Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 33
♪ Hey Jude ♪


Notas iniciais do capítulo

Nos desculpem pela demora. Ficamos tão animadas com os capítulos que estávamos escrevendo que acabamos nos esquecendo de postar. Se isso é uma boa notícia, já estamos digitando o 38.
Ficamos muito animadas para saber a reação de vocês com esse capítulo, que é mais ou menos o fechamento de um ciclo para começarmos algo novo.
Boa leitura! Até as notas finais.



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*Narrado por Avery Hopper

Patrick, Carl, Judith e eu estávamos tomando Sol do lado de fora. Depois daquela chuva, o clima estava realmente úmido, e era quase impossível ficar dentro de qualquer bloco.

– Você é muito fofa! – falei balançando as mãos de Judith, que estava no colo de Carl. – Mas tem um irmão chato, sabia?

– Valeu, eu estou aqui! – Carl resmungou como se não soubesse que a minha intenção era dizer isso para ele.

– Se quiser posso listar todas as suas chatices, então é melhor ficar quieto e arranjar um bom álibi – suspirei e me preparei para começar. – Para começar, você se acha muito adulto, mas não passa de uma criança; não deixa seu pai viver; fica acusando as pessoas; é muito ciumento com a Jude...

– Aliás, por que estamos com ela? – Patrick disse.

– A Beth já deixou a Sarah pegar a Judy uma vez, quem garante que não vai fazer isso de novo?

– Mas você não conversou com o seu pai? – perguntei.

– Sim, mas nada mudou. Não aceito o namoro dos dois e pronto.

– Já falei que você é inflexível? – brinquei. – E agora você vai ficar sem falar com o seu pai até o fim da sua vida?

– Exatamente – Carl respondeu, mas eu sabia que não estava falando sério.

– Juro que já tentei te compreender, mas isso é impossível – Patrick acrescentou, pondo um fim na conversa.

Carl abaixou o chapéu e ajeitou a irmã em seus braços. Meio que de repente, Judith começou a balançar como se tentasse se livrar do irmão.

– Ei, ei! – Carl falou tentando acalmá-la, mas a garota começou a chorar.

Judith parecia estar com raiva e quanto mais Carl tentava acalmá-la, mais ela se debatia e acabou desferindo tapinhas nele. Aquele choro era muito agudo e chegava a machucar os ouvidos.

– O que deu nela? – Patrick perguntou se aproximando. – Ela tem uma chupeta?

– Dá pra me ajudar? – Carl realmente não sabia o que fazer. Fui até a bolsa da Judith e peguei uma mamadeira com leite.

– Pronto – falei colocando a mamadeira na boca dela. Depois de tomar um pouco de leite, Judith simplesmente virou o rosto e se encurvou um pouco como se estivesse rejeitando a bebida.

– Droga! – Carl exclamou no momento em que sua irmã vomitou tudo que havia tomado e mais um pouco sobre a blusa dele.

– Vamos entrar – Patrick falou pegando a bolsa. – O Hershel ou o Dr. S. devem saber o que fazer.

– Talvez ela esteja com febre – sugeri colocando o dorso da mão na testa de Judith. De fato, ela estava ardendo. – Acho que sim.

– Rápido!

Começamos a correr em uma velocidade moderada, já que Jude não parava de se debater e seria impossível correr com ela daquele jeito. Entramos no bloco e nos dirigimos até a enfermaria. Para a nossa sorte, Hershel e Dr. S. estavam lá.

– O que foi? – Hershel perguntou.

– Nós estávamos lá fora e... – Carl começou.

– Aí a Judith enlouqueceu e... – Patrick o cortou, mas também foi interrompido.

– Depois ela vomitou o leite que tinha tomado – falei ofegante, assim como os dois. Falávamos tudo ao mesmo tempo enquanto Judith continuava a bater em Carl. Por causa do choro, era necessário aumentar o tom de voz para que pudessem nos ouvir.

– Calma! – Hershel pediu. – Deixe-me vê-la.

Carl entregou Judith para Hershel. Ela continuava agitada e chorando. Dr. S. observou-a atentamente e a colocou sobre uma pequena mesa. Hershel fez um sinal para que Carl explicasse tudo devagar.

– Foi do nada. Ela começou a se debater no meu colo, a chorar e vomitou. Eu simplesmente não sei o que aconteceu, não é fome, nem sono e a fralda dela está limpa.

– Vamos ver o que podemos fazer – Hershel falou. – Vocês podem esperar lá fora.

*Narrado por Sarah West

Eu andava lentamente por um bloco vazio enquanto o observava. O silêncio predominava no local, e tudo que eu podia ouvir era o som dos meus passos. Eu não queria encontrar o Rick nem o Carl. Não queria ter que falar com o Rick, não queria que ele brigasse com o filho por minha causa. Pensar que eu estava jogando um contra o outro era horrível. Por mais que isso significasse ficar longe dele, era a melhor opção.

Eu conhecia Rick há muito pouco tempo, mas minha vida parecia muito diferente depois que eu o conheci. Era como se tudo fosse preto e branco, mas ganhou cor quando ele entrou na enfermaria. Talvez não fosse a explicação certa, já que o que eu sentia por ele parecia inexplicável.

Entrei em uma sala escura e bastante empoeirada. Não era uma cela, se parecia mais com uma sala de segurança ou algo do tipo, já que havia alguns computadores desligados em um canto e algumas mesas espalhadas. Dirigi-me até a janela, que estava coberta por uma cortina branca. De lá dava para ver a plantação, alguns porcos e, mais ao fundo, algumas pessoas trabalhando na cerca, que tinha muitos mordedores aglomerados.

– Sarah – ouvi uma voz atrás de mim.

– Você me assustou – falei me voltando para Rick.

– Desculpe. Acho que nunca vou perder esse costume – dei um fraco sorriso. - Eu falei com o Carl ontem à noite. Por mais que ele ainda não concorde, Carl é uma criança e precisa de tempo para aceitar os fatos. Estou disposto a dar tempo a ele, mas não consigo ficar esse tempo longe de você – Rick se aproximou, ajoelhou-se e segurou as minhas mãos. – Sarah, você quer ser a minha namorada?

Veio à minha cabeça a imagem de James me pedindo em noivado. Ele havia se ajoelhado diante de toda a família. Ele não queria fazer isso, mas a minha família achava isso importante, um momento simbólico. Tentei afastar esses pensamentos e me concentrar em Rick. James não existia mais para mim.

– Você não existe! – exclamei sorrindo. – É claro que sim!

Ele sorriu de volta. Antes que Rick pudesse se levantar, me ajoelhei ao seu lado. Ele riu e se aproximou mais um pouco. Coloquei minhas mãos em seus ombros e nos beijamos. Desta vez, não fomos interrompidos.

Voltamos a ficar de pé e nos olhamos por um bom tempo. Estávamos apenas aproveitando a presença um do outro até que Avery apareceu na sala. Ela estava ofegante e vermelha, deveria ter corrido muito.

– Estou interrompendo alguma coisa? – ela perguntou enquanto lutava com as palavras.

– Não, claro que não! – falei me aproximando. – Aconteceu alguma coisa?

– Na verdade, sim. A Judith está na enfermaria – Avery disse. – Ela está passando mal.

– Obrigada – olhei para Rick e ela saiu correndo.

– Vamos – seu olhar era de extrema preocupação. Segurei a mão dele e corremos em direção à enfermaria. Entramos no local, onde Hershel, Dr. S., Carl, Avery e Patrick observavam Judith, que se agitava sobre uma mesa.

– No começo pensamos que não era nada, mas os sintomas estão piorando. Eu sou veterinário, e Caleb não sabe o que pode ser – Hershel explicou e eu me aproximei. – Rick, ela está muito agitada. Talvez seja melhor você e as crianças esperarem lá fora.

– Eu nunca vi ela assim, ela está... – Carl estava assustado, desesperado. Seu chapéu estava muito baixo, dando a ele um ar sombrio. Enquanto ela falava, era possível escutar o choro agudo de Judith.

– Carl, eu me formei em emergências, mas aprendi muito de pediatria e outras áreas. Prometo que vou fazer o possível para salvá-la, se você deixar – falei e ele balançou a cabeça positivamente.

Rick, Carl, Patrick e Avery saíram da enfermaria. Por alguns segundos, o choro estridente da pequena Judith predominou no local. Aproximei-me dela e comecei a observá-la.

– Vocês sabem se aconteceu alguma coisa? – foi a primeira coisa que perguntei.

– Ela vomitou depois de tomar leite – Dr. S. explicou.

– Está com febre – constatei ao colocar minha mão na testa dela. – Vômitos, agitação, respiração acelerada, irritabilidade... Os sintomas podem ser de muitas doenças, uma gripe, resfriado ou até meningite.

– Ela está com uma mancha vermelha – Hershel apontou. De fato, havia uma pequena mancha abaixo do olho esquerdo. De repente, Judith parou de chorar. Ela havia desmaiado.

– Perdas de consciência são comuns em pacientes com meningite – expliquei. – Pela mancha, eu diria que é uma meningite bacteriana. Há quantas horas ela está assim?

– Menos de uma – Hershel falou. – O que você sugere que façamos?

– Ela precisa de antibióticos. Enquanto isso, vocês poderiam tentar alimentá-la.

Fui até o armário que continha os antibióticos. Abri a porta e observei o interior até encontrar o único frasco de antibiótico. Ele estava quase vazio.

– Ela não comeu nada – Dr. S. falou quando voltei.

– Isso é ruim – comentei. – A Judith não pode ficar mais de seis horas sem remédio, mas só temos esse antibiótico. O que podemos fazer?

– Talvez possamos mandar Glenn buscar, ele é rápido – Hershel anotou algumas coisas em um papel e saiu da enfermaria.

– Não podemos correr o risco de deixá-la muito tempo sem antibióticos, então é melhor esperarmos um pouco para dar a primeira dose.

O tempo era algo muito precioso naquele momento. Judith havia acordado e continuava a emitir um choro agudo, outra característica da meningite em crianças menores de 2 anos. Ela teve uma pequena convulsão, mas isso era absolutamente normal para seu estado. Depois de três horas, ela apresentou o primeiro sinal de evolução da bactéria no sangue.

– Outra mancha – Hershel comentou. – Essa está na mão dela.

– Talvez seja melhor dar o remédio agora – Dr. S. falou.

– Claro. Essas manchas indicam aglomeração de bactérias no sangue. Se isso se espalhar mais, ela vai entrar em estado crítico – falei enquanto tentava colocar Judith sentada na mesa para que ela tomasse o remédio.

Depois que consegui colocar a dose na boca dela, Judith engoliu o líquido com muita dificuldade e, segundos depois, vomitou tudo e começou a tossir. Olhei para os dois. Eles estavam mais apreensivos do que antes, e era impossível não ficar nervosa diante daquela situação.

Uma hora depois, aguardávamos o retorno de Glenn como única esperança. Outra mancha vermelha surgiu, dessa vez no joelho. Isso nos deixou mais desesperados, mas tentávamos nos acalmar e acalmar a garota, que estava mais quieta do que antes. Isso teria sido um avanço, se ela tivesse tomado o remédio, mas nas condições atuais, isso deveria ter sido provocado por dores no corpo.

– Consegui! – ouvimos uma voz do lado de fora. Logo Glenn entrou na sala com uma pequena caixa.

– Muito obrigada! – falei pegando o remédio. Glenn assentiu e se retirou. – Tem que dar certo.

Hershel levantou Judith e a colocou sentada. Dei o antibiótico e ficamos aguardando. Quando pensamos que havia dado certo, ela vomitou novamente.

– Ela nunca foi vacinada, o organismo não sabe combater a bactéria – Hershel comentou com um tom preocupado.

– O que podemos fazer agora? – Dr. S. perguntou.

– Em tempos normais, faríamos um exame complexo nela, mas não dá para fazer isso. Temos que esperar mais uma hora para ver o que acontece. Como eu disse antes, ela não pode ficar seis horas sem antibióticos, então só nos resta torcer para que ela supere isso.

O silêncio tomava conta da enfermaria. Judith estava cada vez mais quieta, e a observávamos com atenção. Ela respirava com dificuldade, e seu coração batia lentamente. Quando olhei em seus olhos, ela demonstrava profunda dor. Depois de uma hora de espera interminável, o prazo havia acabado, e passamos a ter mais atenção em cada gesto, expressão ou som dela.

Meu coração estava acelerado, mas o de Judith parecia bater com esforço. Ela emitiu um último gemido de dor antes de começar a fechar seus olhos lentamente, como se fosse dormir. Sua boca se contorceu um pouco e seu rosto pálido paralisou. Arregalei os olhos e cheguei mais perto. Ela não apresentava mais nenhum sinal de vida, mas eu me recusava a acreditar nisso. Aquele silêncio terrível aumentava o meu desespero.

– Ela está morta – Hershel praticamente sussurrou.

– Foi uma parada cardiorrespiratória – Dr. S. constatou depois de examinar o corpo.

– Como... Como vamos dizer isso a eles? – minha voz custou a sair.

– Eu faço isso – Hershel saiu da sala e eu o segui de longe.

Nesse momento, não houve som algum no local. Hershel murmurou algo e as expressões de Rick, Carl, Patrick e Avery mudaram drasticamente. Rick, que estava em pé, se jogou no chão de joelhos e começou a chorar. Carl cobriu o rosto com as mãos e os amigos o abraçaram. Andei lentamente até Rick, me abaixei e o abracei com força, como se isso pudesse reduzir a dor que sentíamos.

*Narrado por Gabriela Hopper

Era hora do enterro. Sobre o pequeno montinho de terra havia vários crisântemos brancos e rosas, que foram recolhidos fora dos limites da prisão por um grupo que Carl montou para pegar flores. Foi feita uma marcha para levar o caixão até o “cemitério”. Todos os moradores da prisão fizeram um círculo ao redor do local do enterro.

Todos estavam comovidos. Senhoras choravam, homens estavam cabisbaixos e crianças tentavam compreender aquilo tudo. Nem todos eram próximos de Rick, a maioria nem via Judith com frequência, mas todos os moradores da prisão foram prestar condolências.

Judith era a mais jovem e frágil, porém a esperança de um futuro para essa realidade repleta de dor e sofrimento. Mas o inesperado fez com que aquela garotinha também se tornasse uma vítima do caos, antes mesmo de compreender o mundo.

Rick estava arrasado, abismado. Faltavam adjetivos para descrever sua imensa dor, transmitida pela sua expressão. Sarah, também muito abalada, ficou o tempo todo ao seu lado e segurava a mão dele com força. Carl segurava seu chapéu contra o peito e tentava conter o soluço. Hershel terminou de ler uma passagem da Bíblia e o local foi tomado pelo silêncio. Carl deu um passo à frente e todos dirigiram as atenções para ele.

– Eu... Eu não sei o que dizer. Judith tocou nossas vidas de um modo especial durante a sua curta vida. Eu a amava muito e vou sentir sua falta – ele parou, enxugou algumas lágrimas que escorriam em seu rosto e continuou. – Avery preparou uma coisa especial para ela.

Carl recuou e eu olhei para minha filha. Só então notei que ela estava com seu violino. Ela deu um passo à frente, apoiou o instrumento no queixo, fechou os olhos e começou a tocar.

A música era uma velha conhecida, “Hey Jude”, só que numa versão mais lenta. Enquanto tocava, Avery contorcia um pouco seu rosto, como se a música perdesse a graça por causa da morte de Judith. Todos se emocionaram ao ouvir a linda homenagem, e eu me emocionei por ver o que minha garota estava fazendo.

Quando a música acabou, aos poucos, todos foram se dispersando para voltar às suas vidas normais, mas talvez as coisas nunca mais fossem as mesmas. Era como se cada morte nos lembrasse de que as nossas vidas também estavam no fim. Isso poderia ser desesperador, mas me dava mais vontade de viver e aproveitar o tempo que me restava.

– Foi muito bonito – falei enquanto caminhava com Avery de volta à nossa cela.

– Estava muito lenta – ela disse cabisbaixa.

– É, mas me fez lembrar a minha infância. Eu aprendi a andar dançando na ponta dos pés com a minha mãe. A música favorita dos meus pais era “Love Me Do”.

– A minha é “Twist and Shout”, mas prefiro Queen.

– Claro – respondi com um pequeno sorriso. Eu estava fazendo qualquer coisa para animá-la, mesmo que eu não estivesse assim. Ave era uma garota alegre e vê-la triste era de partir o coração.

– Mãe.

– O que foi?

– Sabe, eu queria ter sido uma violinista quando crescesse – ela falou num tom baixo.

– Você já é uma violinista, uma ótima violinista – disse tentando disfarçar a minha preocupação e a abraçando. – Por que você está falando disso agora?

– Nada, é porque você disse que gostava de matemática e fez administração, Sarah gosta de ajudar pessoas e fez medicina, Carl queria ser policial como o pai, Patrick queria ser astronauta por causa da ciência. E eu, nunca parei para pensar nisso, só agora. A Judith tinha um futuro, eu também, mas agora não sobrou nada.

– Acho que já conversamos sobre esse assunto. Ave, desde que isso tudo começou, aconteceram coisas terríveis e muitas pessoas morreram, mas também aconteceram coisas boas. Você acha que teríamos nos conhecido se o mundo continuasse normal? Hoje eu tenho muitos amigos, pessoas que são quase uma família para mim.

– Eu também já pensei nisso. Eu nunca quis que isso tivesse acontecido, mas acho que eu não mudaria o que aconteceu.

– Então qual é a sua conclusão?

– Sinceramente, eu não sei. Já que não podemos mudar o que aconteceu, vamos continuar sobrevivendo e guardando as boas recordações. O que me anima é acreditar que a Judith e todas as outras pessoas que se foram estão em um lugar melhor. Quando essas coisas ruins acontecem, a vida nos dá duas opções: entrar em depressão ou algo do tipo; ou aceitar e seguir em frente. A única coisa que me conforma é ter vocês por perto. Tudo fica mais fácil quando eu tenho você.


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Notas finais do capítulo

Na verdade, ficamos meio preocupadas com esse capítulo. Gostaríamos muito de saber o que acharam, qual foi a reação de vocês.