Corredor do terceiro ano

- Momo-senpai! Momo-senpai!

A garota de cabelos e olhos prateados se virou e o viu parado perto dela, ofegante.

- Kaoru-kun, o que houve?

- Eu queria conversar com você. Agora que somos amigos.

Aquela palavra começou a ecoar pela cabeça de Momo. Eles eram amigos. Os olhos de Momo se encheram de lágrimas e ela se jogou nos braços de Kaoru.

- Momo-senpai, o que houve?

- Você é um dos meus primeiros amigos.

- Primeiros?

- Sim. Todos têm medo de mim. Isso por causa do que eu realmente sou. Se você soubesse isso, você também se afastaria de mim.

- Por que você acha isso? – Kaoru perguntou ainda abraçando Momo.

- Porque eu sou uma... Shinigami.

Almoxarifado do prédio do ensino médio

Os dois se abraçavam e se beijavam, mais e mais. Parecia que eles não se viam há anos. Entre um beijo e outro ele sussurrava “eu te amo” no ouvido dela. Ele segurava a cintura dela com força e ela o pescoço dele. Aquele lugar estava cheio de materiais e quase não dava para andar por ali, os dois estavam entre uma estante e outra, perto dos equipamentos para a aula de educação física. Nenhuma turma teria aquela aula naquele horário, por isso estava tudo bem. Isto é, até eles ouvirem aquela voz:

- Tenho que pegar as bolas para o treino.

Eles tinham esquecido que o time de basquete teria um jogo e por isso faltariam as aulas para treinar. Zero puxou Yuuki para mais perto dele, para que suas presenças fossem imperceptíveis. Ela apoiou sua cabeça no peito dele e começou a respirar devagar, assim como ele, para que não fizesse barulho.

O garoto de cabelos pretos pegou um dos sacos repletos de bolas que estavam um pouco vazias. Kamui gritou um palavrão e sentou ali, no meio de todos os equipamentos para encher as bolas. Os dois, ainda abraçados, tentaram caminhar devagar para fora de lá, mas Zero tropeçou em uma lata de tinta.

- Quem está aí? – perguntou Kamui. Zero pegou sua pasta, a deu para Yuuki e a empurrou. – Yuuki? O que faz aqui, amor?

- Ah, eu vim pegar a pasta do Zero-sensei. Ele esqueceu aqui da última vez que veio pegar um dos tabuleiros para o clube de xadrez. – o que não era realmente uma mentira. Zero-sensei era o monitor do clube de xadrez, e uma vez esqueceu a pasta dele ali. – Como agora tem aula dele, ele pediu que eu viesse pegá-la.

- Ah... – ele disse. Olhou para o lugar onde estava sentado e perguntou. – Não está com pressa, está? Eu ainda tenho que encher todas essas bolas, sente-se aqui ao meu lado.

- Hã... ah, claro. Tudo bem.

Ela foi até lá, sentou-se e colocou a pasta sobre o colo. Ele continuou enchendo as bolas e ela ficou em silêncio o tempo inteiro.

- Yuuki, não precisa ficar assim.

- Hã... Assim como?

- Quieta. Nós devíamos estar conversando, ou fazendo qualquer coisa, menos estar em total silêncio. Eu não estou com pressa e nem você, então que tal se fizermos isso? – ele perguntou, encostando seus lábios nos dela.

Ele se afastou e depois se aproximou de novo. Dessa vez, ela também o beijou. Os dois ficaram assim um tempo, depois ele colocou o braço sobre os ombros dela e a fez encostar sua cabeça no ombro dele.

- Yuuki, no ano que vem não estaremos mais na escola. Será que ainda estaremos do jeito que estamos agora? Namorando?

- Eu não sei, Kamui.

- Eu espero que sim. Quero muito estar ao seu lado. Eu realmente te amo. – ele a fez tirar sua cabeça do ombro dele e virou-se para ela. – Yuuki, ano que vem teremos 18 anos e poderemos morar sozinhos se quisermos. Meu pai disse que comprará uma cobertura para mim perto da faculdade onde quero entrar. Você não quer morar lá comigo? Poderemos ir os dois para a mesma faculdade, caminhando juntos. – Yuuki fez uma expressão de surpresa.

- Ah, eu não sei, Kamui... Eu pensei em continuar morando com meus pais até conseguir um trabalho.

- Não se preocupe, meu pai disse que arcaria com minhas despesas. A única coisa que eu precisava me preocupar era com os estudos.

- Mas você não vai para lá para ter independência? Isso é ter dependência. – Yuuki tentava fugir da proposta de Kamui.

- Na verdade, não. Eu apenas iria morar em um lugar mais perto da faculdade para não me atrasar e ter tempo para estudar. Vamos. Você poderia entrar na mesma faculdade que eu e assim poderíamos ir junto para a faculdade, voltar juntos e ficar juntos mais tempo.

- Ah, mas... – Yuuki não sabia como recusar. Então foi interrompida por uma voz profunda.

- Ela não vai.

Os dois se viraram na direção da voz. Zero estava com os punhos cerrados, os observando.

- Zero-sensei, o que você quer aqui? E o que faz atrapalhando nossa conversa? Que eu saiba você não tem nada a ver com o que estamos falando aqui – disse Kamui.

- Eu já disse que ela não vai com você. Ano que vem, eu vou morar junto com a Yuuki-chan perto da faculdade em que ela quer entrar. Eu não vou obrigá-la a entrar em uma faculdade que ela não queira só porque eu vou trabalhar lá e preciso morar perto de lá. A faculdade dela é muito longe de onde eu trabalho, mas mesmo assim, eu vou morar lá perto com ela.

- Como assim, você vai morar com ela? Você não é nada para ela para dizer isso!

- Eu sou a pessoa que ela ama, se você não sabe.

- O que você quer dizer com isso? Eu e Yuuki somos namorados.

Os dois voltaram seus olhares para Yuuki. Ela os observava sem saber o que fazer. Zero tinha razão: ela o amava e ano que vem eles pretendiam morar juntos em um apartamento perto da faculdade em que ela queria entrar, mas ela não poderia contar aquilo para Kamui, nem para ninguém, Zero poderia ser demitido, e ela poderia ser suspensa. Ela se virou para Kamui e disse:

- Você tem razão, eu amo você, Kamui, não a ele. Eu aceito a proposta, ano que vem eu vou morar com você – ela se aproximou dele e o beijou. Ele retribuiu o beijo.

Zero cerrou seus punhos e caminhou para fora do almoxarifado. Quando eles não conseguiam mais o ver, os dois se afastaram. Kamui a puxou para si novamente e colocou a cabeça dela sobre seu peito.

- Que bom que você aceitou a minha proposta, Yuuki.

- Sim – ela disse tentando não mostrar que seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Corredor do primeiro ano

- Haru-chan, Haru-chan! – Honey-sensei gritava para a garota de cabelos castanhos curtos à sua frente.

- Ah, Honey-sensei.

- Que bom que você melhorou, Haru-chan.

- Obrigada. Levou duas semanas, mas hoje eu finalmente pude sair da cama – ela afirmou sorridente.

- O que você tinha, Haru-chan?

- Infecção intestinal, foi o que o médico disse – ela respondeu. – Mas agora já estou bem melhor. – e sorriu.

- Ah, sim, Haru-chan, Tama-chan e Hika-chan estavam te procurando. Eles devem estar na aula de ciências agora, então tente falar com eles no final das aulas.

- Certo.

O professor saiu andando em direção à sala dos professores e Haruhi voltou para sua sala.

Final das aulas, portão de entrada

- Tamaki, Hikaru! – gritou Haruhi para os dois garotos.

- Ah, minha querida filha, você finalmente voltou para a escola. Com certeza, ela não era a mesma sem você – gritava Tamaki para Haruhi. Ele tentou abraçá-la, mas só conseguiu abraçar o vento. Haruhi já estava conversando com Hikaru um pouco mais na frente. – Quê? – ele olhou para os dois lados quando se deu conta disso. – Haruhi! – então correu atrás dela.

- Então você estava com infecção intestinal? – perguntou Hikaru. Ela assentiu. – O que deve ter causado isso?

- O médico disse que foram morangos. A única coisa que eu comi que tinham morangos era... Ah, os cookies que o Tamaki me deu.

- Flash Back –

Em um dia normal de aula, a porta da sala 101 foi aberta com força. Um garoto loiro entrou correndo na sala.

- Haruhi! Olha o que o papai trouxe para você! – ele disse abrindo um pequeno pacote e mostrando para uma garota de cabelos castanhos curtos. – Cookie!

- Hm... Cookie de quê?

- De morango. São deliciosos, prove alguns.

A garota pegou um e comeu. Estavam deliciosos. Ela pegou mais um, e depois outro e mais outro, até não sobrar nenhum.

- Fim do Flash Back -

- Ah, então foi isso. Basicamente, a culpa foi do Tamaki – afirmou Hikaru com um sorriso malicioso para Tamaki, que o olhava com uns olhinhos de cachorro abandonado.

- Na verdade, eu não acho isso, Hikaru. Tamaki não sabia que os morangos me causariam isso, e a intenção dele foi muito nobre. Os cookies estavam deliciosos.

- Ah, Haruhi, você realmente acha isso? – perguntou Tamaki com lágrimas nos olhos. Ele pulou em cima e a abraçou com força.

- Ah, Tamaki, saia de cima de mim. Eu disse que sua intenção foi nobre, mas não te dei o direito de fazer isso. Saia!

Tamaki saiu de cima dela novamente com sua cara de cachorrinho abandonado. Haruhi e Hikaru continuaram caminhando e conversando. Tamaki foi seguindo-os.

Os dois pararam em uma soverteria e sentaram em uma mesa só de dois. Tamaki se aproximou deles e os ficou observando.

- Ei, gente, onde eu vou sentar?

- Sente-se ali, Tamaki, na mesa ao lado.

Tamaki suspirou e sentou-se na mesa ao lado da deles. Eles pediram apenas um sorvete de chocolate e o dividiram. Pareciam um casal durante um encontro. Algo dentro de Tamaki doía. O que era aquele sentimento estranho que ele nunca havia sentido? Só de observar Hikaru e Haruhi daquele jeito, algo nele doía. Parecia ser seu coração. Ele se levantou e correu para fora da sorveteria. Haruhi estranhou o comportamento de Tamaki e tentou impedi-lo de ir embora, mas Hikaru a impediu de segui-lo.

- Hikaru, me solte. Tamaki foi embora, eu quero saber o que houve.

- Não, Haruhi. É melhor deixá-lo sozinho agora. Eu sei o quanto ele está confuso.