Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 30
Na hora do resfriado, o sexo masculino é o mais frágil




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O despertador em forma de justaway tocava de forma irritantemente barulhenta, anunciando o horário de acordar. Gintoki tateou de forma preguiçosa e impaciente até achar o dito objeto e silenciá-lo com um soco, para depois murmurar:

— Só mais cinco minutos, Shinpachi-kun...

Não adiantou nada desligar o alarme do despertador, porque o maldito voltava a tocar, disposto mesmo a arrancá-lo do mundo dos sonhos no qual estava. Mundo esse que, em vez de doces, de Jump ou de Ketsuno Ana, tinha coisas mais... Caham... Pervertidas. E envolviam uma mulher loira.

Impressão sua, ou ultimamente estava agindo como um tarado?

Ao se levantar, começou a tremer de frio de forma exagerada. Mas procurou encorajar a si mesmo, pois precisava trabalhar para pagar mais um aluguel atrasado para aquela bruxa velha. Caso contrário, era outro martírio aturá-la.

E, naquele momento, o que mais queria era sossego, ainda mais que o futon ainda o atraía como um ímã de ferro velho fazendo com que uma sucata se grudasse nele. Não, não podia voltar a dormir... Tinha que ter força de vontade, tinha que tirá-la de algum lugar e encarar o vento gelado do inverno.

Relutante, pegou uma muda de roupas e foi ao banheiro se trocar e lavar a cara. Saiu de lá trocado, vestindo sua costumeira roupa preta e seu quimono branco. Sentia o corpo pesado, ao mesmo tempo em que começava a suar.

Apesar disso, não dava a mínima ao que sentia. Sem contar que precisava também garantir a sua nova edição da Shounen Jump, e isso era mais sagrado do que tudo!

Vestiu seu casaco de frio, pôs as luvas e as botas e mais uma vez enxugou o suor que brotava da sua testa, mesmo ele morrendo de frio. Seu rosto estava mais pálido e abatido, o que chamou a atenção de Shinpachi e Kagura.

— Gin-san – Shinpachi questionou. – Você está bem?

Ele nada respondeu. Abriu a porta corrediça e, quando uma lufada de vento gelado o atingiu, ele caiu duro para trás. Não era preciso repetir a pergunta que fora feita antes. Tava mais do que na cara que o Yorozuya não estava nada bem. Estava pálido e febril... Além de tremer de frio de uma forma ainda mais absurda.

Não restou outra coisa para o garoto de óculos e a Yato fazerem além de arrastá-lo de volta ao quarto.

*

O som de uma tosse carregada ecoou na Yorozuya durante toda a manhã, acompanhada de fungadas e muitas, mas muitas, reclamações. Gintoki havia contraído um belo de um resfriado, por conta do dia anterior na pista de patinação no gelo e do tempo que ficou sem qualquer agasalho numa cabana gelada onde também estava o Shogun e aquele Mayora sacana.

Após terminar mais uma sessão de tosse, acompanhada por espirros e uma generosa assuada no nariz, o ex-samurai se deitou mais uma vez. Ainda tremia de frio, mesmo com três grossos cobertores sobre ele. A compressa que estava sobre sua testa para abaixar a febre já havia se esquentado e Shinpachi acabava de trocar por uma nova.

— Shinpachi-kun, perdemos o serviço, não perdemos?

— Infelizmente, sim, Gin-san. O nosso cliente não podia esperar para quando você melhorasse.

— Povo mais impaciente...! E já tô até prevendo a velha vindo me cobrar o aluguel atrasado de novo! Cara...! Quando eu queria ter alguma motivação sempre acontece algo pra me desmotivar...!

— Foi apenas um imprevisto, Gin-san.

— Isso foi culpa daquele Mayora idiota, que me deixou passando frio só de sacanagem!

— A culpa não é só do Hijikata-san.

— Eu espero sinceramente que a vida o puna, que sofra uma maldição vinda do protagonista, ou seja, eu!

— Não está sendo meio dramático?

— Como assim, “meio dramático”? – o albino se levantou e agarrou o quimono do Shimura. – Eu posso morrer a qualquer momento!

— É apenas um resfriado forte, Gin-san.

— E se não for? Meu corpo tá todo dolorido, eu tô cozinhando de febre e morrendo de frio com três cobertores! Como eu não vou morrer?

— Eu já disse que é só um resfriado forte. DÁ PARAR COM ESSE DRAMA TODO?

— Você é um médico, por acaso? Hein? Hein? Como você tem tanta certeza assim de que eu apenas peguei um forte resfriado?

Gintoki voltou a se deitar após tossir e assuar o nariz. A febre não baixara ainda e ele ouviu a campainha tocar. Ouviu a porta corrediça sendo aberta por Kagura, que disse:

— Gin-chan, é a Tsukky.

Ela chegou ao quarto do ex-samurai, que ainda tremia de frio por conta da febre. Ele não se aguentou e disparou:

— Ei, Tsuki... Por que você não me aquece como o Shun aquece o Hyoga?

A loira corou imediatamente. Que ideia maluca era essa que ele tivera? Precisava dar um desconto, porque ele poderia estar delirando com a febre. Mas a resposta foi categórica:

— Não. Não tô nem um pouco afim de pegar o seu resfriado.

— E... Se eu estiver pra morrer...?

— É só um resfriado forte, Gintoki. Não seja tão dramático.

Gintoki fez bico e se emburrou como um menino birrento. Era incrível como ele, nessas horas, parecia um garoto preso no corpo de um homem já adulto. Havia coisas que ele fazia e dizia de forma incrivelmente infantil. Apesar de ser meio irritante, isso era engraçado.

Talvez fosse necessário, para que ele não fosse previsível ou chato. A cada dia, Tsukuyo via uma faceta diferente do ex-samurai. E as facetas dele eram tantas quanto eram seus disfarces.

Ele se virou no futon e resmungou:

— Se eu morrer, vou voltar do mundo dos mortos e puxar os pés de todos vocês! Quer saber? Vou dormir que ganho mais!

Tsukuyo teve vontade de rir. Ele realmente parecia um menino birrento preso no corpo de um adulto. Ele se virou novamente e recolocou a compressa de água fria na testa, para depois fechar os olhos e tentar cochilar... E continuava com cara de emburrado.

Enquanto Shinpachi saía dali para executar os afazeres de casa, a kunoichi ficava a sós com o Yorozuya. Ela não resistiu à tentação de passar a mão por entre os cabelos prateados dele e brincar com as mechas macias. Ele abriu os olhos rubros e, quando ela iria tirar a mão do seu cabelo, ele a segurou e não permitiu que isso fosse feito. Ela permaneceu lá por mais algum tempo ali brincando com o cabelo dele, até que ele adormeceu.

Tsukuyo já ia se levantar dali, quando sentiu que a manga de sua roupa preta era puxada.

— Não vai rolar nem um beijinho de despedida? – ele bocejou. – Se for na minha testa, não vai pegar o meu resfriado.

Ela cedeu. Abaixou-se e, quando ia beijá-lo na testa, ele a puxou de modo que os lábios dela encontraram os seus. Ele era esperto. Muito espertinho. Mas ela não resistiu e cedeu de vez. Não estava nem aí se pegaria o resfriado dele ou não. Estivesse ele bem ou não, beijá-lo nunca era demais.

Era como se o tempo parasse mais uma vez para ambos. Era como se nada mais importasse e apenas existissem os dois em todo o mundo. Separaram-se e se entreolharam, Gintoki já temia até alguma reclamação dela, ou até mesmo um tabefe, mas isso não ocorreu. Tsukuyo apenas sorriu, como se dissesse “Ok, você venceu!”, e o surpreendeu tomando a iniciativa de mais um beijo.

Após se separarem mais uma vez, novamente os dois se entreolharam. Até que ela quebrou o silêncio:

— É melhor descansar, Gintoki. Você precisa baixar essa febre e tomar um bom caldo de arroz. Vou a Yoshiwara, a Hinowa já deve estar preocupada com a minha demora.

Em seguida, ela se despediu, agora, com um singelo beijo na testa do ex-samurai. Este acabou caindo no sono logo em seguida.


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