Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 17
Capítulo 17 - Dói porque importa


Notas iniciais do capítulo

Parece que voces se animaram com a revolta do Damien, HAUSHAUSH



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Serena

— Olá! — acenei, sentando-me no banco de trás do carro.

— Oi, Argent — Heath acenou, sorrindo levemente.

Damien acelerou sem dizer nada.

— Oi, Damien — coloquei a cabeça para frente.

— Estou dirigindo — ele resmungou.

— Não desconte nela! — Heath protestou.

— Pare de defendê-la! Como se ela não soubesse fazer isso sozinha.

— Parem de brigar antes que batam essa porra e nossos cérebros acabem esmagados num poste! — berrei por cima.

Silêncio.

— Ótimo — encostei as costas no banco de trás.

Quando chegamos à escola, segurei Heath no corredor.

— O que houve com Damien?

— Nada demais.

Ele tentou sair andando, mas segurei seu pulso com força.

— Diga-me.

— Não é nada, Argent.

— Então me diga.

— Certo! — ele bufou. — Damien meio que descobriu que eu... — a voz dele falhou.

— Que você...?

— Que a gente... Hã... Damien meio que descobriu que eu tenho essa... coisa por... você.

— Coisa — repeti.

— Algo como... uma queda? Um fraco? Um desejo incontrolável? Algo assim. E ele não ficou muito feliz com esse pequeno... desvio.

— Desvio — repeti.

— O que importa é que você está viva — disse ele, mas algo ainda o incomodava. O sinal bateu. — Tenho que ir para a aula. Tchau!

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele saiu correndo.

— As coisas esquentaram com o Heath, hein? — Audrey apareceu com um sorriso malicioso.

— Quê?

Ela apontou para o meu pescoço, onde podia-se ver claramente uma marca roxa. Cobri com o cabelo.

— Não viaja. É alergia — menti. Que patético, Argent.

— De um lado só do pescoço?

Heath

Encontrei Serena no intervalo. Estávamos na arquibancada, a cabeça dela estava encostada em meu ombro. Ela falava sobre... O capitalismo? Sei lá. Um de seus assuntos rebeldes, e minha cabeça estava longe dali.

—... Falando nisso, eu estou grávida — disse ela. — De um bicho de pelúcia. Do Irã.

— Legal — falei, distraído.

— Certo, Seeler — ela esmagou minha mão a fim de me fazer prestar atenção. Seus grandes olhos azuis focaram-se em mim. — Que porra está acontecendo?

— O que quer dizer?

— Quero dizer, você já é viajado normalmente, mas hoje está pior. Tem alguma coisa que você não está me contando.

— É só a coisa toda do Damien, do tipo Nós vamos para o inferno, e eu tipo, certo, mas talvez as coisas não sejam tão bem divididas assim.

— Espere. Nós?

— É, ele acha que você é uma tentação enviada para foder com a vida dele.

Ela demorou um momento para digerir aquilo.

— Não, não é disso que estou falando. Ai meu Deus. Eu não tinha me dado conta disso. Damien é seu supervisor. Se você cair, ele cai.

— Bem... É.

— E o que ele fez para estar aqui?

— Bem... Nada.

— Então Damien vai ter que largar o Céu para que você satisfaça seus desejos? — ela soltou minha mão bruscamente. — Essa é a coisa mais egoísta que eu já ouvi! E olha que, vindo de mim, isso é muita coisa!

Serena se levantou e colocou as duas mãos na cintura.

— Ele é o seu melhor amigo! Mas você nem se importa! Só se importa consigo mesmo! Com o que quer agora!

— Certo, mas eu tenho uma decisão a fazer!

— Não, não tem! Você vai voltar para aquela porra de Céu e pronto, porque, eu juro, se você se jogar lá de cima e trazer seu melhor amigo à força com você... Vai ficar sem o Céu e sem mim.

— Nem tudo é sobre você, Argent.

Ela me fuzilou e eu me arrependi instantaneamente do que havia dito.

— Certo. Me desculpe. Não foi o que eu quis dizer. É que... eu não consigo ficar longe de você, Serena. Essa é a verdade. Você é uma das pessoas mais detestáveis que eu conheço, mas eu também sou uma das pessoas mais detestáveis que eu conheço, e a verdade é que não conseguimos nos detestar. Porque tem essa coisa que eu sinto, e eu sei que você também sente, que fica nos arrastando de volta e de volta um para o outro. Você me fez questionar todo o conceito de Paraíso. Se eu cair, não caio para o Inferno. Caio para a Terra. Lá no Céu, todo mundo trata como se fosse a mesma coisa, mas não é. Tem coisas muito boas aqui. Como a amizade, os Soy Lattes e... você. Você me comprou um lugar no Paraíso de um jeito que eu não estava esperando.

Se eu estava esperando pelo menos uma hesitação, um sorriso, um suspiro ou qualquer coisa depois daquela declaração? Sim. Tudo o que ganhei foi:

— Bem, me compre uma camiseta no Inferno, perdedor — e então saiu andando, sem olhar para trás nem por um segundo sequer.

— O que você está fazendo?! — gritei, levantando-me.

Ela hesitou, mas por fim se virou. Mordia o lábio com tanta força que logo sangraria. Seu nariz vermelho indicava que ela estava prestes a chorar. De raiva, provavelmente.

Ou de outra coisa. Mas isso era doloroso demais de se pensar.

— Estou facilitando as coisas! — disse ela com a voz tremendo. — Já que não consegue ficar longe de mim, estou fazendo isso por você.

— Serena...

Ela soluçou quando eu disse isso, mas no segundo seguinte sua carranca já estava de volta, e foi como se o momento de fraqueza nunca houvesse existido.

— Só... Me esqueça, Heath. Por favor.

Então observei enquanto ela se afastava, correndo com as botas altas com a rapidez e leveza que eu sempre admirara.


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Notas finais do capítulo

E aí? A Serena exagerou ou Heath estava realmente sendo egoísta? Talvez ela apenas não suporte a ideia de que eles não podem... Tá, parei. Quero saber a opinião de vocês, fiéis leitores :3

Ah... E no capítulo que vem teremos um personagem ressurgindo diretamente (ou talvez não) dos Céus... Alguém arrisca?