Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 31
Sobre stalkers, neve e mão boba




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Sentiu algo pesado por cima de seu corpo. Apesar disso, estava bem quentinho, Shinpachi provavelmente colocara mais algum cobertor. Era um calorzinho até bom, embora não parecesse calor de cobertor. Acordou e esfregou os olhos. Quando sua visão se focalizou, percebeu que, além dos três cobertores que o aqueciam, havia um corpo de mulher por cima dele.

Engoliu seco quando percebeu quem era... E soltou um berro para, em seguida, se arrastar, sentado mesmo, até a parede oposta. Ouviu a porta corrediça se abrir e um esbaforido Shinpachi entrar.

— Gin-san, o que houve? – ele perguntou. – Tá tudo bem com você?

— O que você acha, Shinpachi?? – o Yorozuya, com cara de assustado, apontava para a mulher jogada em cima do seu futon.

A mulher em questão se levantou e já foi pra cima do albino gritando:

— GIN-SAN!! EU SEREI SEU SHUN E VOCÊ SERÁ MEU HYOGA!! VEM CÁ PRA EU TE AQUECER!

Gintoki logo colocou o pé na cara de Sacchan, a fim de impedir que ela se aproximasse ainda mais dele e berrou:

— MAS NEM PENSAR! PREFIRO MORRER DE FRIO E FICAR COM FEBRE A VIDA INTEIRA A DEIXAR LOGO VOCÊ ME ESQUENTAR!

Kagura logo apareceu pra ver o que estava acontecendo:

— Tava demorando pra acontecer isso, não tava? – ela questionou.

— Tava, sim. Eu já tava até estranhando.

Os dois saíram dali, deixando o pobre Yorozuya sozinho. Este protestou:

— QUER DIZER QUE VOCÊS VÃO ME DEIXAR AQUI COM UMA MALUCA? QUE TIPO DE AMIGOS VOCÊS SÃO, HEIN? COMO VOCÊS PODEM ABANDONAR SEU POBRE AMIGO DOENTE À MERCÊ DE UMA MALUCA SADOMASOQUISTA?

— Gin-san, não precisa ficar assim! – Sacchan disse com voz sexy. – Apenas quero cuidar de você.

— De você, eu não quero cuidado nenhum! Cai fora!

A ninja de cabelos púrpura tentou avançar já fazendo biquinho para beijar o ex-samurai, porém um golpe em sua nuca a apagou após a porta corrediça se abrir. Era Tsukuyo quem chegava com tranquilidade e dizia:

— Tava demorando pra ela fazer isso, não é, Gintoki? – a loira o encarou com olhar cético.

— Eu estava até estranhando essa doida demorar tanto a me atacar. – Gintoki se levantou ainda meio constrangido com o que passara há pouco. – Mas você voltou rápido, só dei uma cochilada!

— Você não sabe que horas são?

Gintoki olhou para o seu despertador em forma de justaway e tomou um susto. Já eram seis horas da tarde, o que significava que ele havia dormido por sete horas! No entanto, esse tempão de sono o fazia se sentir bem melhor. Apesar de ainda estar com o nariz escorrendo, espirrando e tossindo, sentiu que sua febre havia abaixado consideravelmente. Não havia baixado de todo, mas estava reduzida o suficiente para não ficar tremendo de frio de forma exagerada.

Foram à sala, onde ficaram a sós, enquanto Shinpachi e Kagura estavam no kotatsu brigando para ver quem pegava mais comida. O Yorozuya foi até a janela que ficava atrás da sua escrivaninha e abriu a cortina. Em seguida, desembaçou o vidro transparente e pôs-se a olhar os flocos de neve voltando a cair em Kabuki.

A neve trazia à sua memória o momento em que sua vida passava por uma grande mudança após a guerra e após ser salvo de uma execução. Tsukuyo percebera o olhar nostálgico que Gintoki exibia sem querer.

— Essa neve te lembra alguma coisa? – ela perguntou.

— Aham.

— O que te lembra? Posso saber?

— Lembra o dia em que eu renasci... Desde então sou o que sou agora.

— Tem a ver com a guerra em que você participou?

Ele já lhe havia contado, por alto, a respeito de sua vida no passado. As coisas boas e as coisas ruins, predominando os dias amargos como “demônio devorador de corpos” e como “Demônio Branco”, o lendário Shiroyasha. Um passado do qual não se gabava nem um pouco e nem mesmo ao qual se apegava... Mas algo que queria esquecer.

Ambos tinham passados trágicos e, de certo modo, bastante solitários. E, depois de certo tempo, em algum dia reconstruíram suas vidas. O sorriso de Gintoki era nostálgico, mas ao mesmo tempo era um sorriso aliviado por se lembrar de que fora num dia como aquele que sua vida mudara. Fora naquele dia que passara a viver em Kabuki, graças àquela velha senhora que vivia na parte de baixo do prédio no qual morava.

— Eu não sei o porquê, mas acho bonito um cenário com neve. – Tsukuyo disse enquanto procurava a mão do albino para segurar, meio que por instinto.

— Por quê? – ele sentiu a mão dela na sua e a segurou.

— Eu disse que não sei. – ela entrelaçou seus dedos nos dele. – Mas posso dizer que hoje acaba lembrando a cor do seu cabelo.

— Não sei o que meu cabelo tem de tão especial.

— Bobo... O seu cabelo reflete a sua personalidade.

— A de quem enrola pra pagar o aluguel atrasado? – ele brincou.

— A personalidade de alguém imprevisível. – ela sorriu.

— Imprevisível... Assim?

Após fazer essa pergunta, ele a surpreendeu, colando seus lábios nos dela, num beijo ardente e cheio de vontade. Devorava os lábios de Tsukuyo com anseio, mas saboreando-o mais e mais. Não resistia muito tempo sem fazer aquilo, de tanto que se tornara um hábito. Passou o braço pela cintura da loira e a abraçava de forma meio protetora e meio possessiva. Aquele contato o fazia se sentir cada vez melhor...

... E mais assanhado, porque, ao mesmo tempo em que a encostava contra a mesa, lá ia uma das mãos dele direto à perna dela, que ficava exposta, apenas com a característica meia arrastão. No entanto, uma das mãos de Tsukuyo logo o deteve.

— Gintoki... – ela sussurrou. – Aqui não...

— Por que não? Estamos apenas nós dois aqui.

— Primeiro, porque você ainda precisa baixar essa febre e continuar em repouso. E, segundo... – ela apontou com o olhar para onde estava Shinpachi, que tapava com as mãos os olhos de Kagura.

Uma veia saltou no rosto do albino, que berrou:

— EI, QUE INVASÃO DE PRIVACIDADE É ESSA?

— Foi a Kagura-chan! – Shinpachi logo respondeu. – Ela que é curiosa demais!

— Mentiroso! – Kagura contestou. – Você também queria ver e ficar com inveja, par de óculos nerd e virgem!

— O QUE FOI QUE DISSE, PIRRALHA?

— O que você ouviu. – a garota ruiva rebateu o garoto de óculos.

E assim, a discussão entre os dois adolescentes se acalorou, enquanto Gintoki e Tsukuyo se entreolharam, chegando a uma conclusão.

Definitivamente, precisavam ter cuidado com menores por perto.


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