Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 38
Isso não cabe a nós


Notas iniciais do capítulo

Bem, como dissemos antes, essa capítulo é um dos mais importantes da história, e vai mudar muita coisa na fic daqui pra frente.
Muito obrigada pelos comentários maravilhosos! Graças a eles estamos postando esse capítulo com antecedência, porque vocês merecem.
Esperamos que gostem, porque nós gostamos muito desse.
Boa leitura!



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*Narrado por Avery Hopper

Esperamos a noite toda, mas Daryl e minha mãe não voltaram, o que começava a ser preocupante. Bob ficava cada vez mais fraco, e costumava desmaiar às vezes. A noite também não fora boa para Sarah e Maggie, que passaram muito mal. Mas o resto havia corrido tudo bem. Não vimos muitos walkers, e Carl e Rick não haviam discutido mais, porém não conversaram novamente.

Eu lia meu caderno de músicas para tentar me distrair, e estava funcionando. De repente, todos ouviram um som. Algo mexia as cordas que havíamos usado para cercar o “acampamento”, e isso era perceptível por causa das latas de enlatados vazias que ficavam presas nas cordas. Instantaneamente, todos pensaram que era um errante, ou mais, por causa dos passos fracos que podíamos escutar.

Saí de onde estava e segui algumas pessoas que iam verificar o local. Quando chegamos, todas as armas foram abaixadas e o alívio tomou conta de todos.

Minha mãe estava um tanto atrapalhada naquelas cordas, enquanto Daryl apenas observava. Acabei rindo daquela cena. Talvez não porque aquilo tivesse graça, mas sim porque eu estava feliz por vê-la. Já havíamos no separado outras vezes, mas por estarmos sem um local fixo, a minha preocupação aumentava, e ver minha mãe novamente foi um grande alívio.

Finalmente ela conseguiu se livrar daquelas cordas, e só então Daryl e ela nos fitaram. Minha mãe sorriu quando seus olhos me encontraram. Ela veio até mim e nos abraçamos brevemente enquanto deu uma pequena olhada para Daryl, com se quisesse dizer algo com esse olhar.

Todos nós fomos até o local onde Bob estava dormindo. Ele parecia dormir tranaquilamente, como se não houvesse nenhum tipo de preocupação, fora a sua estranha palidez e a respiração extremamente fraca, como se ela não existisse.

Sasha se aproximou dele lentamente e ajoelhou-se.

– Bob, você vai ficar bem – ela disse num tom baixo enquanto colocava a mão no ombro dele.

Não foi necessário aguardar resposta. Ele abriu os olhos, que estavam num tom amarelado e pareciam maiores. Seu rosto se virou imediatamente e ele agarrou o braço de Sasha enquanto gemia. Isso tudo aconteceu em poucos segundos, sem tempo de reação.

Sasha tentava se soltar do cadáver de Bob, que estava a milímetros de mordê-la. Antes que qualquer um pudesse ajudá-la, Carol enfiou a faca no crânio do mordedor, que finalmente morreu. Ela arrancou a lâmina friamente, sendo a única que não estava assustada com tudo aquilo.

Todos, em silêncio, já sabiam o que fazer, nós tínhamos que preparar um funeral improvisado. Chocados. Não havia outra palavra para descrever como nós estávamos. Todo o esforço para curá-lo, as esperanças, a morte repentina num momento não esperado. Tudo isso só reforçava a ideia de que estávamos desprotegidos. Os walkers não eram o único perigo. Mesmo com pouca experiência “do lado de fora”, eu já podia ver as pessoas mudando.

O funeral de Bob foi simples. Dessa vez não houve passagens da Bíblia, músicas ou palavras. Foi apenas um buraco cavado à mão e quatorze pessoas ao redor disso. Ficamos apenas observando aquele montinho de terra e refletindo por alguns poucos minutos.

– Vamos acampar aqui esta noite – Rick começou e todos voltaram suas atenções para ele. – Amanhã sairemos cedo. Continuaremos seguindo o curso do rio para... – todos entenderam a mensagem que ele queria passar, não sabíamos para onde iríamos nem se conseguiríamos abrigo amanhã. Era notável que a certeza habitual de Rick já havia sumido.

Isso era uma incógnita. Não era possível afirmar que encontraríamos um lugar seguro perto do rio. Não havia um motivo certo para o que estávamos fazendo. Eu me perguntava por quanto tempo isso iria se prolongar.

Só estávamos naquele acampamento há dois dias, mas parecia que meses haviam se passado desde a nossa fuga da prisão.

*Narrado por Sarah West

Era difícil definir o nosso estado. Todos estavam chocados, e eu, além disso, estava angustiada. Eu precisava saber se Gabriela havia encontrado o que eu pedira. Eu precisava tirar aquela dúvida que não me deixava pensar em mais nada.

Já começava a escurecer e todos voltaram a seus locais habituais nos troncos de madeira posicionados na margem do rio. Cada um se concentrava em uma conversa ou tarefa, e eu fitava Gabriela atenciosamente. Ela se levantou, foi até um canto e entregou um pacote para Maggie, que falou alguma coisa antes de Gabriela se afastar e vir em minha direção. Ela me entregou outro pacote e eu sorri.

– Obrigada!

– Obrigada por cuidar da minha filha – ela respondeu.

– Foi um prazer conversar com ela. Para mim não foi um favor.

Olhei para todos antes de guardar o teste de gravidez. As pessoas estavam distantes umas das outras, e eu e Gabriela estávamos mais afastadas, perto da “cerca” que haviam feito ao redor do acampamento.

– Posso perguntar uma coisa? – Gabriela disse e eu voltei a olhá-la.

– Claro!

– Você está ou já esteve feliz durante o apocalipse? – pensei um pouco antes de responder.

– Sim.

– E se sente culpada por isso? Quer dizer, com tantas mortes, as pessoas que perdemos...

– Vou ser sincera com você. Não me sinto culpada por isso. Deve ter algum motivo para estarmos sobrevivendo... As pessoas falam de sobrevivência. Por que realmente estamos sobrevivendo? Não é por não querer morrer, tem que ter algo além disso. Acho que é a felicidade. No fundo, todos ainda buscam uma chance para serem felizes, mesmo que não pareça. Talvez possa ser difícil de admitir para os mais experientes, mas é a verdade. As pessoas que morreram também buscavam isso, mas não tiveram a mesma sorte. Deve haver algum motivo para nós continuarmos aqui, e temos que conseguir isso, não podemos morrer desse jeito. Todos estão com medo, sem esperanças. Talvez não tenhamos oportunidade depois, então precisamos dar um jeito. Eu tenho esperança que vou ser feliz em breve. Na realidade, é tudo uma questão de fé. Se você não acredita em algo, é difícil ter isso. Se pensar que nunca será feliz, ou que não pode, viverá para sempre com o sentimento de culpa, mas não há nada de errado em ser feliz, mesmo em tempos difíceis.

Gabriela ficou estática, sem reação. Eu não esperava que um dia pudesse dizer algo parecido com isso, mas era o que eu pensava. Logo depois ela sorriu, como se as minhas palavras fossem a solução para seus problemas.

– Algum motivo especial para essa pergunta? – falei.

– Se eu dissesse que é curiosidade estaria mentindo – ela disse com um suspiro. – Eu estava com essa dúvida. O sentimento de culpa passou pela minha cabeça. É estranho que, mesmo com o mundo destruído, eu esteja me sentindo feliz, e eu estava procurando algum motivo para não me culpar, e você não me deu um motivo, me deu todas as razões possíveis e necessárias para não ter mais essa culpa. Viver é bom, mas encontrar a felicidade é melhor ainda – sorri ao constatar que ela havia entendido. – Agora vá, sei que você está agonizada.

– Mais uma vez, obrigada! – disse dando um sorriso fraco antes de sair antes de sair de lá.

Já era a segunda vez que eu usava um teste de gravidez, mas eu ainda não estava familiarizada com ele. Fiz tudo que estava indicado na embalagem com as mãos trêmulas de ansiedade e aguardei com os olhos fechados e com a respiração acelerada.

Tentei me acalmar enquanto esperava os minutos indicados, o único problema era não saber ao certo a passagem do tempo. Parei um pouco para pensar na conversa que tive com Gabriela. Eu fora extremamente sincera, aquele tempo na sala restrita no supermercado havia feito com que eu chegasse a essa conclusão.

No dia anterior, eu tinha problema quanto à gravidez, mas a chance de encontrar minha felicidade fazia com que todos eles sumissem. Afinal, eu estava prestes a realizar meu sonho de ser mãe, com um homem que eu amava. Sem dúvida a perda do meu primeiro filho fora uma fatalidade, mas como tudo na vida deveria ter um significado, aquilo parecia fazer sentido. O que aconteceu no supermercado foi necessário para que eu encontrasse a prisão, e Rick. O filho de James morreu porque Rick deveria ser o pai do meu filho.

Abri os olhos e olhei diretamente para o teste em minhas mãos, que tremiam mais do que nunca. No centro daquele cilindro branco havia dois riscos. Observei as instruções atentamente antes de sorrir. Eu estava grávida e era difícil de acreditar. Fiquei paralisada por alguns segundos antes de me levantar. A ansiedade anterior era tamanha que eu não havia pensado no que fazer depois, mas o certo seria contar para Rick antes de qualquer coisa.

Voltei para a margem do rio, onde todos continuavam praticamente imóveis. Apesar disso, eu não prestava atenção em ninguém. Apenas procurava Rick rapidamente, tentando disfarçar a minha alegria. Encontrei-o depois de uma pequena busca pelo local.

– Rick – falei quase sussurrando. Andei de volta ao local onde estava antes e ele me seguiu sem perguntar o motivo. Quando percebi que já estávamos afastados o suficiente dos outros, voltei-me para ele. – Tenho uma coisa importante para dizer – disse depois de um suspiro.

– O que foi? – ele perguntou com um tom de preocupação. Segurei suas mãos com força. Naquele momento mal pude conter um sorriso que se formava em seu rosto.

– Rick, eu estou grávida! – exclamei. Eu mal pude esperar por sua reação e prossegui. – Não são só suspeitas, pedi para que Gabriela trouxesse um teste para mim, e ele só serviu para confirmar as suspeitas. Sei que será um pai maravilhoso assim com é um excelente homem e marido também. E eu, bem eu vou realizar meu sonho de ser mãe!

– Sarah... – meu sorriso se desfez quando notei o tom de preocupação em sua voz e sua expressão parecida com a do enterro de Bob. – Isso seria ótimo...

– Seria? – repeti. Senti que o mundo estava desabando, e não havia nada que eu pudesse fazer. Eu procurava uma explicação, e depois de alguns segundos o fitando pensei em algo que poderia explicar aquilo. – Rick, se você estiver preocupado por causa do aborto...

– Não é isso – ele falou. Tive vontade de chorar ou fazer qualquer coisa que aliviasse a sensação horrível que eu tinha, mas continuei o encarando firmemente. O olhar de Rick doía, e eu não conseguia entender o que havia de errado naquilo. – Sarah, isso é muito arriscado. Estamos no meio da floresta, com suprimentos suficientes para um mês! Mesmo se ainda estivéssemos na prisão, é arriscado. Você sabe o que aconteceu com a Lori... Não posso perder você também.

– Eu prefiro não continuar essa conversa, já sei onde ela vai terminar.

Saí de lá tentando manter a calma, mas era impossível. Rick havia deixado claro que a gravidez traria muitos problemas, e tudo isso me fazia pensar que ele poderia estar pensando em um aborto. Eu não queria sentir aquela dor de novo, ter que passar por essa situação. Era a minha chance de ser feliz, a vida não podia se resumir a sobrevivência. Acabei chorando no meio do acampamento. Agachei onde estava e tentei não pensar em mais nada enquanto as lágrimas escorriam rapidamente pelo meu rosto.

– Você está bem? – a voz de Scott me fez levantar o olhar.

– Está chorando! – Mika falou ao ver meu rosto.

No fundo, pude ver Rick se aproximando com aquela mesma expressão séria e assustadora. Todos se juntaram no local, aguardando qualquer tipo de explicação.

*Narrado por Gabriela Hopper

Depois da excelente conversa com Sarah, eu percebi que, no mundo em que vivíamos, havia muitas infelicidades e tragédias, mas era possível ver coisas felizes. Eu tinha Avery, ótimos amigos e Daryl. Eu não sabia ao certo qual era a importância dele na minha vida, mas sentia algo por ele. Resolvi procurar Maggie para saber notícias. A encontrei em um canto, apenas observando o horizonte. Ela ainda parecia fraca, porém mais bem-disposta.

– Então? – falei e ela se voltou para mim.

– Negativo.

– E você está bem?

– Sim. Acho que foi melhor assim. Por mais que eu teria ficado feliz, não era a hora. É muito inseguro, e sei que vou ter essa chance no futuro, quando tudo melhorar.

Dei um pequeno sorriso e me afastei deixando-a com um misto de alívio e tristeza na face. Quando cheguei ao centro do acampamento, todos estavam reunidos. Sarah chorava no chão enquanto Rick falava.

– Temos uma coisa importante para dizer – ele começou e eu me aproximei. – A Sarah está grávida.

Houve uma série de murmúrios. Todos se entreolharam preocupados. Eu fui até ela e estendi a mão. Sarah me olhou por alguns segundos antes de aceitar a ajuda. Ela se levantou e ficou ao meu lado enquanto Carol foi para cima de Rick querendo tomar satisfações.

– Você sabe o quanto isso é arriscado, já aconteceu outra vez conosco e a maioria aqui sabe no que deu – ela disse num tom ofensivo. – Existem vários motivos para eu afirmar isso. Estamos desabrigados, e não podemos passar muito tempo em um local, e ela vai ser um atraso. A comida não vai durar muito, e uma grávida precisa de diversos cuidados especiais que podem nos prejudicar. O grupo vai estar vulnerável por causa disso! E quando a criança nascer, se nascer, as coisas vão piorar. Aqui fora não é lugar para um bebê. O choro atrai errantes e a última coisa que queremos é ter uma manada nos perseguindo.

Fiquei horrorizada com o que Carol falava. Era como se ela quisesse tomar uma decisão que não nos cabia. Ela falava pelo grupo, como se todos concordassem com aquilo. Quando ela parou de falar, notei que já estávamos em um círculo, como se fosse uma reunião. As crianças, na beira do rio, apenas observavam aquilo com suas habituais expressões assustadas e apreensivas. Sarah segurava o choro enquanto soluçava com os braços ao redor do corpo.

– Você não pode estar falando sério – eu estava bastante irritada com o modo com que a situação era tratada. – Olhem só para vocês! Parece que vão tomar uma decisão por ela! A decisão é da Sarah. Se ela quiser abortar, por Deus, eu sei que isso é horrível, mas se ela decidir fazer isso, temos que concordar. Se ela quiser manter a gravidez, não iremos impedir. Isso não é do grupo, é dela. Nem mesmo Rick pode forçá-la a nada. Sei que é arriscado, mas precisamos tentar. Temos que ter esperança que as coisas vão melhorar. Mesmo em tempos normais, uma criança era vista como o futuro da sociedade e agora, mais do que nunca, essa nova vida, que não deve ter mais que dois meses, é a nossa esperança. Não podemos decidir por ela. Isso não cabe a nós.

Todos pareceram concordar com o que eu havia dito, mas a expressão de Carol dizia que ela não gostava da nossa situação. Mesmo irritada, ela se sentou, assim como os outros. Rick abaixou a cabeça e aceitou as minhas palavras.

Sarah continuava muito abalada, e eu a abracei com força. Avery veio até nós e também se juntou no abraço.

– Parabéns pelo bebê – ela sussurrou.

– Vai ficar tudo bem – falei para passar confiança e Sarah deu um fraco sorriso.


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Notas finais do capítulo

Já que entramos no assunto da gravidez, precisamos na colaboração de vocês. Se puderem, mandem nos comentários sugestões de nomes para o bebê, femininos e masculinos, americanos de preferência. Essa sugestão é muito importante para o futuro!
Agora uma pequena enquete: É menino ou menina?
Esperamos que tenham gostado! Deixem sua opinião, ela é importante para nós!
Até logo!