Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 44
Conforme o planejado


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma leitora mostrou preferência por um dia da semana, e como para ela é melhor na quarta-feira, iremos postar nesse dia.
Não temos muito o que dizer sobre o capítulo, só que estamos ansiosas para saber a reação de vocês.



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*Narrado por Avery Hopper

Esse dia foi bem diferente dos anteriores. Já estávamos no hotel há um tempo, talvez mais de um mês. Todos estavam espalhados pelo local, decidindo o que fazer. No geral, eles se preocupavam com a segurança do lado de fora, se iriam fazer uma cerca ou algo do tipo. Carl e Patrick estavam na garagem olhando os carros, e minha mãe deixou bem claro que eu não deveria mexer com eles. Scott e Mika brincavam pelos corredores. Minha mãe e Daryl deveriam estar em seu lugar preferido, o terraço. Eu, sem nada específico para fazer, fui para a brinquedoteca procurar algo para fazer, e encontrei Sarah lendo um livro fino de contos de fadas em voz alta.

Fiquei parada, apenas ouvindo a história que ela lia tão centrada. Esperei que ela finalizasse e me aproximei bastante curiosa e com cautela para não assustá-la. Logo que me viu ela sorriu.

– Você está aí Avery – Sarah disse. – Nem percebi.

– O que você estava fazendo? – perguntei curiosa.

– Eu estava lendo para ele – Sarah respondeu acariciando a barriga já grande. Fiz uma carreta de confusão e ela prosseguiu. – Minha mãe costumava ler para meu irmão quando ele ainda estava no ventre dela. Tenho muitas lembranças daquela época... Achei que era uma boa ideia ler para ele também.

– E você acha que é menino ou menina?

– Eu várias vezes tentei chegar a uma conclusão. Minha mãe dizia que gravidez de menino era mais agitada. Eu não sei exatamente se a minha gravidez está sendo agitada ou não, eu precisaria de um parâmetro para comparar. Só sei que esses últimos dias eu ando bem cansada, meus pés estão inchados, fora as dores.

– E esses sintomas são normais? – perguntei preocupada.

– A maioria sim. O cansaço é por conta da dificuldade de respirar, com o crescimento do bebê alguns órgãos são comprimidos, o diafragma é um deles. Os pés inchados são absolutamente normais e as dores são as contrações.

– Você já está sentindo as contrações? – meu conhecimento sobre gravidez não era muito amplo, mas pelo pouco que eu havia aprendido em Ciências, as contrações indicavam que o parto estava próximo.

– Sim, começaram fracas e em intervalos maiores, mas agora estão ficando mais regulares.

– E você acha que já está perto de nascer?

– Acredito que seja nas próximas semanas, se tudo ocorrer dentro da normalidade. A sorte é que temos um lugar seguro.

– Só uma coisa. Como vai ser o parto se você é a médica e está grávida? – era uma dúvida que eu tinha desde o começo, e só agora havia encontrado espaço pra perguntar.

– Já conversei sobre isso com a Maggie. Ela fez o parto da Lori e estará preparada para eventuais problemas.

– Então você não descarta a possibilidade de ter que fazer uma cesariana? – perguntei curiosa.

– Na hora do parto pode haver uma falta do hormônio ocitocina, que provoca as contrações uterinas. Isso vai impedir que o bebê nasça naturalmente, e teríamos que fazer uma cesariana. Por enquanto as contrações me parecem normais. Apesar do meu conhecimento em obstetrícia ser vago, eu já participei de alguns partos emergenciais onde foi necessário aplicar o hormônio, mas obviamente não o temos disponível.

– E se tudo ocorrer bem e o parto for normal?

– Não há muito a se fazer, a expulsão do bebê do útero vai acontecer naturalmente, apesar de que podem se levar horas para isso – ela disse após espirar com dificuldade. – Espero não estar embolando sua cabeça com esses nomes e procedimentos.

– Na verdade eu nem me lembro dessa matéria de hormônios, apenas da retroalimentação positiva e negativa – falei fazendo uma careta. Ciências e Matemática sempre foram as matérias em que eu mais tive dificuldade na minha vida escolar. – Na verdade nunca achei que isso teria uma utilidade, mas, principalmente nos dias de hoje, acho que eu me enganei.

– Avery, você poderia me ajudar a pegar um copo de água? – Sarah pediu se levantando com dificuldade.

– Não precisa, eu pego para você.

Andei até o balcão da brinquedoteca onde uma jarra de água estava devidamente colocada com dois copos de vidro que deveriam ter sido encontrados na cozinha. No momento em que eu ia começar a encher o copo, fui interrompida.

– Avery... – me voltei para Sarah com um sorriso, mas ela tinha uma expressão muito apreensiva. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, algo acertou a minha cabeça com força, e última coisa que pude escutar antes de desmaiar foi o copo de vidro se quebrando.

*Narrado por Sarah West

– Avery, você poderia me ajudar a pegar um copo de água? – pedi tentando me levantar.

– Não precisa, eu pego para você – ela falou e eu agradeci com um sorriso.

Avery foi até o balcão onde havia dois copos de vidro e uma jarra cheia de água. Ela não notou quando dois homens saíram de dentro do balcão. Um deles tinha cabelos e barba rasos, uma expressão estranha e aparentava ter mais de 35 anos. O outro, para a minha surpresa, era mais familiar do que eu poderia imaginar.

– Avery... – tentei alertá-la, mas já era tarde de mais. O primeiro homem pegou um pedaço de madeira e bateu na cabeça dela com força, deixando-a desacordada.

Eu fiquei paralisada no meio da sala, e estava dividida entre ir até Avery e ver se ela estava bem ou sair da sala antes que aqueles dois fizessem algo comigo. Nem um desses lados dominava meu corpo, e sim o choque, que me fazia ficar parada ali sem qualquer reação. De repente, minhas pernas perderam a força e fraquejaram, meu corpo inteiro foi ao chão produzindo um forte estalo. Permaneci com os olhos fechados ainda sem forças para tentar sair dali, eu desejei mentalmente que aquilo tudo fosse um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Nada pareceu mudar, apenas um vento frio invadiu a sala fazendo com que eu ficasse ainda mais arrepiada. Abri os olhos, e lá estavam os dois na frente do corpo desacordado e estirado no chão de Avery, o primeiro com um olhar mais sério e o segundo com um sorriso cínico nos lábios, que me fez gelar. Recolhi as forças que tinha e me apoiei na no móvel organizador tentando ficar de pé, mas o máximo que consegui foi me sentar, e ele continuava a sorrir como se aquilo tudo tivesse graça. Trinquei os dentes e o encarei severamente tentando passar toda a raiva que eu sentia em vê-lo mais uma vez. Aquele passado que eu fazia de tudo para esquecer e ignorar voltava, e James estava diante de mim.

– O que vamos fazer com a loirinha? – o outro homem perguntou.

– Ela não estava nos planos, mas vamos levá-la – ele respondeu.

– Levar? – falei confusa com aquela situação. Toda a pose de severa que eu tentava fazer se desmanchou em segundos e o desespero parecia tomar conta da minha face. – Levar ela para onde?

– Ela não, vocês duas – James disse se aproximando. – Você vai vir comigo.

Essa afirmação me deixou ainda mais assustada. Eu estava completamente indefesa naquela sala, com Avery desacordada e dois homens que queriam nos sequestrar. Minha cabeça parecia rodar e eu simplesmente não sabia o que fazer. Eu nunca havia pensado na possibilidade de reencontrá-lo. Mas no final, não dá para fugir do passado, ele sempre estará atrás de você. Toda aquela dor física e mental que James havia me causado voltava, e eu ainda não sabia o que fazer. Ele veio até mim e segurou meu braço com força, o que só aumentou o meu desespero.

– Vamos – me encolhi um pouco e tentei me arrastar para trás. – Seja boazinha, não vou fazer mal a você – no momento em que James falou isso, não pude evitar uma risada irônica e nervosa, o que o deixou mais irritado. – O carro está lá atrás, temos que sair sem chamar atenção.

Como eu estava em enorme desvantagem, obedeci sem contrariar aquilo, mesmo que coisas horríveis poderiam me aguardar. O outro homem colocou Avery nas costas, enquanto James me puxava pelo pulso. Eu me sentia muito fraca, não só por não conseguir enfrentá-lo, mas também porque todas as minhas forças pareciam escorrer pelas minhas mãos trêmulas, dando lugar ao medo.

Tudo aquilo parecia ter sido planejado: a posição estratégica do carro, a entrada no hotel, a escolha da sala, e, o que confirmava essa suspeita, a menção a um plano do qual Avery não fazia parte. Mas eu não conseguia entender que fim levariam esses planos, e o motivo de tudo isso.

Depois de uma pequena caminhada, chegamos a um carro esportivo preto. Sem opções e chances de pedir ajuda, fiz o que eles mandavam, não pela minha vida, e sim pelas de Avery e do bebê. Entrei na parte de trás do carro, onde ela havia sido jogada sobre os bancos. Apoiei a cabeça de Avery em minhas pernas e comecei a examinar seu estado, até constatar que ela estava apenas desacordada, o que foi um grande alívio. Joguei minha cabeça para trás e suspirei aliviada enquanto James dava a partida. Estranhei a ausência do seu parceiro, que não estava lá.

– Não se preocupe, logo você entenderá a situação – James começou. – Ele foi apenas ajudar um amigo. Está tudo conforme o planejado.

*Narrado por Gabriela Hopper

– O que está acontecendo? – comecei a descer as escadas rapidamente e Daryl me seguiu. Do terraço pude ver um carro preto parado do lado de fora do hotel. Logo nos andares mais baixos pude ver os outros em movimento, pegando armas de fogo e se dirigindo para o jardim.

– Pessoas, mas não sabemos quem são – Glenn respondeu enquanto corria com duas armas na mão em direção à entrada.

De certa forma, fiquei um pouco animada com a possibilidade de conhecer pessoas novas. Pelo tempo que havia convivido com o grupo, parecia que éramos os únicos sobreviventes, já que nos últimos meses não vimos outras pessoas. Essa animação toda foi embora quando notei as expressões agressivas de todos que estavam lá, exceto as crianças, que estavam mais ao fundo com Maggie. Todas as armas eram apontadas para os dois homens, que estavam parados ao lado de um carro.

De onde eu estava não era possível ver muita coisa, mas os outros pareciam conhecer aqueles estranhos. Um deles usava um sobretudo preto comprido e um tapa-olho sobre o olho direito. Ele possuía cabelos castanhos com alguns fios grisalhos. O outro homem aparentava ser alguns anos mais novo que o primeiro, tinha uma barba rasa e cabelos curtos.

– Quem são eles? – finalmente consegui perguntar, quase sussurrando.

– O Governador – Daryl respondeu sem desviar o olhar.

– E o que eles querem?

– É o que vamos descobrir – ele me respondeu enquanto Rick dava um passo à frente.

– O que você quer? – Rick falou com um tom ofensivo.

– Você sabe muito bem o que eu quero – o homem de tapa-olho, que deveria ser o Governador também deu um passo à frente. Ele falava como se aquilo fosse um discurso. – Já tentei de várias formas, mas vocês continuam resistindo. Eu usei maneiras muito indiretas, mas agora notei que preciso te enfrentar de frente, e dessa vez só um de nós vai sobreviver.

– Prefere fazer isso aqui e agora?

– Não, eu já consegui o que queria aqui. Nosso embate está próximo, Rick Grimes.

– Acha mesmo que eu irei até você? Não me parece uma ameaça.

– Você virá até mim, eu tenho certeza disso. A menos que a grávida não signifique nada para você – nesse momento, senti um enorme arrepio e quase soltei meu machado no chão.

– E a loirinha também – o outro homem fez um comentário que parecia insignificante, mas algo me dizia que eu sabia quem era essa “loirinha”.

Eu não conhecia o Governador, mas logo no primeiro encontro ele havia me passado uma impressão assustadora. Esse desespero continuou quando eu comecei a procurar Avery, e notei que ela não estava com as crianças. Estavam todos lá, Carl, Patrick, Scott e Mika, menos ela. Fiquei inquieta, e senti uma enorme vontade de procurá-la por todo o hotel, ou talvez falar com o Governador e tentar descobrir se aquilo tudo que eles estavam falando era verdade.

– O que você fez com a Sarah? – Rick perguntou num tom mais desesperado, dando outro passo à frente.

– Na verdade eu não fiz nada, Martinez pegou elas. Provavelmente já estão muito longe daqui. Bem, acho que já perdemos tempo de mais. Agora que você conhece a situação, a escolha é sua. Vou estar aguardando.

O Governador abriu a porta do carro e Martinez fez o mesmo na parte de trás. Dei um passo à frente, eles não poderiam ir embora, não daquele jeito. Num momento rápido, Rick disparou na direção deles, mas o tiro atingiu o carro. O Governador entrou no veículo com pressa e eu dei outro passo à frente. Rick disparou novamente, e dessa vez acertou Martinez, ao mesmo tempo em que o carro começou a andar.

Aquele disparo me deixou um pouco zonza. O som parecia ecoar como um zumbido na minha cabeça, a isso me deixou mais desesperada do que eu já estava. Eu poderia ter prestado atenção nos detalhes, ter visto onde Martinez foi baleado, me importado com o fato de ele ter sido deixado para trás pelo Governador, ou acompanhado os outros na corrida até o homem ferido, mas nada disso importava.

Senti minhas pernas mais fracas e perdi o equilíbrio, como se a gravidade estivesse aumentando e me atraísse para o chão. Minha visão estava turva e eu via tudo duplicado. Minha cabeça latejava e as pálpebras foram se fechando lentamente. Antes de a inconsciência me vencer meu corpo cedeu e eu cambaleei um pouco antes de tombar no chão.


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Notas finais do capítulo

Finalmente o tão aguardado Governador, e o James também, apesar de aguardado, não é tão querido como o Philip/Brian.
O próximo capítulo vai ter uma dinâmica diferente, semana que vem vocês entenderão.
Deixem a sua opinião! Estamos bastante curiosas!