Leucemia Mielóide Aguda. Esse era o diagnóstico que Samara havia recebido dias antes e contado para Silvério naquela manhã. E agora, as filhas sabiam que a mãe estava a beira da morte.

_ As células cancerígenas já chegaram aos órgãos, ela já teve o tumor no útero quando a Giane nasceu... – o médico suspirou – Eu sinto muito, mas não há o que fazermos, além de aliviar o máximo possível o sofrimento e a dor dela.

Silvério puxou Giane para seus braços, abraçando a filha, apertado. Mayara se aproximou, abraçando o pai adotivo pelos ombros.

_ Eu vou ver a mãe de vocês. – ele sussurrou, beijando o rosto das duas meninas. Elas assentiram, vendo-o se afastar.

_ Giane, sobre a briga... Eu te perdoo, tá tudo bem e... – Mayara começou, mas Giane a cortou.

_ Fica longe de mim. E do meu namorado. – rosnou a jovem, pegando o celular e saindo do hospital – Bento? Você pode me encontrar. Eu realmente preciso do meu melhor amigo.

~*~

_ Leucemia? – perguntou Bento, surpreso. Giane concordou, deitando a cabeça no ombro dele – Eu não sabia que ela tinha tido um tumor.

_ Meu “irmãozinho gêmeo”. Cresceu comigo no útero da minha mãe, e quase matou ela. – suspirou Giane – Esse tipo de coisa já afeta o sistema imunológico da pessoa, e ainda vem a leucemia... – ela escondeu o rosto nas mãos, e Bento a abraçou.

_ Eu queria poder ajudar. Quer dizer, que poder ajudar. – ele segurou o rosto de Giane – Se precisarem de dinheiro para os remédios, por favor, me procura. Eu vou pagar com prazer, é o mínimo que posso fazer pelo seu pai.

_ Senti sua falta Bento. – choramingou ela, o abraçando mais apertado. Ele beijou os cabelos dela, sorrindo internamente – Sabia que, quando eu era criança, eu era apaixonada por você?

_ Sério? – ele perguntou rindo, afastando Giane de si e encarando seu rosto – Que pena que eu sumi então... Porque eu preciso te dizer que o Maurício é um cara de sorte.

_ Qual é... Se você tivesse ficado, teria me visto para sempre como sua melhor amiga e irmã mais nova. – ela bagunçou o cabelo dele – Posso dizer que não gosto de você com esse cabelo?

_ As meninas adoram esse cabelo. E posso contar uma coisa? – ela assentiu – Eu faço luzes nas pontas do cabelo, para dar esse efeito bicolor e ar mais descolado.

_ Esse comentário ficou gay. – Giane riu, dando uma ombrada nele.

_ Quer falar em mudança? O que aconteceu com você? – ele perguntou, encarando a amiga – Digo... Você sempre jogava bola conosco, adorava assistir jogos de futebol, usar roupas largas... Não que esse estilo não te caia bem, mas não parece a Giane que eu conheci.

_ Minha mãe não gostava muito de eu agir tão que nem menino. Ela queria que eu fosse mais feminina, e depois que ela adotou a Mayara... Aí era só bonecas, vestidos e coisas de menina. – a jovem suspirou – E de repente, essa era a realidade.

_ Mas é essa a pessoa que você quer ser? – perguntou ele, segurando a mão dela.

_ E essa é a pessoas que você quer ser? – ela rebateu, encerrando a conversa.

~*~

Mayara desceu do táxi, cansada e irritada, especialmente por saber que Giane já havia vindo para casa, de carona com Bento. Silvério havia ficado no hospital com a esposa, e Mayara teve que voltar de táxi, sozinha.

Ela encontrou a casa em silêncio e escura. Foi até o quarto, e não encontrou Giane. Ouviu barulho no dos pais, e encontrou a irmã adotiva adormecida na casa de Silvério e Samara. Bufou, indo para o próprio quarto, colocando o pijama e se espremendo no beliche.

Começou a calcular seus planos. A verdade era que, com a doença de Samara, as condições financeiras escassas piorariam. O dinheiro do trabalho iria integralmente para remédios e despesas médicas. E as coisas já eram ruins como estavam, agora então...

Tinha três opções, três grandes e ricos herdeiros. E por mais que gostasse de Maurício e de sua companhia na cama, estava fora de cogitação um relacionamento aberto com ele, do tipo que lhe gerasse presentes. Se ele terminasse com Giane para ficar com ela, as coisas ficariam muito tensas e complicadas.

Suas opções viáveis eram Bento e Fabinho. E podia brincar o quanto quisesse com ambos, já que percebera a queda de Fabinho por ela, e a facilidade em dobrar Bento. Podia jogar a carta da coitadinha e conseguir presentes caros, talvez conseguisse algumas boas transar também.

Mas teria que trabalhar com cuidado e cautela. Talvez uma boa seria começar se aproximando de Malu, irmã de Fabinho, e acalmando os ânimos de Giane em relação a si. E então...

_ Sapatos e roupas caras. – Mayara sorriu com a ideia, fechando os olhos e adormecendo feliz da vida.