_ Moleque? – viu que Wilson Rabello o encarava, os olhos cheios de água – Nós precisamos conversar.

_ Eu não tenho nada para conversar com você. – o garoto lhe deu as costas, mas Wilson segurou-o pelos ombros.

_ Por favor, Bento. Vamos conversar. – o homem implorou, e Bento assentiu – Venha. Gilson está nos esperando.

~*~

_ Não, isso não pode ser verdade. – gritou o garoto, recuando em direção à parede. Wilson e Gilson estavam lado a lado, enquanto Salma tentava se aproximar do garoto – Você não pode ser meu pai.

_ Filho, escute, por favor. – pediu a mulher, o abraçando pelos ombros.

_ Bento, a mulher que te entregou para o Silvério, ela é sua avó, mãe da sua mãe. – contou Gilson – A sua mãe, ela... Ela morreu, logo depois de você nascer.

_ Eu matei a minha mãe? – perguntou o garoto choroso, e Wilson negou, se aproximando.

_ Ela estava doente garoto, e por algumas mentiras que sua avó contou, ela ficou pior. Então, quando você nasceu, ela simplesmente cansou de lutar. Porque ela já tinha conseguido te manter seguro até você nascer, e era isso que importava. – explicou carinhosamente, segurando o ombro do filho – E eu... Eu não sabia onde vocês estavam, que você estava vivo... Ela mentiu para mim, me disse que você tinha morrido.

_ E como você descobriu que eu sou seu filho? – choramingou o garoto.

_ O Silvério reconheceu sua avó, em uma foto de uma revista que a Samara comprou. Nós ligamos os pontos e percebemos que você poderia ser o Kim, filho do Wilson e da Lívia. Nós confrontamos a Glória, e ela confirmou. – explicou Salma, acariciando os cabelos do filho de criação.

_ Porque você me tratou tão mal aquele dia no parque? – perguntou Bento – O tio Gilson disse que você criou aquele parque para o seu filho, e eu sou seu filho. Porque você trata as crianças mal?

_ Filho, quando você conhecer seu pai direito, vai saber que ele não é mal. – garantiu Gilson – Ele apenas sofreu muito. Assim como você.

_ Eu tenho que ir morar com ele? – perguntou o garoto, chateado.

_ Só se você quiser. – garantiu Wilson, mas parecia ansioso – Que tal fazermos assim: você passa o final de semana comigo e os seus irmãos, para os conhecer.

_ Irmãos? – perguntou o garoto.

_ O Tito é um ano mais novo que você, e a Mel, três. O Vinny acabou de completar três anos, e ele se parece muito com você. – o homem contou, apanhando uma foto da carteira, a única que ele possuía dos filhos – Eles estão ansiosos para te conhecer e brincar com você no parque, Kim.

_ Tudo bem. – concordou Bento, um pouco relutante – Mas meu nome é Bento, não Kim.

_ Tudo bem, Bento. – concordou Wilson, sorrindo – Posso pedir para o Gilson pegar suas coisas?

~*~

_ Bento, o papai está chamando você na sala dele. – anunciou Vinny, entrando na sala que dividia com o irmão mais velho.

_ Algo sério? – perguntou o rapaz, fechando a planilha em que trabalhava e se levantando.

_ Acho que não. – o mais novo deu de ombros – Acho que ele quer trocar a agência de publicidade.

_ Mas não está com a do Natan? – questionou Bento, confuso, saindo com o irmão.

_ O Natan não tem ideias boas, você sabe disso. O papai só está com aquela agência por causa do Érico. Mas agora, o Érico vai trocar de emprego, então acho que vamos trocar de agência.

_ Acho bom... Temos oito filiais do Kim Park para divulgar. – os irmãos se abraçaram sorrindo, entrando na sala do pai. Mel estava no telefone, discutindo com o gerente da filial de Campinas, enquanto Tito e o pai analisavam alguns papéis.

_ Pronto, todo o clã Rabello. – sorriu o patriarca – Bom, tenho dois anúncios.

_ Eu vou ganhar um carro novo? – sorriu Mel, e o pai suspirou – Brincadeira daddy, o que eu comprei está zero ainda.

_ E você comprou com o suor do seu trabalho, o que é importante. – elogiou o pai, beijando a cabeça da filha – Bom, o anuncio é que nós vamos trocar a agência que faz a publicidade dos parques. Como vocês sabem, o Natan é um idiota. Nós vamos para uma agência que está surgindo agora, mas que terá o seu primo Érico.

_ E tem certeza que é um lugar de confiança? – perguntou Tito, arrumando o terno – Você conhece o Érico, ele é um bom criativo, mas não leva nada muito a sério.

_ Foi o seu tio Gilson quem recomendou meu filho, fique tranquilo. – sorriu Wilson – E a outra notícia é que vamos viajar, a família inteira. Ficaremos duas semanas na Disney, fazendo um curso de entretenimento.

_ Isso quer dizer... – todos viraram para Bento, que sorria.

_ Consegui a autorização para termos shows temáticos da Disney. Deu um pouco de trabalho e custou uma nota, mas só o que vamos lucrar com festas de aniversário, vai ressarcir em no máximo um ano. – Tito deu um tapa no ombro do irmão, sorrindo.

_ Bom, acho que por hoje é só. – Wilson avisou, desligando o computador – Vinny, eu vou te levar na casa da sua mãe, ela está bem chateada com o falecimento de uma das beatas amigas dela.

_ Deixa que eu levo pai, assim eu já dou um abraço nela. – avisou Mel, pegando sua bolsa – Você vem Tito?

_ Claro... Hã, Bento, você leva o carro? – o mais velho concordou – Bom até amanhã.

Os três saíram, deixando o pai e o irmão mais velho na sala. Nancy se despediu dos patrões, antes de sair, deixando os dois sozinhos com alguns papéis.

_ Hã... Seu tio apareceu aqui de novo. – contou Wilson, o Bento arqueou a sobrancelha – O Perácio. A dona Glória piorou, e ele veio de novo apelar que você fosse vê-la.

_ Você iria? – perguntou Bento, dando as costas ao pai.

_ Filho, você me perdoou apesar de tudo, pode perdoar ela também. Sua mãe gostaria disso, eu sei. – Wilson abraçou o filho pelos ombros – Bom, você quem sabe. Eu vou até a Casa Verde, quer vir?

_ Hã, não, obrigado. – agradeceu o rapaz, desligando as luzes e saindo com o pai – Eu tenho um encontro e não quero me atrasar.

_ Alguma namorada? – o rapaz negou – Bento, esses casos de uma noite só ainda vão te render uma dor de cabeça.

_ Ora pai, você não reclama que eu só trabalho? Deixe eu me divertir um pouco. – o rapaz sorriu, abrindo o carro do irmão mais novo – Hã... A tal agência, você tem realmente certeza?

_ Ora Bento, ela é de um amigo de infância seu. O Fabinho, lembra dele?