menos debochado. – comentou Kevin, aos risos.

_ A maloqueira é mais debochada que eu, só tendo a piorar. – o publicitário se largou no sofá – Mas vamos ao assunto.

_ Bom, Sr. Educação, eu e sua mãe chamamos vocês para contar que nós descobrimos o sexo do bebê. – avisou Plínio, e todos sorriram.

_ Finalmente né? Já estava ficando agoniada que, com quase seis meses, não soubéssemos. – desabafou Malu, fazendo o pai e a madrasta rirem – E então? Vai ser Lílian ou Guilherme?

_ Bom... Vai ser Lílian. – sorriu Irene, e os irmãos se animaram.

_ Ah, qual é? Mais uma menina pra eu ter que cuidar? Já basta o trabalho que a Malu e a Luz dão, e futuramente a Dorothy. – brincou Fabinho, fazendo todos rirem – Agora vai ter a Lílian também?

_ Até lá você já vai ter suas próprias filhas, pode ficar tranquilo maninho. – riu Malu, beijando o rosto do irmão – Mas gente, isso é uma notícia ótima, de verdade.

_ Realmente, merece comemoração. – garantiu Fabinho – Mas vai ter que ser depois. Eu tenho uma reunião infeliz agora, e não dá pra atrasar.

_ Algo errado? – perguntou Plínio, e o filho deu de ombros.

_ Aparentemente o Wilson vai vender o Kim Park, porque está falido. – todos se surpreenderam – E ele pediu para eu estar presente, porque o novo dono quer acertar comigo para a agência continuar fazendo a publicidade.

_ O Wilson faliu? Com todos os parques? – perguntou Luz, surpresa – Mas estava tudo tão bem.

_ Alguma coisa aconteceu e desandou tudo. – Fabinho deu de ombros, se levantando – Só sei que eu vou para aquela reunião, ver no que vai dar. Depois me avisem como vamos comemorar, ok?

Todos concordaram, enquanto Fabinho saia de casa. Ele tentou ligar para Giane, avisando que não iria almoçar com ela graças a reunião marcadas as pressas, mas ela não atendeu e ele deduziu que ela estivesse trabalhando.

Assim que estacionou em frente ao Kim Park, se assustou com a confusão, e a primeira coisa que viu, foi Bento dando um soco em Tito e fazendo o irmão ir parar no chão.