Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 16
Capítulo 16 - Palmas para o mané




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Heath

— Rick era namorado da Patricia há uns dois anos — Serena contou enquanto nos encaminhávamos para o terceiro período.

— Entendi.

— Eu tenho que parar de me atrasar para as aulas, as provas começam semana que vem.

— Provas?

Serena me encarou como se eu fosse estúpido.

— É. Escritas. Com um monte de perguntas sobre o que o professor fala na aula.

— Ah, então é para isso que servem todas aquelas merdas.

— Exato. E se você vai levar essa coisa de Adolescente Mortal a sério, melhor começar a aprender alguma coisa. Bem, pelo menos tem um 10 garantido em Latim.

Pulchra coma est.*

— O que isso significa?

— Significa "O seu cabelo é bonito" — respondi, repetindo o que havia dito da primeira vez em que ela fizera aquela pergunta.

Ela colocou uma mecha atrás da orelha, desviando o olhar.

— Vamos logo.

Serena

— Certo, me explique de novo — Heath me fitou, desconfiado. Estávamos sentados no chão de meu quarto depois da aula. Ele folheava as páginas da apostila.

— Os franceses se rebelaram contra o Governo porque o Governo deu mais atenção aos Estados Unidos do que ao próprio povo. E daí, entre diversas outras razões, surgiu a Revolução Francesa.

— Mas por que o Governo fez isso?

— Porque eles queriam derrotar os ingleses, e grande parte do lucro dos ingleses vinha da colônia. Entendeu?

Heath me fitou por um minuto com seus olhos dourados.

— Isso é mais fácil do que Química.

— Com certeza é mais fácil do que Química.

— Você é uma professora melhor do que eu imaginei.

— Não fique tão animadinho — desviei o olhar. — Você está bem atrasado em basicamente todas as matérias.

— Certo, mas agora sei uma das razões que levaram à Revolução Francesa.

— Isso aí. Agora Geografia. É bem pior que História, na minha humilde opinião. O maldito professor quer que decoremos as capitais de alguns países da Europa.

— Sei alguma coisa de Geografia.

— Sério?

— Uhum.

— Ok. Inglaterra?

— Londres.

— Alemanha?

— Berlim.

— França?

— Paris.

— Grécia?

— Atenas. Essas são fáceis.

— É, mas não custa — sorri levemente.

A coxa dele encostou na minha e eu me virei involuntariamente. Deparei-me com aquele par de olhos dourados focados em mim.

— Por que está me olhando assim? — ergui uma sobrancelha.

Em resposta, ele me puxou pela cintura e me beijou.

Eu o beijei de volta. Claro que o beijei de volta. Heath grudou nossos corpos, e apoiei-me nele para ficar mais alta. Ele sorriu levemente e continuou o beijo, descendo a mão pela minha coxa. Seus lábios desceram para o meu pescoço e depois encontraram o caminho de volta para meus lábios.

Foi quando a porta se escancarou.

— Eu sabia! HAHAHA! — Thomas abriu um sorriso maléfico e saiu correndo.

Mordi o lábio, tentando achar um ponto entre constrangedor e cômico.

— Pestinha — soltei-o, desviando o olhar. — Afinal, por que você fez isso?

— Apostei com o seu irmão — ele soltou um riso. Pareceu perceber minha expressão, porque logo completou: — Estou brincando, sua tonta. Não sei por que fiz isso. Por que você fez isso?

— Acho que... deu vontade.

— É.

— É.

Peguei a apostila.

— Geografia.

— Qual é!

Heath

Ela riu de minha indignação. Que sorriso.

Foco, Seeler. Foco.

Aquela garota ainda ia me mandar para o inferno...

Mas que aqueles lábios pareciam o Paraíso, ah se pareciam.

Serena afastou o cabelo louro do rosto, evitando olhar para mim. Meus lábios ainda formigavam.

Querida, o jantar já vai... — Patricia abriu a porta do quarto. — Ah, você tem companhia.

— Acho que não fomos muito bem apresentados — acenei. — Heath Seeler.

— Claro. Quase não o reconheci, agora que está seco e vestido.

Enrubesci.

— Quer ficar para o jantar, querido?

— Hum, eu não...

— Certo, deixe-me colocar de outro modo: Você vai ficar para o jantar, querido.

Fitei Serena à procura de ajuda, mas ela estava simplesmente olhando para as próprias unhas.

— Hã... Tá.

— Ótimo! — ela sorriu e fechou a porta.

— Ela cozinha mal — avisou Serena.

Agora você diz?!

— Também não é minha ideia de uma noite perfeita, está bem?

* * *

Serena não estava brincando quando disse que Patricia cozinhava mal. A comida dos humanos já não é a maior maravilha, mas a da sra. Argent superava um pouco o limite.

— Está bom, querido? — ela sorriu.

Enfiei mais daquela pasta desconhecida na boca e assenti com a cabeça.

Serena, que estava sentada ao meu lado, engoliu um riso.

Não vomite, não vomite, não vomite.

Você pode colocar tudo num guardanapo discretamente — sugeriu ela baixinho.

— Seu irmão está me observando.

— Ele faz isso o tempo todo.

— Vomitar no guardanapo ou me encarar?

— Os dois. Por que acha que somos magros nessa casa?

Disse a mim mesmo que chegaria em casa e abraçaria Sadie por todas as vezes que ela fez cookies.

Mesmo quando não eram de chocolate.

— E então, querido, já sabe para que faculdade vai? — Patricia perguntou num certo momento.

— Não faz nem dois meses que as aulas começaram — defendeu Serena.

— Está bem, mas é o último ano dele, não é?

Fez-se silêncio.

— Heath fala latim — comentou Serena.

— É mesmo? — Patricia arregalou os olhos, impressionada. — Que legal, querido!

Pare de chamá-lo de querido — Serena resmungou, séria. Estava segurando o garfo com muita força.

Peguei a mão dela apenas para tirar o garfo de lá antes que ela fizesse algum estrago nela mesma ou em alguém.

* * *

Depois do jantar embaraçoso, Serena me acompanhou até a porta.

— Conseguiu engolir tudo. Estou muito impressionada — ela sorriu, o que me deu a certeza de que estava achando a coisa toda extremamente divertida.

— Essa coisa de ser ruim na cozinha é de família? — perguntei, franzindo o cenho. — Porque você tem cara de quem queima até pipoca de micro-ondas.

— Vamos apenas dizer que eu beijo melhor do que cozinho.

Fitei-a.

— Isso foi um convite?

— Não! — ela riu, me empurrando de leve.

— Então tá. Boa noite — beijei a bochecha dela.

Quando ela se virou para voltar para dentro, segurei a mão dela.

— Brincadeirinha.

E quando olhou para mim, beijei-a nos lábios.

Afastamo-nos depois de um tempo. Ela tomou alguns segundos para recuperar o ar e sussurrou:

— Está virando rotina.

— Você fala como se fosse uma coisa ruim.

— Talvez seja.

Fitei-a.

— Está arrependida?

Ela apenas fez que não com a cabeça.

— Tudo bem — beijei sua testa e caminhei um pouco antes de abrir as asas e voar.

Chegando em casa, encontrei Damien no sofá. Dei meu máximo para tirar o sorriso bobo do rosto, mas acho que não fui rápido o suficiente.

— Onde estava?

— Com a Argent — tentei soar descontraído.

Damien ergueu uma sobrancelha.

— Até agora?

— Sim. Quer saber, não entendo você. Você diz para eu não deixá-la brava, mas também não quer que ela fique de bem comigo.

Ele levantou-se.

— Essa não é a questão, e você sabe disso.

— Sei?

— A questão é o quanto aquela garota mexe com você. Não negue.

— Acha que eu gosto da Argent?!

— Seeler, essa é a sua última chance antes de cair! É um teste! Não passou pela sua cabeça que a garota é uma tentação?!

— Não passa pela sua cabeça que ela é uma pessoa?! Você sempre fala dela como se não tivesse sentimentos! Como se fosse apenas um empecilho no caminho!

— Pare de tentar ter razão! Você está errado, sabe disso!

— Damien. Entenda isso — encarei-o. — Eu nunca vou ser esse anjo perfeito e sistemático que querem que eu seja. Se você consegue ser assim, ótimo. Mas eu não consigo.

— Não ser perfeito não quer dizer que você não possa controlar as tentações.

— Ela não é isso! Que merda! Se você não gosta dela, foda-se! Mas... Mas...

— Quanta consideração você tem pelo seu melhor amigo. Damien Gull, o Nefilim idiota que passou a vida inteira sendo perfeito, apenas para por tudo a perder se tornando amigo de Heath Seeler. Palmas para o mané. Se você quer ir para o Inferno por ela, que seja. Mas nem tudo é só sobre você — ele bufou e correu para o quarto.


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Notas finais do capítulo

*O seu cabelo é bonito
Damien pondo ordem na bagaça u.u (espera só até a Serena entender melhor a história... Ok, parei com o spoiler. Mas vou avisando que o próximo capítulo vai ser de fortes emoções, hue)