Decode escrita por Julio Kennedy


Capítulo 28
Cronicas de Will - Prova


Notas iniciais do capítulo

Continuação das cronicas de Will, escrevi no meu tempo livre meses atrás, espero que gostem.



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Levei aquele sermão quando cheguei em casa. Minha mãe ficou na sala me esperando, sentada de pijamas, usando uma meia calça na cabeça para fazer o que ela chama de “touca” – eu já estava prestes a ligar para policia – disse ela com a voz áspera.

_Desculpa – foi à única coisa que eu disse enquanto caminhava direto para a cozinha. Ela ficou me seguindo e me passando todo o tipo de sermão que se pode imaginar relacionados aos perigos das noites de BH, enquanto eu atacava um pacote de biscoitos.

Fui dormir por volta de uma da manha. Fiquei na internet procurando em fóruns os comentários sobre o evento. As pessoas estavam confusas e nervosas. Eu? Só preocupado.

Por volta de meia noite antes de eu apagar com o notebook na barriga, estava conversando com Thomas no bate-papo.

Astomtom diz: Oi.

Naruto Negão diz: O pessoal do fórum quer matar o pessoal da organização do evento.

Astomtom diz: Eu vi.

Astomtom diz: O que você acha?

Astomtom diz: E alias, você já preencheu sua fixa de inscrição no site do evento ne?

Naruto Negão diz: To querendo ir amanha não.

Naruto Negão diz: Nem pensei em olhar lá, faço isso agora.

Astomtom diz: Tecnicamente você não foi selecionado para amanha. Já são 00:32 de quarta.

Naruto Negão diz: _I_

Astomtom diz: Eu não sei se vou pra faculdade com vocês ano que vem.

Fiquei sem responder durante algum tempo tentando processar a informação. Desde a quinta serie nos falamos em ir para a faculdade juntos. Thomas era meu melhor amigo a tanto tempo que eu nem mais conseguia me lembrar de como começou.

Astomtom diz:???

Naruto Negão diz: Por que?

Astomtom diz: Me inscrevi na PUC de São Paulo e acho que passei.

Eu escrevi alguns textos explicando porque ele não deveria ir, e que ele deveria fazer jus a suas palavras e vir estudar comigo. Mas por fim acabei desistindo.

A manha seguinte foi como qualquer outra, tirando o fato que dessa vez adiantei meu despertador vinte minutos para chegar ao banheiro antes de Nica. Minha vida seguia sempre a mesma rotina chata. E eu não gostava de admitir, mas gostava da minha rotina.

Eu sempre sabia o que tinha que fazer todos os dias. Eu tinha segurança sobre os fatos do meu cotidiano. E eu gostava dessa segurança. Eu gostava de me sentir entediado.

Fiquei em casa pela manha assistindo desenhos enquanto minha mãe me contava sobre como a amiga dela era falsa e não sei mais o que. Eu fazia questão de acordar cedo, porque sabia que se minha mãe me visse na cama depois das nove diria que eu era um vagabundo, e que não trabalhava.

Você deve estar pensando “um garoto de dezessete anos já podia muito bem ter um emprego e ajudar em casa”, mas existem três pontos que impedem isso A) Minha mãe me chama de vagabundo, mas todas as vezes que eu arrumei emprego ela me obrigou a largar para não atrapalhar os estudos, porque B) Meu pai mandava pensão a mais caso eu me focasse na escola e tirasse notas boas, e C) no final das contas ela também não trabalhava, porque meu pai também mandava uma pensão pra ela, além da que minha irmã recebia.

Ai você pensa “porra, eles vivem as custa de outra pessoa”, e então eu te digo que cada centavo arrancado do meu pai é pouco. Ele deixou minha mãe quando ela ainda estava gravida de Nica pra ficar com uma garota de dezenove anos, peituda e gostosa.

Minha mãe quase perdeu Nica na ocasião, ela não comia, não conversa. Por causa dela passei momentos muito difíceis. Eu com quatro anos passando fome porque minha mãe não tinha animo pra fazer papinha.

Meu pai acabou contratando uma enfermeira que fica em tempo integral cuidando da gente. Obrigando minha mãe a se alimentar e me dando comida.

O senhor Ribeiro? Meu pai hoje deve ter por volta de uns quarenta e cinco acho. Ele é físico e trabalhou algum tempo na UFMG, (Universidade Federal de Minas Gerais se você não sabe), um bom tempo se quer saber. Pelas ultimas noticias que tenho, ele recebeu uma proposta de emprego e foi trabalhar no Rio de Janeiro no começo do ano passado.

Não tenho muito contato ele. Minha mãe me obriga a ligar no dia dos pais e no aniversario dele, e ele me liga no meu quando não se esqueci e assim levamos.

Por volta de uma da tarde recebi um e-mail. Meu celular fica conectado o tempo todo se quer saber. Por volta de três da tarde, o intervalo no colégio eu o li. Era da organização do concurso avisando que a segunda etapa seria feita no campus do Barro Preto, na universidade Platão.

Eu conhecia bem de nome e sabia que ela era o polo tecnológico da faculdade. Eu fiquei nervoso. Dessa vez parecia que seria pra valer.

Por volta de seis da tarde encontrei Thomas e João no Cyber Mania e fomos para a faculdade. Assim que chegamos lá vimos que a fila de pessoas já estava caminhando. Haviam pessoas vestidas de uniforme cinza na porta nos guiando para dentro das salas separadas por ordem alfabética. Acabei sendo mandado para o vigésimo primeiro andar – nome com W – era sempre assim.

La em cima havia um laboratório de informática absurdamente bem estruturado. Com mesas enormes pretas, com computadores brancos ultra finos sobre o decorrer da mesma.

Me sentiu na primeira cadeira da entrada e olhei para o cara a minha frente. Ele vestia uniforme cinza como o resto do pessoal e tinha um rosto muito serio. Eu olhei para o monitor e vi que havia um sistema aberto que dizia “insira seu e-mail e o código da pulseira”. Digitei mais oito caras entraram na sala.

_Boa tarde senhores – disse o homem fechando a porta na cara de uma garota – quem não entrou até agora não precisa mais entrar.

Engoli seco, aparentemente eles eram muito rígidos – como podem ver na tela do computador de vocês há um campo onde devem preencher com seu e-mail, e em seguida clicar em prosseguir.

_A tela aberta na frente de vocês mostrara o visual studio. Pra quem não conhece e isso significa que já não ter chances de ir para próxima fase, é um programa feito pela Microsoft para desenvolvedores – olhei para tela e vi o programa.

A principio temi, mas logo me dei conta de que eu sabia usar aquilo, eu já havia instalado e brincado de programar em casa – a tarefa de vocês é simples. Vocês tem uma hora e meia para criarem um software de barramento dados – continuou nos dizendo ele.

_Os dados que vocês terão de defender estão alocados no disco local C: - disse ele sorrindo – os dez softwares que resistirem por mais tempo passarão para a próxima e final fase. Boa sorte.

Eu olhei para a tela do computador e surtei, como eu iria fazer isso? Ele não ia nos dar mais nenhuma informação? – eu não sei usar esse programa – disse um garoto loiro no fundo da sala.

_Então, por favor, se retire da sala, suas indagações inúteis estão atrapalhando a concentração do resto dos concorrentes – o garoto arregalou os olhos e gaguejou alguma coisa, mas o monitor nem se quer olhou para ele.

Depois de algum tempo ele saiu da sala nos deixando, os outros participantes, desesperados. Suspirei e coloquei a mão no teclado. Primeira coisa a se fazer era verificar que tipo de dados deveriam ser defendidos.

Assim que abri a pasta percebi que eram dois arquivos de texto. Abri o primeiro e vi que se tratava de um recado.

Caro leitor

Vejo que mesmo tendo tempo limitado resolveu parar por um segundo e prestar atenção no que esta escrito neste mero pedaço de papel virtual. Como pode perceber muito provavelmente as pessoas a as volta já devem – espero – estar digitando dezenas de linhas de código em vão.

Mas a maneira mais simples e correta de resolver essa atividade é usando o código que esta no segundo arquivo de texto. Nele há um algoritmo de encriptação muito poderoso. Claro que poderemos resolve-lo facilmente, mas como você deve bem saber, analisar linhas de código é uma tarefa base para um programador.

Eu tive que olhar algumas vezes o texto e abrir o segundo arquivo para poder acreditar que aquilo era realmente verdade. Depois que finalmente criei coragem e decidi mexer nas linhas de código.

Primeiro analisei e percebi que era realmente um código bem elaborado. Muito mais do que provavelmente eu conseguiria fazer. Então gastei cerca de vinte minutos alterando e incrementando as linhas de código, trocando variáveis, invertendo ordem de execução e modificando tudo o que podia.

Fui o primeiro a sair da sala.

Fiquei na porta da faculdade esperando meus amigos saírem. Eles apenas saíram de lá com o toque do ultimo sinal. No caminho pra casa perguntei a eles sobre os arquivos.

_Que arquivo? – indagou Joao. Ele estava com os cabelos totalmente atrapalhados.

Thomas se sentou no banco do metro e resmungou – eu pensei em tudo menos abrir aquilo.

_Eles trapacearam – gritou Joao revoltado.

Dei de ombro – se era roubo, roubaram para todo mundo.

João não pareceu ficar nada satisfeito, ele mal falou comigo no caminho até em casa, mas afinal de contas o que eu havia feito de errado?


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Notas finais do capítulo

Eu gosto desse Will, mas vai ser bom deixa-lo para tras, proxima temporada ele volta bem diferente.



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