Decode escrita por Julio Kennedy


Capítulo 29
Cronicas de Will - Finalmente


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capitulo extra de Will, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/422252/chapter/29

Todas as trezentas e trinta e duas pessoas foram chamadas para o teatro municipal. Pelo visto os organizadores do concurso estavam dispostos a gastar uma pequena fortuna. Recebemos o e-mail logo pela manha avisando que o resultado seria revelado no teatro na frente de todos.

Dez pessoas apenas dentre todas aquelas iriam para ultima e mais emocionante etapa do concurso.

E acredite em mim quando digo. Metade de mim era desespero, e a outra metade ansiedade. Matei o ultimo dia de aula e fiquei no meu computador o dia todo falando com Thomas e João.

Naruto negão diz: Não é possível gente, o arquivo de texto estava na cara de vocês.

Astomtom diz: Eu nem pensei nisso cara, comecei a digitar um monte de linhas de código sem sentido e acho que fiz um bom trabalho.

Pirulicoptero diz: Isso é roubo, eles trapacearam.

Astomtom diz: Claro, trapacearam para todo mundo.

Naruto Negão diz: O arquivo tava lá pra todo mundo, você não leu porque não quis.

Pirulicoptero esta off-line

Astomtom diz: Ele sempre faz isso.

Astomtom diz: Fica de boa Will, isso tudo é inveja.

Naruto Negão diz: É, acho que vou ligar pra ele.

Astomtom diz: Larga de ser bundão, você não fez nada.

Astomtom diz: Tenho que sair aqui, nos encontramos na porta do teatro.

Naruto Negão diz: uhum...

Como estava entediado e não queria dar de cara com minha mãe em casa fui para o centro da cidade. Fui para praça sete e fiquei sentado em umas das escadas da esquina dos bancos olhando para o monumento no meio do cruzamento.

Fiquei pensando no quanto aquele pobre obelisco era solitário, e que eu no lugar dele ia acabar querendo me matar, e gastei muito tempo imaginando formas possíveis de um monumento se matar. Fiquei olhando também para as gigantescas cobras enroladas na fachada do prédio do outro lado da rua e tentei imaginar o tamanho do trabalho que deve ter dado para prender aquilo na parede. Aquilo tinha mais de dez metros cara.

Mas posso dizer que eu não acredito em sorte, pelo menos boa sorte. Quando meu tedio chegou a um nível tão alto que nem mesmo eu estava suportando decidi ir até o parque municipal olhar as pessoas andando com aqueles barcos coloridos no lago.

Assim que pus meu primeiro pé na faixa para atravessar a rua senti uma mão no meu ombro. Semicerrei os olhos e já me preparei para esmurrar Thomas quando vi Nica me encarando com um sorriso sarcástico no rosto que dizia “você me deve uma ou eu conto pra mamãe” – legal seus professores, esta tendo aula de que? Urbanismo?

_Urbanismo não tem nada haver com passeios idiota – disse sabendo que estava sendo infantil.

Ela fechou a cara e disse alto – vamos ver o que a mamãe acha que é.

_E o que você esta fazendo aqui? – perguntei esperando que ela não tivesse resposta para a pergunta e eu pudesse suborna-la com isso.

Ela me olhou com uma cara que dizia “não acredito, querido, era pra você saber” e eu fiquei meio tipo “se eu soubesse por que eu perguntaria?” e por fim ela disse – é só aniversario da sua mãe amanha, eu estou comprando meu presente – esbravejou ela.

Dei um tapa no rosto e suspirei. Nica me puxou pela camisa quando os carros estavam quase passando sobre mim. Eu não havia percebido que o sinal havia aberto – eu vou cobrar por essa minha benevolência – disse ela saindo de perto de mim.

Demorei um minuto ou dois para poder me orientar na situação, o sinal abriu novamente e finalmente o atravessei. Quando cheguei do outro lado me senti como a galinha, me perguntando porque eu havia atravessado a rua.

Então me lembrei que estava indo ao parque. As horas se arrastaram e minha tarde se resumiu em tedio, tédio, e tedio.

Quando a tarde começou a ir embora eu fui em direção ao teatro municipal, que se quer saber fica perto da praça sete, tudo fica perto da praça sete, se aquele lugar fosse atacado a cidade ia ruir. Haviam pouquíssimas pessoas lá, então aproveitei e fui para fila de sete pessoas que havia se formado na porta.

Fiquei jogando no meu celular até por volta de sete da noite quando finalmente Tomas apareceu – fala cara – ele me cumprimentou dando seu característico e irritante tapa no ombro.

_Cadê o João, vocês não viam juntos? – perguntei curioso.

Ele me encarou durante um tempo avaliando o que diria – fala logo – pedi nervoso.

_Ele disse que não quer participar de um concurso como esse – respondeu ele abaixando a cabeça.

Eu franzi o cenho e perguntei – e? O que mais você não quer me contar?

_Eu estava ajudando ele Will – respondeu Tomas – ele acabou de se inscrever no curso de criador de jogos.

Eu o encarei e coloquei a mão na cabeça – vocês estavam planejando isso desde quando? Nós íamos estudar juntos, somos como os três mosqueteiros, como Harry, Roni e Hermione.

_E talvez você até seja a nossa Hermione – disse ele rindo – mas Will, é o futuro, cada um escolhe o seu. Eu to com medo de ir pra outro estado, mas cara, você sabe que eu sempre quis essa oportunidade.

Era um pouco egoísta mesmo da minha parte, mas eu não estava sendo o quebrado de planos, eles deveriam me consultar antes de tomar uma decisão dessa – e com quem eu vou pra faculdade? – perguntei sem perceber.

_Você fara novos amigos – ele me respondeu.

Ri na cara dele, até parece que eu sou o senhor popularidade. As portas foram abertas e as pessoas começaram a entrar, o segurança na porta segurava um aparelho na mão que escanceava as pulseiras eletrônicas.

O teatro como qualquer outro tinha um auditório gigantesco, com centenas de cadeiras de camurça, ou algo similar, dispostas em fileiras. Todas as luzes estavam acessas, e assim que chegamos à primeira fileira vimos no palco às dez mesas.

Em cada uma delas haviam computadores com monitores transparentes, todos dispostos lado a lado. Os camarotes acima estavam com a passagem bloqueada, e homens e mulheres vestidos com roupas sociais nos encaravam com olhares críticos, enquanto comentavam qualquer coisa sobre nos.

Suspenso atrás dos computadores havia um imenso telão que no momento estava desligado, mas eu já podia imaginar do que se tratava. Um frio tomou conta da minha barriga, eu não teria coragem de subir ali nunca nessa vida.

_Nervoso? – perguntou-me Tomas me olhando estranho.

Sorri o encarando de volta – você conhece aquela raça de cachorro? Chihuahua.

Ele sorriu – já reparou no quanto o nome deles é engraçado?

_A questão não é essa – respondi serio – por dentro estou tremendo como um.

_Você tem um vibrador canino na barriga? – me perguntou ele rindo.

Franzi o cenho – do que você ta falando velho? – questionei, então caímos na gargalhada.

As pessoas foram entrando aos poucos, acomodando os lugares que encontravam vazios mais a frente. As vozes tomaram conta do lugar até que de repente todas as luzes se apagaram.

Aparentemente eles gostavam de me assustar, dei um pulo da cadeira e se não fosse pelo tanto de pessoas que também gritaram Tomas ia me zuar pra sempre, porque admito que gritei como uma mulherzinha.

Um refletor se direcionou ao palco revelando um homem de terno, ele era alto e muito branco. Seu cabelo era crespo, e deixava a cabeça dele enorme. Ele ergueu o microfone e nos cumprimentou – Boa noite!

Todas as pessoas ali responderam de volta em coro – Muito bem, meu nome é Afonso Fernandes e sou o emissário das quatro grande empresas que patrocinam esse evento. O grupo Partnes, a maior empresa de gestão comercial do pais, O centro universitário Platão, Genesis biotecnologia, e evolução e por fim – disse ele com um sorriso de pasta de dente caminhando no palco.

_O ultimo investidor é uma pessoa física, que para seu próprio conforto preferiu não ser identificada – nos contou ele com a voz baixa, fazendo aquela informação parecer mais relevante do que realmente poderia ser – os nossos jurados estão nos camarotes um e dois – disse ele apontando para o alto – e eles julgaram os dez finalistas esta noite.

Se quer saber ele continuou com papo furado sobre a importância que aquele concurso teria na vida dos três primeiros colocados que levariam as bolsas. Fez o famoso merchandising e depois de quase quarenta minutos ele finalmente ligou o monitor e os nomes começaram a aparecer.

_Os nomes aparecerão em ordem de classificação – disse ele apontando para a tela – assim que seu nome aparecer por favor se encaminhe ao palco.

E então como Star Wars os nomes começaram a subir. Fiquei tão angustiado que mal pude respirar. O primeiro nome foi Daniel Thiago Fonseca, o garoto gritou no auditório e as pessoas começaram a aplaudi-lo enquanto ele corria para o palco.

O segundo o de uma garota Pamela Larissa Oliveira. A garota era linda, parecia ter por volta de dezoito anos, seu cabelo era cortado acima do ombro e tinha a cor presta, sua pele era branca e as curvas de seu corpo... a pera ai, ela era gostosa mesmo.

Senti meu corpo tremer a cada nome, a cada aplauso e a cada corrida pro palco. Quando por fim apareceu o penúltimo nome Phillip Tadeu Martins eu já não esperava mais que o meu fosse aparecer.

Então quando fui tirar meu celular do bolso para ver a hora Tomas socou meu braço e gritou, levei alguns segundos para entender – você foi selecionado Hermione – gritou ele – você foi selecionado.

Meu coração parou, depois disparou, eu não estava creditando, eu comecei a gargalhar. Levantei os braços e gritei, eu velho, eu tinha sido selecionado, suspirei fundo e me senti orgulhoso.

_Ta esperando o que imbecil? – me perguntou Tomas.

_Esperando o que? O que? – perguntei confuso.

_Vai pro palco idiota – respondeu ele.

Arregalei os olhos e sai correndo, fui para a lateral do palco onde haviam as escadas e subi o mais rápido que eu pude. Quando cheguei no ultimo degrau tropecei voando no chão de boca.

As pessoas no palco gargalharam e todo o auditório os acompanhou, a dor tomou conta do meu queijo e meus olhos lacrimejaram, estava com tanta vergonha que queria sumir. Abaixei a cabeça enquanto me levantava e voltei a descer as escadas, eu não precisava disso, eu ia embora dali. Eu já estava pronto pra sair correndo quando Toma surgiu e me empurrou para o palco.

_Eu quero ir embora – gritei com ele. As gargalhadas encobriam minha voz.

Ele fez um sinal negativo com a cabeça e gritou de volta – lembra quando colaram chiclete no seu cabelo no sexto ano? Você é melhor que todos aqui embaixo Will, você esta concorrendo a essa bolsa, nenhum desses idiotas esta.

Eu suspirei e subi novamente, a verdade é que eu queria chorar, mas eu não ia. Afonso segurou o riso e pediu que todos se acalmassem – por favor, se direcionem a uma mesa – ele nos pediu – o ultimo dever de vocês foi desenvolver uma barreira segura, mas desta vez é exatamente o contrario.

Nossos monitores ligaram juntos, e o telão atrás de nos começou a mostrar as dez telas em tamanho gigante – quando a sirene tocar o primeiro que conseguir invadir o núcleo desse sistema será o nosso campeão.

O software de desenvolvimento abriu na nossa tela, e na tela de trás apareceu o código que deveríamos destrinchar – estão todos prontos? – ele perguntou para nos sem o microfone. Todos confirmaram.

_Então que comecem – gritou ele sorridente. Uma sirene tocou e nosso teclado acendeu, um segundo depois comecei a ouvir o som das teclas.

A primeira coisa que eu tinha que fazer era ver o código. Assim que olhei para o algoritmo fiquei perplexo, ele era muito avançado. Todas as cadeias separadas em matrizes e vetores, haviam seguimentos de comando para todo tipo de ação possível.

_O que é isso? – perguntei-me admirado com a clareza que cada variável foi detalhada.

_O que foi, a queda te fez perder a memoria idiota? – perguntou-me o garoto do meu lado. O reconheci no mesmo instante, ele foi o primeiro colocado na segunda fase.

Assim que identifiquei qual era o núcleo comecei a digitar comando de destrave, mas quanto mais eu usava, mais eu era barrado. Pensei que talvez o núcleo pudesse ser aberto a força, então comecei a tentar forçar a abertura de cada porta.

Levei cerca de dez minutos para descobrir a primeira primary key. E vi que todos ao meu lado já estavam bem mais distantes que eu, os meus dedos quase desapareciam com a velocidade que eu digitava. Telas abriam e fechavam na minha frente.

Quando a lente dos meus óculos embaçou eu percebi que nunca venceria se dependesse de arrombar o núcleo, então comecei a repetir pra mim mesmo “pensa, pensa, pensa, pensa”, e se quer saber, isso nunca funciona.

Então me lembrei do sexto ano quando o Matheus do oitavo ano colou chiclete no meu cabelo durante o intervalo. Eu não queria voltar para a sala pra procurar uma tesoura, a merda estava muito profunda e eu ia ficar com um buraco na cabeça.

Sentei na quadra coberta no ultimo banco, o mais alto e comecei a chorar. Esse tipo de coisa vivia acontecendo comigo. Então nesse dia decidi que precisava fugir da escola.

Tentei passar pelo portão principal, mas assim que me aproximei uma cantineira apareceu e eu nem tentaria fazer isso na cara dura. Passei uma hora abaixado no estacionamento até que finalmente o diretor da escola abriu a porta dos fundos, e eu sai correndo junto do carro.

Me senti tão aliviado de não precisar ser humilhado na sala, eu estava sorrindo quando carro do diretor parou do meu lado e ele me agarrou pela camisa sem sair do carro. No final das contas eu fui suspenso por tentar fugir, Matheus foi suspenso por ser a reencarnação do demônio e eu levei uma surra na semana seguinte – careca só pra constar – do Matheus, por ser um dedo duro.

Quando acordei do meu devaneio a epifania veio – é claro – sussurrei. Todo o programa tinha uma Backdoor, uma entrada de segurança caso o programador que o criou esqueça como destrava-lo.

Ouvi o grito da garota que ficou em segundo na seleção, o computador dela havia desligado. Provavelmente fez alguma coisa errado pensei.

Então comecei a procurar, revirei cada bit, quando depois de mais dez minutos encontrei. Assim que consegui acesso ao sistema minha tela começou a piscar, e no monitor atrás de mim a minha tela apareceu com a legenda “primeiro colocado”.

O garoto do meu lado olhou com desdém e então eu arredei a cadeira e fiquei de pé gritando – éh – e todos lá embaixo começaram a me aplaudir.

Afonso me chamou na frente do palco, eu estava tremendo como um chihuahua, mas dessa vez não internamente – Parabéns William – disse ele - você foi o grande vencedor.

Os aplausos e gritos eram tão altos que eu mal podia ouvir meus pensamentos, eu estava tão feliz, Tomas estava lá embaixo de pé sorrindo muito e eu pude ler os lábios dele “Hermione”.

***

_Eu não me lembro quem ficou em segundo e terceiro colocado, e acho que também não faz diferença a essas alturas do campeonato – disse a Lud que me encarava curiosa – foi muito difícil me despedir de Tomas e do João no final do ano. Tomas esta em São Paulo e João acabou não entrando na faculdade naquele ano. João me pediu desculpas e me deu o pokemon esmeralda dele como presente, ele disse que sentiu ciúmes de mim, e eu respondi que ficava orgulhoso de que alguém como ele quisesse se parecer comigo pelo menos uma vez.

Suspirei e coloquei o copo em cima da pia – quer encontra-los – ela e perguntou tranquilamente.

_No meio de tudo isso, acho melhor não – respondi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Voce deve estar se perguntando. Will conta isso a Lud em que momento? Apos o termino de Decode e antes do começo de Guardians, okay? Espero que tenham gostado, e se quiser comentar vai ser bacana.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Decode" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.