Capítulo 2 - Chegada ao Acampamento

Chalie tinha quase certeza de que estava sonhando. Não era possível que estivesse, finalmente, saindo daquele lugar deplorável. Depois de tantos anos! Estava quase em êxtase com tudo aquilo, pois além de poder sair daquele orfanato, descobriu que tinha uma irmã. Uma irmã gêmea, aquela que sempre lhe aparecia por sonhos. Havia apenas uma inconveniência que, em sua opinião, poderia muito bem ser eliminada: Nico. No segundo em que o vira, percebeu que ele era tão cabeça-dura quanto ela e que, com certeza, seria um grande tormento. E isso se mostrou não apenas quando se apresentaram, mas quando entraram no táxi também. Nico e Charlie queriam sentar no banco do passageiro do veículo, o que gerou uma discussão já esperada.

– Pelo que Leo me disse enquanto chamávamos o táxi, vocês precisam de mim pra salvar o mundo! Portanto eu tenho preferência! - a garota disse decidida.

– Eu já ajudei a salvar o mundo muitas vezes, ou seja, eu tenho direito de sentar na frente! - Nico se gabou, mas não se importava muito onde iria se sentar.

Queria mesmo era irritar a menina bonita e despojada. Assim que viu como ela tinha um temperado incontrolável, percebera que seria uma boa diversão. Mesmo que a discussão fosse uma infantilidade como aquela. E mesmo que não soubesse, Charlie pensava exatamente aquilo naquele momento. A garota o olhou com um sorriso maléfico.

– Ah, é?! É uma pena que eu seja mais esperta...

Sem esperar qualquer outra reação de Nico, sentou-se rapidamente no banco da frente e fechou a porta na cara dele, que apenas a avaliou, confuso.

– Você roubou! - Nico gritou infantilmente, indignado.

– Não colocamos regras e a vida também nunca foi muito justa. - Charlotte disse animadamente, enquanto fechava a janela devagar vendo a expressão irritada que substituía o ar sombrio.

Contrariado, o garoto sentou-se ao lado de Leo que conversava animadamente com Claire no banco de trás. Neste momento, Nico prometera a si mesmo que infernizaria a vida de Charlotte Hastings.

– Long Island, por favor. - Leo disse ao taxista.

– Será que agora dá para alguém me explicar direito porque fui sequestrada?! - Claire e Charlie falaram em uníssono, olhando para os dois garotos.

– Claire, Charlie... - começou Nico, mas Charlie o interrompeu.

– É Hastings pra você! - ela disse, lançando-lhe um olhar ameaçador.

Nico revirou os olhos, mas continuou a falar. - Enfim...

– Você não! - insistiu Charlie. - Leo, pode me explicar?!

Nico bufou e virou-se para a janela, preferindo olhar a paisagem que passava rapidamente pelo vidro.

– Bem... - começou Leo. - Sabem todas aquelas histórias de semideuses e deuses gregos? - elas assentiram e ele continuou. - Existem e nós quatro somos. Sou Filho de Hefesto e Nico é Filho de Hades...

– Vulcano e Plutão, você quer dizer?! - perguntou Claire.

Ela não sabia porque e nem como, mas sentia-se muito mais aliviada e confortável em nomeá-los assim. Nico e Leo se entreolharam.

– Esses são os nomes deles na mitologia romana. - disse Nico.

– Mas eu ainda prefiro assim. - disse Claire calmamente, dando de ombros, e viu o olhar animado de Leo.

– Nico, foi mais fácil do que pensamos! - disse Leo ao outro menino.

– O que, meu Deus?! - perguntou Charlie, exasperada.

– Deuses. - corrigiram os dois juntos.

– Whatever... Alguém pode me explicar? - Nico estava pronto para dizer, mas Charlie voltou a falar. - Leo, por favor!

– Vocês são semideusas também. E fazem parte de uma profecia para impedir uma iminente guerra entre semideuses romanos e gregos. Uma grega e uma romana e ao que parece irmãs. Sabemos que são vocês e agora descobrimos que Claire seria a irmã romana.

Charlie já acreditava que aquilo era verdade. Sempre pode fazer coisas estranhas no orfanato - só não a expulsaram porque ela não tinha para onde ir - e saber ao menos que existem outros como ela a fazia se sentir melhor. Claire também sentia-se assim. Sempre foi a reclusa. Saber que ela faz parte de algo maior do apenas sua rotina monótona era mais do que uma quebra ao dia-a-dia. Era uma descoberta que, por mais louca que fosse, sentia que fosse verdade.

– E somos filhas de quem?! - elas perguntaram ao mesmo tempo.

Leo estava prestes a abrir a boca para responder, quando Nico se apressou a dizer. - Deixe isso para Quíron. Já chegamos.

Após o táxi parar em Long Island, os quatro adolescentes desceram e para a surpresa das irmãs, elas reconheceram o lugar onde estavam. Uma colina, onde havia um grande pinheiro com um tipo de mante sobre seus galhos e um dragão à sua volta. Não estavam com medo, por mais que isso fosse comum. Não tinham medo, pois já o viram várias e várias vezes.

– O lugar do meu sonho. - as garotas falaram em uníssono.

– Vocês tem que parar com isso. - Leo disse. - Isso assusta! - fez uma expressão assustada, causando risos em todos. Até mesmo em Nico.

– Bem-vindas às Colina Meio-Sangue.

Ao subirem a colina, depararam-se com um lugar que ambas julgaram incrível. Uma Casa Grande na cor azul, campos de morango, chalés de todos os estilos formando um grande ômega, uma arena ao estilo do Coliseu e muitas outras construções que tornavam aquele lugar único. Por mais que Clarie se sentisse maravilhada com aquilo, sentia-se também desconfortável, como se aquele ainda não fosse seu lugar. Ainda.

– Acampamento Meio-Sangue. - Charlie leu a placa que havia na entrada do acampamento, estava em grego antigo, mas ela conseguiu ler.

– Eu não consigo ler. - Claire disse, chateada.

– É normal, seu cérebro está adaptado ao latim, não ao grego. - Nico falou. - Vamos, Quíron está nos esperando.

Assim que chegaram a Casa Grande avistaram Quíron, sem sua cadeira de rodas fictícia.

– O que é aquilo? - as gêmeas novamente falaram juntas e riram, mas depois adquiriram expressões diferentes.

Charlie estava admirada e Claire, assustada, se escondeu atrás de Leo.

– Nico, Leo, vejo que concluíram a missão com sucesso! - sorriu satisfeito e voltou sua atenção para as meninas. - Olá garotas, eu sou Quíron!

– Wow, você é um centauro. - Charlotte disse, impressionada.

– Não, ele é um pônei! - Nico zombou, revirando os olhos.

– Mesmo que fosse, eu não pedi sua opinião. - Charlie respondeu sem paciência.

– Humm, ignorando o clima pesado entre o casalzinho - recebeu um olhar assustador de Nico e Charlie e sabia que não ficaria apenas por isso -, eu sou a Claire. - a gêmea romana se apresentou simpática. - E aquela é minha irmã Charlie.

– Eu sei me apresentar, ok? - Charlotte fez careta , mas logo depois começou a rir . - Desculpa, às vezes eu exagero.

– Percebe-se! - Nico resmungou.

– Não te perguntei, fantasminha!

Nico estava prestes a retrucar, mas Quíron o interrompeu.

– Chega. Nico, vá chamar o Percy, por favor!- o centauro, simpático, pediu. - Ele vai querer finalmente conhecer as irmãs.

Após alguns minutos, Nico voltou acompanhado de um menino alto, de olhos verdes e cara de bobo. E as gêmeas perceberam que ele realmente se pareciam um pouco com elas.

– Percy, essas são Claire e Charlotte Hastings, suas meias-irmãs. - Quíron os apresentou.

– Nossa, pelos deuses! Eu descubro que tenho uma irmã e ganho outra de brinde. - Percy disse feliz, abraçando-as pelos ombros.

– Meu Deus, você é gato! - Claire pensou alto, causando risadas entre os presentes.

– Eu sou mais. - Leo disse convencidamente, tentando abraçar Charlie, que o empurrou.

– Sai pra lá, dude! - Falou debochada.

– Garotos, mostrem para elas o acampamento, por favor. Preciso mandar uma Mensagem de Íris. - Quíron disse e foi em direção a Casa Grande.

– Por aqui, meninas. - disse Percy, extremamente animado.

Ele as abraçou pelos ombros e começou a guiá-las pelo Acampamento, com Leo e Nico logo atrás. Andaram alguns minutos, enquanto mostravam o Acampamento às garotas, explicando sobre seu sistema e conversando sobre assuntos banais, foram apresentadas a várias pessoas e seres que ali encontravam.

Quando separou-se do grupo para ir ao banheiro, Claire esbarrou em uma garota alta de cabelos castanhos.

– Ei! Olha por onde anda! - a garota carrancuda falou.

– Desculpa. - Claire falou e ia continuar a andar, mas a outra garota segurou seu braço.

– Não se meta com os filhos de Ares. - apertou seu braço com mais força.

– Marte... -Claire pensou alto e inconscientemente, causando espanto na garota que segurava seu braço.

– Romana? Agora que você apanha, novata! - a menina gritou e quando ia socar Claire, uma onda tomou conta da porta do banheiro e os canos haviam estourado.

Claire olhou em volta, e na porta banheiro estavam Nico, Leo e Percy olhando assustados. Mas não para ela. Olhavam para Charlie, que estava mais adentro, com uma expressão furiosa.

– Ninguém. Mexe. Com a minha. Irmã!