Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 32
♪ Pais e Filhos ♪


Notas iniciais do capítulo

Capítulo especial de Carnaval. Bom feriado para todos! Esperamos que gostem desse.
Vocês devem ter notado que o título do capítulo é o mesmo nome de uma das mais bonitas músicas do Renato Russo, certo? É uma homenagem que fizemos a ele e achamos que o nome combinou bastante com o teor deste capítulo. Teremos algumas homenagens à música nele.
O capítulo começa exatamente onde o outro parou, esperamos que tenham um excelente leitura!



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*Narrado por Sarah West

– Pai!

Rick deu alguns passos na direção do filho, mas Carl se enfureceu mais.

– Eu sabia! Primeiro a Judith, agora você! – ele gritou como se eu não estivesse lá. – Desde que essa mulher chegou, eu desconfiei dela! Agora ela vai querer o quê? Que eu a chame de mãe? Continue esperando, eu nunca farei isso! – ele olhou para mim por alguns segundos antes de voltar a encarar o pai.

– Carl... – Rick tentou interrompê-lo.

– E você fica se escondendo! Só quer plantar alguns legumes e fingir que tem uma vida normal! Nós dois fomos baleados e pertencemos ao mesmo clube – ele ajeitou o chapéu -, mas a diferença é que eu não quero e não vou ser fracassado que nem você!

Carl se virou e saiu correndo. Rick tentou ir atrás dele depois de absorver tudo que o filho havia dito, mas Avery o parou.

– Eu vou atrás dele, acho que vai ser melhor – ela falou e ele assentiu. Avery seguiu Carl, e Patrick tentou fazer o mesmo. – Eu vou sozinha.

Patrick saiu na direção contrária e me deixou sozinha com Rick. Ele me olhou profundamente por alguns instantes.

– Rick, não vou pedir que fique contra o seu filho, nem que esqueça o que aconteceu antes deles chegarem. Só quero explicar o que aconteceu sobre a Judith – falei seriamente. – Isso foi no dia seguinte à minha chegada. Eu a conheci, ela é uma criança adorável. Carl me viu segurando ela e, por algum motivo, ele não gostou. Ainda não entendo porque ele me odeia, mas Carl deve achar que eu sou uma louca que quer roubar os filhos de outras pessoas. Por favor, pense bem no que vai fazer.

Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu dei um fraco sorriso e me retirei. Rick precisava pensar, e era melhor fazê-lo sozinho. Era uma decisão simples, mas que poderia mudar muita coisa. Eu ainda me perguntava como minhas ações levaram Carl a me ver como um monstro.

*Narrado por Avery Hopper

Enquanto eu seguia Carl até a torre 1, fui criando um discurso na minha mente. Isso era uma tarefa bem difícil, já que sempre fui péssima com discursos. Pensava em falar alguma coisa sobre pais e filhos, talvez até baseado na minha história, mas nada parecia fazer sentido.

– O que está fazendo aqui? – Carl perguntou quando subi na torre. Ele estava em posição fetal, mas seu rosto ainda demonstrava raiva.

– Vim conversar – falei lentamente enquanto me sentava ao seu lado. Nossos ombros se encostaram e ficamos olhando para frente por alguns instantes.

– Se é pra falar do meu pai, esquece. Ele nunca vai me entender.

– Você acha que ele não te entende, mas você não entende seu pai – foi uma das coisas mais filosóficas que já falei. – Tente entendê-lo. Ele é o que você vai ser quando crescer.

– Como você sabe? Até onde eu sei você não sabe o que é ter um pai! – ele atacou. Afastei-me um pouco, virei o rosto para ele e ficamos nos encarando por alguns segundos enquanto eu pensava no que dizer. Era como se ele estivesse enfiando uma faca no meu peito. Aquelas palavras foram dolorosas de mais.

– Não tenho pai, nunca tive.

Aquilo foi quase como um desabafo para mim mesma, eu nunca tive um pai. A essa altura eu não me importava mais com isso, eu tinha minha mãe e meus amigos, para mim era mais do que suficiente, era quase mais do que eu possuía quando o apocalipse começou.

– Por isso não quero que você fique sem um. Eu não preciso ter pai, acho que nunca conseguirei ter, e não quero que você fique assim. Se eu tivesse um pai como o seu, um homem corajoso, um heroi... – parei e pensei um pouco. – Seu pai sempre vai estar com você pro que der e vier, mas você não pode dificultar as coisas. A sua mãe morreu, entendo que isso seja difícil de aceitar, mas ele ainda está vivo e tem o direito de ser feliz. A vida dele não acabou.

– Ele pode viver, mas não pode esquecer o que aconteceu. Ele tem um pouco de culpa na morte da mamãe.

– Ninguém aqui disse que ele se esqueceu dela – retruquei. – Ele nunca vai esquecê-la porque sua mãe foi importante para ele. Seguir em frente não quer dizer esquecer o passado, significa que ele foi superado. Rick passou por muita coisa e merece ser feliz, não importa com quem seja. Aposto que se sua mãe o amava de verdade, deve estar feliz por ele ter encontrado alguém.

– Tem certeza que a pessoa não importa? – Carl pareceu ter esquecido meu pequeno discurso e mudou de assunto.

– Que tipo de pessoa você acha que a Sarah é? – perguntei erguendo a sobrancelha esquerda.

– O tipo de pessoa que quer roubar os filhos dos outros – ele respondeu.

– Carl, minha mãe conhece a Sarah, é amiga dela. Se ela apresentasse algum tipo de transtorno, a mamãe saberia.

– Só quero a minha família de volta... – ele abaixou o olhar.

– Você ainda tem a sua família, ela só está diferente. A sua vida está diferente.

– Talvez você tenha razão...

– E em relação à Sarah? – perguntei para finalizar a conversa.

– Nada mudou, ela continua sendo uma mulher que quer repor a família que perdeu e isso eu tenho certeza que ela não vai conseguir.

Suspirei e ao mesmo tempo revirei os olhos. Era praticamente uma causa perdida tentar fazê-lo mudar de ideia. Quase que no mesmo segundo do suspiro uma forte chuva de verão começou a cair. Eu até ficaria feliz com a chuva se ela amenizasse o clima, e se eu gostasse de chuva.

– Odeio chuva – murmurei.

– Como? – Carl perguntou. Provavelmente ele não havia ouvido.

– Odeio chuva!

– Por quê? – ele falou num tom ofendido.

– As chuvas na Geórgia deixam o ar mais úmido. Quando está muito quente, a umidade é terrível. Além disso, a chuva molha as pessoas. Se as pessoas se molham, elas ficam resfriadas – completei minha lista de reclamações. – E agora vou ficar aqui, presa com uma criança, até a chuva passar.

– Podemos conversar mais... – me levantei, irritada com o comentário, era quase que perceptível na voz dele suas segundas intenções. Fui até um canto da torre e coloquei a mão do lado de fora. Os pingos de chuva eram finos, caíam rapidamente e pareciam perfurar minha pele, ardiam, como pequenas agulhas molhadas.

– Não ouse terminar a frase! Não quero falar com um bebê inflexível! – falei num tom mais alto, o mesmo tom que minha mãe usava para repreender as pessoas. – Apenas cale a boca e, se preferir, pode continuar choramingando e praguejando – eu realmente estava irritada com tudo que Carl havia feito.

Fiquei sentada no chão observando a chuva e torcendo para que o tempo passasse rápido enquanto pensava no melhor discurso que já havia feito na vida. Carl tentava parecer adulto, mas sua mente era como a de uma criança. Ele estava com raiva do pai porque havia superado a morte da mãe dele.

*Narrado por Gabriela Hopper

– Por que estamos aqui? – perguntei quebrando o silêncio que havia entre Daryl e eu naquela sala.

– Não sei, o Rick só disse que precisava falar com a gente.

– Se eu tivesse trago algo para fazer... Contas não se fazem sozinhas – era o que eu sempre dizia quando me tiravam do trabalho. Daryl riu num tom de deboche. Eu não via graça alguma naquilo, mas resolvi ignorar. Era impossível saber o que se passava na cabeça daquele homem.

Ficamos longos minutos esperando até que Rick entrou na sala. Ele parecia meio abatido, mas forçou um sorriso quando nos viu.

– Desculpem a demora, é que... Bem, eu estava pensando.

– O que foi? Algum problema com a prisão? – Daryl perguntou.

– Não, é comigo. Preciso da ajuda de vocês – eu ainda não entendia o que estava acontecendo, mas decidi esperar a explicação. – É que... Acho que vocês podem me ajudar nisso. É sobre uma mulher.

– E você acha que nós somos as pessoas indicadas para te dar um conselho sobre isso? – indaguei. – Eu só tive um relacionamento de verdade na vida, e o Dixon... Olha só para ele! Se ele já tiver tido um relacionamento sério de mais de três meses é muito!

– É, agora a Gabriela tem razão. Você acha mesmo que podemos te ajudar? O Glenn seria bem mais útil.

– Daryl, você têm sido meu braço direito desde o começo. Glenn tem um ótimo relacionamento, mas não parece ter muita experiência com mulheres. E Gabriela, você é amiga da Sarah, ela me falou muito bem de você, e você tem uma filha adolescente – dei uma pequena risada, agora eu estava compreendendo o que estava acontecendo e por isso não pude deixar de rir.

– Vocês formam um casal bonito – comentei. Por algum motivo, eu estava muito feliz por eles estarem felizes, o que era notável pelo sorriso dele.

– Não sei se dá para considerar que estamos namorando, mal nos beijamos – Rick falou meio envergonhado. – O fato é que Carl não recebeu muito bem a notícia. Não entendi muito bem, mas ele acha que Sarah quer roubar meus filhos – ele falou confuso. – E eu não sei o que fazer. Será difícil agradar os dois, e não consigo encontrar um meio termo.

– Rick, você tem ideia do que realmente quer? – Daryl tentou. – Não podemos tomar essa decisão por você.

– Sinceramente, eu não sei o que é melhor. Se eu escolher o Carl, talvez não seja feliz, mas se eu escolher a Sarah, posso perder meu filho.

– Carl é seu filho. Tente conversar, talvez ele entenda – falei.

– É o que você faria com a Avery?

– Provavelmente – respondi e Rick pareceu satisfeito. – Se Carl te ama, ele quer a sua felicidade, e se você ama a Sarah, será feliz com ela. Ele vai entender, só precisa de tempo. Esse mundo em que estamos mudou ele, assim como a minha filha. Eles podem ter amadurecido, mas ainda são crianças e por isso precisam de tempo para absorver certos fatos.

– Muito obrigado pela ajuda, de verdade – ele falou se levantando. – Vocês esclareceram a minha mente.

– Rick, eu estou torcendo por você – disse antes que ele saísse.

– Boa sorte – Daryl desejou e ele sorriu. – Você vai precisar.

Daryl estava certo, não poderíamos tomar essa decisão por ele, mas fiquei feliz por poder ajudar. Eu realmente torcia muito por eles, mas a partir daquele momento, não poderia fazer mais nada para ajudar, Rick teria que conversar com seu filho sozinho, eu apenas esperava que Carl compreendesse o pai.

Rick e Sarah eram fáceis de ser vistos como um casal. Ela era frágil, delicada e doce. Ele era forte, correto, mas estava abalado. Ambos precisavam recomeçar a vida e mereciam ser muito felizes, e conseguiriam isso juntos.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado. O próximo também possuirá nome de uma música e já que estamos em um capítulo "musical", gostaríamos de saber qual é música favorita de vocês.
Até o próximo (que é o maior capítulo que já escrevemos até agora)!