A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 3
Caindo do Céu




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III

SABRINA

PROFESSOR SHEEP AS GUIOU até um lugar distante, um prédio alto com uma sacada enorme. Eles conseguiram despistar o cavalo de bronze flamejante algumas quadras antes, mas ele insistira que eles tinha de fugir de algo mais.
– Do que estamos correndo? – perguntou Elizabeth entre respirações pesadas enquanto eles subiam as escadas de granito (Sheep não permitiu que elas usassem o elevador).
– Da tempestade – disse ele sombrio.
– Mas se nós subirmos mais alto – disse Sabrina – estaremos mais propensos aos raios!
– De certo modo – concordou ele – mas é a maneira mais rápida de sair daqui.

As garotas trocaram olhares confusos. O que ele planejava que fizessem quando chegassem à cobertura? Pedissem um helicóptero?

Elas não protestaram – no fim, se não fosse por ele já estariam assadas como um peru de natal. Mas mesmo não protestando, Sabrina continuava curiosa.
– Como vamos sair daqui pela cobertura?
– Não vamos – disse ele – eles virão nos buscar.

Eles. Sabrina teve um rápido flash de memória a respeito de um filme de alienígenas. Ela olhou para Suzana, que moveu os lábios para formar a palavra Illuminati. Sabrina fechou a cara para ela – não era hora de teorias da conspiração.

Ou talvez fosse. Quando chegaram na cobertura foram até o telhado-sacada do prédio e viram toda a cidade de Washington, o único ponto acima deles era o Obelisco. O vento estava tão forte que ela teve que se agarrar ao corrimão de cimento que contornava a cobertura. O céu estava cada vez mais tempestuoso, então ela percebeu que não era a única agarrada ao corrimão – Elizabeth parecia verde ao lado dela.
– Você está bem Lizie? – perguntou Sabrina. A outra menina fez um gesto de sim com as mãos.
– Estou ok. – garantiu ela – Apenas um pouco... exausta.

Todos estavam por causa da corrida, mas Sabrina estava começando a se preocupar com a saúde da outra garota. Foi quando um trovão atingiu uma das antenas do prédio, trazendo vários tipos de estilhaços de metal na direção deles. Por sorte, o vento estava tão caótico que os levou longe.

Sabrina estava ficando realmente preocupada. Onde estavam seus supostos salvadores? O que estava acontecendo?
– Eles logo estarão aqui – anunciou Sheep aproximando-se com Suzana ao lado dele – me mandaram uma mensagem ontem, dizendo que iriam precisar apressar as coisas conosco. Pensei que vocês só iriam ter que ser levadas ao acampamento no fim do ano, mas aparentemente nossos inimigos se apressaram também.
– Acampamento? Inimigos? – disse Sabrina, agarrada com toda a força contra o corrimão. O vento estava cada vez pior, levantando seus cabelos cacheados.
– Vocês são especiais – disse ele – o acampamento serve para manter crianças como vocês, meio-sangues, seguras.
– Meio-sangue? – disse Suzana – Como nas histórias gregas?
– Basicamente. – disse Sheep.

Certo, o cara era louco. Sabrina sempre foi um pouco cismada com ele, mas dessa vez tinha certeza que o sujeito tinha um parafuso a menos. Se bem que ele tinha pernas de pode, e ela começava a ver pontinhos em seu cabelo asiático. Isso não era traços de um fauno?
– Você é um fauno? – perguntou ela.
– Um sátiro. – disse ele, orgulhoso – Faunos são romanos... e veja, lá está a nossa carona!

Longe e parecendo pequenino, uma espécie de estrutura de bronze tão cintilante quanto o cavalo avançava em direção deles. Sabrina retirou seus óculos retangulares e os limpou na barra da camisa, certa de que estava vendo coisas. Quando os colocou novamente, lá estava a carruagem de bronze, cada vez maior e mais próxima. Dentro ela pensou ter visto alguns jovens – dois aparentemente – vestindo camisetas laranjas e casacos.

Quando eles – com dificuldade – pousaram na cobertura, todos – com exceção de Elizabeth e Sheep – estavam boquiabertos. Sabrina estava confusa – ela não conseguia explicar como os eventos levaram ela e uma viajem com cavalos flamejantes, sátiros e carruagens de bronze voadoras. Ela apertou seus olhos decidida de que estava sonhando, quando os abriu os garotos dentro da carruagens gritavam para que eles fossem de uma vez.

Sabrina tropeçou no caminho até a carruagem, era como se seus pés fossem feitos de chumbo. Ela se sentou entre Elizabeth e Suzana, na parte de trás da carruagem enquanto Professor Sheep conversava com os garotos que guiavam o transporte.

Ambos tinham quase que a mesma altura. Um deles usava uma jaqueta de couro e tinha os cabelos cortados curtos, ele tinha um problema sério de acne e seus olhos eram muito redondos. O outro tinha um cabelo um pouco maior, nem liso nem cacheado, de um castanho escuro. Seu rosto era anguloso, quase que triangular e Sabrina pensou que ele devia fazer um ótimo cosplay de Salsicha.

O que tinha a jaqueta de couro era obviamente aquele que sabia dirigir. O outro segurava o que parecia uma espada – de verdade – e ficava de vigia olhando para todos os lados, procurando o que parecia um pássaro que atravessasse seu caminho para cortá-lo em dois. Quando a carruagem tomou voo, Sabrina teve certeza de que eles cairiam, teve certeza que tudo era um confuso sonho ou uma grande pegadinha, mas então abriu seus olhos e viu que eles estavam indo realmente rápido, já quase que fora de Washington.

Ela se sentiu inclinada a vomitar o café da manhã, mas como estava entre suas amigas, decidiu que não seria muito educado para com elas.

Ela percebeu que seria muito melhor se preocupar com elas do que com a aerodinâmica da carruagem voadora, então tomou um tempo para observá-las.

Suzana parecia calma, um pouco mais pálida do que de costume e levando a situação com certa calmaria, como se carruagens voadoras viessem busca-la todos os dias. Ela olhava ao redor com certa admiração, provavelmente pensando em todo o tipo de teorias da conspiração e que o acampamento seria um campo de concentração onde elas seriam sacrificadas à algum deus adorado pelos Illuminati – ás vezes, a admiração da amiga em relação à coisas bizarras apavorava Sabrina.

Elizabeth, por outro lado, parecia que havia acabado de engolir um sapo. Ela apertava sua mão com tanta força que Sabrina pensou que iria quebrar seus dedos. Seus olhos castanho escuro estavam arregalados, o que faziam eles pareceram ainda maiores. Seus cabelos rebeldes estavam uma completa bagunça, diferente de Suzana que sempre parecia malditamente bem. Sabrina apertou a mão dela de volta, tentando parecer reconfortante.

Na frente delas, o professor conversava com o garoto que segurava a espada. Eles discutiam sobre alguma coisa, a respeito do tal acampamento. Sabrina tentou ouvi-los, mas o vento em seus ouvidos impedia ela de pegar as palavras.

Ela fechou os olhos novamente, comandando seu corpo a se acalmar. Ela deixou sua mente vagar, e se pegou pensando a respeito do que o professor tinha dito, que elas eram especiais, meio-sangue.

Meio-sangues eram aqueles cujo um dos pais eram deuses certo? Ela sabia que era sua mãe, uma coisa óbvia. Havia sido criada por um pai solteiro, um afrodescendente bem aparentado que passava as manhãs assando biscoitos para ela e que trabalhava como advogado nas tardes. Ela se lembrava da última vez que falara sobre sua mãe, seu pai havia sido sombrio e nunca tinha dado muita informação sobre ela.

Ela também se lembrava de quando ele decidiu deixa-la na escola interna, o pior golpe que já sofrera. Ele disse que seria melhor, que ela não sofreria mais bullying por ter as maiores notas, nem teria problemas econômicos já que a escola se ocuparia de sua nutrição. Ela havia chorado e implorado tanto para que ele não a abandonasse, mas ele não mudou de ideia. Faziam seis meses que ele não falava com ela, e ela manteve-se teimosa e não ligou ela mesma.

Um solavanco balançou a carruagem, Suzana levantou os braços e gritou como se estivesse em uma montanha russa. Elizabeth se agarrou nela e ela se agarrou em Elizabeth, ambas certas de que iriam morrer. Quando deram por si, estavam rindo, deixando Suzana perplexa com elas. Então – bum! – um raio acertou a carruagem, fazendo com que uma das rodas saísse voando abaixo deles. Sabrina pensou que isso não deveria afetar a viajem – afinal, eles estavam voando! – mas a carruagem se inclinou, girou e quase ficou de cabeça para baixo. O professor e o garoto da espada gritavam com aquele que segurava as rédeas, que gritava de volta. Sabrina pegou apenas algumas palavras antes da última colisão.
– ... um pouso forçado!

Pouso forçado?

Sabrina não teve tempo para se desesperar. Quando deu por si estava em queda livre, e se viu pensando a respeito da velocidade e de quanto tempo demorariam a colapsar contra o chão e se espatifar em pedaços. Então, SPLASH!, eles estavam debaixo d’água.


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