O Garoto Que Tinha Medo De Amar escrita por Gin


Capítulo 26
Frustração


Notas iniciais do capítulo

Para Emilly

Por ter dito que eu era importante pra você, quando achei que não era pra ninguém

Hoje você é casada e tem um filho, o tempo passa rápido, não é?



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Ícaro estava com a cabeça doendo fortemente quando a reunião havia acabado. Eram tantas ideias, tantas coisas praticamente impossíveis de se colocar em prática, tantas coisas, e mesmo assim parece que a reunião não havia progredido em nada, foram apenas ideias balançando soltas sem ninguém para pega-las, ele ficou pensando se era esse mesmo o papel do Presidente do Conselho, e se fosse, como era difícil ser.

A sala estava arejada, o chão estava limpo, mesmo com todas as pessoas que haviam passado por ali, as paredes estavam limpas e brilhavam com o branco alvejado, as cadeiras estavam bagunçadas, resultado de todas as pessoas que saíram dali, provavelmente com raiva, pela reunião não ser como eles esperavam. Mas para Ícaro, também foi assim, ele não achava que as coisas não iriam fluir dessa forma, que o dinheiro e o tempo disponível seriam tão difícil de espalhar e preencher, que praticamente todos os clubes queriam usar o festival para ganho e mostra a todos o quão incrível eram.

— A situação não parece boa... – Disse Amy quebrando o silêncio e os pensamentos de Ícaro, suas palavras serviram para amenizar o clima daquele local.

Amy estava lá acompanhando a sua líder, do Clube de Doces, as duas foram a que menos falaram, na verdade até agora, aquelas haviam sido as únicas palavras que Amy disse durante toda a reunião.

— É...., isso vai ser muito complicado de se lidar. – Richard tentou ser otimista, pegando todos os formulários que os clubes haviam preenchidos, olhou para eles e balançou a cabeça negativamente. – É uma pena que as pessoas não parecem ter empatia, que todo mundo tem que participar, mas aparentemente não estão querendo deixar verba ou espaço para outros, o que dificulta muito acertar as contas com todos.

Ícaro observava calado a conversa, ele apoiava seus cotovelos na mesa, e suas mãos na cabeça, pensativo, olhando diretamente para a cadeira onde Sebastian estava sentado anteriormente, provavelmente a única pessoa realmente sensata durante a reunião. Clara não tinha aparecido, e com certeza nem queria, porém o que deixava Ícaro frustrado, também o aliviava.

— O que vamos fazer? – Disse Richard.

Sentado no canto esquerdo da sala, estava Brandon, observando tudo, o rapaz tinha dado suas opiniões e ajudo até na reunião, mas era um contra vários, e somente ele não foi capaz de convencer todo mundo. Brandon se apoiou sobre sua cadeira, passando a mão em seus cabelos baixos e curtos, olhou para a sala como se lembrasse das conversas que haviam acontecido.

— Essa foi só a primeira reunião, com certeza todo mundo ficou frustrado pelos seus planos não darem certo, e por mostrarmos a ele a realidade que é o Campeonato de Clubes, mas acho que nas próximas vezes, eles virão um pouco mais calmos. – Disse Brandon com olhar a Ícaro.

Ícaro assentiu, ainda sem dizer nada, e o que teria para dizer? Sua cabeça estava tão confusa que o mesmo sequer sabia o que falar naquele momento, ele apenas respirou fundo e tentou colocar na cabeça o que Brandon havia falado, era apenas a primeira reunião, as coisas iriam fluir melhor, e ele tinha que se acalmar, não podia levar sua vida pessoal para ali, ia complicar ainda mais as coisas.

— Ícaro, descanse, é sábado e você pode ir para o seu quarto, e pensar com mais calma, o clima e o ambiente aqui não irão lhe ajudar a tomar uma decisão. – Disse Richard, ao ver que o amigo estava realmente aflito.

— Eu estou bem, só... só estou tomando ideias na cabeça e vendo quais delas são e não são possíveis de se realizar.

Richard colocou a mão sobre o ombro de Ícaro.

— Vá descansar, não se estresse com isso ainda, só vai piorar.

Ícaro olhou para Richard, e por alguns segundos se acalmou, o que o fez pensar com mais clareza, o jeito calmo de Richard, além da sua capacidade de demonstrar que tudo iria ficar bem era o que mais agradava para Ícaro, pois Richard entendia ele, sabia bem como fazer com que Ícaro endireitasse, não havia dúvidas de que ele era o seu melhor amigo.

— Eu concordo com ele, não teremos mais reuniões do Clube das Histórias, por conta do Campeonato de Clubes, então se concentre apenas nisso, e não se esqueça de estudar também, logo as provas chegarão, e você não quer se dar mal também, não é? – Brandon deu uma pausa, mas logo continuou. – Mas acho que você irá ganhar um desconto por ter sido o Presidente do Campeonato, então não acho que tenha que se desesperar muito quanto a isso.

Ícaro assentiu para ele com um sorriso calmo, sem mostrar os dentes.

— É, preciso me acalmar, obrigado. – Disse ele.

Amy passou por entre as cadeiras e deu um abraço em Ícaro, o que o surpreendeu e o fez sorrir brevemente, ele estava precisando daquilo.

— Vá! – Disse ela, sorrindo mostrando a aparelho nos dentes, um tipo de sorriso que só ela conseguia dar, o que fez ele sorrir junto.

— Eu arrumo a sala, apenas vá descansar e pense sobre os projetos aqui, quando estiver melhor, me chame que vamos discutir sobre. – Disse Richard.

— Me chame também, quem sabe não posso ajudar. – Falou Brandon, se oferecendo.

Ícaro assentiu.

— Obrigado pessoal, me sinto melhor agora, vou pensar com mais clareza. – Falou ele se despedindo.

Os três se despediram e passaram a organizar o local.

Ícaro então caminhou, pensando em tudo aquilo que estava acontecendo, era tudo tão rápido e ao mesmo tempo, que sua cabeça não estava conseguindo assimilar tudo, o que explicava a sua dor. Ele pensou em Clara e nas palavras que ela havia dito a ele antes.

Se está aqui apenas por consideração está perdendo seu tempo”.

Aquilo ficava remoendo em sua cabeça, ele estava ali apenas por consideração, ou tinha algo a mais? Algo que ele não estava conseguindo compreender?

Ícaro respirou fundo e abandonou esses pensamentos, não havia tempo para isso, e pensar sobre essas coisas só iria piorar a situação que ele se encontrava.

Ao descer as escadarias, encontrou Howard, um aluno do 3° ano que era o líder do clube de vôlei. Howard era alto, tinha quase dois metros de altura, era loiro, e forte, qualquer pessoa que o visse sem o conhecer teria medo. Ele parou Ícaro o cumprimentando e dando parabéns pela reunião.

— Quero conversar com você, pode ir até o clube de vôlei? Temos algo para discutir contigo. – Disse ele, com uma cara séria.

— Poderia ser depois? Eu estou meio com a cabeça pesada, não sei se conseguirei discutir algo de uma boa forma. – Falou Ícaro.

— Prometo que será rápido, apenas temos algumas ideias novas, e queremos que você saiba. – Ele disse, demonstrando que Ícaro não sairia dali tão facilmente.

Ícaro pensou por poucos segundos e assentiu, se fosse rápido estaria tudo bem, aliás, Howard não demonstrou muita alteração durante a reunião, então provavelmente ele só queria acertar alguns pontos com Ícaro, o que era até uma forma melhor de ver a situação.

— Tudo bem. – Disse ele.

Os dois adentraram o clube de vôlei, era uma instalação que ficava dentro da quadra onde o esporte era praticado, haviam algumas pessoas jogando, outras conversavam sentada nos bancos colocados lateralmente, quando Ícaro e Howard passou, ambos ficaram olhando para eles, provavelmente por Ícaro ser o Presidente, ou então achavam que Howard iria colocá-lo no clube.

A sala do clube de vôlei, era grande e dividida em três partes, o vestiário, o chuveiro e a sala comum, que servia aparentemente para trocar ideias ou conversar. Ícaro se sentou no sofá e Howard sentou em outro, de frente para ele, o jovem alto olhou pela janela por alguns segundos, como se repasse o que o seu clube estaria fazendo, depois tornou-se a olhar para Ícaro de novo.

— A reunião não correu tão bem, não é? – Disse ele com um tom sério, sem alterações na voz.

Ícaro suspirou, e assentiu.

— Não, não foi como todos esperavam, e nem mesmo como eu esperava.

— Olha só, eu quero ir direto ao ponto. – Disse Howard olhando diretamente pra Ícaro – Esse é meu último ano aqui, então eu quero que o clube de vôlei tenha destaque durante o Campeonato de Clubes, nós faremos uma partida especial entre nós mesmos e isso será o destaque do evento, o que acha da ideia?

Ícaro encarou Howard, por um momento ele achou que estava brincando, mas quando viu o rosto e o tom sério dele, reparou que não.

— Bom, não acho que o vocês poderiam ser o destaque do evento, mas podem fazer uma partida entre vocês, como vôlei é um esporte jogado em quadra, não dá para prender muita gente no local, principalmente por falta de espaço. – Falou Ícaro.

Howard olhou para a janela novamente, e depois voltou-se para o garoto.

— Bom, mas isso pode ser resolvido com a verba do campeonato, não é? – Disse ele ainda sério. – Dá para conseguir que as pessoas fiquem sentadas durante a partida, e com muitas cadeiras, todos conseguirão, principalmente se abrir parte da quadra para o público.

Ícaro abaixou a cabeça, balançando ela devagar.

— Não é bem assim, não temos tanta verba, então isso está fora de questão, não podemos abrir parte da quadra só para esse evento, porque teríamos que consertar quando acabasse, fora que arranjar lugar para sentar para todas as pessoas seria bem caro...

— Mas dá para conseguir, não dá? – Disse Howard, interrompendo Ícaro.

Ícaro o encarou, ele parecia um pouco irritado.

— Bom... até dá, mas isso faria com que eu diminuísse muito as atrações de outros clubes, e todos eles precisam de uma parte igual. – Ícaro olhou pela janela, onde os estudantes estavam praticando vôlei.

Howard deu de ombros.

— É simples, os clubes que não tem importância, ficam com menos verba, e juntando a quantidade que ia para eles, você coloca aqui. – Pelo tom de Howard, Ícaro percebeu que não era uma sugestão do jeito que ele falava, era mais como uma ordem mesmo.

— Não, isso não pode acontecer, todo mundo tem que ter a mesma oportunidade e a mesma quantidade de dinheiro para realizar as suas atrações, então não podemos tirar alguns para dar para outros.

Howard se levantou, a irritação passava pela sua cara.

— Olha só, esse é meu terceiro ano aqui, e logicamente, meu último, eu quero dar ao clube que servi por três anos um espaço digno, e um destaque no último campeonato de clubes que vou participar, então, você fará isso? – Disse ele.

Ícaro o olhou, e reparou o quão grande Howard era, fazia jus a sua participação no vôlei, a sua altura era incrível, fora que também era forte, provavelmente por praticar um esporte que exija força.

— Entendo como se sente, mas não posso fazer isso, não posso favorecer um e desfavorecer outros por conta desse motivo. – Ícaro evitou olhar para Howard, olhando para os lados.

Foi quando, Howard fez algo que surpreendeu Ícaro, o agarrou pela gola da sua camisa e o levantou, jogando contra a parede, por uns três segundos, o garoto ficou sem reação, sem ter entendido o que aconteceu, até vir o choque e a dor em suas costas e corpo percorrer, e ele dar um breve grito de dor.

— Você vai fazer isso, entendeu? – Disse Howard em tom ameaçador, enquanto Ícaro tinha dificuldades para respirar.

— Eu... não posso. – Falou Ícaro quase não saindo som da sua voz.

Howard jogou Ícaro no chão, dando outra pancada em suas costas, que o mesmo sentiu na hora dessa vez, ele tentou se levantar, mas o impacto fez com que seus braços ficassem dormentes, quando estava quase conseguindo, sentiu seu corpo dar um solavanco e ser arrastado de uma vez, por trás, Howard socou seu rosto e o fez rastejar até o sofá, onde ele ficou parado respirando fundo, colocando a mão na sua bochecha e sentindo o leve sangramento que descia pelo seu nariz, ele colocou a mão lá e tentou respirar ao máximo, afagando o sangue que corria.

Ícaro olhou para Howard, não com um olhar assustado, nem com raiva, era mais como um olhar frio, e um olhar desprezador, um olhar que ele não fazia há muito tempo.

Howard levantou Ícaro e se preparou para um outro soco, e Ícaro, como reação levantou os braços para proteger sua cara, porém o mesmo não o socou, apenas deixou ele cair no chão, e caminhou pela sala, bufando de raiva e se acalmando aos poucos.

— Vá. – Ele apontou o dedo pela saída da porta. – E faça o que eu mandei, ou será pior.

Ícaro, com dificuldade se levantou, passou a mão pelo seu nariz e limpou o resto de sangue que parava de cair, mancando e se apoiando no sofá, ele caminhou, sem dizer uma única palavra, saiu pela porta sem olhar para Howard, andou pela quadra, ignorando todos os olhares confusos e questionários que os alunos ali davam, ele não ligou, ele não ligava. Caminhou até o prédio dos dormitórios, e entrou em seu quarto, reparou na sua bagunça, e a deixou ali, daquele jeito, deitou sobre a cama, de sapato e tudo mesmo, ele não ligava. Colocou o travesseiro sobre sua cabeça, e respirou, e ao fazer isso, foi como se tudo que estivesse acontecendo ao mesmo tempo desabasse em cima de Ícaro como uma tonelada de tijolos, pais ausentes, briga com amigos, pressão, tudo.

Ícaro sentou sobre a cama e encolheu-se em seus joelhos, olhava distantemente para a parede, por mais que não a visse de verdade, sua cabeça estava repleta de coisas que se perguntassem, ele não saberia explicar o que são. E pouco a pouco, tomando conhecimento da realidade, e voltando a si, as lágrimas quentes e salgadas começaram a cair, ele não se incomodou em limpa-las, apenas deixou que caíssem e seguissem seu rumo. Ícaro caiu sobre a cama e seu travesseiro, enquanto chorava, e pela primeira vez, desde que chegou no colégio, sentiu falta de seus pais.


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