Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 31
Um fardo pesado


Notas iniciais do capítulo

Gostaríamos de agradecer os lindos comentários do capítulo anterior, ficaram muito bons.
Achamos um capítulo por semana muito pouco, mas não queremos correr o risco de deixar vocês por muito tempo sem capítulos. Em compensação, vamos fazer uma postagem especial no Carnaval, dando três capítulos em duas semanas.
Esse capítulo foi um pouco difícil de escrever, mas gostamos muito do resultado e esperamos que gostem também.
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Antes de ir para a cerca, eu estava no refeitório com Sarah, Karen e Sasha. Desde que comecei a trabalhar na administração da prisão, eu sabia que minha vida iria ficar mais corrida, já que continuaria na cerca. Seria como ter dois empregos. As três conversavam animadamente enquanto eu mantinha meu olhar fixo no prato de comida.

– Como vai o trabalho? – perguntei para Sarah.

– Eu só organizei os materiais, não foi nada de mais – ela respondeu. – Rick passou lá. Ele cortou a mão.

– É por isso que ele está com a mão enfaixada... – Sasha comentou. – O que aconteceu?

– Ele disse que estava ensinando o filho a cuidar da plantação. Parece que uma enxada cheia de farpas acertou a mão dele.

– E não aconteceu nada? – Karen falou.

– Por que você está me olhando assim? – Sarah perguntou com um tom de voz ofendido. – O que você acha que aconteceu?

– Se você diz que não aconteceu nada... – Karen continuou.

– Está acontecendo alguma coisa que eu não saiba?

– Nada, só alguns olhares durante a semana... O Rick passou por aqui há alguns minutos e sorriu pra você. Você sorriu de volta para ele, o que me diz?

– Só estou aqui há seis dias e vocês estão insinuando coisas? Só vou ajudá-lo a trocar as ataduras, não é nada de mais!

– O que você acha Gabriela? – Karen chamou a minha atenção e eu levantei a cabeça rapidamente.

– Oi? – eu estava ouvindo a conversa, mas não prestava atenção. Meus pensamentos ainda estavam na conversa que tive com Avery há três dias.

– Estamos falando da Sarah e do Rick – Karen explicou. – E a troca de olhares sugestivos entre eles.

– Me ajuda! – Sarah sussurrou num tom de súplica.

– Sabem o que eu acho? Que os dois são livres para fazer o que quiserem. E que você – olhei para Karen – e Sasha estão parecendo duas adolescentes de colegial que querem dar uma de cupido.

– Sincera – Sasha comentou em tom de brincadeira. – Mas quando forem se casar eu quero ser a madrinha.

– Eu só conheço o Rick há seis dias! Eu só o respeito e sou grata pelo que vocês fizeram por mim no supermercado e por terem me dado a chance de recomeçar minha vida.

– A gratidão não impede vocês de terem um relacionamento – Karen provocou.

– Eu desisto! Vocês são impossíveis! – Sarah se enfureceu e eu não pude deixar de rir. – Mas já que estamos falando sobre relacionamentos, o que acha de nos falar sobre você e o Tyreese?

– Estamos muito bem, obrigada – Karen sorriu e Sasha fez o mesmo. – Mudando de assunto... Já falamos sobre Sarah e eu, agora é a sua vez, Sasha.

– Acho que está na hora de irmos para a cerca – falei me levantando e Sasha fez o mesmo.

– Você leu a minha mente!

Despedimos de Sarah e Karen e andamos até a cerca, onde outras pessoas já haviam começado o trabalho. Voltei a pensar em minha mãe. Agora eu não pensava nela com remorso, eu não poderia voltar no tempo e fazer diferente, eu queria me lembrar dos momentos felizes. Sorri sozinha e abracei o casaco que ela havia costurado para mim, eu estava usando ele bastante essa semana.

– Poncho indígena, vai trabalhar ou não? – Daryl chamou a minha atenção e eu não me importei. Peguei o facão e comecei a matar os walkers.

*Narrado por Sarah West

Fui em direção à enfermaria, talvez eu encontrasse Hershel, ou até mesmo Rick, que estava fazendo visitas frequentes nesses últimos dois dias para trocar o curativo, ele ainda possuía muita dificuldade com isso. Nesses três dias conversamos bastante, a presença dele era bastante agradável.

Agora eu via Rick com outros olhos, não como um grande líder, mas um homem que havia passado por muita coisa desde o começo do apocalipse, por muitas lutas, dores e ameaças. Não que chegasse ao ponto de amor como Karen e Sasha diziam no refeitório, mas eu não sabia o que sentia, principalmente porque às vezes, enquanto ele falava, eu me pegava perdida apenas ouvindo sua voz, sem prestar muita atenção no que ele dizia.

Meus pensamentos foram interrompidos com a chegada a enfermaria, eu estava certa de que Rick estava lá. Dei um sorriso e fui até ele.

– Você não me parece tão surpresa quanto das outras vezes que vim aqui. – ele brincou.

– Suas visitas estão previsíveis, Senhor Grimes – retribui a brincadeira.

– Eu gostaria de pedir uma coisa, mas não quero que você se sinta obrigada a aceitar... – ele começou, fiz um sinal com a mão para que ele prosseguisse. – Eu não sei como pedir isso.

– Pode falar – encorajei-o a continuar, já que ele estava um tanto constrangido. – Se precisar de ajuda para fazer alguma coisa eu farei com muito prazer, mesmo se for fazer a barba – brinquei. Ele realmente estava precisando fazê-la. Rick olhou para baixo com um pequeno sorriso.

– É exatamente isso – ele falou envergonhado.

– Sem problemas – falei e ele voltou a olhar para mim. O pedido poderia parecer estranho, mas considerando as circunstâncias atuais eu via isso de maneira natural.

– Bem... Muito obrigado, eu realmente estou precisando disso.

Eu assenti e Rick me conduziu pelo corredor até uma cela, a sua cela, que estava vazia. Ele olhou para o berço no canto da cela e depois olhou para mim.

– Desculpe, eu sei que esse assunto ainda deve ser delicado para você...

– Claro que é, mas eu já conheci a Judith. Não precisa se desculpar. Gabriela uma vez me disse que deveria haver algo guardado para mim, e eu estou confiando nisso.

– Acho que vocês estão se entendendo bem.

– Sim. Gabriela tem sido uma grande amiga, além de ter me ajudado bastante no supermercado.

– É bom ter gratidão, lembrar do que outras pessoas fizeram por você – ele falou. – Eu não estaria aqui sem a ajuda de algumas pessoas. Morgan, Glenn, Wayne, Hershel... Entre outras várias pessoas.

– É engraçado como encontramos pessoas muito boas, mas também existem outras muito ruins – quando mencionei pessoas ruins eu me referia a James. Olhei para a minha mão esquerda pensando na aliança, mas lembrei que ela não estava mais lá.

– Você disse que tinha um marido. O que aconteceu com ele? – Rick perguntou e eu pensei por longos segundos antes de responder. Eu não sabia exatamente o que dizer, aquele assunto estava morto para mim.

– Ele... Ele me abandonou – menti e disse a verdade ao mesmo tempo. Eu realmente não queria ter que explicar aquela história novamente. Ficamos por um tempo em silêncio até que decidi tocar em outro assunto, que possivelmente era delicado para ele. – E você usa aliança – falei olhando para a sua mão.

– O significado dela já se perdeu há muito tempo... – ele disse olhando para a aliança e suspirou.

Não demorou muito para que eu começasse a “ajudá-lo”. Primeiro limpei o ferimento e fiz um novo curativo com ataduras novas e limpas, em seguida comecei a fazer sua barba. Rick ficou quieto olhando fixamente para mim, e eu me esforcei para não fixar o olhar no dele e prestar atenção na barba.

– Acabei – falei estendendo uma toalha de rosto bege um pouco encardida.

– Muito obrigado – ele falou depois de limpar o rosto. Apenas dei um sorriso e ele retribuiu.

– Não foi nada. Bem eu já estou de saída.

Virei-me, mas antes que eu desse o primeiro passou para sair da cela, Rick segurou meu braço delicadamente e eu congelei.

– Espera, eu preciso falar com você – ele pediu. Voltei-me para encará-lo. Por alguns segundos, olhei nos fundos dos olhos dele. Rick fazia o mesmo. Foram apenas segundos, mas eu poderia ficar horas apenas olhando para ele.

– Pode falar – finalmente consegui dizer e saiu quase como um suspiro.

– Desde que encontrei o grupo, me senti responsável por todas essas pessoas. Mesmo não sendo mais o líder, sinto que preciso proteger todos. Isso é um fardo muito pesado, mas desde que você chegou... Eu sinto que esse fardo está mais leve – ele fez uma pequena pausa. Fiquei sem reação. Meu coração estava muito acelerado e estávamos bastante próximos. – Que não poderia continuar sem você – pensei em dizer que sentia o mesmo, mas eu ainda estava confusa em relação aos meus sentimentos Seis dias me pareciam muito pouco, mas de uma coisa eu tinha absoluta certeza, naquele momento a simples presença de Rick Grimes fazia meu coração disparar como nunca. – Você pode achar isso estúpido, talvez nunca mais olhe para mim, mas eu realmente preciso dizer isso, está me sufocando.

– Eu... Eu te entendo – consegui falar, mas ele pensou que eu estava falando aquilo para fugir das palavras dele.

– Me desculpe, eu não queria...

– Não, de verdade – o interrompi rapidamente. – Entendo o que você sente porque... Me sinto como uma adolescente, eu não entendo os meus sentimentos. Eu te conheço há muito pouco tempo, mas não sei, meu coração quase salta para fora do corpo quando estou com você.

Peguei a mão esquerda dele e coloquei sobre o meu peito. Eu podia sentir claramente meu coração bater numa frenética quase assustadora sinfonia. Rick agora sorria para mim, um sorriso bobo como de uma criança. Sorri de volta como sempre fazia e me aproximei mais. Nossos rostos estavam muitos próximos. Ele colocou suas mãos ao redor da minha cintura.

Fechei os olhos e ele me beijou.

– Pai! – nos viramos bruscamente e pudemos ver Carl. Ele nos olhava com raiva, mas ao mesmo tempo parecia chocado e confuso. Avery e Patrick estavam ao seu lado, mas detinham toda a atenção no garoto.

*Narrado por Avery Hopper

Patrick, Carl e eu estávamos na biblioteca da prisão. Dessa vez, Carl lia um de seus quadrinhos, enquanto Patrick lia um livro e eu, uma revista antiga. Tudo estava muito monótono, chegava a ser enjoativo, mas tudo era melhor do que ficar do lado de fora, sem proteção e com o futuro incerto.

Fechei a revista e comecei a me abanar com ela. Estava tudo tão chato que o tempo parecia andar mais devagar, e eu ansiava pelo fim do dia para poder dormir.

– O que foi? – Carl perguntou e só agora eu havia notado que Patrick também havia parado de ler.

– Calor – respondi rápido.

– Sério gente, vocês estão muito estranhos! – ele exclamou. – O que realmente aconteceu.

– Você já apagou da sua memória o que você fez há uns cinco dias? – Patrick falou. Carl estava mais esquisito do que nunca, todo cauteloso com Judith, eu quase não a vi nos últimos dias. Tudo por causa daquele incidente bobo com a Sarah. Se é que aquilo poderia ser chamado de incidente. Aquele deve ter sido o maior constrangimento da vida daquela mulher. Se eu estivesse naquela situação, sairia da cela enfiaria minha cara no lixo ou em qualquer buraco que encontrasse, como um avestruz.

– Isso de novo? Já falei que não quero que a Sarah se apegue!

– Sempre o mesmo discurso! Por favor! – disse balançando levemente a cabeça para o lado, apenas para enfatizar a frase.

– Vamos mudar de assunto – Carl pediu. – Vamos jogar futebol.

– Isso mesmo, fuja da conversa! Você sabe que, se conversássemos por mais cinco minutos, e te convenceria de que é um idiota – provoquei.

– Vamos falar mais baixo? – Patrick falou num tom de voz inferior. – Todos os blocos devem ter escutado!

– Tudo bem, vamos ao futebol! – me rendi.

Todos os dias fazíamos o mesmo caminho. Cela do Carl, biblioteca, cela do Carl, lado de fora. Mas dessa vez, pelo menos, iríamos jogar futebol no Sol ao invés de apenas observar o Sol escaldante da Geórgia.

Quando chegamos à cela, ficamos parados na porta. Rick e Sarah estavam lá dentro. Eles se beijavam e não notaram nossa presença. Para mim isso não tinha nada de mais, mas Carl tinha uma expressão estranha de raiva, confusão e talvez outras coisas que eu não compreendi.

– Pai! – ele exclamou com um tom de indignação e os dois se viraram rapidamente bem assustados.


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Notas finais do capítulo

Inspiramos a conversa entre o Rick e a Sarah na música "Green Eyes" do Coldplay. Achamos que ela tem a ver com a relação dos dois e ficamos felizes em fazer essa pequena homenagem. Uma pena que a Sarah não tenha olhos verdes.
O que acharam do capítulo? Deixem a sua opinião!
Até mais!