Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 32
Capítulo 32 - Sabe o que dizem sobre inimigos


Notas iniciais do capítulo

RECOMENDAÇAAAAAAAAAAAAO O/
Allask, cujos reviews eu já amo, a recomendação então... ;33333333333
Ah... E temos um POV especial nesse capítulo, além da Serena e do Heath ;3



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Serena

Aproveitei que minha mãe tinha ido ao banheiro para começar a falar. Eu estava com o violão. Tudo o que eu sabia sobre o instrumento era o que Chad me ensinara, mas era o bastante para que eu compusesse uma cifra. Era um pouco estranho usar o conhecimento de Chad para aquela finalidade, mas eu não me importava naquele momento.

— Então... — comecei. — Essa canção é sobre um cara que eu conheci há alguns meses. Ele é um babaca. Um babaca total. Nós temos os mesmos defeitos, mas eu vejo nele as qualidades que eu queria ter. E em algum lugar no meio de tudo isso, eu passei a admirá-lo, até amá-lo. Que sentimento bonito. Bem, nem tanto, porque ele não pode ficar. E ele não pode me amar de volta. Não é culpa dele, nem minha. Ele vai voar de volta para o Paraíso, sabe. É o jeito que as coisas são. E quanto a mim? Eu vou terminar o colegial, provavelmente passar o dia inteiro pensando em me jogar na frente de um ônibus para que todo mundo pode ver que ele tem que ser meu anjo da guarda. Mas então eu penso no quanto eu me importo com ele e o que eu sinto simplesmente não é mais importante. — Percebi que minha mãe havia voltado, então cortei o discurso suicida. — Eu mantive tudo isso para mim mesma por tempo demais, então espero que a música fale por si mesma. Esta se chama The Last Prayer*

Comecei um dedilhado simples no violão. Eu não fizera questão de que a melodia fosse rebuscada ou complexa, porque a única importância daquilo para mim era as palavras sendo ditas.

It feels choreographed (Parece coreografado)

One step further, one step closer (Um passo para longe, um passo para perto)

My heart beats fast (Meu coração bate rápido)

Kisses a little bit shorter, a little bit longer (Beijos um pouco mais curtos, um pouco mais longos)

My heart should know best. (Meu coração deveria saber melhor)

~pré-refrão:

That I won't give in (Que eu não vou ceder)

Don't care about my pride (Não me importo com o meu orgulho)

I won't give up (Não vou desistir)

But what is the point of crying (Mas qual é a finalidade de chorar)

For a lost fight? (Por uma luta perdida?)

~refrão:

You come near, I come off (Você se aproxima, eu escapo)

Cause once you have me, it's never enough (Pois quando você finalmente me tem, nunca é suficiente)

I wish your smile wasn't so charming (Eu queria que seu sorriso não fosse tão charmoso)

I wish I didn't feel like I were dying (Não queria sentir como se estivesse morrendo)

Every time you look at me (Toda vez que você olha para mim)

Cause I can't have you, I can't have you... (Pois eu não posso tê-lo, eu não posso tê-lo...)

Won't ask you to stay (Não vou pedir para você ficar)

Cause I don't think I'm worth it (Pois não acho que eu valha a pena)

Even if you feel the same (Mesmo que você sinta o mesmo)

I know deep inside you know it (Sei que lá no fundo você sabe)

We were meant to be tragic (Estamos destinados a ser trágicos)

Something that hurts because it matters (Algo que dói porque importa)

Somewhere between it became magic (Em algum lugar no meio isto se tornou mágica)

And I'm keeping all the letters (E estou mantendo todas as cartas)

I would send to Heaven (Que eu enviaria ao Paraíso)

The same day you get gone (No mesmo dia em que você se for)

Guess it will be easy for you (Suponho que será fácil para você)

But I will never be over you. (Mas eu nunca vou superar você)

Yeah, I'll never be over (É, eu nunca vou superar)

You — cantei, e então comecei uma batida no violão, abandonando o dedilhado.

~pré-refrão:

That I won't give in (Que eu não vou ceder)

Don't care about my pride (Não me importo com o meu orgulho)

I won't give up (Não vou desistir)

But what is the point of crying (Mas qual é a finalidade de chorar)

For a lost fight? (Por uma luta perdida?)

~refrão:

You come near, I come off (Você se aproxima, eu escapo)

Cause once you have me, it's never enough (Pois quando você finalmente me tem, nunca é suficiente)

I wish your smile wasn't so charming (Eu queria que seu sorriso não fosse tão charmoso)

I wish I didn't feel like I were dying (Não queria sentir como se estivesse morrendo)

Every time you hold me (Toda vez que você me segura)

Cause I can't need you, I can't need you... (Pois eu não posso precisar de você, não posso precisar de você...)

~ponte:

So here I am at your door (Então, aqui estou na sua porta)

But I will not knock (Mas não vou bater)

Guess you didn't knock (Acho que você não bateu)

Before getting into my heart. (Antes de entrar em meu coração)

Guess that's a silent goodbye (Acho que esse é um adeus silencioso)

Before I lose my mind (Antes que eu perca a cabeça)

Before you make my walls (Antes que você faça meus muros)

Fall down... (Desabarem...)

Like if you haven't yet. (Como se ainda não tivesse feito isso)

Fiz uma pausa e voltei ao dedilhado.

You come near, I come off (Você se aproxima, eu escapo)

Cause once you have me, it's never enough (Pois quando você finalmente me tem, nunca é suficiente)

I wish your smile wasn't so charming (Eu queria que seu sorriso não fosse tão charmoso)

I wish I didn't feel like I were dying (Não queria sentir como se estivesse morrendo)

Every time you kiss me (Toda vez que você me beija)

Cause I can't love you, I can't love you... (Pois não posso amar você, não posso amar você...)

But... I... (Mas... Eu...)

Do. (Amo)

Toquei uma vez para baixo em Lá e ouvi os aplausos numerosos. Alan dizia que os clientes geralmente não paravam para ouvir quem estava no palco, mas todo mundo calava a boca quando eu cantava.

— Obrigada — falei, tímida, e desci do palco.

Corri pelos fundos para que Heath não me visse, mas ele me conhecia bem demais. Parado na porta dos fundos, lá estava ele.

— Seeler... — fitei-o ao ver a expressão que não identifiquei em seus olhos.

— Shh — pediu e me puxou pela cintura, selando nossos lábios. — Eu sou seu, Argent. Para sempre.

— Completamente?

Ele beijou minha testa.

— Completamente.

— Então, pode lavar a louça? Estraga meu esmalte porque eu odeio usar luvas.

Heath revirou os olhos.

— Você não tem jeito.

— Mas é disso que gosta em mim — sorri e beijei-o novamente.

Heath

— Seeler? — Serena chamou depois de um tempo. Estávamos sentados no degrau que ligava a porta dos fundos ao restaurante. — Está tudo bem?

Droga, eu deveria saber que ela perceberia. A Loira me conhecia bem demais.

Eu planejava contar a ela, mas não podia fazer isso depois da música. Não mesmo. Ela não precisava de mais pressão naquela noite.

— Claro. Por que não estaria?

Ela suspirou.

— De verdade?

— De verdade — menti.

Deus, se aquilo não me mandara para o Inferno, nada mais poderia. Serena voltou comigo e com Patricia no carro dela. A mulher não conseguia parar de falar sobre como a filha havia sido maravilhosa e tal. Mesmo que Serena implorasse para que ela ficasse quieta, eu podia sentir o orgulho do reconhecimento em sua voz.

Segurei a mão dela o caminho todo, pois estávamos sentados no banco de trás. Quando chegamos à casa dela, eu a abracei por mais tempo do que o normal. Senti seu olhar desconfiado, mas ela não disse nada.

Serena

Era bom ter Patricia de volta. Thomas não estava muito feliz em voltar para casa, e Deus sabe que eu menos ainda. Se bem que Heath passava mais tempo invadindo meu quarto pela janela agora do que passava invadindo pela porta quando eu estava na casa da sra. Stewart, então não era tão ruim.

Eu estava sentada na arquibancada com Damien. Ele não dissera uma palavra desde que eu chegara, então fui na onda. Eu e ele tínhamos prova no último período, então fomos liberados quando terminamos.

Damien

— Seeler me contou o que você disse — disse Serena de repente, bem quando eu já estava cantando Aleluia por ela estar de boca fechada.

— É?

— Sobre existir algumas coisas pelas quais vale a pena lutar. Finalmente decidiu aceitar?

— Aceitar o quê?

— O verdadeiro motivo pelo qual me odeia.

Franzi o cenho, confuso.

— Não sei se estou acompanhando.

— Aquela pessoa da qual você gosta um pouco demais?

Baixei a cabeça, tentando não hesitar. Não era possível que ela tivesse percebido. Serena era centrada demais nela mesma, ela jamais...

—... E não se dê ao trabalho de negar.

Hora de entrar na defensiva.

— Quer saber, Argent, não é da sua conta.

— É da minha conta, sim! Não é minha culpa se Heath gosta de mim! Você não pode me odiar só porque é apaixonado por ele e não quer admitir.

Arregalei os olhos e me afastei dela, ultrajado. Mas depois ri. E ri. E ri. Como era presunçosa!

— Nem tudo é sobre você, Argent — abri um sorriso satisfeito. — Acha que sabe de tudo, não é? Nunca passou pela sua cabeça que eu não gosto de você exatamente por isso? Por ser mimada, sabe-tudo e arrogante? Claro que não, você tem que inventar que eu estou apaixonado pelo meu melhor amigo. Passou longe nessa aqui, Loira.

Levantei-me e saí andando. Quando o vi no corredor, dei-lhe as costas rapidamente e comecei a andar mais rapidamente na direção contrária. Não deu muito certo.

— Ei! Damien!

Suspirei e virei-me para encarar Liam Johnson. Seu cabelo escuro encaracolado caía no rosto. Quando ele o afastou, seus olhos escuros estavam cravados em mim.

— Que é? — falei, numa tentativa de soar grosso, mas não sei se consegui.

— Já assistiu aquele novo filme com a Sandra Bullock?

— Não — respondi, sem parar de andar.

— Bem, pensei que nós... Quero dizer, se estiver livre no fim de semana...

Parei de andar e engoli em seco, forçando-me a olhar para ele.

— Johnson. Não.

— Se já tiver planos, podemos remarcar e...

Encarei-o, sério.

— Ouça com atenção — inspirei fundo. — Eu não sou gay. Está bem?

E voltei a andar.

— Veja, esse é um conceito equivocado! Não acho que realmente haja uma preferência por homens ou mulheres em cada um de nós, acho apenas que gostamos de pessoas. Simplesmente do jeito que elas são, e eu gosto de você.

Parei de novo.

— Johnson, eu não posso. Aceite isso. Não posso sair...

— Com um homem? É isso?

Se ele ao menos soubesse.

— Não. Não é isso.

Liam bufou.

— Ao menos arrume uma desculpa, então.

— Eu não posso sair com ninguém. Não é pessoal.

— Por que não? — indagou ele. Eu não tinha uma resposta, mas ele me deu uma sem perceber: — Fez um voto de castidade ou algo do tipo?

— Exatamente — falei. Não era mentira. — Meus pais são muito religiosos, e eu também.

Voltei a andar.

— Gull, eu te convidei para ir ao cinema, e não para dormir comigo! Olha, eu sei que dizem que relacionamentos homossexuais são promíscuos, mas, na verdade...

Ele segurou minha mão. Senti um leve arrepio e soltei por reflexo. Parei de andar novamente.

— Eu disse não. Lide com isso e pare de me perseguir.

Corri para longe e não ouvi seus passos atrás de mim. Se eu queria ser grosso, tinha acabado de conseguir.

Quando olhei para a direita, percebi que Serena me observava atentamente. Seus grandes olhos azuis estavam simplesmente cravados em mim, sem expressar nenhuma emoção. Eu teria ficado bem assim, mas é claro que ela teve que abrir a boca.

— Bem, eles dizem que pessoas que escondem o que sentem são mais resmungonas — disse ela, e quando eu estava prestes a retrucar, completou: — Experiência própria.

Permiti-me abrir um leve sorriso. Aquela era a coisa mais legal que ela já dissera a mim.

— Desculpe por achar que você está apaixonado pelo Heath — ela enrubesceu, baixando a cabeça.

— Bem, eu poderia estar. Afinal, ele ensinou bons modos a você. O que poderia ser mais digno de amor do que isso? — zombei.

— Não estrague.

— Pode deixar. E... que tal não contarmos nada disso ao Seeler, sim?

Ela soltou o ar que estava segurando.

— Definitivamente. Liam é um cara muito legal, sabe.

— Eu devo ter cara de viado. Não é possível — bufei.

— Então... Nada nunca aconteceu entre vocês dois?

— Acha mesmo que eu teria ficado tão irritado com você e Heath se tivesse acontecido? Por favor — revirei os olhos. — Eu amo o Céu mais do que amo qualquer outra coisa. Não o trocaria por nada.

Serena

— Heath costumava dizer isso — repliquei.

— Nunca foi muito sincero. Seeler sabe disso. Ele só estava esperando uma oportunidade.

— De quê?

— De encontrar alguma coisa pela qual vale a pena lutar — os olhos verdes de Damien se cravaram em mim. — Algo me diz que ele encontrou. Sabe, Argent, você pode não ser tão lesada assim.

— Oh, muito obrigada, Gull. Você pode até não ser tão sádico assim. Mas ainda é totalmente caidinho pelo Liam.

— Vá se ferrar — ele resmungou, mas não comprimiu o sorriso quando ouviu minha risada. — Oh, Heath, o Heath é tão lindo, eu não posso viver sem o Heath! Oh, meu Deus, vou me cortar quando ele se for!

— Retiro o que eu disse. Você é completamente sádico! — acusei. — E eu nunca disse que ia me cortar. Tudo bem, eu disse que ia me jogar na frente de um ônibus, mas isso é completamente diferente.

Damien revirou os olhos.

Heath

— Sr. Seeler? — a professora de História me fitou por um momento. — Está sentindo-se bem? Parece um pouco pálido. Além do mais, o tempo se esgotou.

Eu não estava nada bem. Até onde sabia, Caius podia invadir a sala naquele exato momento e me mandar de volta para o Céu antes que eu pudesse sequer ver Serena.

Quem foram os maiores expoentes do Comunismo?

Karl Marx. Graccus alguma coisa, mas eu tinha certeza de que tinha escrito seu nome errado. Deus, eu estava suando frio, e não tinha nada a ver com o fato de que eu não sabia se Che Guevara estava envolvido no assunto ou não.

— Seeler? — foi como Damien abordara o assunto no dia anterior. — Acabei de receber uma mensagem.

— Sim? — Caius disse que acha que você já cumpriu castigo o suficiente. Ele disse que vai terminar de resolver alguns assuntos e então virá aqui para uma inspeção final.

— Quer dizer... Pessoalmente?!

— Temo que sim. Sabe o que tem de fazer, não é?

— Correr?

Damien me encarou, sério.

— A não ser que queira queimar pela eternidade nas chamas do Inferno, eu recomendaria convencer um anjo de que a humana não roubou seu coração. Boa sorte com isso.

Voltei à realidade, encarando a prova.

— Terminei — menti e entreguei-lhe a prova antes que vomitasse.

A professora me lançou um olhar compadecido e eu soltei um "tchau" antes de correr para fora da sala. Encontrei Serena e Damien perto do carro da sra. Stewart.

— Seeler, você está bem? — Serena se aproximou de mim, mantendo o tom de voz suave. Ou tentando, já que Argent não era exatamente a rainha da sutileza. — Está suando frio.

Esclarecedor, Argent. Como se eu não soubesse.

— Che Guevara tem alguma coisa a ver com o Comunismo? — indaguei.

— Bem... Sim, mas por que diabos...?

— Ótimo — falei, e então minhas pernas pararam de funcionar e tudo ficou branco.

* * *

Acordei em uma cama com lençóis brancos. Minha mão direita estava entrelaçada à de Serena, que se sentara numa cadeira ao lado da cama.

— Bom dia, Bela Adormecida — provocou ela.

— Onde estou? — indaguei.

— Na enfermaria.

— O que aconteceu?

— Você desmaiou. Como uma garotinha. Caiu no chão e ficou lá jogado enquanto Damien arrastava você até aqui. Por isso tem grama no seu cabelo, ele te arrastou pelo campo inteiro.

— E você fez o quê? — ergui uma sobrancelha.

— Ela ficou repetindo "Ai meu Deus! Ai meu Deus! Ai. Meu. Deus! Cuidado com a cabeça dele!" a droga de caminho todo — resmungou Damien.

— Eu simplesmente apaguei? — franzi o cenho.

— Você teve o que eu classificaria como um ataque de pânico — disse uma mulher vestida de branco que supus ser a enfermeira. — Provavelmente por causa da prova.

— É claro — menti. — Maldito Che Guevara.

Não era tão fácil assim enganar Serena.

— Heath. O que está acontecendo? — indagou ela, séria. — E não tente me enrolar.

— Srta. Argent, Heath não está completamente consciente no momento — censurou a enfermeira. — Vou pedir que você e o sr. Gull se retirem para que ele possa descansar.

Depois de muitas objeções, a mulher empurrou Damien e Serena para fora da enfermaria. Fitei-a.

— Você salvou minha vida.

Ela riu.

— A garota não vai desistir tão fácil.

— Está brincando? Sei bem disso.

— O que quer que tenha feito, deveria só admitir.

Sentei-me, mas logo me arrependi quando minha cabeça começou a latejar.

— Bem. Meu chefe está vindo do Céu fazer um visita e, se ele achar que estou apaixonado pela Argent, o que é verdade, eu vou queimar para sempre no fogo do Inferno e vou levar meu melhor amigo comigo. Ah, e eu também não sabia citar direito os maiores expoentes do Comunismo.

A enfermeira assentiu.

— Que droga.

— Pois é.

E ainda dizem que britânicos não têm senso de humor.

Serena

Depois de me certificar umas cinquenta e sete vezes de que Heath estava bem, Damien me deixou em casa. Consegui relaxar depois de um tempo em casa.

— Serena! — Thomas gritou na manhã seguinte. — Tem um cara aqui embaixo querendo falar com você.

— Diga a ele que estou indo! — gritei de volta.

Fitei-me no espelho. Estava usando meu pijama verde, cujo shorts era bem curto, mas Heath já me vira com ele um milhão de vezes, então eu não ia me dar ao trabalho de trocar de roupa.

Exceto pelo fato de que Heath nunca usava a porta.

— Oi! — Chad sorriu, fitando-me com os grandes olhos verdes por trás da franja que ele ajeitava para cima às vezes.

— O que está fazendo aqui?

— Imaginei que precisaria de alguém.

— Por quê?

— Por causa da coisa toda com o Seeler.

— Eu e Seeler estamos bem, Chad — falei. — Ou, pelo menos tão bem quanto poderíamos estar. É complicado.

Chad franziu o cenho, confuso.

— Mesmo depois das... novas notícias?

Ergui uma sobrancelha.

— Do que está falando?

Ele arregalou os olhos.

— Ah, meu Deus, ele não te contou, não é?

— Engraçado você falando "meu Deus".

Ele hesitou.

— Então você sabe mesmo sobre os anjos — disse Chad, admirado. — Achei que estivessem blefando. Cara, Seeler está muito encrencado. Além do mais, "Ah, meu Deus" é uma expressão popular, ninguém atribui mais significado.

— Certo, Chad, por que realmente está aqui?

— Seeler está indo embora, como ele sempre disse que faria — seus olhos continuavam cravados em mim. — Mas eu nunca te esqueceria assim. Não consigo. Posso não ser um anjo, nem um aluno correto, nem nada do tipo — ele mordeu o lábio. — Mas ainda tenho sentimentos, e você os está monopolizando desde que a vi pela primeira vez. E eu não ligo de falar isso na cara do Seeler, até porque ele provavelmente não sabe o que a palavra "monopólio" significa.

Ponderei a ideia por um momento.

— Você provavelmente está certo sobre isso. Mas os meus sentimentos também são um monopólio, Chad.

Ele se aproximou de mim, firme.

— Se não sente nada por mim, por que retribuiu meu beijo?

Pergunta traiçoeira.

— Porque eu queria me convencer de que não gostava tanto assim do Seeler — respondi.

— Se ele não existisse, poderíamos ter uma chance?

Mordi o lábio. Eu deveria apenas mentir, mas não conseguia parar de estragar tudo.

— Bem... Sim. Talvez. Sim. Não sei. Provavelmente.

— Não vê? É perfeito. Seeler tem de voltar ao Céu, e então será como se ele nunca houvesse existido.

Fitei-o, meu coração doendo.

— Esse é o problema, Chad. Seeler existe. Afinal, o que quis dizer com "novas notícias"?

Antes que Chad pudesse responder, ouvimos uma buzina alta. Heath pulou para fora do carro em câmera lenta, jogando o cabelo para o lado e puxando as mangas da própria jaqueta de couro. Babaca.

Meu babaca.

— Reynolds, a Argent não quer ouvir a palavra do capiroto hoje, muito obrigado. Diga às Testemunhas de Satã que é rude bater na porta dos outros antes das dez.

Chad ergueu uma sobrancelha para mim.

— O que diabos você vê nele?

Suspirei.

— Eu também não sei.

— Além do mais, temos alguns assuntos inacabados — Heath se aproximou de Chad.

Eles se encararam por um longo minuto, e então Heath acertou um soco no rosto do outro rapaz.

— SEELER! — censurei.

— Isso foi por beijá-la, seu merda! — Heath cuspiu.

Chad, em resposta, chutou-lhe a virilha.

— Golpe baixo! — o meio-anjo protestou. — Nenhuma surpresa, considerando de onde você vem.

— Isso foi por quebrar o coração dela de novo e de novo! Para um anjo, você é bem ruim em deixar as pessoas em paz!

— Só está magoadinho porque não me juntei ao seu exército no Inferno!

— Como é que é?! — ergui uma sobrancelha.

— Falamos disso depois — prometeu Heath. — Agora tenho um último assunto a resolver.

— Que bom que concordamos — disse Chad, no mesmo momento em que um par de asas brotou em suas costas.

Eram tão grandes quanto as de Heath, porém completamente negras. Eu não esperava que elas fossem tão bonitas, mas eram. A plumagem parecia prender o olhar como um buraco negro, reluzindo como prata ao sol.

— Vocês estão no meio da rua, pensem nos vizinhos! — falei. — Deixem de ser idiotas!

Chad envolveu Heath com as asas e eles voaram para longe tão rápido quanto um vulto negro.

Comecei a correr, mas logo me dei conta de que era inútil.

Heath

Chad me soltou a uns cinco metros do chão direto em um gramado. Rolei um pouco, mas não era tão fácil assim quebrar ossos de Nefilim.

— Não acho que entenda o quanto podemos ajudar um ao outro aqui — ele me encarou, sério. — Você pode liderar um exército, e ter permissão para ficar aqui na Terra com a Argent. Tenho certeza de que o Céu não te oferece nem metade disso.

Soltei uma risada alta.

— Como se você fosse me deixar ficar com ela.

— Bem, suponho que teríamos de resolver isso.

— Desista, Reynolds. Ela é minha.

— Ah, é? Espere só ela saber que você está escondendo a visita de Caius dela há dias.

— Afinal, como você sequer sabe disso?!

— Porque, ao contrário de você, Seeler, eu não simplesmente ignoro o mundo esperando que ele vá embora.

Cerrei os dentes.

— Vá para o inferno.

— Venha comigo — Chad pisou no chão com força e uma cratera se abriu na grama.

Soltei um palavrão e abri as asas por reflexo. Voei alguns metros acima do chão, com o olhar fixo nele.

— Estamos longe demais de qualquer civilização, Seeler. Parece que somos só você e eu.

— Sinto muito, mas não estou apreciando a companhia.

Soltei um berro e o céu se escureceu.

— Chuva?! Vai fazer chover em mim?! Eu não sou feito de açúcar, Seeler — Chad soltou um riso debochado. — Você é patético, e logo a Argent vai perceber.

Foi quando um raio desceu do céu e acertou Chad. Quando me aproximei para decidir se ele estava morto ou não, uma camada de energia me atingiu e eu voei alguns metros, caindo direto no solo que começou a tremer.

— Eu controlo os terremotos! Os furacões! Os tsunamis! — berrou Chad, se erguendo. — O que você vai fazer, anjinho? Me atacar com o "poder da gentileza"?

— Nunca fui muito gentil — retruquei. — Talvez por isso eu seja um anjo tão de merda, mas, sabe... — abri um sorriso presunçoso. — Tem suas vantagens.

Só para deixar claro: aquela não era uma batalha de Bem Contra o Mal, ou de Mocinho Versus Vilão, até porque eu já estava basicamente condenado, e Chad não estava querendo dominar o mundo nem nada do tipo. Nós éramos dois babacas abusando do próprio poder para salvar a própria bunda e talvez conseguir uma garota.

Era como... Garoto Mau Versus Garoto Ainda Mais Mau.

A chuva aumentou, e trovões ressoaram em uma altura sobrenatural. Os ventos mudaram de direção e o chão tremia tanto que frequentemente abria crateras em pontos aleatórios. As árvores às vezes eram acertadas por raios, e o lago perto do vale agora era praticamente estático.

E quanto a mim e Chad? Nós resolvíamos as coisas do modo antigo enquanto o apocalipse acontecia à nossa volta.

Ele acertou um soco em meu lábio, me fazendo rolar até a ponta de um dos buracos abertos no chão. Gritei e um raio acertou outra árvore, que caiu no exato lugar em que Chad estava há apenas um segundo. Quando percebi, ele estava em cima de mim. Chutei seu peito com meu joelho e levantei-me, colocando meu pé em seu pescoço.

Ergui a mão direita e um raio desceu, ficando concentrado na palma de meus dedos. Havia algo libertador em ter tanto poder concentrado em si mesmo, podendo ser liberado com apenas um movimento.

— Vá em frente — desafiou Chad. — Faça o que tem de fazer. Prove que o Céu não é nem um pouco melhor do que o Inferno. Só mais hipócrita.

— Só não vou matá-lo porque a Argent não ia gostar — cerrei os dentes.

— Até parece! Pequeno Seeler e seu coração de manteiga!

— Cale essa porra de boca e comece a implorar, ou eu juro que vou...

Parei de falar quando notei o silêncio. A chuva havia cessado, assim como o vento e os terremotos. Havia apenas a paz absoluta.

Uma luz dourada tão brilhante que ardia os olhos desceu do céu em câmera lenta, demorando alguns segundos para tocar o chão.

— Heath — cumprimentou o homem em pé a alguns metros de nós. — Chadwick. Sempre um prazer.

Quando meu cérebro se lembrou de como formar palavras, murmurei:

— Bem-vindo à Terra, Caius.


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Notas finais do capítulo

... Oh, fuck.
Allask, muita pizza pra você por ter descoberto as verdadeiras... hm... preferências do Damien. A não ser que você não goste de pizza.
Mas que tipo de pessoa não gosta de pizza?

*"A Última Súplica", porém prayer também pode significar oração, daí o duplo sentido maroto.
Quem estava com saudade das músicas? Eeeee o/ Essa provavelmente vai ser a última música de autoria minha da fic, so enjoy.