O Garoto Que Tinha Medo De Amar escrita por Gin


Capítulo 23
Quebra de Laços


Notas iniciais do capítulo

Para Gustavo

Por ter me dado uma oportunidade e acreditado em mim

Tive vários momentos inesquecíveis pela sua causa, e o agradeço por isso



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Clara estava sentada com a cabeça deitada sobre a mesa do Conselho Estudantil, seus cabelos loiros estavam bagunçados de tanto que ela os mexeu, seus braços pareciam cansados, e seu corpo não se movia. Há alguns minutos atrás ela havia descoberto que Ícaro havia se voluntariado para se tornar o Presidente do Campeonato, e sequer contou a ela, aparentemente, não havia contado a ninguém.

Do lado de Clara estava Sebastian sentado no chão, apoiando suas costas na parede, e ao lado dele Amy, que havia chegado há pouco tempo justamente para perguntar o que estava acontecendo, mas quando disseram que não havia resposta ainda, ela simplesmente se sentou com Sebastian e ficou aflita.

— Por que ele fez isso? Por que? Ele sabe a importância que tem esse cargo, ele sabe o quão difícil é ocupar isso, ele sabe que não conseguiria. – Falou Clara, com um tom de irritação forte na voz.

Amy olhava para ela com os olhos cabisbaixos, ela não sabia o que dizer, talvez nem achasse que aquilo fosse um problema de verdade, porém ao ver a expressão de Clara, ela se entristeceu.

Sebastian continuava do seu jeito de sempre, calado e com olhos mortos e cabisbaixos, ele olhava para a porta, como se esperasse alguém entrando na sala. Ele respirou fundo e deitou-se sobre o colo de Amy, que desviava o olhar, confusa.

— Por que está tão impressionada? – Disse Sebastian olhando para cima com a voz calma. – Ícaro não é o tipo de pessoa que faz isso? Não foi você mesmo que falou? – Ao terminar de falar, ele olhou para Clara, que o retribuía com olhar irritado.

— Você não entende! – Clara se levantou da cadeira, e bateu levemente com as mãos na mesa. – Ele foi longe demais dessa vez! Mas não só isso, ele nem ao menos se deu ao luxo de vir conversar conosco sobre essa decisão! – Ela tentou continuar a falar, mas parou ao ver a cara de Amy um pouco assustada, ela não poderia agir assim na frente da garota, ela não tinha nada a ver com isso.

Amy tentou falar alguma coisa, mas Sebastian a impediu, falando em sua frente.

— Não acha essa irritação um pouco infantil? – Disse ele, se levantando do colo de Amy. – Você parece alguém que acabou de perder um braço por culpa de outra pessoa.

Clara olhou para ele, e não quis retrucar, a raiva dela realmente não parecia fazer tanto sentido, e talvez não faria, mas ela estava, e queria sentir, mas a lógica tomou-se conta e a mesma se sentou novamente.

Por alguns minutos o silêncio tomou conta do lugar, mas não um silêncio bom, daqueles que você procura quando quer ler, estudar, ou simplesmente ficar sozinho, era um silêncio incômodo, um silêncio que fazia as pessoas olharem para os lados, com a tentativa vã de buscar alguma coisa para se falar, porém sem mérito. Clara mexia as suas pernas, em reação a sua ansiedade, Sebastian respirava fundo e soltava de vez em quando, na tentativa de se acalmar ou simplesmente de pensar melhor, Amy simplesmente ficou calada, a garota de cabelos castanhos bagunçados foi pega de surpresa, não tinha culpa de participar desse silêncio, mas seria ainda mais constrangedor se ela acabasse saindo dali naquele momento.

O silêncio continuou por mais um tempo, até ser levemente distraído pela chegada de alguém a porta, era Ryan acompanhado de Britney, os dois, lado a lado sorrindo, como quem estivesse orgulhoso de alguém. Ryan vestia uma camisa azul com estampas alaranjadas, seus cabelos estavam penteados para cima, e seu sorriso continuava impecável, já Britney usava um vestido marrom escuro, seus cabelos louro-cinza estavam presos em um rabo de cavalo, seus olhos castanho-escuros refletiam a felicidade da garota em algo. Ao vê-los, Clara achou que eram um casal, mas logo tirou a ideia da cabeça, por saber que realmente não eram.

— Onde está Ícaro? – Disse Ryan sorridente, como quem fosse dar os parabéns.

— Viemos aqui para parabenizá-lo... – Britney se calou a ver a cena lá dentro.

Por uns segundos Ryan fitou os olhares vagos e distantes das pessoas ali dentro, Britney pareceu fazer o mesmo, depois disso, pegaram as cadeiras e se sentaram, olhando para Clara com um olhar questionador.

— O que aconteceu? – Perguntou Ryan.

Clara olhou para os dois por uns segundos antes de responder, Ícaro havia tentado fazer Ryan virar Presidente do Conselho anteriormente, e de alguma forma acabou machucando muito o rapaz, revelando que o mesmo age de uma forma que não quer, para assim transparecer uma imagem, perguntou naquele momento se Ícaro não estava fazendo o mesmo.

— Achei que estariam felizes pela eleição de Ícaro, mas não estão, por que? – Perguntou Britney para apagar o leve silêncio.

— Ícaro se elegeu para o cargo, e não contou a nós, e provavelmente ele era o único para o tal cargo, e assim acabou se tornando o Presidente por falta de opções. – Disse Sebastian com uma voz rancorosa.

Ryan olhou surpreso para Sebastian, depois para Clara, como se perguntasse mentalmente o que ela achava disso.

— Ele deve ter seus motivos, gente... – Disse Amy, finalmente tomando coragem para falar, na tentativa inútil de acalmar os outros.

Ryan respirou fundo.

— Tendo seus motivos ou não, ainda sim é uma falta de respeito. – Disse ele, calmamente para não ofender Amy.

— Sim, totalmente. – Concordou Britney do seu lado.

Clara assentiu, mas não disse nada mais, por um momento pensou no que Ryan estaria pensando dessa situação, já que o mesmo poderia ter sido, se por um acaso aceitasse a oferta de virar Presidente do Conselho, mas logo o pensamento foi cortado por uma pergunta.

— Já falaram com ele? – Perguntou Britney. – Digo, depois de saberem que ele havia se tornado Presidente.

— Não, ainda não falamos. – Disse Sebastian no fundo. – E pela raiva dessa aí, creio que ela não quer.

— Eu vou. – Disse ela, de maneira curta.

Ryan a fitava, parecia entender o motivo por ela estar tão irritada, coisa que nem ela sabia direito. Porém, não disse mais nada, se levantou, e pediu licença ao se retirar, Britney fez o mesmo.

— Bom, diga para ele que eu mandei um “olá”, quando o ver. – Falou Ryan ao sair da sala.

Clara, junto de Sebastian, havia terminado de realizar as tarefas do Conselho, que já não eram tantas, e sequer precisaria de ajuda de verdade para serem feitas. Ela olhou para um formulário do clube de atletismo, havia sido preenchido por Jocelyn. Naquele momento, ela queria conversar com a amiga, porém sabia que ela não tinha tempo, quem sabe quando acabasse o campeonato. Depois, pensou em Richard, e o que ele estaria pensando ao ver que seu melhor amigo iria ocupar o cargo mais importante do campeonato.

Querendo estar sozinha na sala, provavelmente para respirar melhor, Clara pegou um formulário e o estendeu até Sebastian.

— Tome, leve até o clube de basquete, e pergunte a eles sobre como será o seu orçamento, anote tudo aí. – Disse entregando a folha a Sebastian.

Provavelmente, Sebastian entendeu o recado e se levantou junto a Amy.

— Vamos comigo, Amy. – Disse ele para a garota, que a assentiu e a acompanhou, olhando para trás saindo da sala, como se perguntasse se iria ficar tudo bem.

Clara passou os próximos minutos andando pela sala, dominada pela ansiedade, sem saber ao certo no que estava pensando, depois se amontoou na janela e de lá ficou observando as pessoas passarem, e decidiu tomar um pouco de ar fresco. Ela fechou a sala, pois sabia que não teria mais atividades pelo dia, e caminhou pelos corredores do colégio, quando avistou Charles, seu professor de física. O homem alto de cabelos pretos com grisalhos, vestia uma camisa social com gravata, olhou para ela de maneira calma e sorriu.

— Se está à procura de Ícaro, ele está na sala do diretor. – Disse Charles calmamente.

— Obrigada, professor, mas nesse momento não estou. – Respondeu ela.

— Está sim, só não quer admitir. – Disse ele sorrindo e entrando na sala ao lado.

O coração de Clara bateu um pouco mais forte, era tão perceptível assim? Ela ficou um pouco nervosa no pensamento de ver Ícaro, por mais que sentisse raiva, ela não saberia o que dizer. Na verdade, o que ela deveria falar a ele? “Não acha essa irritação um pouco infantil? ”, havia dito Sebastian, e agora que ela pensava, realmente parecia. Porém, a mesma foi até a sala, subiu as escadas, e quando parou à porte do diretor, escutou Ícaro e o mesmo conversando lá dentro, mesmo que não desse para identificar o que estavam falando, ela percebeu que o tom do diretor era sério e até um pouco irritado, como se estivesse dando ordens.

Clara bateu na porta, e ao fazer isso percebeu que ela ainda não sabia o que falar, porém tinha que esclarecer as coisas, havia de ser feito isso. Ela ouviu passos, que deveriam ser o de Ícaro na direção, e o mesmo a abriu. Seus cabelos negros estavam caídos numa franja, como sempre, seus olhos azuis estavam brilhantes, por mais que suas olheiras estivessem aparentes, ele vestia uma camisa preta com uma leve jaqueta, talvez para ajudar com o frio que estaria fazendo naquele dia, usava calça jeans azul e tênis branco, ao ver Clara, a fitou por um momento, até abrir a porta para que o diretor visse quem era.

— Ah, senhorita Meyer. – Disse o diretor. – O que a traz até aqui?

Clara percebeu o olhar questionário e preocupado de Ícaro, ainda sim cabisbaixo.

— Eu apenas queria falar com Ícaro, senhor. – Disse ela.

O diretor assentiu, sem mais complicações.

— Pois bem, leve o senhor Arnetold para onde quiser. – Disse ele com um sorriso, mas ainda assim não foi o suficiente para apagar a seriedade com a qual ele falava antes.

Ícaro fez um cumprimento ao diretor e saiu da sala, fechando a porta em seguida.

— Oi. – Disse ele.

— Oi? – Clara falou, não elevando muito a voz. – Você some, eu vejo um cartaz de que você é Presidente do Conselho, não disse nada a nenhum de nós, e me vem com um simples “oi”?

Ícaro abaixou um pouco a cabeça, mas não tanto.

— Eu não tenho muita coisa a dizer, na verdade, nem sei por onde começar.

— Que tal começar pelo motivo que fez você se candidatar a Presidente do Conselho? – Perguntou Clara.

— Não havia ninguém, apenas preenchi a vaga. – Disse ele por fim, ainda cabisbaixo.

— É? Simplesmente preencheu, sabendo de toda a responsabilidade, fora as coisas que ainda tinham com a gente. Mas acho que nem pensou nisso, pois sequer veio falar para seus companheiros de clube sua decisão. – Disse ela.

— Não é como se tivesse tanto trabalho ali, e seu eu falasse a vocês, provavelmente iriam ir contra.

— Claro que iriamos ir contra! Não é obvio? Você sabe que não aguenta a pressão, Ícaro, nessa escola não houve Presidente do Conselho no 1°ano do ensino médio, muito menos um aluno transferido que não conhece o sistema direito! E sabe por que? Porque eles não podem! – Clara estava muito irritada e não parecia sequer controlar sua raiva.

— Não tinha escolha! – Disse Ícaro, ainda sem elevar muito o tom de voz. – Iríamos ser cobrados e com certeza não iria ser aceita uma desculpa! Você parece não saber... – ele abaixou um pouco a voz. – O quando o diretor é assustador... – Disse ele.

— Iríamos dar um jeito! As atividades estavam ficando escassas, logo iríamos poder nos dedicar totalmente a isso! – Clara rangeu os dentes.

Ícaro olhava para ela meio surpreso, como se não esperasse que a mesma faria isso, pois nunca havia visto a raiva dela nessa forma.

— Não iriamos dar um jeito, Clara, você sabe disso. – Falou ele para ela, calmamente, talvez um pouco assustado.

Clara abaixou a cabeça, ela estava irritada, mas aquilo não era puramente irritação, era algo como... Como frustração, como se ela estivesse frustrada em não saber o que Ícaro iria fazer, frustrada por ele não ter dito nada a ela, por ter simplesmente feito, e não pedido a sua opinião. Porém, ela também percebeu naquele momento, o quanto Ícaro importava para ela, não uma importância normal, mas sim uma mais complicada, uma mais... forte.

Ela balançou a cabeça negativamente, talvez no fundo ela quisesse admitir que estava errada, quisesse falar para Ícaro que tudo bem, mas ela não conseguia, seu orgulho não permitia, pois ela sabia que não estava errada de verdade.

— Você não deveria ter feito isso. – Disse ela.

Ícaro abaixou a cabeça e a levantou, como se estivesse decidido.

— Mas fiz. – Falou ele, por fim.

— É, fez. – Disse ela, ficando sem reação.

E novamente um silêncio se formou, seguido por olhares dos dois, um no olho do outro, Clara percebeu o quão trêmulo, Ícaro estava, como se não quisesse estar fazendo nada disso.

— Mais alguma coisa? – Disse ele.

Ao falar isso, Clara simplesmente se entregou.

— Sim, Ryan mandou um “olá”. – E ao dizer isso, saiu, descendo as escadarias.


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Notas finais do capítulo

Sentir orgulho em ter orgulho, é algo meio triste.



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