Vamos dizer que tudo que aconteceu antes dessa parte desse lindo conto maldito não devia ter acontecido, porque prejudicou toda a minha vida! Eu deveria voltar no passado e bater na idiota que eu fui por ter ido atrás da garotinha, da Ana. E eu não estou exagerando! Nem estou com raiva, estou com ódio de mim mesma.

Acontece que eu nem percebi o tempo depois de que eu e a Ana achamos o irmão dela, mas eis que a dona Afrodite aparece do nada ao meu lado observando comigo o Percy, que deve ser o nome do irmã da Ana, já que ela tinha me dito isso um bilhões de vezes. Eu nem havia percebido sua presença ali até que ela chamou minha atenção elogiando o garoto:

– Bonitinho.

Eu dei um pulinho assustada e me virei para ela. Juro que se aquela mulher não se preocupasse tanto com beleza ela estaria me fuzilando com os olhos e sua cara estaria completamente em fúria.

– Annabeth... - ela sussurrou baixinho, respirando. - Você vai me fazer ter rugas desse jeito! Era para você estar em quase às quatro da tarde para nós irmos ao shopping e você se atrasa em quase uma hora e meia?!

– Eu-eu perdi... algo e estava tentando achar porque é importante e...

– Nada de mais, dona Annabeth! Você vem comigo, e agora - ela disse, me pegando pelo braço e me arrastando para a saída do hospital. Enquanto eu ia, engolindo em seco e revirando os olhos virei para trás de intuito e vi o garoto, Percy, segurando a irmã no colo. Os dois sorriam e pareciam comemorar algo. Estranho, ele estava com uma cara tão ruim antes de ter conseguido achar a irmão, e nenhuma pessoa doente tinha tanta força para segurar uma garota do tamanho de Ana.

Mas, a cima de tudo, as duas coisas que me incomodaram mais que aquilo foi ver a minha psicóloga, a Dra. Jackson, do lado dos dois, os abraçando... E a minha bolsa, a bolsa que a Thalia tinha deixado no banheiro, nos ombros dele, do irmão da Ana. Do Percy, o garoto dos olhos verdes.

~*~

– Como está aí? - Afrodite perguntou do outro lado, fora do vestiário onde eu estava experimentando dois vestidos para usar hoje de noite.

Revirei os olhos, tentando colocar o primeiro vestido desconfortável que ela tinha escolhido para mim. Nos padrões de beleza era o vestido mais bonito que eu já tivera a chance de tocar, mas não era nada fácil de usar e parecia ser tão caro.

Nós estávamos numa loja que ficava no centro da cidade, de uma marca famosa de escrita e pronuncia impossíveis e esquisitas. Parecia ser tudo caro ali.

Ela tinha escolhido para mim dois vestidos que não tinham me interessado nada. Depois de mais uma tentativa falha de colocar o primeiro eu desisti, peguei os dois e devolvi para Afro por uma fresta da porta do vestiário.

– Annie... Assim nós nunca vamos conseguir arrumar algo para você. Eu peguei os vestidos mais caros e mais bonitos desse lugar para você provar, mas ignorou todos eles!

– Eu... Não gosto de vestido, por que simplesmente não posso usar uma roupa que eu já tenho em casa?

Aquele era o pior castigo que eu podia estar recebendo pelos meus erros. Meu Deus, por quê?

– Sua mãe gostaria que você usasse uma roupa nova para essa ocasião, é importante - me respondeu. - Vamos, faço uma forcinha! Você é linda.

– Todo mundo é bonito para você! - ataquei.

– Sim, todo mundo é lindo. A beleza se esconde nas pessoas, e essa é a melhor parte nela; ela quer ser encontrada. Nós só precisamos achar um jeito de mostra-la a todos. Ninguém é feio, mas ninguém consegue ser belo apenas por querer também.

Suspirei fundo e coloquei a cabeça para fora do vestiário.

– Ela quer ser encontrada, não quer? Então faça favor de encontrar a minha para mim que eu não achei até agora.

Ela sorriu para mim e saiu correndo pela loja para pegar algo para mim. Até que Afrodite não era burra, ela sabia pensar muito bem no que dizer... Quando se tratava de moda e beleza. Além de fazer umas montagens bem legais, que combinavam não só as peças mas também com a pessoa.

Eu não me interessa por essas coisas, mas tinha algo nela que fazia parecer que o mundo todo era perfeito quando estava bonito.

Ela só queria fazer as pessoas ficarem bonitas e com boa alto estima. Se uma coisa eu aprendi com aquela mulher foi todo mundo gosta de ficar bonito, do jeito delas. Isso deixa as pessoas felizes.

No final, tudo que ela queria era trazer felicidade, da forma que ela conseguia. Eu também queria, todos queremos, mas eu nunca iria achar uma forma de trazer, para ninguém. Ou pelo menos era isso que eu achava.

~*~

– Certo... Espero que você goste do resultado, querida - a cabeleireira que estava cuidando do meu cabelo daquele tal salão novo que a minha tia tinha aberto no shopping tinha as mãos macias e uma voz gentil. Ela levou meu cabelo e fez um penteado nele quando nós chegamos lá depois das comprar.

No final eu tinha escolhido um vestido cinza escuro que ia até a altura da coxa, era rodado e tinha mangas. Como a Afrodite tinha me explicado, ninguém precisava ir com vestidos longos ou minha mãe tinha explicito isso quando mandou ela cuidar de mim hoje. E também disso que eu estava perfeita naquela roupa, que eu tinha que levar aquela e deixar que ela escolhesse um par de sapatos para mim, já que tinha visto um salto perfeito para usar com aquele vestido. Eu deixei, não queria me preocupar com comprar e nem nada mais, ela poderia fazer o resto.

Voltando a cabeleireira, ela tinha prendido meu cabelo em um coque meio soltinho, mas tinha me garantido que aquilo não iria soltar nem que eu fosse correr numa maratona de atletismo, e deixou umas mexas caídas de cada lado. O louro do meu cabelo ganhava reflexos de luz por causa da iluminação do lugar. Era coisa de cinema, deixava as pessoas mais bonitas quando estivessem lá dentro, mas depois que saíam dela não era a mesma coisa.

– Eu posso perguntar uma coisa? Por que vocês fazem isso? Quer dizer, usam essas luzes? Além de gastar muita energia fazem mal à pele e deixam as coisas mais bonitas do que elas são. Vão decepcionar a cliente quando ela sair daqui, sabia?

– Querida, a culpa não é nossa. A beleza está nos olhos de quem vê, não é o ditado? - A cabeleireira riu enquanto passava um spray com cheiro de laquê no meu cabelo. - Ela se vêm bonitas, não é uma luz que vai fazê-las mudar de opinião.

– Ela vai influência na opinião da pessoa, é claro que vai mudar!

A mulher trocou olhares com a minha tia quando ela se aproximou e tomou o lugar dela para terminar de arrumar o meu cabelo.

– Vamos, Annie. Falta meia hora para a festa começar e você tem que se arrumar para chegar lá a tempo. - Espirrou mais spray do meu cabelo e eu levantei, pegando as sacolas de compras que eu tinha feito

– Afinal, que festa é essa? - perguntei a Afrodite enquanto nós saíamos do shopping e íamos para o estacionamento pegar o carro dela.

– Sua mãe não te explicou? Não é uma festa, é um jantar, querida

– Disso eu sei, troquei as palavras. Me desculpe.

– Bem, sua mãe quer que você conheça uma pessoa muito importante e vocês vão jantar em um restaurante muito chique, então você precisava se arrumar e ficar bonita para esse dia.

– O.k., e quem é essa pessoa?

– Nem eu sei, nem eu sei.

Talvez minha mãe tivesse falado sobre, mas eu nem lembrava que era um jantar direito por causa desse castigo maldito que eu recebi, tendo que ir ao shopping comprar roupas... com a mulher mais indecisa do mundo quando o assunto são roupas.

E eu ainda tinha perdido a minha bolsa! E ela estava com o irmão daquela garotinha! Meu Deus, e se ele visse o que eu tinha gravado ali?! Estava guardando para o momento certo e para a pessoa certa... E se a minha psicóloga visse aquilo? Eu estaria em maus lençóis. Tanto que eu não parei de tremer o tempo todo.