O Garoto Que Tinha Medo De Amar escrita por Gin


Capítulo 19
A Falsa Juventude


Notas iniciais do capítulo

Para Lúcia (Vulgo Luh)

Por segurar minha mão e dizer não, quando eu pensei em desistir

E por ser a pessoa mais sincera e real comigo que conheci, espero que esteja bem onde estiver



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421004/chapter/19

Ícaro

Já passava de duas da tarde, quando Ícaro terminou o almoço. Geralmente ele comia depois de todo mundo, pois precisava verificar as salas para ver se não havia ninguém lá, depois precisava conferir os clubes, e perguntar se tudo estava bem, pelo menos era assim, quase todo dia. O refeitório estava completamente vazio, com exceção da faxineira, que aproveitava essa hora para arrumar, visto que ninguém iria aparecer ali por um tempo.

Ícaro deu uma volta pela área do colégio, ele podia demorar um pouco mais, já que depois de bastante trabalho, o Conselho Estudantil conseguiu agilizar e até adiantar algumas coisas, então mesmo se ele voltasse para a sala, não iria ter muita coisa para se fazer. Sentou-se sobre a grama que dava de frente para o campo de atletismo, aquele era um local muito bom quando você queria relaxar, pois o vento era agradável e a grama dava uma sensação boa. No campo, Jocelyn e mais alguns membros do clube de atletismo corriam, devia haver por volta de quatro garotos e seis garotas além dela. Ele ficou pensando se estaria ali também se houvesse aceitado a proposta de participar dali, mas não se imaginava correndo, era muito cansativo e ele não tinha motivação.

Jocelyn era a mais rápida dali. Ela conseguia correr várias voltas e aparentemente não se cansava tanto quanto os outros, pois ela nem ofegante estava, o que só demonstrava o quanto ela era dedicada naquilo. Ícaro pensou em ir conversar um pouco, mas não queria atrapalhá-la, então, abriu sua mochila e pegou seu livro de história, e ali mesmo, começou a ler. As provas estavam se aproximando, e exatamente por esse motivo que, Clara e ele adiantaram bastante o trabalho do Conselho, só assim eles arranjariam tempo livre para estudar um pouco mais que o necessário. Talvez para Ícaro, isso não seria tão importante, mas Clara tinha uma reputação a manter, e assim como ela já havia dito para ele algum tempo atrás, todos esperavam muito dela, e ela tinha que cumprir com as expectativas. Ele não achava isso certo, pois de certa forma a magoava e até teve uma briga com ela sobre isso, mas logo soube que não dá para muda-la, esse era o jeito dela, e ele gostava de tê-la ao seu lado assim.

Ícaro folheou página a página, e leu um pouco sobre a Primeira e Segunda, Guerra Mundial, as quais eram os assuntos da prova, antes mesmo de passar mais uma, percebeu que estava sonolento, não porque o assunto era chato, mas sim, porque o clima estava perfeito para tirar uma soneca, ele até pensou em fazer isso, mas decidiu ir para a sala do Conselho, onde pelo menos, se ele fosse tirar uma soneca, ninguém apareceria para atrapalhar, ele riu consigo mesmo ao pensar sobre isso.

Ícaro subiu as escadas do prédio, e foi até a sala, cuja porta estava aberta, o que não era algo comum, pois era costume de Clara sempre fechar a porta ao entrar. Porém, ele percebeu que lá dentro, estava alguém, olhou discretamente para saber quem era, e logo viu o diretor, Henry. Seu corte de cabelo estava impecável como sempre, ele vestia uma blusa e calça social, tinha uma gravata preta também. Sua expressão séria, como sempre tinha, estava estampada no rosto, mas não era tão visível agora, parecia falar sério de um assunto, mas era sempre assim que ele falava.

— Tudo bem então, conto com vocês. – Ele disse, se dirigindo à saída da sala.

Ele passou por Ícaro que estava perto da porta, o cumprimentou, e dirigiu um sorriso rápido, e logo subiu as escadas, indo provavelmente para a sala dele.

Ícaro olhou para Clara por fora da porta, o dirigindo um olhar questionador e preocupado, era o diretor que estava ali, com certeza ele veio falar de alguma coisa muito importante. Clara, ao invés de responder, fez um sinal para que ele entrasse na sala. Ícaro entrou, fechou a porta e sentou em uma das cadeiras.

Clara estava linda como sempre, seus cabelos loiros estavam soltos, e flutuavam levemente por conta do vento, e isso fazia ela de vez em quando passar a mão para deixá-los no lugar, ela vestia uma blusa confortável e de seda, calça jeans, e sandálias, como se estivesse mais à vontade, seus olhos verdes eram destacados por conta dos raios solares, Ícaro achava isso extremamente lindo nela. Ela olhou para ele, segurando um papel.

— O diretor pediu para fazermos uma coisa. – Disse ela.

— E o que seria? Algo aconteceu? Nós fizemos algo errado e temos que corrigir? – Perguntou Ícaro, com preocupação.

Clara balançou a cabeça em negação.

— Não, não se preocupe com isso, fizemos tudo em ótima escala, e o diretor até elogiou o nosso trabalho.

Ícaro respirou fundo, seria realmente um problema se ele tivesse que refazer alguma coisa da qual eles fizeram, pois foi um trabalho realmente exaustivo, e provavelmente, ele não teria a capacidade de fazer aquilo novamente.

— Bom, se não foi isso, então... O que aconteceu? – Perguntou ele.

— Ele pediu para que colocássemos o Sebastian em algum lugar. – Disse ela.

— Sebastian? Em algum lugar? Por que você não é direta? Diz logo, poxa.

Clara riu levemente.

— Sebastian está sem nenhum clube desde o início do ano, e de alguma forma isso chegou até o diretor, agora ele quer saber o motivo dele estar assim, e que se preciso, nós ajudássemos ele a entrar em algum que seja da vontade dele.

Ícaro balançou os seus cabelos, pensativo.

— Eu não acho que Sebastian vai querer nossa ajuda... Ele é tão.... Reservado.

Sebastian, era o melhor amigo de Amy, os dois estavam quase sempre juntos, por mais que ele não demonstrasse absolutamente nenhum interesse nela, ou em estar ali, sempre tendo olhos de desprezo, ou de desinteresse. Ícaro não conhecia praticamente nada sobre ele, apenas que gostava de histórias de terror, pois sempre as contava no Clube de Histórias, e que por mais que não parecesse, ele ainda se importava com algumas coisas, pois no dia em que Ícaro não foi para aula, por causa que ficou tocando piano para Clara, ele havia perguntado se estava tudo bem.

— Eu não sei nada sobre o Sebastian, na verdade, acho que nunca cheguei a conversar com ele. – Disse Clara.

— Eu já conversei, mas foi algo tão superficial, que nem deu para saber alguma coisa, então, certamente não será de ajuda.

Clara apoiou seu rosto na mão, e ficou olhando pela janela, provavelmente pensando em alguma forma de conseguir se aproximar ou conversar com alguém que sequer gosta de fazer isso.

— Talvez devêssemos falar com a Amy. – Disse Ícaro.

Clara o olhou.

— Amy? A Amy da nossa sala? Por que? – Perguntou ela.

— Bom, porque os dois estão sempre juntos, talvez possamos perguntar alguma coisa sobre ele, que nos ajude a conversar melhor com ele.

Clara assentiu.

— Então, vamos nos encontrar com ela.

Ícaro e Clara caminharam e desceram as escadas até o segundo andar, onde estaria a sala, a qual Amy ficava.

— Sala 8, segundo andar, Clube de Doces. – Disse Clara.

— Espera, existe um Clube de Doces nesse colégio? – Perguntou Ícaro.

Clara confirmou com a cabeça.

— Eu também fiquei assim quando soube, mas a ideia é até boa, pois os estudantes aprendem a fazer chocolates, brigadeiros e outros tipos de receitas, e o colégio de encarrega de vende-los, no final, o dinheiro obtido é distribuído entre as duas partes, fazendo assim um negócio. É bom, pois ensina os alunos a fazer alguma coisa que pode ser usada no futuro, e ainda garante a eles uma renda, nem que seja muito pequena, é uma espécie de incentivo.

— Entendi, se bem que é mesmo a cara da Amy, estar em um clube assim, ela gosta mesmo de comer. – Pensou Ícaro e riu um pouco, se lembrando da obsessão que Amy tinha por coxinhas.

Enquanto caminhavam, os dois percebiam o forte cheiro de açúcar e doces que emanavam no corredor, era um cheiro realmente agradável, principalmente quando se o sentia pela primeira vez. Ele vinha exatamente da sala 8, mostrando que os membros do clube estavam trabalhando nessa hora.

As salas do lado estavam todas fechadas, mas era possível escutar conversas lá dentro, o que significava que haviam outros clubes em funcionamento ali, Ícaro se perguntou sobre qual seria cada clube, haviam muitos que ele ainda não conhecia e sentia curiosidade de saber.

A porta da sala 8, era simples e azul, a janela era veneziana e estava fechada. O cheiro era incessável e extremamente bom de se sentir, dava para escutar algumas conversas sendo realizadas ali. Clara bateu na porta, e assim que o fez, as conversas cessaram e podia se escutar passos se dirigindo até a porta.

Quem atendeu a porta, foi uma garota que aparentava ter 15 ou 16 anos, era um pouco alta, e tinha olhos castanhos, seu cabelo curto caia em uma franja, usava batom vermelho e era possível ver alguns pedaços de chocolate em seu rosto, ela olhava para Ícaro e Clara, primeiramente para identificar quem eram e depois, abriu um sorriso.

— Posso ajudar em algo? – Perguntou ela.

— É... Ah, nós gostaríamos de falar com a Amy, ela se encontra no momento? – Perguntou Clara.

A garota olhou lá para dentro e abriu a porta completamente revelando a sala. Era um local grande, havia cerca de treze ou quinze garotas ali, apenas garotas mesmo. Ícaro reconheceu Alexya que deu um sorriso para ele acenando. Haviam vários fogões, e a maioria deles trabalhando no canto da sala, o cheiro vinha de lá, pois dava para perceber que havia bolos, doces ou algo parecido assando. As paredes eram pintadas de branco, e algumas haviam marcas marrons, provavelmente alguém que havia limpado as mãos com chocolate, o chão tinha azulejo azul que impressionantemente estava bem limpo, as janelas eram grandes, e por elas vinham ventos bem fortes, isso explicava o motivo daquela sala não ser tão quente, com tantos fogões ligados ao mesmo tempo. Ícaro procurou por Amy, mas antes que pudesse acha-la, sentiu um aperto forte, de alguém o abraçando, era ela. Era Amy, a Amy de sempre. Seus cabelos estavam assanhados como de costume, seus olhos castanhos escuros detrás dos seus óculos olhavam vibrantemente para ele, e seu sorriso forte mostrava o aparelho em seus dentes.

— Ícaro! Veio me visitar? – Perguntou ela.

— É, mais ou menos. – Sorriu Ícaro. – Se importa de conversar um pouco com a gente?

Amy olhou para Clara, que não parecia feliz com ela abraçando Ícaro, e isso a fez soltar um pouco, e ao fazer isso, Clara relaxou.

— Ah, com certeza! – Disse ela, animada. – Lola, eu posso sair um pouco?

Lola, a garota que havia aberto a porta, olho para Clara e assentiu.

— Tudo bem, isso deve ser mais um trabalho do Conselho Estudantil, então pode ir. – Disse ela com um sorriso.

Ao dizer isso, Lola entrou na sala e fechou a porta.

— Certo, o que seria? – Perguntou Amy, balançando as mãos ansiosa.

— A gente veio perguntar para você, o que acha do Sebastian, se pode nos contar alguma coisa sobre ele. – Falou Clara.

— Sebastian? É... Nem eu sei muito sobre ele, mas por qual seria o motivo? – Perguntou Amy.

— É que o diretor Henry, falou que atualmente ele não está em nenhum clube, por isso veio falar com a gente para questionar o motivo, e se possível integrá-lo em um. – Falou Ícaro.

Amy colocou o dedo na boca, como se estivesse pensando.

— Na verdade, Sebastian já participou do clube de teatro e acabou saindo de lá, mas isso já faz um ou dois meses...

— Sebastian, no clube de teatro? Não sei o motivo, mas não consigo imaginar ele lá. – Falou Ícaro.

— Pois é, e até disseram que ele era muito bom em atuar, mas acabou desistindo, só não sei o motivo, e nem consigo tocar isso, já que ele é uma pessoa muito fechada.

Clara olhou para Ícaro e Amy, depois respirou fundo.

— Você sabe de alguma coisa que ele goste, ou algo do tipo? Porque deve pelo menos haver um clube que ele consiga se identificar, e podemos colocar ele lá. – Falou Clara

Amy balançou a cabeça.

— Eu sei realmente pouco sobre ele, sei apenas que ele gosta de ler e dormir, pois é um cara realmente preguiçoso, mas fora isso, nada. O que a gente conversa é apenas sobre minhas coisas, e tecnicamente ele mal conversa, pois me escuta e quase nunca comenta sobre o que estou falando, nem fala nada sobre ele.

Ícaro virou o olhar pela janela, sabendo que o que Amy havia descrito, era realmente do feitio de Sebastian, mas ele sabia também, ou algo lhe dizia, que no fundo Sebastian era um cara legal.

— E... Como deveríamos abordar ele? Ele é uma pessoa difícil de conversar, então eu nem sei como chegar até lá e falar. – Disse Clara.

Amy sorriu.

— Simplesmente chegue e fale, não precisa ter esse medo, ou evitar ele assim, talvez pelo estilo dele, Sebastian não é uma pessoa da qual você quer ter a amizade de primeira, mas quando o conhece, ou fala com ele, percebe que ele é realmente amigo, mesmo quase sempre calado, reclamando, ou dizendo coisas ruins, ele está ali.

Clara tocou no ombro de Ícaro.

— É, acho que me preocupei um pouco demais. – Disse ela.

— Na verdade, quase sempre é assim, mas tudo bem, a gente tolera. – Disse Ícaro, brincando.

Clara sorriu para ele, ela gostava quando Ícaro brincava assim, e nesse momento, ela sentiu um pequeno calor e uma acelerada em seu coração, mas tratou de se recompor.

— Obrigado, Amy, nós vamos falar com ele agora, sabe dizer onde ele fica nesse horário? – Perguntou Ícaro.

Amy olhou para cima, pensativa.

— Acho que ele está na biblioteca, se não estiver lendo livros, está com certeza dormindo. – Falou ela, dando um sorriso como se lembrasse da cena que havia acabado de descrever.

 - Vamos lá, Ícaro. – Disse Clara por fim.

Amy acenou e se despediu.

— Na próxima vez que vier me visitar, traga comida, de preferência, coxinhas. – Disse ela.

A biblioteca, ficava de trás do prédio oficial, não era muito grande, mas possuía dois andares, com uma grande variedade de livros, as paredes eram repletas de armários onde eles eram guardados. O cheiro era de madeira recém-colocada, misturado com um perfume de pinho, mostrando o quando ali estava sempre limpo.

O balcão da recepção, era grande, e lá dentro estava a funcionária responsável, ela tinha cara de ter 24 anos, ainda jovem, mas aparentava ser mais experiente do que a idade dizia. Encostado do balcão, estava um cartaz “Leia, mas leia em silêncio”. Ícaro sorriu um pouco ao vê-la ali.

Os dois adentraram a biblioteca, a qual estava até com uma quantidade razoável de pessoas, até Ryan estava sentado conversando com algumas pessoas, inclusive Brandon, provavelmente estavam estudando. Ícaro decidiu deixá-los ali, e foi atrás de Sebastian.

Quase no final da biblioteca, era possível ver Sebastian lendo algo. Seus cabelos grandes estavam assanhados e bagunçados, sendo até difícil observar seu rosto. Ele vestia uma blusa azul escuro, short jeans e chinelos. Usava um anel na mão esquerda, e parecia distraído ao ler o livro. Ícaro se aproximou dele, e Sebastian percebeu, fechou o livro e olhou para ele, sem nenhuma reação. Depois apontou para a cadeira, como se pedisse para os dois se sentarem.

— Sebastian, como você está? – Perguntou Ícaro.

— Não precisa perguntar coisas da que vocês não têm o menor interesse, pode ir direto ao assunto. – Disse ele.

Ícaro já sabia que as coisas iriam ser assim, então sequer foi afetado pela arrogância de Sebastian, na verdade até sorriu um pouco. Por outro lado, Clara parecia um pouco incomodada, mas continuou.

— É... soubemos que você está atualmente sem nenhum clube, e viemos perguntar o motivo. – Falou Clara.

Sebastian balançou e mexeu um pouco em seus cabelos.

— Ah é, vocês são do Conselho Estudantil. – Disse ele. – Eu não quero estar em clubes, não gosto. – Ele olhou para os dois. – Pronto, já possuem a resposta.

Clara parecia ficar irritada com ele, e até pensou em elevar o tom da voz, mas não fez.

— Na verdade, Sebastian, precisamos de um motivo mais convincente para dizer ao diretor, pois foi ele que nos pedi para fazer isso. – Falou Ícaro.

Sebastian manteve-se calado por um tempo, mexeu um pouco no livro, talvez estivesse sentindo-se desconfortável, ou simplesmente pensando no que iria dizer.

— Ele mandou que vocês me obrigassem a estar em um clube? – Sebastian falava, e sua voz era calma e tranquila, como se nada estivesse acontecendo.

— Ele não mandou nada, Sebastian, mas olha, você não acha que deveria aproveitar mais o tempo com as pessoas? Nós ainda estamos na juventude. – Falou Clara.

Sebastian deu uma risada fraca e sem gosto.

— Clara. – Disse ele. – Juventude? Mas que mentira.

Ícaro fixou o olhar nele, Sebastian ia dizer algo, mas o olhar dele o fez parar.

— E por que a juventude é uma mentira, Sebastian? – Perguntou Ícaro.

Sebastian respirou fundo, e olhou para ele, dessa vez com um tom mais sério, mas de certa forma, ainda assumia um ar despreocupado.

— As pessoas fazem da sua juventude, algo gigantesco, apenas para reunir problemas, elas sempre vão reunir tudo a sua volta.

Clara olhou em volta, para não o encarar diretamente, se sentiu um pouco desconfortável.

— Para eles. – Continuou Sebastian. – Se houver algo que seja nominado “juventude”, eles irão mergulhar dentro imediatamente, pois essa é uma... Vida “normal”, pois só assim eles se viram contra os olhares da sociedade.

Ícaro tentou falar algo, mas ficou pensativo sobre o que Sebastian falou.

— Se você acompanhar essas pessoas, mentiras, falhas, segredos e até mesmo quem sabe, crimes te aguardam. Mas, para eles.... Isso é apenas o tempero da vida. E como a falha é também uma marca de ser jovem... – Ele deu uma pausa e respirou. – Sendo assim, é irônico, uma pessoa que falha, ou é ruim em fazer amigos, pois ela está tecnicamente abandonando sua “juventude”.

Sebastian olhou para os dois e depois abaixou a cabeça, encostando ela na mesa.

— Mas claro, que mesmo eu contando isso, vocês vão negar e dizer que não é assim, talvez seja por esse motivo, que eu não queira entrar em clubes, porque eu posso ser jovem, mas não faço parte da juventude de vocês. – Disse Sebastian, com tom de que estava encerrando o assunto.

Clara e Ícaro se entreolharam. Por mais que ele havia dito tudo aquilo, em nenhum momento Sebastian pareceu irritado, ou chateado, ele simplesmente havia falado o que ele pensava, e se expressou de uma forma tão boa, que até mesmo Ícaro se perguntou se era mesmo ele ali.

— Você tem certeza de que não diz isso, apenas porque não consegue viver direito com essas pessoas? – Perguntou Clara.

— Claro que é por isso, se não eu estaria nesse momento me divertindo em um clube, assim como vocês esperam, mas não consigo, ou quero. É chato demais, as coisas são mentirosas demais, então, digam para o diretor, que eu gosto de passar meu tempo lendo, e não preciso de pessoas para me mostrarem a ler, por isso, estou sem clube. – Disse Sebastian, por fim.

Ícaro o encarou por um ou dois segundos, depois disso olho para Clara.

— Clara, pode ir, eu quero conversar um pouco com Sebastian.

Clara pensou em dizer algo, mas viu os olhos decididos de Ícaro, os quais dificilmente ela conseguia ver. E sem dizer nada, ela simplesmente saiu dali.

— Bom, Sebastian, você acha que as coisas estão mesmo bem para você? – Disse ele.

Sebastian o encarou, com um olhar “Ele ainda não parou? ”.

— Claro que estão.

— Você não está apenas fugindo da sociedade, porque ela de certa forma... te machuca, ou assusta?

Sebastian balançou a cabeça de forma negativa, devagar.

— Não me confunda com adolescentes depressivos, ou que se magoaram com algo, Ícaro. Eu simplesmente olho para aquele rodeado de pessoas, e não sinto vontade de estar ali, porque eu não gosto disso. Há coisas das quais você gosta, e há coisas das quais não.

— Você diz que está tudo bem assim, mas até pouco tempo estava no clube de teatro, e pelo visto, você era um dos melhores lá, o que aconteceu que o fez mudar de ideia? – Perguntou Ícaro.

Sebastian desviou o seu olhar despreocupado, e respirou fundo.

— Ícaro, se alguém talentoso entra em algum lugar, as pessoas desse local se reúnem para derrubá-lo, em vez de aprender com ele ou até mesmo tentar superá-lo. Elas são tão inseguras de si, que se tornam completamente cegas quando a sua realidade. E isso, eu menosprezo. – Falou ele.

— Mas essa é a realidade, todos nós sabemos que as pessoas são assim, porque elas precisam de alguém abaixo delas, e se vem alguma pessoa que é melhor, elas têm que derrubá-lo, porque é mais fácil fazer isso, do que ter humildade e aprender. Sebastian, todo mundo é assim, ou pelo menos a maioria das pessoas, e não aceitar isso, é negar a realidade, ou seja, você está fugindo. – Disse Ícaro.

— Não, Ícaro, novamente, não estou fugindo, eu só não sou como vocês, que são felizes em ter amigos, se socializar, eu estou bem do meu jeito, eu realmente estou bem. Não estou procurando fórmula para fazer nada, eu simplesmente não quero. Não tente achar um padrão, ou algo assim em mim, porque eu não sou como outras pessoas, entenda isso. – Falou Sebastian, dessa vez elevando um pouco o tom.

— Certo. – Ícaro se levantou. – Tudo bem então, mas olha, Sebastian... eu não entendo nada de juventude, mas estou vivendo ela de alguma forma, talvez você devesse tentar também. Porque se você continuar fazendo as mesmas coisas de sempre, sua vida vai continuar a mesma coisa de sempre, e, a não ser que realmente queira ficar assim, você deveria mudar alguma coisa. Mas é só se não tiver satisfeito mesmo, porque eu nunca conheci alguém satisfeito de verdade com a sua vida, mas se você for a primeira pessoa, depois eu passo e peço uns conselhos.

Ícaro então, deu as costas para Sebastian que o visualizava ali atrás, sem resposta, sem nada. Ele esperava que de alguma forma, suas palavras conseguissem alcança-lo, pois ele já havia sido assim um dia, pensava de forma parecida, e era uma pessoa horrível para se socializar, tanto pela sua timidez, quanto por seu complexo de inferioridade, era uma situação terrível, e ele não queria que ninguém passasse por isso.

Ícaro chegou até a sala do clube, onde avistou Clara sentada na mesa, lendo alguns papéis.

— Conseguiu? – Ela perguntou.

Ícaro apenas balançou a cabeça em negação, e foi até a janela para receber um pouco de vento.

— Ele é uma pessoa difícil de se lidar, pois não consegue ver erro nas suas ações, age de uma forma que parece ser tão certa, que eu até me questiono, se o errado não sou eu... – Disse Ícaro.

Clara manteve-se calada e por alguns instantes, apenas o silêncio brotou na sala do Conselho Estudantil, com exceção do vento que passava. Foi quando alguém chegou na porta, era Sebastian.

— É... – Passou a mão nos cabelos. – Talvez eu queira tentar algo novo, pode me fazer um membro do Conselho Estudantil, sei lá... se der. – Falou ele, desviando o olhar.

Ícaro da janela deu uma risada forte, Clara por sua vez, riu um pouco e respirou fundo.

— Francamente, se fosse para aceitar vir para cá, não fale toda aquelas coisas dramáticas.

— Foi mal. – Disse ele.

— Então, parece que finalmente iremos ter um novo membro aqui, só não seja preguiçoso como o Ícaro é. – Disse Clara.

— Ei! – Falou Ícaro.

Sebastian deu de ombros.

— Eu não sou preguiçoso, só não tenho motivação para fazer algo.

— Mas você irá ter, pois nem sabe o quanto de trabalho nós vamos ter. – Falou Ícaro.

Sebastian bagunçou ainda mais seus longos cabelos.

— É... Dá para cancelar meu pedido?

Ícaro e Clara riram, contentes com um novo membro.

— Nada disso, agora é trabalho, porque não falta muito para o Campeonato de Clubes, e ainda temos que avisar ao diretor, e preencher sua ficha de membro. – Disse Clara.

Sebastian assentiu.

— É... temos muita coisa a fazer, tudo bem, mas... por onde começamos? – Perguntou ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo super enrolado, eu sei, mas as coisas vão fluindo as poucos, obrigado por lerem, até o próximo. (Quando? Sei não, um dia sai ai)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Garoto Que Tinha Medo De Amar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.