Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina
Heath
— Rick era namorado da Patricia há uns dois anos — Serena contou enquanto nos encaminhávamos para o terceiro período.
— Entendi.
— Eu tenho que parar de me atrasar para as aulas, as provas começam semana que vem.
— Provas?
Serena me encarou como se eu fosse estúpido.
— É. Escritas. Com um monte de perguntas sobre o que o professor fala na aula.
— Ah, então é para isso que servem todas aquelas merdas.
— Exato. E se você vai levar essa coisa de Adolescente Mortal a sério, melhor começar a aprender alguma coisa. Bem, pelo menos tem um 10 garantido em Latim.
— Pulchra coma est.*
— O que isso significa?
— Significa "O seu cabelo é bonito" — respondi, repetindo o que havia dito da primeira vez em que ela fizera aquela pergunta.
Ela colocou uma mecha atrás da orelha, desviando o olhar.
— Vamos logo.
Serena
— Certo, me explique de novo — Heath me fitou, desconfiado. Estávamos sentados no chão de meu quarto depois da aula. Ele folheava as páginas da apostila.
— Os franceses se rebelaram contra o Governo porque o Governo deu mais atenção aos Estados Unidos do que ao próprio povo. E daí, entre diversas outras razões, surgiu a Revolução Francesa.
— Mas por que o Governo fez isso?
— Porque eles queriam derrotar os ingleses, e grande parte do lucro dos ingleses vinha da colônia. Entendeu?
Heath me fitou por um minuto com seus olhos dourados.
— Isso é mais fácil do que Química.
— Com certeza é mais fácil do que Química.
— Você é uma professora melhor do que eu imaginei.
— Não fique tão animadinho — desviei o olhar. — Você está bem atrasado em basicamente todas as matérias.
— Certo, mas agora sei uma das razões que levaram à Revolução Francesa.
— Isso aí. Agora Geografia. É bem pior que História, na minha humilde opinião. O maldito professor quer que decoremos as capitais de alguns países da Europa.
— Sei alguma coisa de Geografia.
— Sério?
— Uhum.
— Ok. Inglaterra?
— Londres.
— Alemanha?
— Berlim.
— França?
— Paris.
— Grécia?
— Atenas. Essas são fáceis.
— É, mas não custa — sorri levemente.
A coxa dele encostou na minha e eu me virei involuntariamente. Deparei-me com aquele par de olhos dourados focados em mim.
— Por que está me olhando assim? — ergui uma sobrancelha.
Em resposta, ele me puxou pela cintura e me beijou.
Eu o beijei de volta. Claro que o beijei de volta. Heath grudou nossos corpos, e apoiei-me nele para ficar mais alta. Ele sorriu levemente e continuou o beijo, descendo a mão pela minha coxa. Seus lábios desceram para o meu pescoço e depois encontraram o caminho de volta para meus lábios.
Foi quando a porta se escancarou.
— Eu sabia! HAHAHA! — Thomas abriu um sorriso maléfico e saiu correndo.
Mordi o lábio, tentando achar um ponto entre constrangedor e cômico.
— Pestinha — soltei-o, desviando o olhar. — Afinal, por que você fez isso?
— Apostei com o seu irmão — ele soltou um riso. Pareceu perceber minha expressão, porque logo completou: — Estou brincando, sua tonta. Não sei por que fiz isso. Por que você fez isso?
— Acho que... deu vontade.
— É.
— É.
Peguei a apostila.
— Geografia.
— Qual é!
Heath
Ela riu de minha indignação. Que sorriso.
Foco, Seeler. Foco.
Aquela garota ainda ia me mandar para o inferno...
Mas que aqueles lábios pareciam o Paraíso, ah se pareciam.
Serena afastou o cabelo louro do rosto, evitando olhar para mim. Meus lábios ainda formigavam.
— Querida, o jantar já vai... — Patricia abriu a porta do quarto. — Ah, você tem companhia.
— Acho que não fomos muito bem apresentados — acenei. — Heath Seeler.
— Claro. Quase não o reconheci, agora que está seco e vestido.
Enrubesci.
— Quer ficar para o jantar, querido?
— Hum, eu não...
— Certo, deixe-me colocar de outro modo: Você vai ficar para o jantar, querido.
Fitei Serena à procura de ajuda, mas ela estava simplesmente olhando para as próprias unhas.
— Hã... Tá.
— Ótimo! — ela sorriu e fechou a porta.
— Ela cozinha mal — avisou Serena.
— Agora você diz?!
— Também não é minha ideia de uma noite perfeita, está bem?
* * *
Serena não estava brincando quando disse que Patricia cozinhava mal. A comida dos humanos já não é a maior maravilha, mas a da sra. Argent superava um pouco o limite.
— Está bom, querido? — ela sorriu.
Enfiei mais daquela pasta desconhecida na boca e assenti com a cabeça.
Serena, que estava sentada ao meu lado, engoliu um riso.
Não vomite, não vomite, não vomite.
— Você pode colocar tudo num guardanapo discretamente — sugeriu ela baixinho.
— Seu irmão está me observando.
— Ele faz isso o tempo todo.
— Vomitar no guardanapo ou me encarar?
— Os dois. Por que acha que somos magros nessa casa?
Disse a mim mesmo que chegaria em casa e abraçaria Sadie por todas as vezes que ela fez cookies.
Mesmo quando não eram de chocolate.
— E então, querido, já sabe para que faculdade vai? — Patricia perguntou num certo momento.
— Não faz nem dois meses que as aulas começaram — defendeu Serena.
— Está bem, mas é o último ano dele, não é?
Fez-se silêncio.
— Heath fala latim — comentou Serena.
— É mesmo? — Patricia arregalou os olhos, impressionada. — Que legal, querido!
— Pare de chamá-lo de querido — Serena resmungou, séria. Estava segurando o garfo com muita força.
Peguei a mão dela apenas para tirar o garfo de lá antes que ela fizesse algum estrago nela mesma ou em alguém.
* * *
Depois do jantar embaraçoso, Serena me acompanhou até a porta.
— Conseguiu engolir tudo. Estou muito impressionada — ela sorriu, o que me deu a certeza de que estava achando a coisa toda extremamente divertida.
— Essa coisa de ser ruim na cozinha é de família? — perguntei, franzindo o cenho. — Porque você tem cara de quem queima até pipoca de micro-ondas.
— Vamos apenas dizer que eu beijo melhor do que cozinho.
Fitei-a.
— Isso foi um convite?
— Não! — ela riu, me empurrando de leve.
— Então tá. Boa noite — beijei a bochecha dela.
Quando ela se virou para voltar para dentro, segurei a mão dela.
— Brincadeirinha.
E quando olhou para mim, beijei-a nos lábios.
Afastamo-nos depois de um tempo. Ela tomou alguns segundos para recuperar o ar e sussurrou:
— Está virando rotina.
— Você fala como se fosse uma coisa ruim.
— Talvez seja.
Fitei-a.
— Está arrependida?
Ela apenas fez que não com a cabeça.
— Tudo bem — beijei sua testa e caminhei um pouco antes de abrir as asas e voar.
Chegando em casa, encontrei Damien no sofá. Dei meu máximo para tirar o sorriso bobo do rosto, mas acho que não fui rápido o suficiente.
— Onde estava?
— Com a Argent — tentei soar descontraído.
Damien ergueu uma sobrancelha.
— Até agora?
— Sim. Quer saber, não entendo você. Você diz para eu não deixá-la brava, mas também não quer que ela fique de bem comigo.
Ele levantou-se.
— Essa não é a questão, e você sabe disso.
— Sei?
— A questão é o quanto aquela garota mexe com você. Não negue.
— Acha que eu gosto da Argent?!
— Seeler, essa é a sua última chance antes de cair! É um teste! Não passou pela sua cabeça que a garota é uma tentação?!
— Não passa pela sua cabeça que ela é uma pessoa?! Você sempre fala dela como se não tivesse sentimentos! Como se fosse apenas um empecilho no caminho!
— Pare de tentar ter razão! Você está errado, sabe disso!
— Damien. Entenda isso — encarei-o. — Eu nunca vou ser esse anjo perfeito e sistemático que querem que eu seja. Se você consegue ser assim, ótimo. Mas eu não consigo.
— Não ser perfeito não quer dizer que você não possa controlar as tentações.
— Ela não é isso! Que merda! Se você não gosta dela, foda-se! Mas... Mas...
— Quanta consideração você tem pelo seu melhor amigo. Damien Gull, o Nefilim idiota que passou a vida inteira sendo perfeito, apenas para por tudo a perder se tornando amigo de Heath Seeler. Palmas para o mané. Se você quer ir para o Inferno por ela, que seja. Mas nem tudo é só sobre você — ele bufou e correu para o quarto.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
*O seu cabelo é bonito
Damien pondo ordem na bagaça u.u (espera só até a Serena entender melhor a história... Ok, parei com o spoiler. Mas vou avisando que o próximo capÃtulo vai ser de fortes emoções, hue)