Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 4
3. Formatura




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POV Felipa.

Que delícia! Pensei assim que estacionei o carro numa viela estreita na zona norte da cidade. Frankie ao meu lado remexeu-se no acento para tirar o cinto de segurança. Destravei a porta e voltei a travar quando ela saiu. Não queria de forma alguma estar envolvida nessa situação, mas já estava. Frankie é como a irmã que nunca terei e não ajuda-la em um momento como esse seria a pior traição.

Nós estávamos seguindo seu pai por quase uma hora, Fran suspeitava que ele tivesse um caso e eu temia que ela estivesse certa. Apesar de ter meus próprios problemas não conseguia lidar com a hipótese de alguém estar pior que eu;

Abaixei o volume do rádio quando começou a tocar Britney Spears, observei pela janela as pessoas passando na rua com pressa. Sempre correndo contra o tempo. Isso fez com que minha mente girasse 360º até estar de volta ao cassino. Ali estava sendo assinada minha sentença de morte. A frieza como tudo fora lidado me enojava. Eu gritei e me neguei em participar de toda essa baixaria, mas nem escolhe tive. Eu fui praticamente vendida, não entendi nada quando Greg tentou me explicar sobre a aposta, mas ele estava devendo uma boa grana ao “noivo” e no fim fora o mesmo que recebeu.

Metade de mim é composta por uma fúria jamais sentida, a outra é melancolia pura. Mas eu sabia que tudo podia piora e ao ler as linhas do suposto contrato nupcial meus olhos queimaram com a chegada das lágrimas. Em uma de suas linhas dizia que agora eu deveria me comportar como uma mulher casada atendendo sem contestar tudo que meu marido desejar. Todo e qualquer caminho mal dado quem pagaria seria minha família. E tudo teve um valor... 5 milhões de dólares sem direito a reembolso, é por isso que eu digo fui descaradamente vendida. Não posso ser hipócrita, o dinheiro realmente nos salvou, mas a que custo? Meus pais devem me odiar.

Fechei os olhos com força, quando os abri focalizei minha mão direita, ela estava vazia. O pesado anel tinha ficado em casa. Perguntei-me se ele tinha algum tipo de seguro e consequentemente se eu deveria perdê-lo como quem não quer nada, mas, ainda assim, mesmo com toda a raiva eu desisti da ideia. Não podia negar o quanto ele era perfeito. Encrostado de diamantes, eu nem imaginava que existia diamantes coloridos, mas lá estava ele... Brilhava como a luz do sol, ou melhor, como meus olhos... Feito sobre medida só para mim. Uma parte maníaca do meu corpo se regozijava por isso... Imaginei como seria a reação de Frankie, provavelmente morreria de inveja do bem. Eu nem me importaria se fosse inveja do mal.

Tilintei minhas unhas no volante, estava tão impaciente quanto curiosa. Observei minha amiga equilibrar-se nos saltos altos de sua bota enquanto corria de volta para o carro, abri a porta do carona quando ela estava perto suficiente. Pela feição do seu rosto supus que suas/nossas suspeitas estavam certas já que a força que ela bateu a porta do próprio carro me deixou surpresa.

— Aquele bastardo maldito! — Quase gritou. Socou o painel e xingou — Você precisa ver a cara da vagabunda... Me dá até vontade de... — Antes que pudesse concluir abriu a porta a porta do carro e colocou pra fora todo seu almoço. Tentei controlar a vontade de vomitar junto. Procurei em minha bolsa por alguns lenços umedecidos e sai do carro contornando-o para entregar a ela, que já de pé, se escorava na parede vomitando ainda mais.

— Hey Fran, seja forte... — Indaguei o mesmo mentalmente para mim. Entendi o lenço e ela o pegou rapidamente. Fiquei de costas para o cenário nojento — Você deveria ter me ouvido e parado enquanto podia...

— O sacana está traindo minha mãe! Como ele ousa? — Ela me interrompeu aos berros.

— Se acalme, ok? Como você descobriu? — Ela respirou fundo e andou para minha frente. Seus olhos estavam em chamas.

— Alguns metros daqui há um café bar. E ele estava lá com ela, aos beijos, em plena luz do dia. Eles pareciam um casal de margarina. Ela é loira e tem unhas vermelhas. Ele sempre disse que só mulheres baixas pintam as unhas de vermelho! Minha mãe e eu nunca pintamos a unha de vermelho! — Fiquei quieta. Assuntos de família ruins já bastavam os meus, respirei profundamente. — Veja com seus próprios olhos, Felipa. — Ela tirou a câmera pendura do pescoço e girou em minha direção, o vídeo estava lá em uma resolução perfeita. Tão vulgar, como ele podia trair a mulher praticamente embaixo de seu nariz?

— Mais que caral... — Suprimi o palavrão. — O que você fará?

— Eu ainda não sei... — Parecia mais calma, respirou profundamente — Mas vou fazer algo para que ele se arrependa pelo resto da vida... Acredite.

Ela me deixou arrepiada. Era horrível ver todo o ódio passando pelos olhos castanhos dela, parecia outra pessoa, uma Francine que eu não conhecia. Apesar do frio ela tirou o sobretudo vermelho sujo de vomito e jogou ao chão. Caminhou com tanta raiva para o carro falando aos montes palavrões e jurando alguma vingança sórdida. Ainda continuei com o mal pressentimento e pensando ela conseguia esconder a personalidade forte por tanto tempo? Até ponderei, estava bufando, com raiva e ódio. Mas não havia nenhum pesar. Era só cólera.

O caminho de volta fora preenchido por um desabafo desenfreado. Ela pediu que eu ficasse com seu carro porque não tinha condições para dirigir. Enquanto estava parada em um sinal vermelho e Frankie dizendo como faria para acabar com o sossego do pai um carro esportivo amarelo parou ao lado do carro dela. O motorista acelerava fazendo o motor roncar. Lembrei-me dele, dos olhos verdes furiosos se retirando dos meus e entrando na Ferrari amarela provavelmente fazia parte da sua extensa coleção de carros. Perguntei-me se ele havia conseguido recuperar o carro roubado, mas se não, certamente tem segurado e se estava no subúrbio deveria ter pensado que acidentes acontece, principalmente em áreas de risco.

— Ei, você tá aí? — Frankie sacudiu meus ombros. Barulho de buzina ecoava do lado de fora, mesmo com os vidros fechados e o aquecedor no máximo podia ouvi-las. A Ferrari ao meu lado já havia sumido e eu parada no tempo pensando em Christopher Molina. — Felipa, acelera antes que passem por cima de nós!

— Desculpe... — Acelerei e ela continuou tagarelando, agora reclamando de mim. Respirei fundo quando a deixei na porta de sua casa — Amanhã ás sete em ponto, por favor.

*~*

Ao entrar em casa percebi que estava só pelo silencio. Andei calmamente até a cozinha e abri a geladeira, peguei a caixa de leite e fechei, paralisei ao ver a folha branca rabiscada com uma letra elegante. Marta.

O almoço está no forno. Eu saí com seu pai parar falar com seu noivinho. Não saia de casa. – Marta.”

Magoada. Fria e ressentida. E descontava em mim, só pra frisar.

Coloquei o leite em um copo, enquanto bebia lembrava-me da noite anterior...

... — VOCÊ ME APOSTOU? — Perdi a linha. Não controlei os gritos assim que passamos pela porta do nosso apartamento. Ainda tinha sido um sacrifício ficar calada durante doze andares inteiros dentro do elevador. Nessas horas morar na cobertura era um sacrifício. — Você não é pai!

Ele não respondeu. Mamãe estava sem vida e tinha em seus dedos copos de cristais e um liquida amarronzado. Uísque. Eu também queria uma dose.

— Era isso ou... Falência. Pobreza! Você nunca foi pobre na vida, Felipa! Onde você acha que moraríamos? E a sua escola? Ah... Você teria que repetir o ano em uma escola publica! Você imagina isso? — Ele apostou a própria filha... Eu só conseguia pensar nisso.

— Conta outra mentira, Gregório. Essa não cola para mim. — Marta disse suavemente.

— Mas é isso. Eu apostei você e perdi. Agora tenho que pagar. Agradeço a Deus porque ele é um homem generoso. Você fará um ótimo casamento. Não fica preocupada minha filha. Ele é jovem, rico, bonito. Você nunca faria um casamento tão bom quanto esse sendo pobre.

— EU ODEIO VOCÊ! — Gritei. Não havia palavras.

— Que se dane! Aqui está seu anel. A partir de hoje você é uma mulher comprometida, Felipa. E quando chegar a hora certa ele vai vir até você. Mas muito cuidado com o que você faz. Terão olhos em cima de você por todos os lados. — Ele chegou uma caixinha de madeira em cima do sofá e saiu do meu ponto de visão. Mamãe o seguiu com a mesma rapidez e eu estava só. Eu e o anel de diamante mais lindo que eu já vi na vida.

O mais torturante era nem ao menos saber a face do individuo. Ele era totalmente invisível na minha imaginação e tudo ficava cada vez mais estranho, por que diabos ele não aparecia e acaba com a tortura de vez?

Seis semanas depois.

POV Christopher.

A movimentação de adolescentes correndo e rindo de um lado para o outro era nostálgica, Molly ao meu lado não parecia sentir a mesma sensação. Pablo parecia farejar o lugar mais vazio, pensei se eu me tornaria assim como eles após o casamento e só de imaginar a hipótese soltei uma gargalhada. Os dois me olharam confusos, provavelmente pensando que o ambiente estava me deixando doido. Mas, enfim achamos cadeiras vazias na última fileira do auditório. Estávamos em uma formatura e eu não queria participar daquilo sozinho. Nada mais justo de obrigar os amigos a virem comigo e obviamente eles foram caridosos.

— Quando meu filho tiver essa idade você virá à formatura e sentará na primeira cadeira Molina — Bradou Pablo, Molly empurrou mais os óculos escuros na face e riu baixo.

— Espero que seu filho se forme a noite, puta que pariu... Esse calor está insuportável. — Ambos concordamos e respiramos fundos. O celular em minha mão tocou outra vez. A foto de Nina surgiu e iluminou a tela. Seu largo sorriso e olhos inocentes, de repente a saudade apertou. Imaginei quando ela soubesse do que eu estava fazendo... Me mataria. Com certeza.

— Se ela está ligando é melhor atender... Tudo piora quando é ignorada. — A cada dia ela ficava mais autoritária e eu me perguntava por que não tinha percebido isso no começo, mas ainda com seu jeito difícil era ela que me fazia estremecer de prazer toda noite.

— Não posso atender agora, não é? Minha noivinha vai se formar em alguns minutos. — O diretor do colégio de Felipa anunciava os formandos do último ano, anteriormente tinha feito um discurso chato e monótono, mas eu estava ali somente para vê-la concluindo uma fase importante de sua vida. Era isso e mais um pouco que não me permitia de me aproximar, o que meus amigos pensariam quando eu apresentasse minha noiva que ainda estava no colegial? E Deus me livre, já basta ela ser menor de idade, não quero que a imprensa me acuse de pedofilia antes de consumar o matrimonio.

— Estou curiosa para ver essa tal de Felipa então... Ao menos deve ser mais descente que a Vermont! — Exclamou minha ruiva preferida, que ás vezes, só ás vezes me fazia ter vontade de lhe esganar. Pigarreei e percebi Pablo a cutucar — Ahhhhh, isso não é mentira.

— Arrumei outra Cecília para minha vida? — Lembrar da minha mãe vez minha garganta queimar, Molly arqueou a sobrancelha e bufou.

— Quem me dera ser a metade da mulher que sua mãe foi, meu querido. Mas que a verdade seja sempre dita...

Felipa Sullivan...” — O diretor gritou nos distraindo do inicio da discussão. Molly levantou a cabeça para visualizar melhor. Lá estava ela, o cabelo loiro estava mais cacheado que nunca. De beca e com um sorriso gigantesco. Ri junto, sabia que era uma felicidade fingida. Pelo que sua mãe havia me falado alguns dias antes ela estava arrasada. Só saia de casa para a escola e depois para visitar a amiga que está muito doente e não sai de casa. Marta me interrogou sobre quando eu apareceria e eu expliquei mais uma vez meu ponto de vista, não sabia qual era seu medo, talvez de sua filha se revoltar? Quem sabe, não? Mas ela sabia que pagaria muito mais caro se o fizesse.

— Uau, ela é loira! — Ironizou Pablo. Ele sabia sobre minha aversão com loiras, Molly gargalhou.

— E linda, convenhamos. Mas ainda uma menininha Chris! Imagine o quão imaturo ainda é? Se misturar com a sua imaturidade... Deus do céu, vão se engalfinhar por todos os lados, não acha amor?

— Com certeza meu anjo. — Os dois riram de mim e eu fechei o semblante.

— Quando poderei me aproximar? — Ela quase saltitava, estava ansiosa. Eu olhei Felipa ergue o canudo e sorri para os fotógrafos, em seguida o diretor chamou por outro nome.

— Nem tão cedo! Vai ter que esperar uns bons meses e só assim estirar essa sua língua venenosa sobre minha noivinha.

— Como você é hostil. “noivinha” que horrível. — Deu de ombros. — Vamos embora agora, né? Você não quer ser visto e eu estou morrendo de calor...

*~*

Seattle. Calor. Sol. Parecia até dia de são nunca. Pablo e Molly seguiram seu caminho para casa enquanto eu dirigia para o Vianna. Nina deveria estar lá me esperando raivosa, já que eu estava duas horas atrasado para nosso almoço. Estávamos uma semana sem nos ver e a culpa era inteiramente minha. Só que ás vezes ela me dava nos nervos, às reclamações vinham como um tsunami em cima de mim e apenas cobranças. Cá entre nós, homens enjoam rapidamente das mulheres chatas que só sabem cobrar.

— Christopher! — Ela sibilou quando me aproximei da mesa. A cara emburrada já dizia tudo: estou encrencado — Onde diabos você se meteu? Estou te esperando há quase duas horas! — Era isso que eu gostava nela, até quando brigava fazia como uma dama. Estava sorrindo com a maior expressão de felicidade, mas gritava entredentes estressada.

— Desculpe, Molly e Pablo me seguraram na formatura do sobrinh...

— Formatura? Você disse que estava resolvendo uns relatórios, trabalho. Você mentiu pra mim? — Me encarou tão sutilmente que eu poderia achar que ela estava flertando se não fosse sua rispidez ao falar.

— Depois do trabalho. Que seja! Desculpe, já pediu o almoço?

— Desculpe? — Ela bateu a mão na mesa devagar — Já pedi e ele veio e voltou 3 vezes. Os garçons estão me olhando com piedade... Ainda bem que eles sabem que estamos juntos, se não... — Então respirou fundo. “estamos juntos” ela se orgulhava de dizer isso. Parecia até que eu era seu troféu e talvez fosse mesmo.

— Estamos juntos... — Nem sabia o que minha frase significava, mas a fez sorrir. Ao menos ela fechou a boca.

— Quero falar com você sobre o aniversário da Kelly Smith. Você ainda se lembra dela né? Aquela vagabunda do último período. — Nina fazia cara de nojo enquanto falava da Kelly e sim... Eu me lembrava dela. Baixinha, morena e muito gostosa. Nina quase nos pegou na cama, sorte que nós já estávamos vestidos e ela acreditou ou fingiu acreditar que tudo não passou de beijos.

— O que temos com isso? — Nina simplesmente a odiava.

— Ela vai comemorar com um leilão beneficente. E nós dois iremos. Já está mais do que na hora das especulações sobre nós acabar de vez. Não quero ficar lendo “possível affair de Christopher Molina”, eu sou sua mulher Christopher, não quero ninguém pensando por aí que sou uma das suas vadias!

O QUÊ!? Gritei mentalmente. Não. Nada disso. Tudo não deveria passar de especulações, as coisas só ficariam piores se por acaso ela abrisse o bico para as revistas de fofocas. E esse era seu forte. Nina sempre fora impulsiva e quando queria alguma coisa pode apostar que ela conseguia.

— Vamos esperar mais... Um pouquinho!

— Não. Estou esperando há muitos anos! Eu realmente não aguento mais. — Disse chorosa — Você não me ama?

Drama. Só ela sabia o quanto eu odiava isso, mas se aproveitava de uma tal forma que eu tinha vontade de esganá-la.

— Eu só não quero fofoca com nosso nome. Meus pais acabaram de morrer — Bufou. Ficamos alguns minutos em silencio quando o garçom trouxe uma garrafa de champanhe.

— Vai ser o evento do ano. Juntos formalmente ou não nós vamos e isso está e não há discussão sobre isso! Assunto decidido! — Só pude rir. Isso deixou Nina ainda mais vermelha. Ela fechou os punhos na mesa e me encarou — Tá rindo de quê?

— De você, bobinha. — A principio minha voz tinha um tom descontraído até eu parar de rir — Você está muito soltinha, não Nina? Quem sempre dá a palavra final sou eu. E eu disse que não é bom irmos nesse evento do ano! Mas, se você quiser ir só... Fique a vontade querida. Entenda: você não me controla. Ninguém me controla. Eu já estou saturado de dizer isso a você. — Nos encaramos por segundos intermináveis — Agora coma. Bem quieta ok? Estou com dor de cabeça!

— Você quer dizer que eu te dou dor de cabeça? — Novamente o drama.

— Eu disse silêncio, Nina.


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Notas finais do capítulo

Víboranina chegou rsrsssssssss



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