Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 29
Pior que estar amarrado e amordaçado é estar junto a um mala sem alça




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Logo que a fumaça se dissipou da pista de patinação no gelo que agora estava destruída, Shinpachi acordou ao mesmo tempo que Kondo. Os dois olharam para um lado, olharam para o outro, viram que Hinowa, Seita, Kagura, Okita e Yamazaki acordavam meio atordoados da bomba de fumaça, mas faltavam mais pessoas.

— Ei, cadê o Gin-san e a Tsukuyo-san? – Shinpachi interrogou.

— Pelo jeito o paradeiro deles pode ser o mesmo do Toshi e do Shogun-sama. – Kondo respondeu.

— Mas... Quem iria sequestrar o Shogun?

— O Joui.

— Acho que o Katsura-san seria muito idiota de carregar o Gin-san junto. – Shinpachi disse. – O Gin-san com certeza o mataria.

*

Gintoki foi o primeiro a acordar, tentando se situar após inalar aquela fumaça vinda de uma bomba arremessada de sabe-se lá onde. Não reconhecia aquele lugar, mas tudo ali tinha cara de que ele estava enfiado em uma cabana. Estava sentado no chão e sentia suas mãos e seus pés amarrados, bem como tinha em sua boca uma mordaça firmemente amarrada.

Sentiu também que estava costas contra costas com alguém. Olhou para trás e, com o canto do olho, viu quem era. Ao ver, sua cara se fechou ainda mais. Com tantas pessoas com quem ficar preso, tinha que ser logo aquela pessoa?

Não era Tsukuyo. Aliás, não era nem com uma mulher, pra começar. Era com um homem que ele estava amarrado. Tudo bem, não teria tanto problema assim, porém esse macho em questão era o pior da espécie. Cabelos negros, olhos azuis, cara de idiota e igualmente amordaçado denunciavam que o homem em questão era aquele que, toda vez que cruzava seu caminho, sentia vontade de matá-lo.

O Vice-Comandante Hijikata Toushirou.

Por seu lado, Hijikata também não morria de amores pelo sujeito que estava amarrado com ele. Aliás, os dois nutriam uma implicância recíproca. Pior que aturar aquele sujeito de cabelo ruim era ouvir aquele moleque sádico lhe dizendo que o Yorozuya estava vários passos à frente dele... E jogando na sua cara que o bastardo viciado em doces era mais macho do que ele por estar com uma mulher.

Aquilo o irritava, juntando à simples presença daquele idiota de cabelo ruim prateado. E no caso de Gintoki a recíproca era cem por cento verdadeira.

Os dois estavam desarmados. Hijikata estava sem a katana e Gintoki, sem a sua bokutou. Isso era ainda pior. Impossibilitados de travar qualquer diálogo ou xingamento, os dois tentavam se comunicar de alguma forma, até que tentaram se levantar ao mesmo tempo, para ficarem pelo menos em pé. Após duas tentativas nas quais voltaram a cair sentados no chão, eles conseguiram.

As mãos do moreno, amarradas para trás, tatearam o bolso de trás da calça. Por sorte – se é que era sorte – estava sem seu casaco pesado que usava sobre a farda e sem seu casaco normal que usava por baixo. Eles estavam jogados em um canto daquele cômodo, junto com o casaco e o quimono branco do Yorozuya. Os dois homens estavam tremendo de frio, parecia que a temperatura estava despencando a cada minuto.

Depois de muito trabalho, o Vice-Comandante do Shinsengumi conseguiu tirar do bolso seu fiel isqueiro em forma de frasco de maionese. O albino não conseguia ver o que o moreno fazia, até que ouviu um estalo e algo esquentando ali. Sentiu que era empurrado e caiu de cara no chão, fazendo resmungos ininteligíveis na intenção de xingar Hijikata.

Mayora maldito! Conseguira se soltar, mas propositadamente não soltara seu rival! Ah, se pudesse tirar aquela droga de mordaça...! Não, nem precisava tirar a mordaça. Se estivesse em pé e com um braço livre, não hesitaria em acertar-lhe um poderoso soco no meio de sua cara.

Ao ver a expressão enraivecida de Gintoki, que murmurava, de forma incompreensível, possíveis xingamentos dos mais simples até os mais cabeludos, Hijikata fez questão de vestir com calma o casaco da sua farda e, em seguida, vestir seu sobretudo também preto, parte da farda do Shinsengumi no inverno. Deu um sorriso debochado ao terminar de vestir tudo e com a maior tranquilidade pegou um cigarro, acendeu-o e deu um trago, para depois soprar a fumaça, expelindo-a dos seus pulmões.

Enquanto isso, um enraivecido ex-samurai se contorcia como uma minhoca e querendo ser solto de qualquer maneira... Sem contar que estava mais do que irritado com o descaso do Mayora. Bufava de tanta raiva e, ao mesmo tempo, morria de frio, pois estava apenas com a camisa preta de manga curta, as calças e as botas. Pressentia que, depois dessa, iria pegar um gripão danado.

— Nem com mordaça você para, Yorozuya... Você é irritante com ela ou sem ela.

Nisso, o moreno sacou novamente seu isqueiro e queimou a corda que imobilizava o albino que, tremendo de frio, vestiu logo o quimono branco e o casaco grosso. Já batia os dentes de frio àquela altura. Logo que se sentiu aquecido, seu rosto ficou vermelho e se sentiu em ponto de ebulição ao ver a cara debochada de Hijikata o encarando.

Não pensou duas vezes e agarrou o Vice-Comandante pela gola do sobretudo e ficou cara a cara com ele:

— VOCÊ TAVA CLARAMENTE FAZENDO HORA COM A MINHA CARA, NÃO TAVA?

— Quer mesmo que eu responda a essa pergunta, aberração do açúcar?

— Eu deveria desfigurar essa sua cara com um soco muito bem dado...!

— Então vem logo, cabelo-ruim! – Hijikata provocou.

— Não fale do meu cabelo! Só eu sei o sofrimento de ter um cabelo assim, e o único que pode falar mal dele sou eu!

No momento em que os dois iam se atracar, escutaram a porta do cômodo onde estavam se abrir. Com certeza, haviam escutado toda a confusão que Gintoki e Hijikata estavam fazendo. A dupla logo se calou e cada um se colocou de um lado da porta. A porta se abriu de supetão, acertando bem a cara do Vice-Comandante do Shinsengumi, que, por reflexo, a empurrou com força e acertou quem entrava. O barulho de quem caía se fez ouvir ao mesmo tempo em que o ex-samurai fez um facepalm.

— O que foi, Yorozuya? – Hijikata perguntou furioso e passando a mão no nariz dolorido.

— O que você acha, idiota? – Gintoki respondeu. – Você acaba de acertar uma portada bem na cara do Shogun!!

— COMO É QUE É?

O faz-tudo abriu novamente a porta e viu o Shogun Tokugawa Shige Shige estatelado no chão e, pra variar, completamente desacordado. Parecia que o governante de Edo tinha como destino levar pancadas na cabeça e sempre desmaiar.

Mas, como o que era ruim poderia piorar, acabou piorando. Os três homens acabaram cercados por várias katanas afiadas apontadas para eles.

— Ei, ei, Hijikata-kun... – Gintoki disse após engolir seco. – Já que dizem que você é o “Cérebro do Shinsengumi”, pensa aí numa boa estratégia pra gente sair vivo dessa...!

— Por que você não pensa em uma, seu retardado fanático por doces? – o moreno questionou.

Antes que o Yorozuya abrisse a boca para soltar o verbo, os homens que estavam ali armados caíram instantaneamente graças a uma chuva de numerosas kunais certeiras que os atingiram.

Tsukuyo, a autora da proeza, andou tranquilamente por entre os homens abatidos por ela e disse:

— Vocês demoraram, Gintoki.

— A culpa é desse Mayora degenerado que ficou me sacaneando! – ele respondeu olhando torto para o moreno, que apenas deu um sorriso cínico que o tirou novamente do sério. Porém, a loira acertou-lhe uma kunai na testa.

Ele encarou a kunoichi com surpresa e logo protestou, ao mesmo tempo em que retirava a kunai cravada em sua testa:

— QUALÉ, TSUKUYO, QUE NEGÓCIO É ESSE DE ACERTAR UMA KUNAI NA TESTA DO SEU NAMORADO?

— Desculpe – ela disse. – É o hábito.

— Mesmo que seja um hábito, não precisava aplicá-lo em mim!

— Ei, vocês dois! – Hijikata alertou. – Isso não é hora de fazer uma discussão de relacionamento! Nós precisamos sair daqui com o Shogun!

Após dizer isso, foram cercados por mais homens armados com katanas. Quem disse que a fuga seria fácil? O Yorozuya e o Vice-Comandante do Shinsengumi logo viram que dois desses homens estavam, respectivamente, com a bokutou Toya-ko e a katana Muramasha. Os dois não pensaram duas vezes e, desarmados mesmo, partiram para cima do bando a fim de recuperar o que era deles por direito e deixando com Tsukuyo a responsabilidade de proteger Tokugawa Shige Shige, que seguia desacordado, já que esse parecia ser seu carma.

Com socos e chutes, além de vários golpes combinados, Gintoki e Hijikata conseguiram alcançar os homens que portavam suas armas. Num trabalho conjunto – algo não muito comum entre dois homens que constantemente trocavam insultos e golpes entre si – eles se colocaram diante de seus adversários, sendo que o albino estava de costas para o moreno. Assim que viram que seriam atacados, eles se abaixaram no mesmo momento e desferiram uma rasteira, derrubando os homens e tomando de volta a espada de madeira e a katana, para em seguida rendê-los.

Em seguida, ouviu-se uma porta sendo explodida, sinal de que o restante do Shinsengumi chegava para fazer a festa e pegar os sequestradores do Shogun. Os que ainda estavam conscientes foram logo dominados pelos homens fardados de preto, enquanto Okita entrava empunhando a bazuca. Após a prisão do grupo, que era dissidente do Joui – portanto, não possuía qualquer vínculo com o grupo de Katsura – Gintoki e Tsukuyo saíram logo dali enquanto Hijikata xingava todo mundo por conta da demora de seus comandados.


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