Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina
Serena
— Acorde, raio de sol! Primeiro dia de aula! — cantarolou minha "mãe", abrindo as janelas para revelar a grande falta de luz na Inglaterra, mesmo no verão.
— Vai embora — resmunguei com a cara enfiada no travesseiro.
— Todos estão animados para saber o que Serena Argent vai vestir hoje!
Rá. Até parece. Patricia — eu parei de chamá-la de mãe há duas semanas, depois de um trágico acontecimento — gostava de pensar que as pessoas realmente se importavam comigo. Que bonitinha.
Certo, todo mundo da escola me conhecia, mas isso era porque estudávamos juntos desde que tínhamos sete anos, o que nos dá bons nove anos para eles se acostumarem com a minha cara.
— Então eles vão se decepcionar.
Quando Patricia finalmente deixou o quarto, tomei um banho e pensei um pouco no que ia vestir. Optei por uma blusa clara com uma estampa qualquer, calça jeans e tênis Converse de cano médio. Penteei meus cabelos louros, que caíam em ondas até vários centímetros abaixo de meus ombros. Passei rímel e lápis de olho em meus olhos azuis.
Fitei o pequeno curativo em minha testa. Felizmente, minha franja o tampava. Troquei a gaze e joguei o cabelo por cima. Peguei minha bolsa e desci as escadas, com cuidado para não mancar. Era meu segundo dia sem o gesso na perna que eu havia quebrado, então ainda não tinha me reacostumado a andar normalmente.
— Tchau, Patricia — acenei, abrindo a porta da sala.
— Espere! E o café-da-manhã?
Peguei uma maçã e dei uma mordida.
— Feliz agora?
Sem parar para ouvir a resposta, saí de casa. Morava a duas quadras da escola, então sempre ia a pé. Gostava da caminhada. Fui comendo a maçã no caminho.
Heath
— Seeler, seja um hóspede educado, pelo amor de Deus — Damien revirou os olhos quando me viu de toalha na cozinha tomando suco direto da caixa no gargalo.
— Tudo o que eu ouvi foi "Blá, blá blá", e... Olha, eles têm cookies! Droga, são de baunilha. Todo mundo sabe que os de chocolate são bem melhores.
— Temos que estar na escola em meia hora, sabia? E são vinte minutos daqui até lá. Você já tinha que ter checado a menina.
— Legal, só que eu não sei onde ela mora nem como ela é.
Demorei exatos vinte e oito minutos para sair, entre me vestir, comer, ouvir música, enrolar, fingir que estou arrumando a cama e coisas assim.
— Como espera que façamos o trajeto de vinte minutos em dois? — Damien ergueu uma sobrancelha. Ele geralmente não era tão irritante, mas estava realmente puto comigo pelo fato de a estadia dele no Céu depender do meu comportamento.
— Essa é fácil — sorri. — Voando, é claro.
Nefilins não tinham asas. Porém, Nefilins anjos da guarda, sim. Eu passara a noite anterior inteira voando por aí, só porque podia. Finalmente entendi por que os anjos ficam todos exibidos por causa de suas asas.
Mas devo admitir, voar é bem mais legal quando eu não tinha que carregar o Damien.
Disse a mim mesmo que acordaria mais cedo no dia seguinte e pegaria um táxi.
Chegamos à Nottingham High em um piscar de olhos. Estávamos fingindo ser alunos de intercâmbio americanos — já que ambos realmente nascêramos nos Estados Unidos.
Era essa a história que contáramos à família com quem estávamos morando, os Stewart, e à diretoria da escola.
Ah, e Damien estava fingindo ser meu primo. Pousamos um pouco antes do colégio e caminhamos até a entrada.
— Então é assim que é o colegial — suspirei, olhando em volta.
Serena
— S.! — ouvi minha melhor amiga, Audrey Miller, me chamar. — Ai, meu Deus, eu senti tanto sua falta! Você sumiu!
— Não foi o melhor dos verões — confessei. — E o seu, como foi?
— Ah, tive que ficar metade dele na casa do meu pai. Sabe como é.
Na verdade, não sei, não, quis dizer, mas não o fiz. Eu queria contar a Audrey sobre minha descoberta, mas ela estava tão animada que não consegui.
Então apenas tratei de sorrir e acompanhá-la até o pátio, onde ficávamos antes de a aula começar. Sentamo-nos em uma das mesas.
— Alerta de novatos gostosos — Audrey abriu seu típico sorriso malicioso. — Espera, não olhe. Está bem, olhe agora. Direita.
Olhei. Dois caras que eu nunca havia visto. O mais baixo — ainda assim bem mais alto do que eu — era louro, com olhos verde-escuros. Seu cenho estava franzido, dando a ele uma expressão de "eu quero dar o fora daqui". O outro garoto, que parecia ter chamado mais a atenção de Audrey, possuía cabelos pretos molhados e desalinhados, além de olhos escuros. Parecia nervoso, e olhava em volta como se procurasse alguma coisa e não soubesse o quê. Vestia uma blusa branca lisa e jeans rasgados, além de uma jaqueta de couro que me fez perceber que eu estava com frio.
— O moreno sensual parece perdido, não parece? — perguntou Audrey, sem tirar os olhos dele. — Deveríamos ajudar.
— Não deveríamos fazer nada. Abaixa esse fogo, mulher.
— Se eu não catar, elas vão — ela apontou para a mesa de Leslie Hills e as outras garotas cujo tamanho do ego parecia competir com a quantidade de maquiagem. Audrey se levantou. — Você vem?
— Não. Todo seu.
Ela suspirou, revirando os olhos, e foi falar com os garotos. O sinal que anunciava o começo da primeira aula tocou. Peguei minhas coisas e corri para a aula de Geografia.
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