Abracadabra escrita por Aquary


Capítulo 3
Capítulo 3 - Emissários do Abismo




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A montanha que possuía um formato cônico era composta de várias câmaras que dividiam o status dos membros, os rituais eram todos realizados em um grande elevado artificial esculpido pelos antigos. Era possível observar tudo o que era feito por todos os níveis de status, mas o contrário não se aplicava graças ao altar central, coberto e cercado pelas rochas e tochas que iluminavam o local sagrado. Acima do templo uma abertura no cone revelava a lua cheia.

O templo possuía uma abertura central na qual todos os membros rituais se concentravam: o conselho, o líder, o sacerdote, ao todo se reunião nove membros do culto ao redor da profunda abertura central. Cem metros até o tubo artificial que levava a base vulcânica da montanha. Toda matéria ali depositada iluminada pela corrente energética da lua era levada imediatamente até o véu e era impedido de chegar ao abismo, mas não aquela noite, durante a noite da décima terceira lua cheia, tudo o que era levado para o véu, entrava em contado direto com o abismo.

A primeira fase ritual se resumia em simplesmente depositar uma oferenda de sangue no véu a fim de criar uma ligação entre o emissor e o receptor. Partindo dos mais antigos membros do conselho, o líder do bando e o sacerdote, todos os nove ofereciam de livre e espontânea vontade sua devoção e louvor ao antigo. O escuro que se estendia abaixo do templo parecia arder de forma sombria e espectral, trazendo de volta para o ar da noite um profundo sentimento de desespero e dor.

O ritual seguinte envolvia a criação de um laço especial entre o mais novo membro do corpo ritual e um mundano. Ser abraçado pelas sombras que impregnavam o coração de alguém e compartilhar seus mais íntimos segredos, um laço que poderia representar a danação de Andrew Morison e a ruína de seus planos. Precisaria encontrar a pessoa perfeita, facilmente controlável e acima de tudo incorruptível, alguém cuja identidade mesmo que descoberta não poria em riscos seus segredos mais obscuros.

O retorno para casa havia sido tranquilo e bem mais rápido que chegar até o ponto de encontro, as cinco horas a brisa fresca do inverno trazia para dentro do carro uma onda de relaxamento revigorante, a fera em seu interior se pronunciava satisfeita com o sucesso da noite e com a proclamação satisfeita de um novo objetivo. Infelizmente sua mente racional não se encontrava tão segura de que o novo objetivo seria tão abençoado, ainda mais quando tantos subalternos pareciam tão bem-dispostos a encontrar a pessoa certa para o cargo. Tolos e hipócritas.

A parte ruim da chegada do inverno era o trafego noturno, a entrada e saída constante de pessoas na cidade. Em consequência o motorista havia feito um desvio inusitado e confuso, pela parte mais pobre da cidade, podia ver seu apartamento do ponto onde estava, observá-lo de um dos pontos mais baixos da cidade era no mínimo como voltar a primeira infância. Lembrava-se perfeitamente bem da pobreza a qual sua família atravessava durante aquela época e como resultado sua fera interior rugia nas sombras de seu coração. Ódio. Odiava aquelas lembranças.

Um dos motivos pelos quais se esforçara tanto para chegar onde estava agora era justamente seu passado. Os fantasmas do passado que simplesmente não iam embora. Desejava profundamente o poder para transformar aquelas emoções, para fazer com que os fantasmas fossem embora, para fazer com que todos pagassem pelos seus crimes. Seu dinheiro não podia comprar esse tipo de satisfação, não conhecia nada no mundo mortal que pudesse lhe dar esse poder. E a cada novo passo na direção deste poder, podia sentir sua fera sombria se torna ainda mais poderosa.

O carro patinava em direção a uma rua de prédios pequenos e malcuidados, as cinco da manhã havia barulho e confusão naquela vizinhança que carecia urgentemente de reforço na segurança. Um gato preto saltou do alto de um prédio e pousou quase que em câmera lenta sobre a tampa de uma lata de lixo, ninguém pareceu perceber aquela estranha movimentação, mas assim como seus olhos azuis o traiam diretamente para o gato, os olhos amarelados do felino se viam fortemente atraídos pelos seus.

Nunca havia desenvolvido empatia por animais, pelo menos não pelos domésticos. Não sabia ao certo o porquê, afinal crianças normalmente se envolviam emocionalmente com qualquer tipo de animal. Uma rápida olhada sobre o bichano e ele estava de volta ao terceiro andar, a janela de onde escorria um tecido suave e levemente cor-de-rosa, parecia ter sido deixada aberta durante toda a noite. Em um lugar como aquele se perguntava como as pessoas ainda tinham coragem de cometer tamanho delito.

Observou uma última vez aqueles olhos amarelos, pareciam gravar em seu interior a figura que se ocultava nas sombras do interior do carro. Apurou seus sentidos para tentar identificar mais alguns traços sobre o animal, mas a voz angelical que atingiu os seus sentidos estava totalmente fora de seus planos mais íntimos. O tom suave como uma brisa de primavera, era calmo como uma corrente de água limpa e cristalina. Estranhamente podia sentir a fera em seu interior estremecer. Já havia sentido aquela sensação, mesmo que não se lembrasse de onde.

Elle despertou pouco antes das cinco e meia, faltavam exatamente uma hora até o seu despertar habitual, mas dormir no desconfortável sofá não era nem de longe como dormir em sua cama macia e aconchegante. A brisa gélida que esfriava todo o apartamento vinha do corredor estreito, lembrando-a que havia deixado a janela do quarto aberta. O miado baixo que veio da última porta lhe recordava que precisava comprar uma coleira para Bruce, já tinha colocado suas vacinas em dia, mas a identificação lhe pouparia de buscá-lo pela cidade.


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