A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 20
A Grande Profecia e um Prazo


Notas iniciais do capítulo

Então, só vou postar esse hoje por que estou muito atrasada nos capítulos (recém escrevi o 22). Vou postar amanhã, se acontecer de meu pai me deixar usar o computador :s



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XX

SABRINA

SABRINA ESTAVA PREOCUPADA. Os romanos, até onde ela sabia, eram muito piores e menos hospitaleiros do que se demonstraram. Ela olhava para os lados, procurando qualquer tipo de ameaça – uma ponta de lança em um canto, vocês atrás de uma esquina, um alçapão no chão de onde sairiam romanos prontos para batalha. Nada aconteceu.

Theo estava sendo muito educado e simpático, tanto que Sabrina apenas desconfiou mais. Ela sempre olhava para trás, tentando memorizar seus passos no caso de uma fuga – a última coisa que queria era se perder no meio do acampamento romano tentando fugir. Sabrina constantemente checava se a adaga ainda estava no cinto, tinha a impressão que o filho de Apolo iria puxar um imã e roubar suas armas.

Para o alívio – ou mais desconfiança – de Sabrina, Theo as levou até o templo de Júpiter sem quaisquer emboscadas. Ele até falou com ela, constantemente. Ela começou a ficar ainda mais nervosa – estaria ele tentando tirar sua atenção, sabendo que era filha de Atena? Sem ela memorizando os passos, uma fuga seria malsucedida.

Ele havia tentado falar com ela por todo o trajeto.
– O que vocês enfrentaram para chegar aqui?
– Monstros.
– Foi difícil?
– Não.
– Estão machucadas?
– Não.
– Sabe dizer algo além de “monstros” e “não”?
– Romanos não deveriam ser mais ríspidos? – ele sorriu, torcendo os cantos dos lábios fazendo algumas sardas desaparecerem.
– Alguns de fato são, como Catherine. Prefiro a estratégia de seduzir e conquistar. – ela nem sequer levantou as sobrancelhas.
– Legal.

A conversa prosseguiu no mesmo ritmo até que chegassem ao templo.

Era obviamente o templo de Júpiter, pois era o mais mimado dos templos. O teto era em abóboda, e quando entrou viu que era feito de ouro. No centro, atrás de uma enorme mesa cheia de oferendas havia uma estátua em tamanho grifo-gigante de Júpiter segurando um raio, o raio-mestre. Ele usava uma toga púrpura que fez Sabrina pensar se derramaram vinho no tecido e depois jogaram tudo para o alto e pintaram o resto de roxo. Quando olhou para o chão de mármore, Sabrina entendeu por que Catherine dissera “leva-las até a profecia” – se não tomasse cuidado, iria literalmente pisar nas profecias no chão.

Depois que entraram no templo, Theo contou as escritas miúdas no chão até chegar à que estava procurando – uma Grande Profecia de tamanho médio, comparando-a com outras. Ele recitou a profecia, como se elas fossem analfabetas.
– “Após muito a rainha ter esperado,
o sono da mulher sem nome terá acabado.
Meia dúzia de heróis com um mais, destinados a lutar:
dois acampamentos, caminhos a se cruzar.
Os filhos da Noite ascenderão pelas mãos da necromante.
Pela lâmina ou tocha se perderá um amante.
Haverá uma escolha como uma moeda de dois lados,
entre o ódio e compaixão o destino estará confinado.”

Ele as olhou com as sobrancelhas levantadas, como se estivesse esperando por alguma delas para pular e dizer “ei, tal verso faz sentido para mim!”. Sabrina olhou para ele de volta, e então compreendeu por um segundo o por quê da hospitalidade.
– Vocês acreditam que vão precisar de nós nesta guerra. – ela disse – Por isso que faunos não pediram por dinheiro no caminho. Por isso que seus lares estão instruídos a não nos insultar. Por isso que ainda não estamos mortas. – ele pareceu legitimamente surpreso.
– Você tem um péssimo julgamento de nós. – ele disse – Lutamos na última guerra também, a participação de nosso acampamento salvou o seu.
– Após longos meses de guerra declarada! – ela rebateu. Ele estreitou os olhos e suspirou.
– Vocês ainda estão aqui, não estão? – ele disse – Cedemos a você nosso único filho de Júpiter, não acha que isso demonstra alguma lealdade?
– Vocês apenas cederam – ela disse – por que embora lá fora seja perigoso para ele, acreditam que será mais seguro do que aqui!
– Sabrina – interrompeu Suzana, tocando o ombro dela – por que está tão irritada? Eles tem razões boas, e estão nos ajudando. Acalme-se!
– O que vocês acham – disse Elizabeth, piscando para Sabrina – De comermos aquela pizza? Ou talvez um espaguete?

***

Sabrina não foi seduzida pela pizza, mas não podia dizer o mesmo de Elizabeth. Também não fora seduzida pelos folhados, palhas*, brownies e rosquinhas que Theo comprou para elas. Sim, estavam deliciosos, mas não aplacaram sua desconfiança.
– Alguém que compra tanta comida – sussurrou Elizabeth para ela – é merecedor de alguma confiança. – então piscou um de seus enormes olhos castanho-escuro para ela, provocadoramente.
– Ou você está falando em código – ela sussurrou de volta – ou está apenas se vingando por mais cedo. Gasparzinho está por aqui? Por que não pede um chocolate para ele?
– Mortos não tem dinheiro – ela disse, como se fosse algo óbvio – por outro lado, os vivos... – ela levantou e desceu as sobrancelhas várias vezes. Sabrina revirou os olhos e continuou seguindo Theo e contando seus passos.
– Vocês já tomaram um banho romano? – ele perguntou do nada. Antes que pudesses responder, Catherine cruzou o caminho deles segurando um garoto de doze anos pela orelha. Ambos estavam cobertos com pedaços de bolo e coca-cola. Eles apenas pararam e apreciaram a vista.
– Você, menininho – começou Catherine enquanto caminhava com ele na direção da sala de banho (uma estrutura de madeira escura da qual vários garotos saiam rindo e meio molhados) – está muito, muito encrencado.
– Banho fica para mais tarde – sugeriu Elizabeth. Ninguém discordou.

Theo caminhou com elas pela Nova Roma, como gostavam de chama a cidade. Sabrina estava encantada com o lugar, parecia uma colônia italiana onde gostaria de passar as férias de inverno. A neve e o estômago aplacado certamente fizeram o lugar parecer mais aconchegante, embora ela ainda se sentisse um pouco suja e com sono – a última vez que dormira fora no ônibus, e não foi exatamente confortável (não que os ombros de Suzana fosse duros, mas não eram um travesseiro de plumas).

O vento, o cheiro vindo da padaria, a neve... tudo deixava ela mais sonolenta, mas Suzana e Elizabeth – principalmente Elizabeth – pareciam piores do que ela. Ambas pareciam zumbis, perambulando pelas ruas limpas e quase caindo sobre suas pernas a todo o tempo.

De alguma forma ela começou a duvidar das coisas – que dia, hora e mês eram hoje? Ela fez essas perguntas para Theo.
– Dezenove de Dezembro*, mais ou menos às uma da tarde. Por que a pergunta? – Sabrina parou abruptamente, se apoiando em uma coluna de uma loja próxima.
– O Solstício de Inverno... – ela disse – É daqui a três dias, não é? – suas amigas pareceram confusas.
– Sim, é geralmente quando os deuses fazem um concelho de guerra...

Sabrina parou de ouvir. Ela fechou os olhos e se concentrou. Os fleches da conversa que teve com sua mãe vieram para sua cabeça.

Ela foi selada quase que completamente no Mundo Inferior. O ritual necessário para acordá-la, que devia ser no dia mais sombrio. Trinta anos se passaram, e o selo do último herói está se quebrando.
­
– O Solstício de Inverno – ela disse – não é o único dia que Hades, ou Pluto, tanto faz, está autorizado a visitar o olimpo? O dia mais sombrio do ano?
– Bem, sim. – disse ele – É algo importante?

Sabrina olhou para suas amigas, que pareciam preocupadas mas cientes de que ela estava escondendo alguma coisa. Ela se desapoiou da coluna, ficando ereta.
– Apenas curiosidade. Sou filha de Atena, ou Minerva, sabe como é. – ele levantou as sobrancelhas, mas continuou o passeio. Suzana e Elizabeth deram um olhar para ela, um de você vai nos dizer o que está tramando. Ela respondeu com um mais tarde, quando não houver romanos ao nosso redor.


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