Chapter II - Alguma droga de herdeiro do trono

— Bom dia, Lily! Que cara é essa? — essa é minha mãe, colocando a mesa do café.

— Não dormi muito essa noite!

— E por que você 'não dormiu muito essa noite'? — pergunta ela, desconfiada.

— Estive pensando! — respondo evasivamente, ajudando-a com a mesa.

— Pensando... Sei! — ela arqueia a sobrancelha, para demonstrar que não a convenci, mas que ela vai deixar quieto por enquanto. Eu e minha mãe temos essa comunicação sem palavras, sempre tivemos, diferente da comunicação complicada existente entre ela e Petúnia. Falando na peça...

Petúnia entra na cozinha e se senta à mesa, ignorando nossa presença. Dou uma olhada na revista que ela está lendo. Vogue, sério? Ela deveria começar a ler alguns livros...

Terminamos de arrumar a mesa e eu me sento, ignorando Petúnia, e pego um pãozinho. Minha mãe também se senta e diz, como se não houvesse percebido que Petúnia estava nos ignorando:

— Bom dia, Túnia!

— Bom dia, mãe! — ela responde, sem se dar o trabalho de levantar os olhos da revista.

— Não gostaria de deixar a revista de lado e comer alguma coisa? — minha mãe pergunta, e eu percebo que ela está se esforçando para ser gentil. O relacionamento dela e de Túnia não é dos melhores, então minha mãe faz o possível para evitar brigas.

— Eu posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo! — revida ela, enquanto beberica seu suco de laranja. Petúnia, ao contrário de minha mãe, nem ao menos tenta amenizar a tensão existente entre elas, vai ver ela sabe que não dá.

— Talvez você possa, mas, como eu estou mandando você largar essa revista, você não vai fazê-lo! — minha mãe responde, irritada, e Petúnia larga a Vogue, mas permanece emburrada.

Continuamos nosso café por um longo tempo silencioso. Em seguida, vou assistir T.V.

Espio o relógio. 6:35.

— Bem, acho que já vou indo! Tchau, mãe. — ignorando completamente a existência de minha irmã, levanto-me, pego minhas coisas e saio de casa.

Costumo ir a pé para a escola, já que é bem perto de casa. Duas quadras. Sinceramente, eu não sei por que morar tão perto da escola, mas fazer o quê, né?

Em cerca de cinco minutos estou na porta de escola. Entro e caminho até meu armário, rezando para que Lene não me ache. Mas como a sorte não está ao meu favor nunca...

— Hey, Lily! — Lene chega, sorridente. — Já falou com o marido?

— Nah, Ian Somerhalder não atende meus telefonemas... — digo, tentando parecer chateada, mas sei que não vou poder enrolar Lene por muito tempo. Ela está disposta a me irritar, independente do que eu faça.

— Ah... Ele também não atende os meus! — diz ela triste, mas completa, brincalhona — Mas você está mudando de assunto... Sabe do James? — suspiro.

— Por que eu saberia? — digo, me concentrando nos livros.

— Ah... Vocês dois. Você sabe!

— Não, não sei! — digo com grosseria, pegando minhas coisas e andando.

Ela apenas ri e me segue.

— É por isso que eu amo te irritar! Você leva tudo tão a sério... — reviro os olhos e ela completa, séria. — Mas, falando sério, você não teve notícias dele, teve?

— Não, Marlene! — digo lentamente, ignorando a careta dela. — Por que não pergunta para Sirius e Remus?

Ela franze as sobrancelhas.

— Já perguntei, mas eles disseram que James os têm ignorado desde que voltou do castelo.

— Então, por que você achou que eu saberia? — pergunto indiferente, mas a verdade é que também estou preocupada com ele. Esse foi um dos motivos pelo qual passei minha noite em claro. Não o único, obviamente (Ou nem tão obviamente assim...). Mas a perspectiva de James ter feito algo grave o suficiente para ter irritado a coroa me dá calafrios.

— Sei lá, mas é bom perguntar! — ela dá de ombros e sai andando. Percebo o jogo dela, mas não consigo evitar entrar nele.

— O que você quis dizer com 'os têm ignorado desde que voltou do castelo'? — pergunto, me juntando à ela, que sorri triunfante.

— Pode admitir, Lily! Você está preocupada com James...

— Eu estou curiosa, apenas isso! — digo, usando os cabelos para disfarçar que estou corada. Mas por que diabos eu estou corada?

— Sei! — diz Lene, segurando o riso — Tudo bem, vou te contar logo, antes que tenha um ataque cardíaco. É que eu acabo de falar com Remus e Sirius e eles me disseram que James se recusa a falar qualquer coisa com eles. Qualquer coisa mesmo.

— Uma hora ou outra ele vai ter que falar! — digo, tentando parecer despreocupada. Mas estou ainda mais preocupada do que antes.

— Talvez... — ela parece pensar a respeito por um tempo, então diz — Vem, nós temos aula! — e sai me puxando pelo corredor.

XXX

Pulo da cadeira. Isso é o alarme de incêndio? Ah não, é só a sineta. Me levanto, recolhendo minhas coisas. Estive desatenta durante toda a aula. Para algumas pessoas isso não é muita coisa, mas eu realmente gosto de estudar, então pra mim é muita coisa.

Chego ao refeitório e me sento na mesa com Lene e Dorcas.

— Cheguei, bitches!

— Desculpa, mas não sei com quem você está falando! A única 'bitch' aqui é você!

— Não precisa esconder de nós, Lene! Nós vamos te aceitar mesmo que você seja uma 'bitch', não vamos, Doe? — olho para Dorcas e mordo o lábio inferior para não rir da feição de psicóloga que ela faz.

— Lene, você realmente não precisa sentir vergonha de quem você é. Nós, como amigas, sempre vamos te apoiar, sendo você uma 'bitch' ou não. Então não precisa ter medo da nossa reação, liberte sua 'bitch' interior... — nós nos entreolhamos e começamos a rir descontroladamente.

E é nesse momento que eu vislumbro alguém que não vi durante todo o dia. James Potter, passando rapidamente bem no fundo do refeitório e seguindo na direção do jardim, despercebido. Ou quase isso, já que eu o vi.

Olho ao redor, ninguém mais parece ter visto. Ótimo, agora eu vou me sentir culpada se não falar com ele! Suspiro e digo:

— Gente, vou ao banheiro!

— Eu vou com você. Eu já..— Droga, Lene!

— Não precisa! — retruco, um pouco rápido demais. As duas me olham, claramente desconfiadas. — É que eu preciso ir no meu armário, porque eu perdi... — Ai meu Deus, o quê eu perdi? — O MEU BRINCO! Eu perdi o meu brinco e preciso ir procurá-lo! — continuo, um pouco triunfante demais por achar uma desculpa.

As duas estão ainda mais desconfiadas, por isso me levanto rápido e sigo na direção do jardim.

— LILY, O BANHEIRO É DO OUTRO LADO!

Droga, será que eu não consigo nem disfarçar? Sigo na direção do banheiro, mas, assim que saio do alcance das pessoas, mudo meu rumo e sigo para o jardim. Você me paga por isso, Potter!

Chego ao jardim e o avisto, sentado na grama há alguns metros. Tento me aproximar silenciosamente (O que provavelmente foi um fracasso), e ele não parece me notar.

Me sento a seu lado e ficamos em silêncio por um tempo. Então digo:

— Vai me contar o que aconteceu?

— Não. Vai desistir agora? — diz ele, sem me olhar.

— Não.

— E por quê? — seus olhos encontram os meus e ele arqueia a sobrancelha.

— Porque você não está sendo um otário hoje, o que significa que o que quer que tenha acontecido é realmente sério.

Ele revira os olhos e dá um meio sorriso.

— Eu não sei se eu agradeço a preocupação ou se revido o xingamento.

— Não faça nada e estaremos quites!

— Isso me parece bom!

— Vai parar de mudar de assunto?

— Não.

— Ótimo, eu mantenho o assunto.

— Eu já disse como você está linda hoje, Lily? — diz ele, sorrindo maroto e eu me preparo para respondê-lo, mas depois lembro que é exatamente esse seu objetivo.

— Ah, você vai ver como eu fico linda socando essa sua cara se você não me contar o que aconteceu agora! — ameaço, os olhos brilhando de raiva. Ele não parece assustado.

— Eu não vou te contar, Lily!

— Sim, Potter. Você vai me contar, nem que eu tenha que ficar aqui eternamente esperando. — digo, calmamente dessa vez.

— Você não quer realmente saber. Só está se sentindo culpada por ser uma chata comigo desde sempre e está tentando compensar...

— Primeiro: O chato desde sempre aqui é você. Segundo: Se eu estivesse tentando compensar alguma culpa, eu teria apenas tentado e ido embora no primeiro não. — ouvimos o sinal e Potter arqueia as sobrancelhas.

— Pode voltar para sua aula agora. — Se eu voltar ele nunca vai me dizer...

— Não vai se livrar de mim tão cedo, Potter! — digo e ele parece surpreso.

— Muito bem... Você realmente quer saber?

— Por que você acha que eu estou aqui?

— Provavelmente por...

— Fala logo, Potter!

Ele suspira.

— Eles estão dizendo que eu sou alguma droga de herdeiro do trono.