Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 37
Mau funcionamento


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, nós realmente quebramos os limites anteriores de palavras. Foi o maios capítulo que escrevemos até agora, talvez porque as três narradoras filosofaram bastante.
Fizemos um flashback no meio, esperamos que não tenha ficado confuso. Resolvemos colocar a narração em 3ª pessoa porque não somos muito fãs de pretérito mais-que-perfeito.
Esperamos que gostem! Boa leitura!



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*Narrado por Sarah West

Não fazia muito tempo que Daryl e Gabriela haviam saído, mas era impossível contar as horas. Após a partida, todos ficaram alguns segundos observando a moto até que ela sumisse no horizonte.

Minutos depois, Glenn e Maggie vieram até mim. Ela tinha uma aparência péssima, como se estivesse muito doente. Ele estava bastante preocupado. Glenn ajudava Maggie a andar, o que só confirmava a impressão que sua aparência deixava.

– Maggie me pediu para trazê-la aqui – Glenn começou. – Ela está muito fraca e quer conversar com você – assenti e ele saiu, nos deixando a sós.

– Você está bem? – perguntei.

– Sim, só estou um pouco zonza – Maggie respondeu, mas era óbvio que ela não estava nada bem. – Na verdade, eu... Eu acho que estou grávida – ela praticamente sussurrou. Realmente, eu não sabia que expressão esboçar. Aquilo poderia ter pontos negativos para ela, assim como o mesmo fato teria para mim, mas os pontos positivos se sobressaíam.

– Eu adoraria te parabenizar por isso. Eu acho isso algo muito bonito, principalmente nos dias de hoje. Mas você tem certeza?

– Não, por isso eu pedi para Gabriela trazer um teste de gravidez – não pude deixar de dar um leve sorriso.

– Maggie, não estou dizendo isso como médica, e sim como amiga. Você precisa descansar. Realmente não parece que está bem. Tente se alimentar e não faça muito esforço – ela sorriu levemente e se virou. Glenn voltou até onde estávamos e ajudou ela a andar. Pensei em dar meus pêsames ou algo do tipo, mas preferi não lembrá-la daquilo.

Comecei a andar pela região onde estávamos acampados até que encontrei Avery. Ela parecia um pouco aflita, andava de um lado para o outro murmurando coisas inteligíveis, como se estivesse à procura de algo. Avery ficou um bom tempo assim até que notou que eu estava a observando.

– Perdeu alguma coisa? – perguntei enquanto ela passava os olhos por todos os cantos em uma busca quase incansável.

– Meu taco de beisebol – ela respondeu e eu me aproximei. – Ele não pode ter ficado lá!

– Era importante para você?

– Sim. É que... Meu avô me deu esse taco há uns anos. Eu me lembro que jogávamos beisebol algumas vezes, era muito divertido... Eu não queria ter deixado ele lá. Era a única coisa do meu passado que eu gostava de lembrar.

– Alguma coisa no seu passado de incomodava? – nossa conversa começou a evoluir.

– Quase tudo. Meus pais... Eles praticamente me ignoravam. Eles só sabiam que eu existia quando a mensalidade da escola chegava. No começo, eu tentava impressioná-los, mas isso acabou perdendo o sentido, eu sabia que nada que eu fizesse seria suficiente – ela abaixou a cabeça, mas logo pareceu que aquela tristeza se transformou em raiva. – E você?

– Tem poucas coisas do meu passado das quais eu me arrependo, sobretudo de não ter visto quem era meu marido – toda vez que lembrava isso, tinha vontade de bater em mim mesma por ter sido tão cega.

– Você só tinha ele na família? Seu marido morreu? – ela perguntou.

– Meus pais e meu irmão moravam em outra cidade. Quando a infecção se espalhou, eles foram para um centro de refugiados em outro estado, mas não sei onde era. Na época, eu ainda trabalhava no hospital – respondi a primeira pergunta pensando neles. Meu irmão morava com os meus pais e continuou morando na cidade quando iniciou a faculdade. Eu procurava pensar positivo, e sentia que minha família estava bem, talvez melhor do que eu. Suspirei antes de responder a segunda pergunta, a mais difícil. – James me abandonou. Até onde eu sei, ele está vivo, mas para mim, já morreu há muito tempo.

Ficamos em silêncio por um tempo. Logo voltamos para o local onde todos estavam. Fiquei pensando sobre meus pontos de vista diferentes. Mesmo não vendo minha família há muito tempo, eu tinha certeza que eles estavam vivos. Mas não tinha essa mesma certeza em relação a meu ex-marido. Na verdade, não era uma certeza, e sim uma convicção. Pensar que ele estava morto parecia ser a melhor opção.

*Narrado por Avery Hopper

Eu estava realmente frustrada por causa do meu taco de beisebol. Ele significava muito para mim, mas eu precisava aceitar que ele havia ficado na prisão, que estava tomada por walkers.

Juntei-me aos outros em um círculo. Todos pareciam estar em ordem crescente, o que chegava a ser meio bizarro. A ordem era: Scott, Mika, Carl, eu e Patrick, todos estavam cabisbaixos e cansados. O detalhe era que Scott e Mika estavam de mãos dadas, e eu achei aquilo extremamente fofo, mas esse era o máximo que eu poderia esperar.

Os adultos pegavam tudo que havia ficado no carro e separavam armas, alimentos e outros utensílios. Eles separavam as tarefas de todos, como buscar comida, vigiar o “acampamento” e outros.

– Dá pra acreditar que ele não me deixou vigiar? – Carl perguntou num tom indignado quebrando o silêncio. E lá estávamos nós, na mesma conversa de sempre, a disputa pessoal de Carl para provar a seu pai que já era um adulto. Revirei os olhos antes de respondê-lo.

– Dá! – falei tentando deixar claro que o assunto estava encerrado, mas ele não entendeu.

– Eu poderia ficar lá na árvore – Carl me ignorou e eu olhei para uma árvore próxima, onde Glenn vigiava os arredores com um binóculo em cima de um galho. – Sou mais leve e sei fazer isso tão bem quanto o Glenn.

– Carl, você está entendendo tudo errado! – disse irritada. – Você sempre coloca no seu pai a culpa das coisas erradas que acontecem! Não foi ele que tomou a “decisão” da vigia sozinho! A prisão caiu, mas o Conselho ainda está de pé. Se eles acham que Glenn deve vigiar, você precisa aceitar isso.

– Você está entendendo tudo errado, e ele também! – ele se levantou num salto.

Carl saiu de lá com passos decididos e firmes, que poderiam perfurar o chão se sua raiva fosse somada à intensidade do andar. Ele só parou quando ficou de frente para Rick, e o encarou por poucos segundos.

– Nós tínhamos a prisão! Tínhamos tudo! E você só queria se esconder naquela... – ele parou de gritar e buscou a palavra certa para continuar. – Pouco importa o que você estava fazendo! Eu teria feito um trabalho melhor, eu teria cuidado daquela prisão! Poderíamos ter sobrevivido, ter certeza disso. Todos os que morreram poderiam estar vivos! Hershel, Beth, até mesmo a Lizzie! E agora temos o quê? Consigo ver incerteza nos rostos de cada um! Todos aqui estão assustados, inseguros!

– Carl... – Rick tentou detê-lo com um tom calmo, já que seu filho estava muito exaltado, quase berrando.

– Não tente dar explicações! Isso não vai trazer eles de volta! Não vai trazer nada de volta! Talvez eu não tivesse feito melhor, mas eu tenho certeza que até mesmo Shane faria! – nesse momento, vi a calma de Rick ir para o espaço assim que o tal Shane entrou na conversa.

– Shane? – ele perguntou como se não estivesse acreditando naquilo. – Shane não se importava com você, nem com qualquer outra pessoa além dele mesmo! Shane não teria impedido as coisas que aconteceram, ninguém teria!

– Parem vocês dois – Sarah tentou intervir. – Vocês são pai e filho, não podem brigar dessa forma. Principalmente por algo estúpido como isso.

– Sarah, não entre na conversa – Rick falou num tom mais calmo e gesticulando bastante, porém sem desviar o olhar de Carl.

– É, ainda não comecei a listar a sua parcela de culpa! – Carl exclamou lançando-lhe um olhar furioso, mas logo voltou a encarar seu pai.

Quando os dois iam voltar a discutir, um errante surgiu do meio das árvores e agarrou Sarah. Ela abriu a boca, mas eu grito morreu antes mesmo de sair. O mordedor se aproximava do seu pescoço, e mordia o ar com força, como se isso fosse ajudá-lo. Sarah estava paralisada, e extremamente indefesa. Antes que o walker conseguisse dar a mordida fatal, Rick pegou uma faca, puxou Sarah e perfurou o cérebro do caminhante.

Rick a puxou com tanta força que Sarah acabou caindo no chão, ainda assustada. Todos ficaram em silêncio até que ela começou a tossir e, logo em seguida, vomitou. Se antes estávamos assustados, agora, com certeza, estávamos apavorados, e eu esperava que minha mãe estivesse em uma situação um pouco melhor que a minha.

*Narrado por Gabriela Hopper

A viagem na motocicleta não havia sido tão ruim. O medo inicial passara rápido. Eu ainda achava o veículo inseguro, mas o vento que vinha em meu rosto dava uma ótima sensação, que até me relaxou um pouco, mas não era a liberdade que os fãs de adrenalina usavam. A todo o momento eu imaginava a moto virando ou algum outro acidente do tipo.

Daryl parou a moto num lugar onde havia algumas lojas pequenas, entre elas uma farmácia. Desci do veículo e fiquei aliviada por colocar os pés no chão novamente. Daryl ficou observando o painel que indicava a quantidade de combustível.

– Algum problema? – perguntei.

– Foi na conta certa – ele respondeu. Só então entendi que o combustível havia acabado.

– Você disse que tinha o suficiente!

– Para a ida – revirei os olhos. – Como foi a sua primeira viagem de moto?

– Até que não foi tão ruim assim, mas isso não significa que foi boa – acrescentei antes que ele completasse o pequeno sorriso que se formava em seus lábios. – Vamos entrar?

– Sim, o que nós temos que pegar? – entreguei o papel.

– Não sei como se pronuncia a maioria desses nomes de remédios – admiti e Daryl riu a ler tudo aquilo.

Entramos na farmácia, que tinha um tamanho mediano. As prateleiras estavam reviradas, e aquele era, definitivamente, o estabelecimento mais vazio que eu havia encontrado em todo o apocalipse. Talvez não encontrássemos todos os remédios, mas eu tinha esperança de que encontraríamos o suficiente para manter Bob vivo.

Daryl entrou no balcão e começou a procurar algumas coisas, e eu olhava a loja aparentemente à procura de algo que pudesse ser útil no futuro, mas isso era um pretexto para encontrar o que Sarah e Maggie haviam pedido, porque em sã consciência, eu nunca pegaria coisas úteis, apenas o necessário, e sempre faria isso em primeiro lugar.

Agachei-me para pegar um pente, que poderia ser bastante útil, principalmente para Avery, que já havia desistido de arrumar seus cabelos, que pareciam implorar por um xampu. Nessa mesma prateleira pude ver alguns testes de gravidez. Peguei os pacotes discretamente e, quando me virei para sair de lá, levei um enorme susto.

Daryl estava parado, e me fitava com um olhar interrogativo. Demorei alguns segundos para me recuperar do susto e pensar no que dizer.

– Você está grávida? – ele atacou e eu fiquei paralisada.

– Não! – respondi automaticamente depois de ver que não havia reposta melhor.

– Então esses testes são pra quem? – ele cruzou os braços e eu comecei a sentir que estava em um interrogatório.

– Não posso dizer, é confidencial – disse me levantando.

– É a Maggie? – Daryl deu um chute tão certo quanto atirava flechas. Consegui disfarçar meu olhar e me preparei para dizer algo.

– Boa tentativa. Eu nunca vou te contar – cheguei mais perto dele e fiz um olhar sério. – De verdade, não posso te dizer. Isso não tem a ver comigo, e sim com outra pessoa que confiou em mim para não dizer nada.

Ficamos nos encarando por um tempo. O ar estava tão pesado que era difícil respirar. Eu sabia que tinha que procurar os remédios, mas me sentia presa lá, mesmo que a permanência significasse ficar sufocada como eu estava. Sacudi a cabeça e saí de lá, deixando Daryl parado por uns instantes.

Comecei a revirar as prateleiras em busca de algo. Eu me preocupava mais em achar algum remédio do que achar os remédios específicos. Acabei encontrando penicilina e fui procurar Daryl.

– Achei isso – estendi a caixa para que ele pudesse guardá-la na mochila.

– Encontrei sedativos e esse relaxante muscular. Estamos sem... – ele leu o papel para encontrar o nome -... imunoglobulina antitetânica, mas não vamos achar mais nada aqui. Vamos embora e torcer para que estes funcionem.

– A pé? – falei com ênfase. Andar era uma coisa que eu detestava fazer.

– Claro! Ou pretende voltar de outro jeito?

Ignorei o comentário e segui em frente rumo à saída da farmácia. Eu já estava com meu machado em mãos, apenas para diminuir o peso da mochila dele. Mal saímos e um grupo de walkers que estava na estrada me viu e começaram a vir em nossa direção. Apertei ainda mais o machado e fui em direção aos caminhantes.

Eram quatro ao todo. Acertei o crânio do primeiro e tive que pisar em seu corpo para retirar o machado e segui para matar o segundo, que não estava tão longe assim. Suspirei impaciente enquanto caminhava, mas antes que eu pudesse chegar ao meu destino, uma flecha o matou. Voltei-me para Daryl, que atirou mais duas vezes e foi recolher suas flechas.

– Gabriela, você precisa de uma arma de fogo – ele disse me fitando depois de pensar um pouco.

– Não sei atirar – eu não pretendia saber atirar.

– Não é tão complicado – Daryl colocou um revólver em minhas mãos, que começaram a tremer. Eu tive vontade de jogar aquela arma no chão, mas tentei manter a calma e respirei fundo. – O que foi? Algum trauma relacionado a armas de fogo?

– Não! – respondi rapidamente.

– Já que não tem problema, vamos começar a aula. Você é destra, certo? – assenti. – Segure na mão direita, desse jeito – ele colocou a arma na minha mão e a posicionou, de forma que meu dedo indicador ficou no gatilho.

– Eu não consigo – disse ao notar que minha mão tremia.

– Você pode usar a outra mão como apoio – Daryl pegou minha mão esquerda e colocou em baixo da direita. – Você pode segurá-la, assim, ou colocar por baixo, para diminuir a oscilação – ele apoiou a mão que segurava a pistola com meu antebraço esquerdo, e eu ouvi tudo atentamente. – Se fizer isso, pode segurar uma faca com a outra mão, para facilitar o ataque.

Aquela explicação parecia meio confusa, mas eu tentava prestar atenção. Na verdade, a minha preocupação estava na arma. Eu não queria atirar, não podia fazer isso.

*Flashback (narrador observador)

– Está entendendo, Gabs? – Samuel perguntou. Não era necessário responder, sua filha prestava bastante atenção no que o pai dizia, tentando guardar cada palavra e cada movimento em sua mente.

Era verão na Geórgia. A garota de 11 anos estava de férias, assim como o pai, que aproveitava o tempo livre para ficar com a filha. Nesse dia, em especial, ele ensinava Gabriela a cortar lenha. Muitas vezes, ela se pegava observando a fisionomia do pai, tentando reconhecer nele seus traços, o que era uma tarefa relativamente fácil. Gabriela possuía os cabelos negros, rosto largo e lábios grossos como o pai, que vinha de família latina. Porém, era possível ver nela algumas características da mãe, como o nariz, o sorriso e o brilho intenso dos olhos castanhos.

– Sim – ela falou com sua voz jovial.

– Quer tentar? – Samuel estendeu o machado para a filha. Ela prendeu seus cabelos compridos para não atrapalhar a visão e assentiu muito animada. Quando suas mãos tocaram o cabo do machado, o pai voltou a falar. – Gabriela, você precisa se lembrar que isso não é uma arma. O machado pode ser usado como arma, mas, para nós, é apenas um instrumento de trabalho. Você lembra o que eu falei sobre armas?

– Quando você aperta o gatilho, não dá para voltar atrás – a garota repetiu as palavras do pai, que sorriu.

– Filha, me prometa que nunca vai atirar. Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa de um jeito tão banal.

– Eu prometo papai!

*Narrado por Gabriela Hopper

As mãos de Daryl estavam sobre as minhas. Eu respirava fundo para prestar atenção no que ele estava falando, mas tudo que eu podia ouvir era a voz de meu pai. A promessa que eu havia feito entrava em conflito com o instinto de sobrevivência, e eu não sabia o que fazer.

– Um errante – Daryl disse e eu voltei minha atenção para ele. – É a sua chance.

A arma estava apontada para o walker, que caminhava vagarosamente em minha direção. Pensei em puxar o gatilho, mas desisti. Daryl continuava segurando minhas mãos e, quando notou que eu não faria nada, empurrou meu dedo contra o gatilho, fazendo com que uma bala atingisse a cabeça do caminhante.

– Viu, você consegue.

– Eu não atirei, foi você – eu não queria admitir que tinha quebrado a promessa, aquela que fiz para o meu pai.

– O que você tem contra atirar? – Daryl falou com um tom indignado.

– Eu não posso – entreguei a arma para ele e comecei a caminhar na direção oposta da chegada.

Horas depois havíamos chegado ao rio. Já estava escuro e não era possível ver muita coisa naquela floresta. No caminho até lá, permanecemos em silêncio, e nenhuma palavra foi dita. Resolvemos parar e voltar a andar no dia seguinte.

Sentei-me em uma pedra próxima à beira do rio e comecei a pensar no motivo de ter ido até a farmácia. Eu precisava descobrir porque Daryl me salvara na fuga da prisão. Era talvez por isso que toda a vez que eu o fitava me sentia totalmente sufocada.

Olhei para trás. Daryl observava as árvores atentamente, como se estivesse procurando algo. Depois de observá-lo por alguns segundos, resolvi perguntar.

– O que está fazendo?

– Procurando alguma coisa pra gente comer. Um esquilo, ou até mesmo uma cobra – ele respondeu sem desviar o olhar.

– Esquilo ou cobra – era uma decisão difícil.

– Algum problema? – ele me encarou.

– Nada, eu só não costumava comer isso, e confesso que não tenho a mínima vontade de experimentar.

– Não temos muitas opções.

– Antes do apocalipse, não era comum encontrar pessoas que comiam esquilos e cobras. Eu poderia considerar isso um hábito estranho.

– Por que você é tão certa? – Daryl se aproximou de mim.

– Por que você é tão errado? – retruquei. Houve um longo silêncio constrangedor entre nós. Eu não precisava ter dito aquilo, foi involuntário. – Sabe o que eu tenho contra atirar? – ele se sentou ao meu lado a fim de prestar mais atenção na conversa. – Eu prometi para o meu pai que nunca atiraria, por isso não posso. Eu não consigo quebrar essa promessa. Promessas e lembranças são as únicas coisas que tenho dos meus pais. Eles eram importantes para mim, e só não consigo deixar isso de lado.

– Quer saber por que eu como esquilos e cobras? Desde pequeno, eu aprendi a caçar para comer. Não era uma diversão, e sim uma necessidade. Eu não tive exatamente uma infância. Eu não tinha um motivo para viver. Eu fazia qualquer coisa que meu irmão mandasse, eu não era nada. Poucas coisas que eu fiz na vida tiveram significado.

Nesse momento eu entendi tudo. Consegui entender a mente de Daryl. Era como se ele tivesse um lema, ou alguma coisa relacionada a isso. Se eu jogasse limpo com ele, Daryl jogaria limpo comigo.

– Dixon, eu preciso perguntar uma coisa – falei e ele assentiu. – Quando estávamos fugindo da prisão, por que você me salvou? Por que voltou por mim?

– Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Se eu te deixasse lá, não teria mais volta. Você teria morrido e eu passaria o resto da vida sabendo que a culpa foi minha.

Fiquei admirada com o que ele havia dito. Era uma coisa que eu nunca pensei que sairia da boca dele. Meu dia estava cheio de surpresas, e eu realmente não sabia mais o que esperar. Quando me dei conta da minha situação, eu estava lá, sentada ao lado de Daryl Dixon. Involuntariamente, estávamos nos aproximando cada vez mais.

A proximidade era tanta que eu pensei em beijá-lo, era inevitável. Como eu poderia estar pensando numa coisa dessas? Meu cérebro deveria estar com mau funcionamento ou algo do tipo. Primeiro a viagem de moto, depois a possibilidade de atirar e quebrar a promessa que fiz ao meu pai, agora eu estava prestes a beijar Daryl.

Nossa proximidade aumentou ainda quando eu finalmente coloquei na cabeça que eu queria beijá-lo naquele instante, e isso era errado. Eu queria uma coisa errada. Tudo pareceu tão mais fácil quando eu finalmente consegui assumir isso para mim mesma, que eu apenas me aproximei mais e o beijei.

O beijo foi simplesmente a coisa mais intensa que eu já tinha vivido em toda a minha vida, nenhuma experiência antes ou durante o apocalipse se comparava a aquilo. Era como se estivéssemos esperado por isso nossas vidas inteiras, toda a expectativa e energia acumuladas eram gastas naquele momento. Em certo momento paramos sem fôlego. Muito ofegante e eu inalei aquele cheiro horrível de cigarros que vinha dele.

– Você cheira a cigarros Dixon – reclamei em quanto fazia uma carreta involuntária, e ele se irritou um pouco. – Mas teremos tempo para mudar isso.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo era muito aguardado por muitos leitores, e nós também estávamos muito ansiosas para postá-lo.
O próximo é um dos capítulos mais importantes da história, mesmo não sendo tão grande. Por isso, se até amanhã tivermos pelo menos 5 comentários, o 38 será postado no dia seguinte (segunda-feira). Lembrando que o prazo é até amanhã!
Esperamos que tenham gostado desse. Deixem a sua opinião!
Até mais!